Uma tarde fagueira,
sentado numa cadeira,
mirando o horizonte,
eu vejo, sinto a presença
de minha querida avó,
sentada comigo noutra
cadeira a olhar o mundo,
a pensar na vida,
ou simplesmente
a viver o momento.
Sim viver o momento,
para minha avó de noventa anos,
está em sua presença
era desfrutar a cada dia
como se fosse o último,
e perceber seu cuidado
para com os filhos,
os netos e com os animais,
o carinho que tinha, por
eles, por alimentar pintos, frangos,
ou acariciar a cabeça do gato,
o espantar as galinhas esganadas,
ou simplesmente mirar
um cajú no cajueiro
longe no outro lado da estrada,
para admiração de minha mãe
que não enxergava a distância,
na conversa, no cuidado com o corpo,
no saborear um pão,
um café.
Sim o cuidado com a saúde
era sempre uma preocupação,
mas preguiçosa,
e batia na barriga,
e conversava e falava,
e assim a tarde desfiava lentamente,
quando percebíamos
já era quase noite,
e assim desfrutava
a presença de minha avó,
que se preocupava em escrever
algo num papel,
em ver a missa,
acho que ela tinha muito medo
de morrer,
mas a vida
no indivíduo não é eterna,
a vida nunca se acaba,
pois os filhos geram filhos,
e assim caminha
as pessoas,
e assim contando uma historinha aqui,
outra ali, imortalizo minha avó,
estará sempre presente
em minha mente,
marcas que despertarão
em minha lembrança
a sensação se sua presença,
o carinho que dei e ganhei,
beijos sem estalo,
o afago que fazia,
adorava cheirar seus cabelos
brancos e viver
desfrutar de sua presença
singela,
as tardes em paz
me faz lembrar
a minha querida
avó.
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