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sábado, 27 de março de 2021

54. Madrugada

É madrugada,
Silêncio total,
Vinícius acordou, 
Se virou querendo tetê.
Mamou, trocamos e voltou a dormir,
O papai perdeu o sono.
Tá perdido no celular.
Até o sono voltar.

segunda-feira, 8 de março de 2021

23. A caixa de ferramenta

A lembrança tem seu encanto,

Por vezes, nos causa espanto,

Na infância era tudo diferente

Em casa pouca coisa tinha a gente


Para nossa pequena lida tinha 

Enxada, enxadeco e chibanca, 

Até uma velha campinadeira

Para o mato da roça campinar

 


Roçadeira,  facão, foice e machado,

Para tirar forragem e madeira

E o gado alimentar e o curral cercar

Um velho morão de pegar e vacinar


Na casa velha havia uma caixa de madeira

Cheia de traquitanas como pregos, 

Alicate, troques e martelo, suvela,

Serrote, pua e plana gostava de chafurdava


Então foi num ano pela tarde

 A uma escola fui pra lá levado

Todo mundo em fila estava sentado

Me deram um caderno e um lápis


Num quadro verda a professora 

Explicava que riscos eram sons

A - E - I - O - U   e A, B, C...

Vogais e alfabeto

Um caderno e um lápis


E a incompreensão e insubordinação

Tinha como punição um puxão 

De orelha... Ardia e queimava,

Acho que não ligava pois sempre repetia a ação


Ah lição complicada,

Do ABCD chegar a entender o mundo

Que paciência e perseverança,

Largar a infância e se abraçar a responsabilidade

De ler e entender o mundo pelas palavras


As ferramentas de casa eram muito mais simples,

Mas a coragem faz o guerreiro,

Aos trancos e barrancos passava de ano 

E ouvia um elogio e um livramento passar de ano,

Ouvia com prazer que ao menos era inteligente,


Ouvia dizer das aparências com Françuar 

Comparado até nas astúcias assim cultivava 

Minha inteligência pequeno era o mundo

E grande a imaginação...


E ouvi dizer que Dona Lenita era mais rígida,

Mais valente, então o medo me adestrou,

Tomei de primeira as lições, aprendi o que achava

E pontuava as escola, passei por média,


Entre ditongos e tritongos... a Bahia e o Paraguai,

Algo era uma luz e deixara de ser cruz,

Na Serrinha Grande foi a vez de Conceição,


Professora do sertão

Que chegava a serrinha,

E rezava toda manhã,

Agora mais liberdade,

Agora mais responsabilidade,


Três litros de leite e a sala de aula,

Na vergonha vendia aqueles litros,

E o dinheiro a mamãe dava,


Na escola sempre passava...

Quinta série essa foi um destroço

Era muito o alvoroço,

Estudar com professores,


Esperar aula de educação sexual,

Fui expulso da aula de religião,

Fui para quarta avaliação em matemática,

E em ciências, quase reprovei,


Ainda lembro do olhar de severo

De dona Rivete,

Lembro de Cleiton e Primo Valdene...

Edineia, Cileuda, Alessandra e Joesilha,


Sexta série Chaguinha de Viriato me salvou,

Como ave em arapuca,

Fugi de um bagunça nas últimas,

E Chaguinha professor de matemática e ciências

Me salvou da matemática,

Nas ciências me apeguei,


Adivinhe o por quê,

Ali descobri minha inteligência

O livro cheio de imagem,

De bichos e sistemas,

E Chaguinha contava as histórias do Colégio Agrícola de Jundiaí...


Muito obrigado professor,

Na sétima série não esqueço

Aula de geografia,

O mestre José Silva descrevendo as ilhas Polinésias e Melanésias...

Tomava a lição,

Naquela grande inverno,

Para a estrada ia o gado pastorar,

Com o caderno na mão

Aprendia geografia, 

Virando as pedras brancas do Barroso

Em busca de escorpião,

Ai veio o professor Luiz Silva também da geografia,

Tomei gosto pelas boas notas.

Na oitava série o destaque foi Ledimar,


Professora Perpétua e Genilda,

Desculpe mas português não era minha praia...

Lembro da tarde que Drummond morreu,

A professora Genilda falou com muita tristeza.


Essa dificuldade da língua ainda carrego,


Em Martins teve a fabulosa Janildes de biologia,

O fantástico Pedro de matemática,

Oneide e Fátima de Português,

O que dizer da generosidade de drs. Moacir e Luizinho,

Josineide de inglês,

A professora de literatura que me fez pela primeira vez ler o mulato

Dona Marta esta apostou na gente...


Me divertia mesmo era na biblioteca

Ali onde ficava dona Bebeta...

Lia os livros de contos...

Fernando Sabino...


Naquelas noites frias da serra,

Não estava só tinha minhas irmãs

Nossos vizinhos e vizinhas...


Sabe os caminhos foram tortusos,

Mas descobri a caixa de ferramenta de Foucualt muito cedo,

E não teve um dia em minha vida

Que não tivesse um aprendizado,


Agradeço a todos que me ajudaram

E principalmente aqueles que me apoiaram,

Aqueles que vieram e se foram,

Seria impossível descrever...

Dedico tudo que sou a mamãe e a papai.

E fico por aqui.


22. Para além

 Às vezes, a gente fica concentrado,

Fazendo atividades cotidianas,

E ouve sons de coisas humanas,

Som de longe distinto e perturbado,


Parece que ouvimos o eco do tempo,

Parece que nos perdemos no espaço,

A gente sente intensa nossa individualidade,

Sente o quanto somos solitários


Talvez tenha tido essa sensação

No estalado a queimar a maravalha,

No ferver do café com água que borbulha,

No chiado da chuva longe que vem chegando,


Na solidão noturna ouvindo um roncar...


Coisas humanas,

Coisas humanas,

Coisas humanas,


Pulsações da vida,

Que renega até a morte a morte,

Esse medo do desconhecido,

Aprendido desde o ser um bebê.


Agora ouço longe

Roncos de motores,

Ecoando nas ruas,


Longe muito longo vou,

Estou no meio do mato,

Ouvindo roncos de motores

Ecoando nas gargantas das serras,

Ecoando entre as caatingas...


Quem desconhece a cinza

Que se faz ao apagar crepuscular

De cada dia, o cantar da ave maria

Na voz de Gonzaga...


Esse profundo eco

Espelho do tempo,

Eternidade momentânea,

Num ponto é fiado é tecido

O presente e o passado

No ser...


Agora a compreensão que o entendimento está para além da experiência.


Bati-bravo Ouratea

 Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...

Gogh

Gogh