segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Menos certezas

Hoje, após a eleição.
Assim como eu, têm muita gente desapontada, mas a maioria está confiante e feliz!
Isso é o que importa!
Realmente, torço que essa maioria esteja correta e que esteja errado.
Espero que as coisas realmente melhorem.
Que haja segurança, educação, saúde e ausência total de corrupção.
Mas não acredito em metamorfoses, não acredito que algo aconteça sem uma ideia sem propósito.
Não acredito que o poder pelo poder transforme.
Agora!
Não podemos esperar demais de um presidente despreparado e muito menos de seus eleitores descrentes.
Hoje é um novo dia.
Teremos mais quatro anos pela frente e que haja mudança que esta supere a esperança e que haja menos certezas.
Todavia, essa tristeza vai passar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Reminiscência escolar

Lembranças são tudo que tenho.
Lembro como uma imagem fotográfica o primeiro senão um dos primeiros dias que fui a escola.
Com certeza o horário era o da tarde, pois era o período de tempo que professora Livani ensinava na escola isolada já que pela manhã lecionava a querida professora Lenita Dias. O ano era 1987, mas não me lembro o mês, mas sei que era no inverno.
Fomos Meire e eu.
Nós esperamos no alto de Bonina por Paisinha de Ducarmo.
Lembro que esperamos perto de um pé vigoroso de calumbí.
Talvez tinham uns cipós floridos com flores perfumadas.
Na mão, um caderninho dentro de um saquinho de macarrão com uma borracha e um lápis.
Ali, no mais simples dos lugares, na mais simples das vidas mergulhei no conhecimento formal.
Ali tudo se iniciou.
É incrível como do aprender as primeiras vogais, o alfabeto, os números...
E continuar aprendendo pode mudar a gente como ser humano.
Quantos inícios não foram abreviados.
Quantas pessoas iniciadas não se perderam.
É triste a nossa realidade onde para se conseguir algo, tanto sacrifício não seja despendido.
Vivi épocas de dificuldades que não chegam aos pés do que passaram meus pais e avós.
Resisti e me tornei um resistente.
Fui me adaptando, aceitando a realidade e buscando transformá-la.
Sei que tenho muito a aprender e a evoluir e estou disposto a aprender cada dia como se fosse o primeiro dia que fui a escola.
Que medo que tive no primeiro dia de aula ao ver que uma coleguinha já sabia das vogais e do alfabeto.
Que medo que tive ao ver um colega já sabia ler e eu não.
Todavia sempre resolvi ir em frente.
Sempre me senti responsável por mim, por ser quem sou e por sempre respeitar o que meus pais pensam de mim.
Procurei não erar, embora tenha errado tanto.
Tantas vezes.
E então continuar, tantando, seguindo em frente.
Talvez, agora essa imagem faça sentido.
Não posso mudar o mundo e o que penso e acredito é subjetivo demais para isto.
Toda minha experiência só conta para mim.
Porém, talvez tenham tidos mais acertos que erros ou não.
Só sei que é bom viver essa doce memória da infância.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Questões

Hoje, posso descrever e assim conhecer muito mais do que conhecia quando morava em Serrinha.
Lá, um dos lugares místicos para mim era o Parieiro. Seu misticismo estava na na ureza do lugar.
Ali, as rochas são arredondadas e ferrugíneas e quando lascadas tinha uma coloração atropurpúrea e o solo é argiloso, ferrugíneo a escuro. Quanto a vegetação é composto por uma mata densamente fechada com ramos intrincados e armados composta principalmente de anjicos, senas, unhas de gato, espinheiro da família Fabaceae, espinho de judeu Xylosma uma Salicaceae, Turnera cearensis uma Turneraceae e Croton da família Euphorbiaceae, aroeira da família Anacardiaceae.
Porém, mudamos completamente a paisagem ao plantarmos cajueiros as Anacardiaceae. Então o subosque passou a ser povoado por Ruellia gemniflora uma Acanthaceae. 
Nos primeiros anos de colheita, tivemos safras excelentes, porém com secas dos anos seguintes tornou a agricultura impossível, reduzidas a nada. 
Com o tempo,  mudamos a atividade econômica. Primeiro meu irmão mais velho foi embora, anos mais tarde minhas irmãs e por fim, parti para estudar fora. E desde então nosso sítio místico desapareceu e voltou ao seu estado natural.
Quando conhecemos algo é sinal que subjetivamos esse algo em suas propriedades e formas. Então esse algo passa a nos constituir.
O fato é que aquele sítio era desafiador, pois para colher os cajus era necessário muito cuidado. A inclinação do terreno, as rochas soltas e os tocos a coleta de caju exaustiva e só mesmo papai fazia isso com energia. Talvez fosse a necessidade que o estimulara. 
Olhando assim, seria eu capaz de tamanha coragem de cuidar de um sítio?
Questões que ainda hoje continuam irresolutas.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Cálidas memórias

Na infância, nós tínhamos um sítio no Parieiro que usávamos bastante.
Embora, tenhamos hoje já não usamos mais e está abandonado.
Papai era quem zelava. Fazia as roças anuais para apanharmos os cajus e cuidava das cercas.
No verão, costumávamos colocar nossas rezes para pastar lá pela manhã.
E quando dava meio dia, lá ia eu buscar as vacas de volta para casa. Ia a pé ou à cavalo num burro.
Na volta, passava no açude do Alive para as vacas beberem água. Era a única vez que bebia no dia.
O ir e o vir era árduo pelo calor do verão.
Nunca ia sozinho, Dogue nosso cachorro,  me acompanhava e amenizava meu medo do silêncio ou a preguiça ou sei lá o que era. Talvez medo de Zé Dendê.
Ia pela estrada de barro pensando na vida sempre subindo até o parieiro.
Passava primeiro na frente da casa de Tica, Lindalva, Dudé, Hélio, Chico Franco, Dezu, Mundinho, Iola, Zuleide, Loló, Airton, Ci, Juvenal, Adeson, Nelope, a escola, Casa de Livani, Antonio de Chiquinho, Zé de Júlio e entrava na terra de vovô, na porteira de tio Jussieu e ia subindo vareda a dentro pisando nas rochas ferrugíneas.
Às vezes, ia no nosso burro que era o melhor animal do mundo. Fiquei triste quando ele morreu, assim como quando Dogue se foi.
Quando ia à cavalo, sentia o sol assando a pele, o pelo quente do animal e dos bichos que nunca matavam a fome.
As vacas sobreviviam e nos davam um pouco de leite.
E a gente vivia pobre e sobreviva com dignidade.
Não tínhamos nada além do essencial que era a saúde, juventude e os vizinhos.
A vida fazia tanto sentido...
Esse calor me trouxe essas memórias....

Um fim

A velha curva da estrada que vai para qualquer lugar.
A barreira desgastada que já teve tantas formas.
A mesma vegetação que sempre conheci.
As fruteiras doces que sobraram das secas.
Meu corpo que envelhece.
As memórias de todos os dias
Com risos e lágrimas e contentamento e descontentamento...
Essa trajetória finita que é minha vida
Ou nossa vida...
Tem um fim.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Passarinho

Passarinho que canta e que  voa
Às vezes tão perto e às vezes distante,
Como é bom ouvir teu canto e que encanto.
Tu que cantas nas matas e praças.
Que anima a madrugada.
Quem sois vós?
Que lindo corpinho emplumado,
As vezes colorido,
Mas sempre bem vestido.
Passarinho!
Passarinho!
Tu que cuidas do ninho,
Que canta no verão e no inverno...
Que potência de vida.
Passarinho.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Ave Maria

Certa vez, numa de minhas leituras de Borges uma frase dele me chamou a atenção. Nesta frase, o mesmo autor afirmava que os desprovidos de bens materiais, herdam dos antepassados a apenas oração.

Achei extremamente profundo, tanto que me fez pensar e concordar.

Então, hoje dia de Nossa senhora da Aparecida, ao acordar não tinha pensado ainda nesta frase. Lembro que senti uma intensa vontade de ouvir música "Ave Maria" de Schubert e ao ouvir me dei conta que sem dúvidas uma das mais belas que conheço, percebi que me emociono sempre a ouço.

Sempre que ouço, sinto meu coração confortado.

A música "Ave Maria" sempre esteve tão presente em minha vida desde a infância, passando pela adolescência e culminando na idade adulta e pelo visto se chegar a terceira idade também.

Em Serrinha e depois por onde passei, sinto-me bem ao ouvir no rádio às 18 horas a voz do anjo tocando a Ave Maria... Acho um momento tão simbólico quando o dia se entrega a noite e se dissolve por completo.

Que beleza plena.

Quão subjetivos são  nossos elos entre o presente e o passado. Agradeço agradeço pela não refutação desta fé, e sim pela refutação da razão.

Certamente, essa música e essa oração tem o poder de humanizar as pessoas.

Adormecida, pode está ficando, mas um dia acordará para todos os corações.

Deveras, Borges estava correto ao afirmar que a oração é a nossa única herança.


terça-feira, 9 de outubro de 2018

Inestimável

Ao tempo que passa, esperança.
Esperança no momento que chega
E na experiência que fica do momento que passa.
Esse nascer que renova,
Esse existir que é efêmero,
Esse ser que não é,
Essa existência que é uma substância em movimento.
O Ser e o nada e o devir.
O tempo esse espelho da eternidade
Que conta nossos dias
E nos ensina que tudo passa
E por ser rara é valiosa a vida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Seu Leopoldo

Quantas memórias temos imbricadas em nossos lobos cerebrais?
Estas memórias afloram e se desvelam conforme hajam estímulos.
Nesta primeira semana de setembro de 2018, recebi várias notícias e todas tristes, mas uma delas que foi o falecimento de seu Leopoldo me fez recordar a infância pré-adolescente.
Leopoldo era um homem magro, alto e com voz alta. Ele foi casado com Tomásia uma tia de papai, depois de viúvo se casou com Natinha. Para mim, a maior referência dele era ser pai Tica de Zezinho a nossa vizinha.
Naquela época, não havia asfalte e nem carros que transportavam os alunos dos sítios para a Ruinha onde estavam os colégios. Então, cotidianamente, tínhamos que ir a pé, caminhando ou de bicicleta para a escola. Lá em casa tinha uma monareta que era uma bicicleta para criança e ao mudar de escola passei a ir para a escola na Serrinha Grande. Assim, como na escola não havia bicicletário, era necessário um lugar para guardar a bicicleta, de maneira que a casa de seu Leopoldo sempre foi nosso estacionamento. Quase sempre, quando chegava, ele ainda estava em casa. Como de costume, quando ele me via sempre dizia algo que adorava ouvir: - "O rapaz de Chico Raimundo".
Assim a gente deixava a bicicleta lá e ninguém mexia. E essa foi sempre a relação que tive com ele, porém sempre fui atento ao jeito das pessoas e algo que sempre me chamou a atenção em seu Leopoldo energia e alegria que conduzia sua vida simples. Embora tivesse a mesma rotina corriqueiramente que era cuidar dos bichos, arriar o boi na carroça ou colocar a cangalha no burro e partir para o Ribeiro e trabalhar até a tarde. Então desde o momento que saia na rua, brincava com todo mundo. Era muito fácil perceber quando vinha ou ia passando na rua, pois de longe se ouvia seus gritos tangendo a burra ou o boi ou brincando com as pessoas, numa alegria só. Quem já andava na Ruinha nas décadas de 80 e 90 sabe disso, tenho nítidas as lembranças.
Que bom e importante é rememorar, refletir e tentar digerir essas lembranças.
Seu Leopoldo foi um exemplo de um homem, pois  viver 99 anos nos dias de hoje só graça divina. Gosto de imaginar, por exemplo quantas gerações ele conheceu desde a infância até seus últimos dias. Desde 1919 esse homem respirou, viveu e presenciou situações naturais e humanas como grande secas e invernadas, a partida da geração seus pais, irmãos e filhos. Neste ano último, talvez as coisas não tivessem muito sentido.
Deveras um bom homem para viver tantos anos e ainda partir com a graça da velhice.
Essa reflexão, até entristece quando penso que poucas pessoas terão essa graça, pois nos dias atuais a violência tem se tornado aguda e tem ceifado muitas pessoas jovens em Serrinha e não atingirão a jamais essa velhice plena.
Mas como podemos ouvir em Chico Buarque que amanhã será um novo dia.
Descanse em PAZ seu Leopoldo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Fugaz

A manhã,
A tarde,
A noite,
Os dias,
As semanas,
Os meses,
E os anos
São todos tão fugaz
Que esperamos um próximo momento da
manhã, da tarde, da noite, do dia, da semana, do mês ou do ano
Para realizarmos algo.
E acabamos caindo na profundidade da eternidade sem fazer as coisas mais simples
Como respirar, amar, ser.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Boa vida

O verão com seus longos e quentes dias,
O canto das cigarras,
A aridez,
As plantas secas,
O cuidado com os bichos,
Com as plantas...
A descoberta da beleza da vida,
Nos fazem refletir sobre a existência.
E tudo se torna tão simples e gostoso.

Velho

 Acho que estou ficando velho. Ficar velho sempre parte de um referencial. Quando dizia que estava ficando velho para minha avó ela dizia, v...

Gogh

Gogh