Olho através da paisagem árida onde falta verde e sobra cinza. Olho como quem contempla o universo inteiro. Em cada parte está o todo. Não é sobre a paisagem, mas sobre nós mesmos.
Na paisagem vejo elementos que parecem mortos, mas não estão mortos, apenas dormem.
Um cajueiro antigo, as Pinheiras, as palmas que meu pai tanto cultivou, o sítio que amou e cuidou. Essa terra que ele plantou e trabalhamos juntos.
O tempo consumiu e nos consome. Ah. O tempo... Ei ê. A vida esse fabuloso mistério essa doce ilusão. A vida é devir. Pensar sobre isso pra que. Pensar é está doente dos olhos.
Abro os olhos e a luz do sol mostra tudo numa plena nitidez. Abro os olhos e já não penso. As aves ah as aves. Balança-rabo, cebinho de olhos melados, fim-fim, rixinó. Cada um nos seus afazeres do dia. A esperança de algo melhor...
Um casaca-de-couro corrochia longe. Lembro do Pica-pau enorme que vi na mata, lembro que nunca tinha visto antes, lembro do sabiá cantando na aroeira com o peito estufado e asinhas abertas...
Vejo o vem-vem na pinheira parece estar plantando sementes de phoradendron ou caçar insetos. Sei lá. Lembro de vó Chiquinha... Mamãe.
E o vazio se preenche de esperança.