quarta-feira, 31 de março de 2021

66. Tarde

 À tarde caiu. Acabei umas atividades e fui cuidar de Vinícius meu filho. Pego no braço e vou pra lá e pra cá. Coloco no carrinho e fico brincando. Ontem fez três meses de vida. Nem sei expressar o quanto que ele preencheu as nossas vidas. Enfim, sai na sacada para olhar o mundo. O que vimos foi um mundo lindo, mas triste com a Covid. Meu bebê nem imagina. Mas estamos passando por isso a mais de um ano.

Ouvi o sanhaçu de coqueiro cantar, um gavião cantar, o brilho do sol numa parede.

A tarde caiu no infinito.


65. Relaxe

 Por vezes, amanheço indisposto. A razão não me impulsiona a agir. Até parece que o mundo é um pesar.

Embora não queira, até meus pensamentos são lentos e cansativos.

Nem todas as manhãs são maravilhosas quanto manhãs pós chuva no semiárido em que acordamos dispostos.

Dizem que pode ser o açúcar no sangue, acho essa hipótese plausível.

Colocar a culpa no açúcar.

O tema entendimento tem me interessado bastante ultimamente.

Talvez não seja possível filtrar ou peneirar deste texto algo palatável.

Espere!

Coloque ai no youtube "Divertimento pour cordes K 136" de Mozart.

Ouça um pouco!

Sentes algo?

Não.

Apois, eu sinto algo bom.

Sabe ouvindo eu  visualizo uma memória que adoro cultivar.

A paisagem é de Serrinha do Canto,

Entre os anos 80 e 2000, os meses são entre julho e setembro,

O ano foi ótimo. Choveu muito teve muito inverno.

A roça de milho já secou e papai dobrou cada um dos pés

E a fava faz pavio se enovelando nos pés de palha seca,

E o vento sopra a vontade,

Livre, solto...

Canta a siriri...

Da terra nasce um mato verde de cabeças brancas.

Volto ao agora, momento presente.

E a realidade dos fatos atormenta meu coração.

Calma Rubens!

Calma... Vinícius está dormindo no colo da mamãe.

Fez três meses.

E você ai tentando organizar as ideias.

Tentando ler Neruda e Pessoa,

E flertando com Kant e Hegel...

Já não basta a complexidade do mundo.

É isso...

Entendo você!

Quer por ordem neste caos para poder se sentir melhor.

Mas o mundo é tão multifacetado né.

Uma coisa de cada vez.

Relaxe...

Tudo vai está melhor mais tarde.

Só relaxe.

Madrugada

 Acordei de madrugada. Vinícius mudou nossos hábitos. Após amamentando, troquei sua fralda. Voltou, mamou novamente. Enquanto isso fiquei vendo as manchetes.

Não se vê uma notícia boa. Nenhuma sequer.

Volto a dormir e é tudo.

terça-feira, 30 de março de 2021

64. Siriri metafísico

 Uma siriri cantou,

Foi o que ouvi,

Cantou lá nas três ruas,

Lá nos pés de castanholas.

Siriri tem muito por aqui,

Tem muito no nordeste,

Lá para as bandas onde nasci,

Tinha muitas

Que ficavam pousadas nos fios de eletricidade.

Depois que a rede chegou,

Abandonaram os ramos dos cajueiros,

Agora só ficam na rede,

Na beira da estrada.

Contemplei muito a siriri enquanto a tarde caia,

Enquanto a vida passava,

Enquanto pensava como um dia sairia dali.

Era um sonho,

Hoje um sonho realizado,

E olhe!

Aqui estou pensando no lá.

Não estou vendo o siriri,

Mas ouvindo ele vocalizar.

Os tempos são outros,

Assim como as responsabilidades e os problemas.

A vida só muda de faces.

Já fui a tantos lugares,

Já morei também em outros lugares,

Vivi tantas coisas

E olhe a conclusão que chego é que são apenas

Acidentes...

Situações acidentais.

Situações acidentais que ocorrem enquanto os dias se passam,

Os meses e os anos...

Quando nos damos conta disso,

Às vezes já é tarde.

Um siriri, minha memória e o agora,

Amarrando um momento,

Que tão logo deixa de ser.

A vida muda de faces.

Não saber qual é a próxima face nos assusta.

Não dá para esperar feito semente pelo melhor momento para nascer.

A vida é contínua...

E continua até o fim.

Eu Rubens sou testemunha disso.

segunda-feira, 29 de março de 2021

63. Momentos intimos

 Quando estudava em Natal era mais fácil ir em casa. Sempre que podia voltava para casa. Papai nas manhãs de sábado me chamava para irmos a rua. A gente pegava a nossa moto azul, uma Honda que temos desde 1997, e partiamos para Martins. A moto até sabia o caminho. A parada era a figueira de seu Davi o famoso da bodega em frente ao colégio Alumínio Afonso. Lá estacionava e íamos a venda do profundo Antônio de Chiquim do Alive. Onde havia maravilhosos encontros dos amigos. Era Aluízio, Hélio de Chico Franco, Bolinha de tio Aldo, Marlene de Chiquim, Washignton, Antônio de Doquinha, Dadá Vicentin. Era uma festa de tanta lorota boa. Depois de tomado o café. A gente ia a venda de Heide Godin pra fazer uma feirinha. Arroz, açúcar, carne, café, produto de limpeza, tomates, bolachas e o meu abacaxi... Papai tinha o prazer de fazer um pequeno mimo. Provava sempre de uma ou duas uvas, no açougue depois de pedir a carne sempre dizia... Pese bem pesado. Pedia a Soró uma caixa. Depois Ceição fazia a conta. Papai pagava e a gente voltava pra casa. Esse foi nosso gostoso hábito por muito tempo. Era um momento só nosso. As vezes a gente não percebe que a grandiosidade dos momentos está na simplicidade do ser e do existir. Fabulosos momentos que pude viver com o papai.

Sabiá

 Sabiá ah sabiá.

Se te ouço chiando já sei o que é que está acontecendo.

É o gavião perturbando.

É o gavião xeretando.

Xô gavião.

Longe cantando está outro sabiá.

Sabe, sabiá tem em todo lugar que já fui no Brasil.

Lá em Serrinha do Canto, onde nasci.

Nas manhãs após boas chuvas,

Quando íamos plantar só se ouvia sábias cantando.

Não queria estar plantando,

Queria está sabiazando.

O solo fértil pronto para germinar as sementes 

Parecia está contente com o canto do sabiá.

Em Campinas o sabiá vinha arrancar minhocas no meu jardim.

Até fazia ninho na linha da área de fora.

Amo o sabiá 😍


domingo, 28 de março de 2021

62. Ensinamentos

A gente trabalhava junto muitas vezes. É verdade não gostava de trabalhar na roça e ele sabia disso. Nunca me fez trabalhar em boque. Ajudava na enxada nas roças perto de casa. Lembro quando limpamos no entorno da casa de Begue. Quando limpamos a baixinha de arroz. Lembro de virarmos milho. Carregarmos nos caçoas. Lembro de apanharmos feijão. Lembro de destocarmos tirando forragem pros bichos. Mas papai sempre me poupou.  Foi maravilhoso. Ajudei  na colheita de ciriguela, pinha, de caju. Papai sempre me ensinou que é preciso responsabilidade na vida. Ensinou a pagar as contas e não dever a ninguém.
Ensinou muitas coisas. Sou feliz por isso.
Saudade de tu Papai.

61. Calumbi

 Calumbi

Arbusto de copa fechada, 

Mais eita que a rama é armada,

Armada de unhas de gato

As folhas bem miudinhas,

O cheiro da rama que forte,

As flores são tão alvinhas,

De doce maravilhoso odor,

Os frutos quebradiços 

Achatados e articulados,

Calumbi nasce bem alí,

No lado da cerca,

Cresce um inverno

Ou dois e depois 

Desaparece.


60. Turbilhão

 Escritos de Borges,

Fenomenologia do espírito de Hegel,

A crítica da Razão Pura de Kant,

Sonatas de Mozart,

São elementos que precisam serem conhecidos,

São elementos essenciais na expansão da consciência...

Sim a bíblia,

O Gita também.

Uma ou duas coisas de cada vez.

Não se pode com muita fome a mesa,

Nem com muita sede ao pote.

Se te apetece coisas simples e geniais da netflix, então se empanturre,

Se te cansas pensar, então simplesmente sirva-se deste banquete.

A vida tem os dias contados,

Faça sua opção.

59. Manhã Chopin

 Deitado no sofá,

Ouço o meu entorno,

A chuva chovendo,

Que chiado gostoso,

Um galo cantou,

Um papa capim,

Um bem-te-vi

Duas siriris 

No céu alvo voam tanajuras

E bem-te-vis a comer.

O ventinho frio sopra pela janela,

Manhã a dentro.


57. Vida enfeitada

 Casaca-de-couro pássaro estouro,

Em Serrinha do Canto em nosso sítio,

Na galha do cajueiro cantou e fez 

Um ninho a casa-de-couro 

Papai ficou tão orgulhoso

Papai ficou tão feliz.

Está ouvindo é a casaca de couro.

Vou plantar um cajueiro

Pra a casaca de aninhar,

E cantar, e enfeitar a nossa vida.

Até o picapauzinho ficará feliz,

A vida enfeitada 

A vida feliz.

Chuva e João-de-barro

 Plic plic plic amanheceu chovendo,

É muito gostoso acordar bem cedo 

Ouvindo a chuva chovendo

Pássaros calados... 

Falando em pássaros nunca 

Ouvi o joao-de-barro 

Eram tão lindas as tardes

Mas num lugar arenoso 

Não tem João de barro.

Certa vez um João de barro 

Construiu um ninho no orozinho,

Papai ficou tão orgulhoso,

A terde de inverno ele sempre 

Sempre canta na caatinga,

João-de-barro e a chuva chovendo.

O pode ser melhor na vida?






56. Omrommm

 Silêncio e o sono quebrado,

Meia noite e o bebê acordou,

Pra mamar, pra trocar frauda,

Pra respirar melhor.

Ommmmrommmmmm.

Voltou a dormir.

Boa madrugada.

sábado, 27 de março de 2021

54. Madrugada

É madrugada,
Silêncio total,
Vinícius acordou, 
Se virou querendo tetê.
Mamou, trocamos e voltou a dormir,
O papai perdeu o sono.
Tá perdido no celular.
Até o sono voltar.

sexta-feira, 26 de março de 2021

55. Chuva universal

 A tarde caiu chuvosa,

Úmida e escura e quente.

Em silêncio.

Só se ouvia os pingos chovidos,

Era tarde de sexta-feira,

Em casa, só se via os prédios

Do altiplano acessos 

Acenando para o mar.

Daqui de casa 

O escuro da mata feliz 

O jardim feliz,

A rua molhada,

Molhando,

A chuva chovendo.

Quando a chuva chovia,

Papai se encolhia,

Se recolhia,

Papai dorme o sono eterno,

Saudades dele.

A chuva continua a chover,

Chuva universal,

Chuva eterna,

Tarde eterna,

A gente é só um espectador,

Um sujeito

Entre tantos outros.




54. Mufumbo

 Mufumbo 

Folhas cinzentas 

Madeira rígida,

Cresce em maloca,

Sai em uma soca,

Flores pequenas

E perfumadas, 

Doce aroma de mel

Que incensa o tabuleiro,

Planta resistente,

Mufumbo, mufumbo, mufumbo,

Planta maravilhosa,

Cinzenta e escabra,

Frutos estrelados,

Tetralados,

Para o vento dispersar 


52. O vento

 O vento suave assoviando pela janela,

Passou a manhã inteira me lembrando,

Lembrando de momentos plenos  da vida,

Sabe quando a gente está feliz por esta vivendo,

Pelo momento...

Sabe quando a gente percebe isso

No vento soprando.

Soprando assanhando a mata.

Soprando ecoando no fogo da cozinha, 

Soprando e assoviando a janela,

Soprando e limpando o milho ou o feijão.

Soprando na algaroba,

Soprando na serra,

Soprando na aurora.

O vento nos fazendo sentir a vida.

Coisas de seu tempo,

Quando as chuvas partem da depressão,

Deixam o sertão,

Enquanto o vento tudo ameniza,

E cela uma mudança de estação.

Timbaúba

Tambor tamboril,

Árvore imensa de copa aberta,

Tronco e ramos alvo a cinzento 

Folhas folhinhas agudas

Fruto seco auriculado,

Cresce nas serras 

No verão endurecido fica,

E se veste e floresce em outro.


 

quinta-feira, 25 de março de 2021

52. Carnaúba

 A planta é tão bela,

De caule linheiro,

De agradável cheiro,

Folhas sanfonadas,

Sendo as hastes armadas

Com cera nas fechadas 


Bela árvore da vida. 

Oferta suas folhas 

Para serem vassouras,

Suas hastes para giral,

O caule serem linhas,

As raízes tira sal.


É sinônimo de lugar,

Carnaúba, carnaubais,

Carnaúba dos Dantas,

Cresce perto do rio

Sempre verde linda está

Perfeita e maravilhosa carnaúba.


quarta-feira, 24 de março de 2021

Paz

 Lá agora chove,

Aqui dentro está tão bom.

Cama e cobertor macio,

Meia luz,

O barulho da chuva chovendo,

O sono...


49. Pensamentos geométricos

 Hoje, cedo da manhã. Estava aqui sentado matutando. Ouvi bem longe um rouxinol cantando.

Achei aquele canto tão lindo. Até senti quão maravilhosa é a vida. Eu aqui parado e ele lá talvez perto das

 três ruas cantando, de certo saltitando e voando. Na minha infância só ouvíamos e víamos rouxinol cantando na época das chuvas.

Quase sempre ela fazia ninho na soleira da porta. A gente não gostava porque geralmente dava cafifa.

Aquela avezinha marrom se reproduzindo. Depois cuidando dos filhotes. Depois ia embora, sumia no mundo e só voltava no ano seguinte. Ela sempre voltava.

Chegava em janeiro e partia em julho. Talvez fosse esse o tempo que ficava com a gente.

Ela chegava com as chuvas e com as moscas. Visto que quando chovia apareciam as moscas.

Apareciam as tanajuras e os sapos.

Ou seja... um pensamento nunca é isolado.

50. Pandemia

 O tempo,

Os relógios,

Os calendários...

Escalas temporais...

Memórias.

Espaço,

Aqui,

Lugar,

Brasil,

Escalas espaciais,

Estará tudo determinado,

Estará tudo dado?

Moiras tecem um destino?

A pandemia.

2020... China, ... Brasil.

terça-feira, 23 de março de 2021

48. Momento matinal

 Amanheceu e nem vi,

Vi que era madrugada,

Mas achei que era sonho,

Abro a janela que dá para as três Ruas,

Relaxo ao sentir a brisa fria,

Brisa fria da manhã.

Folheio um livro do Neruda,

Leio um poema.

O mundo parece perfeito.

Sanhaçus piando e cantando nas árvores lá das três Ruas,

Olho a pintura de casa na parede,

Vejo papai sentado acariciando a cabeça de tuninha.

Penso no caos que está o Brasil,

Penso sobre de quem é a culpa...

O chiado do computador me puxa para a realidade do quarto e da vida.

A brisa volta a soprar pela janela,

Acompanhada de gritos de jandaia,

Olho no espelho,

Ouço Vinícius bocejar.

É os anos são um declínio para nosso corpo,

A vida passa num filme,

E ouço na mente a sexta sinfonia de Beethoven.

Calmamente...

Volto deste momento feliz.

segunda-feira, 22 de março de 2021

46. Mulungu

Que linda de encontrar 

Com sua copa florida,

Sem folhas está despida,

Encarnadas de flores vestida 

Com beija-flores visitando,

No córrego fez morada 


Seu tronco é grosso e armado 

Sua folha de feijão é semelhante,

Seu fruto é uma vagem 

Com sementes reniformes 

Com testa dura e avermelhada

Esse é o mulungu.











47. Espiral temporal

 Houve um tempo

Em que tudo era novo,

Em que tudo era descoberta,

Houve um tempo

Que acreditava no amanhã,

Que existia um amanhã


Aquele tempo

Eram os anos da infância,

Eram anos fabulosos,

Que a felicidade explodia

Com confeitos

Com brinquedos


Aquele tempo

Não tínhamos nada

Porque de nada precisávamos,

Éramos autossuficiente,

Tínhamos frutas,

Tínhamos leite,


Havia dias plenos

Festas juninas,

Dia das crianças,

Semana de páscoa,

Noite de natal,

Eram dias plenos,


Serrinha do Canto

Era o centro do mundo,

Minha casa o centro da galáxia,

Minha cama o centro do universo,

Meus pais e irmãos meu norte

E eu era tudo.


Ai o tempo passou,

Ai aprendi sobre tudo,

E tudo se descortinou,

E tudo ficou insuficiente,

E perdi o eixo de tudo,

Aqui estou...


Sendo pai

Sendo o eixo principal de meu filho,

Que tem João pessoa como galáxia,

A mãe e eu como universo,

O berço e o carrinho como universo,

E ele é tudo.


domingo, 21 de março de 2021

45 domingo

 A noite caiu nas três Ruas.

O escuro e o silêncio me impressionam.

Ouço o canto dos grilos,

Ou será um eco em minha cabeça?

Penso ou sinto em minha mente que estou em Serrinha do Canto.

Penso qualquer coisa.

Quando se está cansado os pensamentos são desorientados.

Mistura saudades com realidade

E o que tem é a insônia...

Mais sensação de cansaço.

Acho que é possível superar tudo isso.

Com o sorriso desdentado de Vinícius,

Meu bebê.

É isso.

44 Canto auroral

 A madrugada silnciosa 

É inundada pelo canto do siriri 

Que vai ondulando seu canto

Siriririririri

E entra em cena a corroira

Cantando seu canto marrom

Daqueles saltitando na faxina,

No chiqueiro, na casa velha.

Canto tão lindo.

Até valoriza a madrugada de domingo,

Até valoriza a rua, que dá nas três Ruas.

A gente fica pensando essas coisas

Ouvindo o mundo de fora e de dentro da gente.

Mundo real e mundo subjetivo.


São apenas divagações,

De quem perdeu o sono 

E ama ouvir o mundo

Na esperança de se prender ao mesmo.

Canta siriri.

Canta corroira.




sábado, 20 de março de 2021

43 Amor ao bebezinho

 A noite e o dia,

Em casa.

Um bebezinho lindo,

Com horários militares,

Com gostos apurados,

Hora dos bainhos,

Hora de mamar,

Hora de dormir,

Hora de dirigir,

Hora para tudo...

A gente se acostuma com o tempo

E ama cada momento.

Até mesmo limpar e trocar a frauda.

Tem horas que cansa,

Mas o cansaço vai embora

Num lindo riso,

E o coração desmancha

E ternura e amor.

42 Madrugada com Kant

 É madrugada escura,

Nas três Ruas o vazio,

No firmamento céu estrelado,

No substrato paralelepípedo 

Dormem lado a lado.

Ali nas árvores e nos telhados,

Canta contente a corroira,

Aqui acordado estou deitado,

Pensando a existência,

A continuidade da vida,

Os fatos e os sentimentos,

Memórias agora internas,

Vovó, vovô, tio Aldo, papai

Ontem reunidos pelo tempo 

Hoje pela morte,

Nesse eixo,

Aqui estou eu e a corroira

Acordados na madrugada,

Cantará pelo seus pais?

Ou já superou e canta por cantar?

Quem saberá.


41. Haikay de bebê

 Teu cheirinho,

Tua maciez,

Tua altivez,

Teu sorriso,

Teu carinho,

Tua inocência,

Tua impaciência,

Que plenitude

É você

Só você,

Meu bebê.

sexta-feira, 19 de março de 2021

38. A alma

 Onde andará tua alma,

Além do real e racional,

Em algum lugar onírico,

Onde reina a paz.


Onde andará tu,

Não sei, mas percebo a ti,

Nas árvores não cortadas,

Na mata fechada,


Na cerca mal alinhada,

Na roça de palma,

Nas fruteiras do terreiro,


Nas flores do jardim,

Nas fruteiras do quintal,

Na minha pele.

quinta-feira, 18 de março de 2021

40. Onde

 Por onde ando 

Num universo aéreo,

Perdido entre pensamentos,

Buscando uma referência, 

Já que perdi minha maior inspiração.

Me perco olhando pro tempo,

Para as coisas lentas,

Acendo velas para orações.

Acho que nunca fui tão místico

Será possível se encontrar?

Tenho um mar de dúvidas 

E nem uma gota ou um grão de certeza.


39. A chuva e a vida

 Amanheceu chovendo.

Que fenômeno maravilhoso,

A chuva chovendo,

Que fenômeno curioso,

A água tudo rompendo,

A água caindo e preenchendo,

E então vai se escorrendo,

As vezes nos encharcamos,

As vezes, nos sentimos chovidos.

São coisas da vida,

Coisas boas como ouvir a chuva chover.

A chuva amanhecer,

A vida acontecer.

37. Chover no molhado

 Tenho pensado na vida o tempo todo e não sei se é bom ou ruim. Para melhor dizer, não é a vida toda, mas desde o momento que tomei consciência de minha existência.  Desde então, soube que a vida tinha um fim. Esta ideia tomou o meu ser. A finitude. Então passei a observar o mundo. A noite, o dia, a aurora, o crepúsculo. E pensava as coisas e estas aconteciam, mas nunca da maneira como imaginava. Então me perco na celeuma de pensamentos... Até que as coisas aconteçam como tem que ser.


quarta-feira, 17 de março de 2021

36. Mucuna

 Mucunã cipó calibroso,

Que cresce nós lajeiros 

Sobre a vegetação

Vai se enovelando,

Formando ramada,

Quando em florada,

Fica toda roxeada,

Intensamente perfumada,

De longe se ouve o zzzzz

Da mamangava abelha avantajada,

As Folhas trifolioladas são caducas

Se desprendendo na seca,

Fica só o estirão,

Com suas Vargens macias e veludosas 

Que espocam atirando as sementes

Que parece encoraçada

Essa é minha toada.


34. Pensar inútil

O mundo tem barulhos que não conseguimos decifrar, mas que gostamos de ouvir, pois parece nos dizer que estamos vivos. Estamos vivos. Qual é a grandiosidade de tudo isso? Só a dor da perda nos orienta. Uma catarse negativa digamos assim. Fico ouvindo o oco do mundo. Como um ovo maltine denso, saboroso com peguenos grão crocantes de chocolate. Conseguimos sentir mais com o gosto que com a visão e com os ouvidos. O coração pode ser o mais intenso de todos os sentidos. Se são cinco sentidos. Qual é o sentido que sente a dor? A dor é algo muito intenso como o orgasmo, mas ao reverso. A dor parece ser multisomatica e o orgasmo algo localizado. Estranho não. Orgasmo nas regiões excretoras... O oco do mundo nos faz pensar tanta coisa inútil.

34. O morto

Ando pensando torto, Um corpo sem vida, Um ser o morto, Um corpo é e não é, Foi e deixou de ser. Algo se perdeu, Foi o corpo? Foi a vida? A morfologia e a anatomia é a mesma, A vida é o espirito? A vida é a alma? A vida é a respiração? Simplesmente um corpo, Que pulsa, Que repulsa, Com vida, Sem vida, Morto, Perdeu num átino O princípio de ordem, O calor o respirar, Um corpo é um corpo, Com vida é Sem vida não é. Deixou de ser Sem vir a ser. O trabalho é a categoria fundante já dizia Marx. O prazer também é a categoria fundante Até surgir a inseminação artificial. O agora é eterno. Cremos ser imortais, O tempo é relativo já dizia Eisntein. Tenho estado doente da vista segundo pessoa, Pois tenho pensado demais. Agora que a tarde cai. Que importa mais. O coletivo passa na rua, O bem-ti-vi anuncia o fim de tarde, Poderia ser o sanhaçu-de-coqueiro. Ou qualquer coisa. Porque se não estamos presentes, Fomos ultrapassados, Não viemos a ser mais. E onde está o sentido de tudo isso? Em Eclesiastes, já anunciava que nada fazia sentido. Jás um morto, Jás noite.

terça-feira, 16 de março de 2021

Anjico

 Árvore enorme

E Sombra rala 

Miúdas folhas

Armado tronco 

Casca encarnada,

Feito couro curtido,

Mandeira forte e dura,

Usada no carvão,

Na porta e janela,

Na cangaia...


Perfume de verão,

Alimentar a fauna 

Plataforma de pouso 

Mata frouxa 

É o anjico 













Esmagadas

 Manhã plena ensolarada,

Céu azul oceano céu a brilhar

Então saio a pedalar,

Cruzo ruas olho os jardins 

Vou seguindo até a mata 

Que vigor viridescente,

Flores amarelas,

Flores alvas perfumadas

Perfume de angélica 

Perfume de guabiroba,

Perfume de mutamba,

Eita mata perfumada,

Até o feijão bravo tá florido

Nesta faixa tão estreita,

Cada vez mais esmagada,

Pela construção civil,

Já não sobra quase nada,

E o que sobra ainda descartam lixo,

Pobres árvores esmagadas,

Pobrezinhas perfumadas

Mutamba,

Guabiroba,

Angélica,

E o que sobrar no futuro

Nada nada nada,

Só o luxo 

Só o lixo,

A mata tá condenada,

Pobrezinhas esmagadas,

Porém floridas e perfumadas.










segunda-feira, 15 de março de 2021

33. Metafísica

 A noite escura

O céu estrelado,

Estrelas brilhando,

Nuvens passando,

Um dejavour,

Faltou o relinchar 

De um jegue 

Besouros ciciando,

Minha mente está perdida,

Divagando sobre o não ser

A brisa sopra

Os olhos se cansam,

E a ordem lógica não foi achada,

Nenhuma ideia,

Cadê o entendimento?

Como sempre atrasado,

Como sempre acanalhado

Muito querendo e pouco comendo.

E a sextilha?

Não sei ainda,

Mas vou aprender 

Estou tentando aprender a aprender.

Mais nada.




30. Imburana

Árvore torta e armada,

Romos abertos e difusos 

Casca castanho avermelhada,

Quase sempre esfoliada,

Suas folhas imparipinadas,

Perfumada se rasgada,

As flores reduzidas 

Diclinas e tetrameras,

Os frutos cápsulas 

Com sementes ariladas,


Na cultura popular,

Se usa a madeira

Pra fazer artesanato,

Porta, bichos, objetos,

Nasce muito na Paraíba,

Mas dá em toda caatinga,

Embeleza nosso lugar.






32. Sabor da vida

 A janela aberta,

Quadro na parede,

A brisa fria que entra,

O canto do sanhaçu-palmeira,

O sanhaçu-cinza,

O papa-capim,

O chiado do computador,

A vida é sublime sobre tudo,

Mas lembrar que está vivo,

Pensar nisto tudo,

Pode tornar tudo mais gostoso.

Nosso nenem

 O meu amor nasceu contigo,

Seu primeiro choro derreteu meu coração,

Ao te pegar no braço, fui tomado de amor,

Ao te ver sorrir, fui tomado de amor,

Ao te ver respirar, fui tomado de amor,

Ao te ver chorar, fui tomado de dor,

Seu choro é seu código que aprendemos a decifrar,

Tudo fazemos para sentir que estás bem,

Estás bem...

Se dorme te amamos,

Se brincas te amamos,

Contigo nasceu uma nova forma de viver.


Descoberta

 A madrugada encantada,

A corroira cantando calma,

O bem-te-vi de sobrancelhas,

Dizia que tinha me visto

Som belo, som perfeito

Nem vi a madrugada

Agora canário corrochiam

Há uma grande beleza

Em tudo isso

A celebração do ser.


sábado, 13 de março de 2021

29. Xique-xique

Xique-xique 

Linda planta sertaneja,
De forma candelabriforme,
Colunada e costelada,
Areolada e armada,
Com fibras alvas,

Tronco carnoso,
Epiderme clorofilada,
Folhas ausentes,
Flor vistosa séssil,
Fruto rosado, carnoso,

Raiz fasciculada.
Cresce nas fraturas rochosas,
Pacientemente cresce,
Pacientemente produz espinhos,
Essa coluna estrelada,

De semente de testa negra,
Pequena docemente arilada,
Está em todo lugar,
A todos os tempos.

Cactácea,
Pilososcereus gounellei.

28. Entendimento

 A gente vive como sabe, como foi ensinado a viver. 

E como a gente sabe?

Porque viver é ser.

E o que é ser?

Está ai?

Ensinaram-me tudo que sei.

Aprendi o que que me ensinaram.

Aprendi o que entendi e o que busquei aprender, além do que sinto, além do que percebo.

Como se nortear sem uma direção a seguir?

Olho no espelho,

Encaro-me olho no olho. Penso quem sou?

E me perco ainda mais na consciência.

Se o fim é único para que tanto esforço?

Sou e uma aranha na teia é,

Uma mosca presa a teia é,

Uma jurema é.

A coisa em si e a coisa para si.

Até quando é e enquanto é.

Qual o valor de cada coisa?

Tudo isso me custa o entendimento.

Mais nada.

27. Infância

 Que saudade da infância

Que foi toda vida campestre

Em tudo só via e sentia,

Em nada pensava,

Só existia, só ria,

Mamãe pensava por mim,

Papai fazia o que podia,

Riso era alegria,

Alegria igual a confeitos,

Por isso ficava ansioso,

Pelo sábado quando papai ia pra feira,

E trazia sempre em saquinho de papel,

Um punhado de confeito,

E distribuía pra gente,

Trouxe um caminhão amarelo de botijão,

Trouxe um caminhão azul de cavalos.

Mamãe me mimava,

Rosangela me cuidava,

Nas terras arenosas desconhecidas,

Fui vivendo minha vida,

Nossas vidas,

Chupando caju e umbu,

Envergonhado, sonso,

Dentre outras variações

A infância traçou minha existência,

As orações guardaram o medo,

A fé o norte...

A vida uma essência...

Momentos doces de infância.



quinta-feira, 11 de março de 2021

26. Memória botânica

Na infância memórias são cristalizadas,

Memórias maravilhosas de serem rememoradas,

Até parecem fluir no momento que são acessadas,

Vou agora contar uma memórias visualizadas,

Memória que de certo não serve para nada,

Só para que não esquecer de uma vida passada,


As paisagens constantemente são transformadas,

Porém essas jamais serão esquecidas,

Passaram do nada para a existência amada,

Por isso aqui vou compartilhar,

Minhas primeiras memórias botânicas,

Sinal de já sabia o que queria quando nem imaginava,

Eram estas paisagens com seus elementos 

Que enchiam a minha infância de lindo espaço,

E alegram o meu presente ao matutar.


Tinham plantas ornamentais que admirava...

A mumguba de Lídia de Severino

Um tanto perfumada com filetes alvo e vinho

O ipezinho de jardim de Elita de Joãozinho, Antonio de chiquinho e da Primeira igreja batista.

O Jasmim de Elisa de Vicente Joana e de Maria de Vicentin,

Os hibiscos de Loló de Assis,

A mutambas de Vicente de Paulo,

O bico de papagaio de Dorinha de Luiz de Bonifácio,

A figueira de João Corme, linda árvore abandonada ao pé da ruina da velha casa.


As plantas medicinais

Um lindo eucalipto na casa de Zé de Júlio e na casa de Banício,

A romã na casa de Irelda,


Com as plantas alimenticias a gente olhava e se deliciavam

A condessa de Nelope,

As pitombeiras de Bonifácio e Chico Franco,

As jaqueiras de Dezu de Loló Laercio de Bonifácio, e de tio Jessie,

Os umbuzeiros de Elita de João de Lico, Zezim de Tica, Jona Rosendo, Loló de Assis, Antônio de Chiquim do canto, 

As cajaraneiras de Laurita, Munda e Mariana e Mindin.

A baixa de coqueiro de Dudé,

A mangueira espada de Bunina,

A mangueira de Leoni,

A ciriguela de Antônia de Nelson,

A pimenta de macaco e mangericao de vovó Chiquinha,

A groselhas de Irelda,

A gravioleira de Loló de Diniz,

A laranjeira de Elita de João de Lico,

O linheiro catolé de Eunice,


As plantas nativas sua natureza se expressava,

O feijão bravo de Iola de Dequin

Os anjicos de Rita das urupembas,

Os catolés de Vicente Paulo,

A Timbaúba de Toto de João Corme,

A embiratanha de Chico de Vicente Joana,

O coração de negro de Nelope,

A aroeira de Juvenal,


Os odores das flores de cipós de Bignoniaceae...

Odores de cor rosa ou amarela das tecomas.

Os odores doces alvos das mimosas, unhas de gatos e espinheiros.

As flores estreladas das Jitirana,

Flores multicolores rosas, azuis, alvas e amarelas,

A rama prurida das urtigas,

O amarelo ovo das senas,

O cheiro violeta das mucunas,

A azeda fruta da imburana,

O cheiro doce do cumarú,

O amargo da Marcela,

O baboso do juá,

O azedo do cajá,

O travoso  da maniçoba,

A torteza do Jucá,


São lições botânicas

Fortemente afetivas,

De pessoas muito amadas,

Algumas já partidas...

Assim é viva está minha 

Meu canto em Serrinha do Canto.



quarta-feira, 10 de março de 2021

25. Cerrador

 Apesar de ser armada com unhas de gato

Eram bonitas  e perfumadas suas flores,

Um pompom bem rosadinho que fica alvinho,

De tanto abelha visitar e assim realizar

A famosa polinização que é a condução

De pólen de flor em flor por meio de um vetor o agente polinizador,

A flor ao ser fecundada vai se desvanecendo 

E o fruto a ser formado vai logo se desenvolvendo

Dos estames  o pólen é formado, 

É nas anteras gerado.

O pistilo por estames é rodiado,

Essa estrutura feminina por estigma

Estilete e ovário é formado,

No estigma o pólen é recepcionado 

Pelo estilete encaminhado,

Onde tubo polínico se desenvolve,

Sendo no ovário recepcionado

Pela micropila o tubo se  rompe 

E os microgametofito e megagametofito se encontram se fundindo,

Assim um embrião é formado,

A micropila aí se fecha,

Dos integumentos a testa é formada,

Da dupla fecundação o endosperma seminal 

Assim a semente é formada 

E concomitante a está o fruto do ovário se origina.

Fruto seco achatado de craspedio é chamado

Sendo autodispersado,

A semente é tão pequena e dura

De cor castanha pela testa envolvida

Com uma forma de ferradura ornada

Pelo nome de pleurograma é chamado

Na terra fértil é germinada.

As folhas são todas miudinhas de invermo

De dia se aberta e a noite se fecha

Se desprendendo no verão

É um pé de cerrador planta bela do sertão,

Mimosa paraibana é batizada

Pela taxonomia classificada.

Assim chego ao breve fim 

Creio ser a botânica assim.







terça-feira, 9 de março de 2021

24 Festinha

Não tive uma festa aniversário quando crianças, Não me fez falta... Hoje sei disso, Mas já sabia que não tinha dinheiro, A mamãe sempre fazia uma galinha, fazia também um bolo, E tinha um brinquedo de presente, Mas velas nunca apaguei Nem por isso deixei de ser feliz, Bem que podia ter feito umas fotos. Faltou recurso... Nunca faltou amor, carinho e atenção. A infância passou depois tive festa de aniversário Não mais com os amigos da infância...

segunda-feira, 8 de março de 2021

23. A caixa de ferramenta

A lembrança tem seu encanto,

Por vezes, nos causa espanto,

Na infância era tudo diferente

Em casa pouca coisa tinha a gente


Para nossa pequena lida tinha 

Enxada, enxadeco e chibanca, 

Até uma velha campinadeira

Para o mato da roça campinar

 


Roçadeira,  facão, foice e machado,

Para tirar forragem e madeira

E o gado alimentar e o curral cercar

Um velho morão de pegar e vacinar


Na casa velha havia uma caixa de madeira

Cheia de traquitanas como pregos, 

Alicate, troques e martelo, suvela,

Serrote, pua e plana gostava de chafurdava


Então foi num ano pela tarde

 A uma escola fui pra lá levado

Todo mundo em fila estava sentado

Me deram um caderno e um lápis


Num quadro verda a professora 

Explicava que riscos eram sons

A - E - I - O - U   e A, B, C...

Vogais e alfabeto

Um caderno e um lápis


E a incompreensão e insubordinação

Tinha como punição um puxão 

De orelha... Ardia e queimava,

Acho que não ligava pois sempre repetia a ação


Ah lição complicada,

Do ABCD chegar a entender o mundo

Que paciência e perseverança,

Largar a infância e se abraçar a responsabilidade

De ler e entender o mundo pelas palavras


As ferramentas de casa eram muito mais simples,

Mas a coragem faz o guerreiro,

Aos trancos e barrancos passava de ano 

E ouvia um elogio e um livramento passar de ano,

Ouvia com prazer que ao menos era inteligente,


Ouvia dizer das aparências com Françuar 

Comparado até nas astúcias assim cultivava 

Minha inteligência pequeno era o mundo

E grande a imaginação...


E ouvi dizer que Dona Lenita era mais rígida,

Mais valente, então o medo me adestrou,

Tomei de primeira as lições, aprendi o que achava

E pontuava as escola, passei por média,


Entre ditongos e tritongos... a Bahia e o Paraguai,

Algo era uma luz e deixara de ser cruz,

Na Serrinha Grande foi a vez de Conceição,


Professora do sertão

Que chegava a serrinha,

E rezava toda manhã,

Agora mais liberdade,

Agora mais responsabilidade,


Três litros de leite e a sala de aula,

Na vergonha vendia aqueles litros,

E o dinheiro a mamãe dava,


Na escola sempre passava...

Quinta série essa foi um destroço

Era muito o alvoroço,

Estudar com professores,


Esperar aula de educação sexual,

Fui expulso da aula de religião,

Fui para quarta avaliação em matemática,

E em ciências, quase reprovei,


Ainda lembro do olhar de severo

De dona Rivete,

Lembro de Cleiton e Primo Valdene...

Edineia, Cileuda, Alessandra e Joesilha,


Sexta série Chaguinha de Viriato me salvou,

Como ave em arapuca,

Fugi de um bagunça nas últimas,

E Chaguinha professor de matemática e ciências

Me salvou da matemática,

Nas ciências me apeguei,


Adivinhe o por quê,

Ali descobri minha inteligência

O livro cheio de imagem,

De bichos e sistemas,

E Chaguinha contava as histórias do Colégio Agrícola de Jundiaí...


Muito obrigado professor,

Na sétima série não esqueço

Aula de geografia,

O mestre José Silva descrevendo as ilhas Polinésias e Melanésias...

Tomava a lição,

Naquela grande inverno,

Para a estrada ia o gado pastorar,

Com o caderno na mão

Aprendia geografia, 

Virando as pedras brancas do Barroso

Em busca de escorpião,

Ai veio o professor Luiz Silva também da geografia,

Tomei gosto pelas boas notas.

Na oitava série o destaque foi Ledimar,


Professora Perpétua e Genilda,

Desculpe mas português não era minha praia...

Lembro da tarde que Drummond morreu,

A professora Genilda falou com muita tristeza.


Essa dificuldade da língua ainda carrego,


Em Martins teve a fabulosa Janildes de biologia,

O fantástico Pedro de matemática,

Oneide e Fátima de Português,

O que dizer da generosidade de drs. Moacir e Luizinho,

Josineide de inglês,

A professora de literatura que me fez pela primeira vez ler o mulato

Dona Marta esta apostou na gente...


Me divertia mesmo era na biblioteca

Ali onde ficava dona Bebeta...

Lia os livros de contos...

Fernando Sabino...


Naquelas noites frias da serra,

Não estava só tinha minhas irmãs

Nossos vizinhos e vizinhas...


Sabe os caminhos foram tortusos,

Mas descobri a caixa de ferramenta de Foucualt muito cedo,

E não teve um dia em minha vida

Que não tivesse um aprendizado,


Agradeço a todos que me ajudaram

E principalmente aqueles que me apoiaram,

Aqueles que vieram e se foram,

Seria impossível descrever...

Dedico tudo que sou a mamãe e a papai.

E fico por aqui.


22. Para além

 Às vezes, a gente fica concentrado,

Fazendo atividades cotidianas,

E ouve sons de coisas humanas,

Som de longe distinto e perturbado,


Parece que ouvimos o eco do tempo,

Parece que nos perdemos no espaço,

A gente sente intensa nossa individualidade,

Sente o quanto somos solitários


Talvez tenha tido essa sensação

No estalado a queimar a maravalha,

No ferver do café com água que borbulha,

No chiado da chuva longe que vem chegando,


Na solidão noturna ouvindo um roncar...


Coisas humanas,

Coisas humanas,

Coisas humanas,


Pulsações da vida,

Que renega até a morte a morte,

Esse medo do desconhecido,

Aprendido desde o ser um bebê.


Agora ouço longe

Roncos de motores,

Ecoando nas ruas,


Longe muito longo vou,

Estou no meio do mato,

Ouvindo roncos de motores

Ecoando nas gargantas das serras,

Ecoando entre as caatingas...


Quem desconhece a cinza

Que se faz ao apagar crepuscular

De cada dia, o cantar da ave maria

Na voz de Gonzaga...


Esse profundo eco

Espelho do tempo,

Eternidade momentânea,

Num ponto é fiado é tecido

O presente e o passado

No ser...


Agora a compreensão que o entendimento está para além da experiência.


21. Paternidade

 O tempo em conta gota

Sendo o sono fracionado 

A noite que antes fora oculta

 agora está sendo desvelada


Entre horas se ouve seu chamado

Um gemido, uma virada, uma tosse

Quando a gente olha e ver 

Tanta beleza condensada


Fica hipnotizado cansado 

E feliz sem perceber a noite

E seus fenômenos revelados


Frágil Belo e delicado

Necessita de atenção,

Precisa de cuidado 

A paternidade é assim revelada.




domingo, 7 de março de 2021

20. Escreve

Um dia esses versos

Serão  empoeirados

Serão esquecidos,

Não desaparecidos 


Terá sempre uma chave 

A quem quiser acessar,

A quem poderia interessar,

São imaturos e pobres


Nem sabem o que expressar,

Falta métrica e rima e emoção,

Amorfos buscam uma classificação,

Querem em um gênero se encontrar


Desejam ser objeto do pensar,

Buscam nas palavras enunciação

Buscam alguma participação

Mas como um um habitat encontrar?


O tempo e o espaço hão de se encarregar

O que vos escreve desconhece a arte

Desconhece os paradigmas e toda parte,

Sabe apenas que o oriente ama a lógica.


Matutar a palavra encaixa-la feito dominó 

Encontrar a beleza na organização rimada

Me trás uma reflexão pouco embasada

Que os espaços são ocos e podem ser um só


Ocupado, limitado ou ilimitado,

Pois agora é a melhor hora 

De quebrar o paradigma

O protocolo, e aqui intuir

Criar uma quimera 


Que seja mesmo independente,

Particular ou universal 

Que seja livre 

E apesar de tudo original


Que tenha fim imediato.

















19. Serrinha do Canto

 Serrinha do canto

Meu amado encanto,

Meu centro espiritual,

Meus referenciais,

Em linhas gerais

Aqui sempre estou,


Serrinha do Canto

Foi onde eu cresci,

Foi onde vivi

Vivi protegido,

Vivi amado,

Papai e mamãe,

Meus irmãos e irmãs,

Nossa casinha,


Serrinha do Canto

Onde tudo começou,

As primeiras brincadeiras,

As primeiras amizades,

As primeiras orações,


Serrinha do Canto

Meu ponto de dormida,

Meu ponto de comida,

Meu sentir plena a vida,


Serrinha do Canto

Os nossos vizinhos,

Nossas famílias escolhida,

Elita e Joãozinho,

Du Carmo e João Lusso,

Chico Neco e Arlete,

Artur e Eliza,

Ribamar e Lena,

Airton e Eliene,

Zezin e Tica,

Dudé e Zé de Geremias

Hélio e Paulinha,

Crejo e Josa,

Loló e Dezu,

Seu Mundinho e Luiz,

Dequinho e Iola,

Totó e Zuleide,

Nelson e Antônia,

Raimundo Vieira e Cacau,

Antonio de Doquinha e Ziná

Diã e Neta,

Joquinha e Nena,

Juvenal e Iraide,

Adelson e Antônia,

Nelope e Luzia,

Livani e Evandro

Chiquinho do Canto e Socorro, 

Bonifácio e Loide,

Tirite e Lenita,

Leci e Laurita,

Maria de Cajumba,

Tio Juice

Zé Vieira,

Miguel e Tereza,

Mané de Branca e 

Dadá e Preta

Dinarte e Doraci

Deo, Nazareno, Gorete, Régia,

Zé Paulo e Elita

Jaíme e Luiza,

Chico de Joana e Daleia,

Minino e Ieda,

Vavá e Elieuza,

Neto e Júlia

Diniz e Loló,

Josimá e Elenita,

Elias e Loló...


Serrinha do canto

Minha alfabetização

Dona Livani e dona Lenita,


Não não podes imaginar

Nossas distintas relações...


As brincadeiras de criança

Fazenda, dinheiro moeda de carteira de cigarro,

Carro de madeira,

Caçada de baladeira

Caçada de cachorro,

Pegar passarim...


No inverno os banhos de cachoeira no porção

No verão o fotebol no porção e no marocão,


A biclicleta barra circular e a escola,

Nossa monareta azul,


A luz elétrica...

A televisão

Show da Xuxa,

Leandro e Leonardo


Serrinha do Canto

Um ponto entre os avós

Chico e Chica

José e Sinhá,

Tio Aldo e Tia Nevinha,


Esse meu imaginário...


Serrinha do Canto

Nossas vacas magras,

Nossos cachorros,

Nossos gatos,


Serrinha do Canto

É meu alicerce

Meu tempo e meu espaço...

Afinal quem somos nós

Parte de onde partimos,

Parte de onde saímos,

Parte do que ouvimos,

Parte do que repetimos

Aquilo que queremos repetir,

Agora é hora de matutar

Maturar,

Digerir e representar...

Serrinha do Canto.

18. Metamorfose cega do sertão

Quem conhece o sertão

Reconhece seus odores

E suas diferentes cores,

Quem conhece o sertão


Odores fortes de plantas,

Odores forte de carniça,

Odores fortes de lixo,

Quem conhece o sertão

Conhece a caatinga cinza,

Conhece o vinho do mourão de aroeira,

E o laranja ou a alva da poeira,


Conhecer o sertão

Faz parte da existência sertaneja,

é gostar de caldo de cana e rapadura

Gostar de melão e melancia,

Gostar de feijão verde,

Gostar de pamonha,


Gostar de pescar no açude,

Gostar de ouvir cantoria...

Gostar de se encontrar em festa de padroeira,

Gostar de vida simples,


Mas o sertão mudou,

Criança não come coalhada só yogurt,

Criança não brinca correndo,

Criança tem tablet até aprende inglês,


O sertão mudou,

Agora a caatinga é cheia de lixo,

Agora a caatinga é pobre de bicho,


Muita coisa mudou no sertão,

Cemitério tem telhado,

Adulto vive no celular,

Ninguém mais quer trabalhar,


Mudaram as tradições...

Quem vê o sertão de hoje,

Nem imagina como foi,


Tudo evolui

Que se adapta sobrevive

Que não se adapta morre,


Corre corre corre...

Foi o sertão que mudou ou foi sertanejo?




17. Morte

 A morte é o não ser,

A morte mata todos,

A morte é o ponto final

Não da frase, mas do texto.

A gente se pergunta 

O que é a morte 

Quando nos cerca,

Quando nos leva 

Alguém muito querido 

Pensamos sem parar

Por que isso aconteceu?

A morte é caixão 

É paixão,

É dor 

É diluição

Desaparecer 

E por fim 

Adeus poesia

Morte.








16. Madrugada

 Na madrugada, canta marrom a corroira 

Canta, cantando vai pulando pra lá e pra cá,

Grita amarelo o bem-te-vi perto de seu ninho,

Canta laranja o sabiá que parece assobiá.

A passarada anuncia um novo dia,

Um lindo dia de março de 2021,

Um novo dia de ação dia de ser.





sábado, 6 de março de 2021

15. Estória

 Numa manhã domingueira,

Segui com mamãe até o sertão,

Fomos de jegue se bem me lembro,

Lá pra casa de vovó Sinhá,

A estrada era apertada,

Com areia alva 

E seixos rolados,

A gente ia caminhando

E o mundo descobrindo,

Cada árvore mais linda,

De certo era inverno,

A água escorria na terra úmida,

Era perfumada a estrada,

Um cheiro de marmeleiro,

Cheiro de velame,

A certo momento num novo lugar,

Ouvia a rolinha cantar,

Fogo-pago, fogo-pago, fogo pago...

E ao voar ouvi o som de chocalho,

Ouvi um canto lá no campo,

Era um canto maravilhoso,

Era o tico-tico do campo.

Chegando na casa de vó,

O mundo era tão amplo

E nós tão pequenos,

Ali se via serras

Eram outras terras,

Serras no nascente,

Serras no norte e no poente,

Só o sul era profundo.

Vovó nos recebeu,

Vovô também estava lá

Vimos a mana Lera

Vimos o primo Magi,

Vimos a alegria de mamãe,

Ao chegar lá se sentia em casa,

A maravaia queimava no fogão de lenha,

Queimava acabando de cozer o feijão,

Tomamos uma coisa mole e alva,

Feita de leite chamada de coalhada,

Rasparam a rapadura

Misturaram e comemos,

O que me chamou atenção

Foi o lugar onde guardava 

Tal manja a coalhada,

Descansada numa forquilha,

Teve a noite dormida

E agora era comida...

Eu criança curiosa,

Achava aquilo esquisito,

Casa de taipa,

Vovó idosa,

Vovô pigarreando,

Entre eles conversando

E eu viajando,

Apenas nas formas,

Da vida nada entendia,

Só vivia,

Foi um dia maravilhoso,

Que volta sempre a minha memória,

Parece uma estória,

Mais um dia foi realidade,

Seria a realidade um sonho?

Penso agora risonho...

A casa,

A paisagem,

Meus avós são estórias e sonhos,

Coisas de minha  memória,

Que compõe esta estória.

E é só.

14. Metafísica poética

 Agora é tempo...

Quase meia noite é

Desperto deitado,

Ouço o som

Que vem lá de fora,

Fora é espaço,

A chuva que chora...

A chuva chorando,

Num átino,

 Vejo o que não mais existe  

Memórias o são essas coisas,

Sei que estou triste 

Sinto é tristeza...

Tristeza é reflexo de memória?

A tristeza tem a mesma matéria da memória?

Então penso e escrevo meu pensamento,

Materializando assim tanto a memória

Quanto a tristeza que existe,

Se é que existe...

Só sei porque me disseram,

Você está triste,

Então esse sentimento 

Ganhou uma palavra na língua portuguesa.

Se fosse inglesa seria Sad 

Ou ainda BLUE...

Esse sentimento existe na natureza?

Duvido que exista fora de mim 

Fora de ti!?

Então o que existe fora de mim 

Precisa ter substância?

Qual é a substância da memória?

E a substância da tristeza?

A tristeza pode ser controlada

Via medicamentosa

Regulando bem os hormônios,

Endorfina...

A contemporaneidade e a ciência

Juntas numa só mataram a melancolia,

 Enterrando as trevas,

Superando os ciclos de Danti.

Parou de chover,

Tudo é silêncio  

Mas ouço um som 

Um som não é só memória,

A prosa me fez esquecer a tristeza

Ou acabei de ficar triste

Não contente...

Ouço um ruído

Parece som de mangangá

Zuummmm

Zummmmm zeeeeeeee.

Aquela abelha gorda 

Sobre a flor papilionácea

Flor violeta da mucuna 

Do olho de boi,

Até na sobra da ignorância

Me encantava a natureza das plantas,

Em suas flores,  frutos e sementes.

Espere perdi o foco 

Ganhei o sono,

Uns versos

Melhor não adiar 

Em casa com criança

Sono é artigo de luxo...

Parou de chover.

Chega me calei.








sexta-feira, 5 de março de 2021

13. Saudades

O amor foi feito só para quem ama de verdade.  E eu nunca senti por ninguém o que sinto por você. Te amo de verdade. De seu pai para Rubens.  

Está frase está numa plaquinha que papai trouxe do Canindé.

Papai era assim nos pegava no amor nos simples gestos.

Seus presentes jenuinos enchiam nossos espíritos de maravilhosos sentimentos.

Hoje recebeu seu amigo Amós aí onde estiver.

Saudades.

12. Sentido

 Ainda é muito viva a presença de papai na minha vida. Faz quase três mês que ele partiu, mas ainda sinto

 intensamente sua presença. Ouço sua voz. Vejo seus gestos. Lembro de nossas conversas. Lembro de tudo.

Dói muito saber que não terei mais sua presença não compartilharei mais nada.

Quando adoeceu foi a pior parte de nossas vidas, pois adoecemos juntos. Entramos em desespero.

Fui correndo cuidar dele. Ele falou assim. Cansado, sem esperança. Era um domingo a noite.

A vida não faz mais sentido.

Não faz sentido.

Então começamos a cuidar dele com o maior do mundo.

E ele ganhou um sentido. Ganhou uma sobrevida.

Viveu um pouco a mais.

O amor pode mudar a maneira de ver o mundo.

Podemos mudar o mundo com amor.

Podemos dar sentido a tudo e principalmente a vida.

A doença venceu a carne, mas não o espírito.

Toda noite papai rezava...

Estava do seu lado o tempo todo.

Enchia ele de beijo, de carinho...

E meu maior medo era da tua partida.

Não sei expressar o que sinto.

E quando não sei expressar.

Esse sentimento externa em lágrimas.

Tenho que reavaliar tudo.

Os anos que vivi ao teu lado papai.

Tudo que aprendi com o senhor sobre a vida,

Coisas grandes e coisas pequenas.

O respeito a vida, aos seres, as pessoas...

E sempre que lembro de seus momentos de fragilidade meu coração se comprime.

Na fragilidade ajudou a mamãe cuidar de mim.

Na fragilidade todos nos cuidamos de ti.

Cuidamos da maneira que podemos até o fim.

Na minha parede agora tem uma imagem sua.

Na minha mente tem o teu espirito.

Amor infinito.

quinta-feira, 4 de março de 2021

8. Ausência

Quando alguém deixa este mundo,

E é gente  por nós muito amada,

Fica a ausência algo profundo,

Fica aquela atmosfera destroçada


Parece que tudo chegou ao fim 

Fica faltando uma parte,

E demora pra se acostumar

Então a gente pensa no ser 


A gente pensa no tempo

A gente pensa mais

Pensa no que aconteceu

E enfim um dia aceita 

Embora a dor nunca mais acabe.

Outras coisas ocupam o lugar

A ausência dói.







11. A Vinícius

 Não há nada mais sublime que segurar seu filho enquanto dorme na mais perfeita paz.

Seu corpinho frágil, macio, sua respiração, sua vida aos teus cuidados. A impressão que temos é que

 nossos corações vão explodir de tanto amor.

A gente fica olhando, assistindo cada coisinha no corpinho.

Sentimos seu cheirinho, sua cândida existência.

Até dois meses atrás desconhecia todas essas sensações.

Até dois meses atrás quando meu filho nasceu,

Certamente eu me transformei, houve uma catarse amorosa.

Noites e noites mau dormidas,

E aquela preocupação na mente está tudo bem?

Está tudo bem...

Mesmo estando tudo bem a gente não acredita e fica acordado olhando até a exaustão.

E quando o dia nasce

E quando aqueles olhinhos se abrem,

Parece que deram uma supercarga de energia,

Porque agora nossa felicidade não é nossa é algo compartilhado.

A mamãe amamenta e o papai colabora cuidando de cada coisinha.

E ai surgem novas conversas, surge aquela empatia de quem é pai...

Nossos exemplos compartilhados.

Não sei se sou mais bobo, mas rio à toa com as coisas de meu bebê,

E a proporção que vou sendo reconhecido, a proporção que ganho um sorriso,

Descubro que o amor é infinito.

Ser pai é uma grande dádiva.

Poder falar ouça o papai, venha pro papai, o papai vai te ajudar.

Pegar aquele serzinho e dizer "Te amo".

Você é o meu maior tesouro...

A gente fala sem saber se ele vai entender.

Sabe aquela manhã que você acorda bem e percebe o mundo,

As flores em frente as casas, na campina,

Você ama está vivo, ama ser quem é.

Pois é a sensação de ser pai é muito superior.

Então enquanto lindamente ele dorme ali no carrinho,

Ouço Schubert para bebês

E dedico este pequeno texto aquele que mais amo no mundo,

Vinícius meu bebezinho.

10. Um instante

 A tarde caiu nublada e chuvosa,

Chove, dá um tempo, chove,

Fecha a janela e abre a janela,

Toma um chá,

Faz calor,

Abre a janela,

Faz frio,

Uma música,

O cuidar das coisas,

Cuidar do bebê,

Cuidar da esposa,

Cuidar dos irmãos,

Da família...

E a fé.


9. Enquanto isso

 A noite me acordou com seu calor

E me entregou a madrugada estrelada

Entregou-me em silêncio,

Meu menino acordou  e mamou 

Discretamente dormiu.

Dormiu no meu peito  e nos meus braços

Sua cabecinha perfumada incensou minhas  narinas,

Se mexia, respirava 

Era quente seu corpinho, tão gordinho.

O galo cantou, ouço o teco-teco do ventilador da vizinha de baixo,

Também ouço o canto mudo dos grilos,

Olho pro céu parece que o piscar das estrelas imitam o ciciar dos grilos.

Minha esposa ressona,

Vinícius no berço em busca de se acomodar

Uma corroira canta 

Um galo canta,

E penso que ainda me surpreende ter galinha em algumas ruas desse cidade.

Olho a x brilhando e penso em pai.

Até o calor refresca na madrugada,

Enquanto Vinícius mamava 

Peguei um livro  de Neruda 

As uvas e o vento e li o prólogo em um poema.

Pensei em Vô José...

Em mamãe...

Vinícius dormia em meu peito.

Agora lá fora ouço

Siriririririri...

Uma brisa fria atravessa a janela.

O sono já chega...







quarta-feira, 3 de março de 2021

7. Um ponto

 Andamos perdidos em nossos pensamentos.

Somos infantis?

Sempre em busca de algo que nos preencha.

Parece que o vazio é nossa maior parte. 

Somos balões?

Não percebemos a nossa realidade seja qual for.

Somos míopes?

Temos medo de perder algo o tempo inteiro.

Nem vivemos intensamente o presente, o aqui e o agora.

E quando perdemos nem tomamos conta que precisamos nos ater ao presente ao agora.

Parece que a vida é um punhado de areia em nossas mãos

Que vai perdendo grão em grão.

...

6. Mozart

 Mozart sem dúvida é meu compositor favorito. Se me perguntar por que? Não tenho uma resposta. Como não tenho respostas para a maior parte das coisas que existe ao meu redor. Todavia, gosto pois sinto sua música. Bem todos podem sentir, mas por que não sente ou aprecia, como não apreciava. Cuidando agora de meu filho passo entender e racionalizar muita coisa. Ele não entende coisas que para mim são óbvias. Coisas que o irrita para mim são maravilhosas, mas não é sobre mim. É sobre o outro, sobre você. Quando me perguntas porque Mozart direi porque sinto, porque vejo alegria, felicidade... Sabe a gente tem uma coisa chamada consciência. Que por definição seria a apreensão de um sentido. Desde que a gente passa a ter consciência a vida fica muito mais complicada, porque passamos a nos basear nos outros. Estava sozinho em meus pensamentos e perguntei a mim mesmo. O que poderia ser bom neste momento. Liguei o computador e ouvi Mozart. Não entendi nada. A primeira vista as coisas nos desnorteiam, são apenas impressões. Na segunda vez que ouvi, já me familiarizei um pouco e fui tomando consciência, passei a ter percepção, depois mais um pouco me interessou saber quem foi o compositor, o que o fez compor tal e tal peça... Bom esse é meu modo de ser. Veja que arrodeio muito para falar algo. Gosto de Mozart porque descobri que podia gostar. Então fique em paz que vou ouvir aqui. 


https://www.youtube.com/watch?v=FZ1mj9IaczQ

5. Nuvem

 O mundo essa soma de tudo que existe

 É a pluralidade além de nossas impressões,

Por certo objetiva, mas que é sem emoções,

Existe a sensação de está alegre ou triste.


Meu mundo o que seria representações

Ou seria o que é pura matéria 

Ou um produto do trabalho de reflexões,

Ou coisa descabida de explicações.


Versos, estrofes, rimas frases com migalhas de perguntas.

Uma tentativa de organizar o universo humano.

Talvez algo se consiga entender,


Talvez seja tudo vaidade,

Talvez seja uma busca da verdade,

Ou tudo é ilusão.



terça-feira, 2 de março de 2021

4. Graça

 Na antena

Pousou um sanhaçu

Ficou ali plinçando 

Ficou ali cantando,

O frescor da manhã,

O céu infinito,

A liberdade em suas asas,

A liberdade em seu canto,

A beleza dessa realidade 

A beleza da simplicidade,

Se perde em nossos pensamentos,

Por vezes se encontra no agora,

Em estado de graça.





3. Alicerce

 Lá fora está fresco.

A manhã nasceu agradável.

Nublada, mas com campos de azul do céu.

Canta sem parar,

Canta em todo lugar,

O bem-te-vi,

A corroira,

A patativa,

O sanhaçu...

O que dizem não sei,

Mas é uma beleza de ouvir.

São as coisas deste mundo,

São as coisas desta vida,

Particularidades de uma totalidade.

Onde a consciência não consegue tocar

Apenas contemplar.

Uma manhã qualquer

Em qualquer lugar que seja.

A base de tudo é subjetiva.

2. Papai

 Papai meu papaizinho querido,

É pena que tenhas partido,

Deixando meu coração fendido

Em dor e muita saudade


Logo você minha maior alegria,

Meu alicerce, meu pilar, minha poesia 

Meu confessor e amigo mais antigo,

Como dói a sua ausência a noite ou de dia


Me faz falta sua grande Alegria

Forte e intensa que me contagia.


Ah papai que intensa foi a dor,

Como foi triste sua partida

Achei que ia perder a vida

De tanto sofrer de amor


Não tenho mais o que fazer

Só me resta agora é sofrer,


Tá cheia minha lembrança,

De todo o tempo vivido

Em sua presenças ouvido

A vida cheia de bonança


Mas aí, mas aí

O tempo cruel vai

Levar que a gente ama

A gente imóvel na cama


Neste triste momento

A gente se questiona

Por que a vida se vai

Por que levou meu pai?


Cadê você papai

Cadê você papai


Não falas

Não ouves

Não és


Continuar aqui a sofrer

Quem sabe um dia ao morrer

Venha te encontrar


Eis maior mistério

Que o senhor me perdoe

Mas é a dor quem me fala

É a dor que não cala

De alguém que um dia foi


Agora é só memória

Nada mais.








segunda-feira, 1 de março de 2021

Umbuzeiro

 Umbuzeiro

Árvore intrincada e retorcida,

De copa muito fechada

Conhecida como árvore da vida,

Madeira mole, quebradiça e alva

Nuas na seca se tornado cinza,


Floresce quando o clima muda,

Seus cachinhos são alvinhos 

Miudinhas flores estreladas 

Que planta amável






1. Intangível

Onde podes encontrar minha mente?
É muito fácil. Está longe.
Está lá onde cresci em Serrinha.
Está contemplando a natureza.
Está sentindo o cheiro da terra molhada,
Está sentindo o frio pós chuva,
Está vendo as tanajuras a voar,
Vendo tronco limpos das árvores,
Está ouvindo os sapos coachar,
Está ouvindo o sabiá cantar,
Está sentindo a terra molhada,
Está vendo a tarde nublada,
Ou a tarde ensolarada depois da noite chuvosa.
Sabe há um ar de mistério,
Algo muito místico,
Sinto que sinto sozinho essa sensação de solidão.
Algo indescritível, surreal.
Não sei, mas algo mudou.
Agora essa atmosfera se faz mais mística
Agora que papai ocupa esse cosmo.
Sempre estive preso a tudo isso.
Não sei me expressar.
Nenhuma palavra será capaz de explicar.
É algo que se sente.
Como sentirás?
Não sou capaz de dar-lhe este presente.
Sentir essa emoção.
Então pareço ilógico.
A luz da totalidade não sou.
Nunca provarei nem despertarei em tua consciência.
Contínuo oculto com minha sensação.
Aqui me encontrar.
Entre a mata seca e intrincada...
Algo intangível.

Velho

 Acho que estou ficando velho. Ficar velho sempre parte de um referencial. Quando dizia que estava ficando velho para minha avó ela dizia, v...

Gogh

Gogh