Amor de inverno

Não sei se a manhã era ensolarada, nublada ou chuvosa.
Nem sei estava frio ou quente.
Tudo que me lembro é do som do tico-tico.
Cantando durante toda a manhã,
O mundo parecia tão vasto,
E o som do tico-tico preenchia todos os espaços,
De alegria ou de tristeza.
O tico-tico pintadinho não estava nem ai.
Só cantava para encantar um amor.
Um amor de inverno.

Revolta

Flores no escuro,
Numa noite fúnebre,
Canto de bacurau,
Umidade fria na estrada vazia,
Que lugar vai dar,
Por aqui passos quentes caminharam,
Mas agora passos não dá,
Só resta essa lembrança,
Só restam minhas lembranças,
É tudo que sou!
O tempo gosto tentando entender o mundo,
Tentando me criar,
Não sei o que fica.
Talvez as boas ações.
E memórias que precisam serem estimuladas
Só assim vem aflora.
Tá tudo no inconsciente,
No subconsciente,
Tenebrosa existência,
Tão aguda quanto espinho de agave,
Tão grata,
Agora é devir.

Vovó

Hoje sábado,16 nov. 2019, lembrei de vó Sinhá no alto de sua idade, morando conosco em nossa casa. Vó que tanto viveu e lutou pela vida. Ficou viúva já idosa. Depois disso se desapegou da matéria e foi morar com as filhas. Passava um tempo conosco e outro com tia Chagas. Era boa sua companhia. 

Vó era religiosa e gostava de assistir a missa e ainda aprendia as orações.
Vó dizia que saiu da escola na sexta série e estava aprendendo em matemática raiz cúbica.
Contava que declamava poemas no coreto no fim de ano.
Nascida no dia 13 de dezembro de 1913 na cidade de Martins-RN. Pouco sei sobre esse tempo distante. Quase não tem registros nem falas. Minha tia mais velha Maria das Neves é de 1935. Que nos dá uma média de 22 anos quando vovó foi mãe. Nasci em 1979, quando vovó contava com 66 anos.

Fotografia

A cada clique capturo uma composição mais perfeita que a outra,
Capturo combinações de cores e formas, singularidade e pluralidade,
Olhar através das lentes é fabuloso,
Poder capturar e fixar a imagem,
Como dá memória a um espelho,
Fixar o tempo que é efêmero,
Movimentos que são rápidos,
Essas coisas que vejo
E posso expressar pela fotografia.

Calma!

Às vezes nos desesperamos com as  manchetes de jornais.
Às vezes é o calor do dia,
Às vezes um mal entendido.
Mas não devemos nos dobrar aos sinais que lemos.
Nem tudo está perdido,
Basta tentar ver as coisas sobre outras perspectivas.
Num jornal temos várias notícias.
O calor pode ser amenizado com um banho.
Talvez se acalme e assim consiga se expressar melhor.
Calma! Tudo vai ficar bem.

Faz bem

Pensar que todas minhas memórias podem ser deletadas do universo em um momento.
Nada de infância, adolescência, fase adulta ou sequer dum presente recente como ontem.
Pensar o que são essas memórias?
Saber que estão presentes num órgão que se assemelha a uma noz protegido com uma estrutura dura
e seu interior cheio de giros e curvas formando uma massa cinzenta, formado por células dendriformes chamadas de neurônios.
Isto não assusta?
Saber que fazemos coisas enquanto dormimos que não lembramos?
É a vida é o que há de mais frágil no universo.
Nem paramos para pensar ou contemplar este fenômeno que é ser nosso ser.
Para tudo a consciência é tremendamente potente, mas quanto a vida. Não é.
Se temos nossos dias contados, então por que não passamos a utilizarmos melhor nosso tempo com as pessoas que amamos e fazendo o que gostamos. Caso não saibamos, tudo bem ainda é tempo para descobrir.
Depois dos 40, acho que descobri o que me faz bem.
Acho que a botânica, ensinar, aprender, ouvir Mozart, ver Gogh, ler filosofia ou literatura, ir ao cinema, contemplar jardins, rochas, formações estruturais, lembrar de vovó, está em casa...
Viver é entre todas as coisas a mais sublime que há.
Pensar essas coisas faz bem.

Animalidade

Sob o sol ao pino o gado ruminando sob o pé do juazeiro,

A brisa quente pouco incomoda o momento de descanso bovino.

A luz intensa do sol, o silêncio da natureza,

Os pensamentos o que são?

Seta do tempo

O sol a pino,
O cinza do tempo no verão.
A certeza da impermanência,
A incerteza do amanhã,
As coisas não mexidas,
Os pensamentos deletados,
O fim do ser,
Esperança?
Quem sabe onde?
A seta do tempo transpondo e ultrapassando nosso ser.

E o tempo

Entre um dia e outro,
Entre está sã e está doente,
Ai governa a existência,
Um dia seguindo o outro,
Sequencialmente, cotidianamente,
Vamos consumindo nossa vida,
Vamos trilhando nosso caminho,
Vamos seguindo em frente,
Sem dar por si,
E num certo dia a gente percebe
Que a vida passou!
Percebemos que temos que partir,
Só de pensar já enchemos o peito de saudades,
Cada dia é impar, embora nos acostumemos e passamos  crer que não.
Mas ai,
Amanhã!