sexta-feira, 8 de abril de 2011

Toin

A terra quente ardia de calor, plantas nuas cinzentas, o chão completamente nu de folhas, só seixos cobriam o solo. O sol brilhava intensamente, a cigarra cantava anunciando a chegada da tarde, sob uma casa de taipa um velho deitado numa rede cochilava. Nem um vendo soprava. Na cozinha escura, entisnada, o feijão pulava na panela onde boiava um pedaço de torcinho aquecida por maravalha de marmeleiro. Seu Toin como era chamado, acordara cedo, encelou o jumento e foi buscar água no açude, bem longe. Esse ano não choveu uma gota e a água que tem é salobra e fica muito longe. Toin que mora só é o último habitante daquelas bandas. Não tem roupa nova, calçado e nenhum luxo, sobrevive do que planta. Naquele dia fora buscar água voltou muito cansado, o jeque está muito magro, come folhas secas, anda bambeando as pernas. Mas ainda resiste como Toin. Numa gaiola tem um golín que só está ali por está preso, mas sempre canta e alegra aquela pequena choupana. Toin esta cansado, mas diz que não sai dali por nada. Tem esperança que as chuvas cheguem e salve seu jegue. O mundo é só poeira. E ele muitas vezes não pensa em nada, não se lamenta, simplesmente vive. As vezes quando faz uma barra no poente ele lembra da época de fartura, da família que partiu em busca de melhora, mas ele ficou ali, encrostado no chão, dizia que fazia parte da natureza. A noite saia pra olhar as estrelas, sentir o vento do nordeste. Seu corpo curvado tinha a forma da rede, e o cansaço da idade. Não conhecia as palavras, mas sabia contar histórias, ultimamente não falava com quase ninguém, só refletia e contemplava a natureza, ia a cidade que ficava muito longe dali para comprar alguma coisas. Sobrevivia ali. Bem do lado da casa pro poente passa um riacho seco no momento, mas quando chove, como canta aquele riacho. No nascente tem um lindo serrote com macambira e cardeiro, onde a lua as vezes se espeta. Naqueles campos nus quando cai a chuva, nasce uma relva, com flores de todas cores, rosa, amarelas, roxas e azuis. Ah quando cai a chuva os marmeleiros, mufumbeiros, mimosas, florem e soltam um cheiro, doce como de mel. Os sapos cantam, as abelhas, e a noite a mãe da lua canta. Como é lindo aquilo no inverno, mas a natureza na seca adormece, Toin não sabe adormecer e fica a sofrer como as árvores, porque sabe que um dia chove e como as árvores ele flora, sua alma explode de alegria. Por enquanto é sol, calor e tristeza, mas o inverno vai chegar, e a natureza a vida vai despertar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Linguagem intuitiva

 Quem conhece a linguagem dos pássaros, Quem conhece a linguagem das flores, Quem conhece a linguagem dos rios, Quem conhece a linguagem do ...

Gogh

Gogh