domingo, 14 de junho de 2020

38. Vento ao meio dia

A vida inteira tive certeza que a vida é efêmera.
Tive consciência aos meus sete anos que morreríamos.
Naquela tarde chorei e mamãe perguntou e não respondi.
Só chorei.
Corri para o quintal onde havia um cajueiro onde dormia as galinhas e chorei.
Chorei vendo os pés de pimenta carregados de pimentas vermelhas,
Chorei quando vi a altura dos coqueiros sinal de senescência.
Sobrevivi com minha mãe e minhas irmãs as secas, as privações, a saudade.
As rochas roladas nas estradas,
A areia trazida pela chuva anterior,
A dor de perder meu avó.
Consciência!
Consciência de minha realidade.
Consciência de uma realidade universal.
E descobri nos livros outras realidades para além da minha.
Aquilo que sei descrever,
E o que fica entalado em minha garganta e em minha alma por não saber expressar.
Aqui estou descarregando emoções.
Aqui estou... na certeza que este momento é efêmero,
De que logo será nada,
Será um vento ao meio dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meu pequeno botânico

 Ontem, Vinícius e eu saímos para ir ao pé de acerola. Nunca vi ele ama acerola. Vamos devagar e conversando. Ele teve a curiosidade de ver ...

Gogh

Gogh