Uma das pessoas que mais nos servia era João de Licor, um senhor cheio de crença na bíblia, escrevia na parede da casa onde morava e da casa velha pertencente a sua sogra a sábia frase "Viva e deixe eu viver". Casado com Elita que recebeu o sobrenome de Elita de João de Licor. Ele veio do sertão lá para as bandas da morada nova. Depois que ficou viúvo casou com Elita. Nasceu e se criou no Jenipapeiro no município de Portalegre-RN. Ouvi muitas vezes ele falar deste lugar, ficava imaginando como seria. Tinha uma boa narrativa, costumava contar as histórias por meu pai que quase todas as semanas fazia uma boca de noite lá. Era assim desde que éramos criança. Sempre que ia pra lá a noite saia um café, um chá de folha de laranjeira ou um docinho, nunca faltava um agrado. Mais o melhor era ouvir as estórias que ele tinha pra contar. Fui crescendo sempre ouvindo ele falar dos sobrinhos que fizeram faculdade. Dois fizeram agronomia e um fez faculdade pra professor, biologia. Tinham feito a vida, ganhavam muito bem. Sempre que precisávamos de algo emprestado se ele tivesse nunca negava, ensinou todo aquele povo a ser solicito e era recíproco, só tinha um problema se emprestasse algo a ele tinha que ir buscar de volta senão ficava lá até precisar e se voce pegasse algo dele podia ficar o tempo que precisasse. Com ele não tinha frescura. Tinha uma voz arrastada, uma cabeça grande e os cabelos brancos desde que conheci-o. Andava sempre devagar. Acompanhava sempre o PMBD, foi assim até a morte. Nisso não concordava com papai que era do PDS. Eram como se fossem torcedores de times. Nem sabia porque era PMDBista, mas acompanhava o partido. Suponho que segui o partido que doutor Laci apontasse. Era muito amigo do Laci que foi um médico muito importante, diria que um dos primeiros que medicou ali na região. Desde que era pequeno ele via eu ler, estudar e dizia que eu ainda teria um bom futuro pela frente. Gostava quando nos domingos pela manha ele chegava lá em casa e ficava conversando até a hora de almoço. Nunca almoçava lá em casa ia era comer em casa. Sim, pois Elita cozinhava muito bem, gostava de comer carne de pato. Por isso ia pra casa. Quando vovó vinha passar uma temporada lá em casa, ele sempre vinha conversar com ela. Tinham quase a mesma idade. Aquele bom velho tinha uma língua afiada e quando se juntava com papai não sobrava ninguém em Serrinha do Canto que não passe na língua dos dois, três dependia do tamanho da turma. Quando fui morar em Natal não podia voltar em casa sem que ele fosse me visitar. Ficava muito feliz quando ia na casa dele, sempre saia uma broa com um copo de leite e uma boa conversa. Papai gostava muito dele, eu também pra mim era quase um avó. Faleceu velhinho com mais de 90 anos. Ele com certeza foi uma das pessoas que marcaram minha infância.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
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