Quando ganhei a confiança de mamãe e ela viu que já era uma pessoa responsável. Ela começou a deixar sair de casa sozinho, pra lugares longe de casa, tipo a casa de meus avós e a casa dde meus tios, claro que não ia em toda casa, mas ia na casa que tinha mais crianças, no ambiente que achava mais legal. Um dos lugares mais fascinantes no meu mundo infantil era a casa de vovó que meu tio Miguel morava lá. Achava aquele lugar mágico. Ali tudo era diferente, pois aquela casa velha ficava no pé da serra. Onde a paisagem era bem diferente de onde morávamos, no pé da serra tínhamos caatinga, mata branca, com árvores baixas e retorcidas, cinzas, e muito cardeiro, muita imburana, muita catingueira, e muitas aves que não dão na serra, lá tinha golinho, era difícil ver um golinho na serra. Lá tinha nos terreiros, tinha também rolinhas cascável que tem o corpo coberto de penas, mas aquelas penas parecem escamas, quando voam fazem um som muito bonito. Adorava ouvir seus cantos com duplo som "tou tu tou". Fazcinava-me aquelas paisagens, então aprendi a ir pra casa de Miguel que tinha cinco filhos e quando chegava lá eu era a sensação contava minhas histórias e ouvia as histórias do meninos. A mãe deles Tereza também contava histórias. Mazildo mais parece são Francisco, pois tinha uma amizade com os animais tão intensa. Ele tinha aves que ele mesmo criara, golinhas, rolinhas, bigodes, cantos de ouros, ele tinha um problema na perna. Era um menino muito inteligente, sabia das músicas que passava na rádio de cor, sabia cantar. Já Macilho era mais quieto, Maria era cheia de riso e Bibia calada. Engraçado como eles riam do que eu falava ou fazia. Chegava lá então a gente saia pra caçar de baladeira, era muito ruim de pontaria. As vezes ia a pé, as vezes de burro, mas nunca fui de bicicleta, tinha as pernas finas, mas muito rápidas, sabia de caminhos mais rápidos. Quase sempre ia no sábado, dormia lá. Gostava de dormir lá, pois dormia de rede. E dava pra ver a luz da lua entrando pelos furos das portas e janelas velhas. Acordávamos cedo, tomávamos café, tudo era só brincadeiras, no fim da tarde tinha que voltar, as voltava de carona ou voltava a pé. Chegava em casa cansado, mas feliz. Sentava na calçada mirando o horizonte. E assim foi por muito tempo, alí passei meus domingos.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
sábado, 23 de outubro de 2010
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