A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
segunda-feira, 1 de março de 2021
1. Intangível
domingo, 28 de fevereiro de 2021
56. Chuva
Já chove três dias seguidos aqui em João Pessoa.
Vários alagamentos ocorreram nas ruas mais baixas.
As pessoas estão reclusas em casa.
Esperando esta chuva parar.
Já choveu mais que chove nesta época.
Segundo jornal a 30 anos não Chovia tanto na mesma época.
Segue chovendo muito.
Canta o sabiá e o bem-te-vi.
E tudo está acontecendo como sempre.
sábado, 27 de fevereiro de 2021
55. Juca
Juca
Esta planta marrenta
De crescimento lento,
De tronco liso bicolor
Tronco forte e enroscado,
Cresce feito espeto
Ramo inerme e lenticelado,
De copa muito fechada,
Reune toda passarada,
Tem folhas o ano inteiro,
De inverno a verão,
E quando floresce,
Seus cacho amarelos,
A copa embelezada,
Por abelhas visitada,
Após forma fruto duro,
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
54. Mulungu
Mulungu
Belas flores encarnadas
Assim tem sua florada
A copa aberta enfeitada,
De flores naviculadas
Nela aparece o beija-flor,
Buscando néctar de flor em flor
Aparece o sofreu
Aparece o sanhaçu,
E após polinizada
Tem as flores fecundada,
Da vagem moniliforme
Semente vermelha é dispersada,
E na beira do riacho,
Germina e a semente,
É a natureza moira
Que determina a geração
Essa prima do feijão
De madeira mole
Só encanta a natureza
Só é fonte de beleza
É uma planta invocada
Sempre encontra-se armada
Na seca perde as folhas e fulora
No inverno se enrama e cresce
Assim é o mulungu
Planta viva do sertão.
Nela aparece
Que bela e imensa árvore,
Que cresce em beira d'água
Tronco armado e estriado,,,
53. Doce passado
Cajus maduros suculentos,
Cajueiros inteiros carregados,
O ambiente todo perfumado,
A graça divina na terra,
Fartura madura acridoce,
Que infância de relevância,
De um passado acabado,
Restam apenas lembranças,
Nem algo com semelhança...
Delícia, deliciosa, passada.
Maniçoba
Maniçoba
Arvore estiolada,
Lenha mole e alvinha,
Tronco escuro,
Ceiva alva leitosa
Casca esfoliante,
Ramos angulados,
Odor intenso
Folha lobadas,
lisa, de haste avermelhada,
Flores diclinas,
Fruto cápsulas
Espocam no verão,
Atirando suas sementes,
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
53. Juazeiro
Juazeiro
Juazeiro,
Essa árvore tão frondosa,
De copa imensa e fechada,
Sombra fresca e generosa,
Até na seca enfolharada,
Nasce muito no baixio,
Cresce de forma lenta e torta,
De ramos sempre armados,
Demora a frutificar,
Oculta é sua florada,
De flores pequenas,
Verdes e estreladas,
Só por abelhas anunciada,
Então no fim da estação,
Aparecem os frutos ásperos,
De cor amarela e quiabenta,
Só os bichos apreciam,
Comem as folhas e os frutos,
E dispersam no cercado,
Há quem use sua casca
Para higiene bucal,
Juá na cachaça,
Creme dental melhor não há,
Deus o livre se sua estrepada,
Que fura até alpercata de pneu,
E lá está o juazeiro,
No meio do tabuleiro,
Verde esperança,
No meio da seca,
No meio do sertão.
De tronco áspero e duro,
Alva madeira e casca amarga,
Os ramos armados,
Com a casca muito amarga,
A madeira é alva
Tua madeira alva e dura,
A casca é muito amarga,
A casca
Com sua casca escova os dentes,
Suas flores tão miúdas,
Teu fruto áspero e quiabento,
52. Coexistencia
O tempo,
O espaço,
A existência
Coexistem,
Se convergem entre si,
Numa impressão
Chamada ser,
Que é e deixa de ser,
No mesmo instante,
No devir!!!
51. Catingueria 2
A catingueira madeira torta
Na seca até parece morta,
Tronco forte e acinzentado,
As vezes oco e habitado,
Seu crescimento lento,
E longa é sua vida,
Hiberna maior parte da lida,
Se chove desperta,
Brotam das gemas as folhas,
Das folhas o intenso odor,
Depois aparece a flor,
E com elas as abelhas
Que visitam sem parar,
O dia inteiro vem e vai,
Mamangava vem abelha sai,
O polém e néctar a explorar
Após a polinização
Ocorre a fecundação,
E a semente a crescer,
Em vagens duras de roer,
Vem o verão,
Fim da estação,
A vagem explode,
E atira a semente,
Em um distante lugar,
Caminhando na mata
Só se ouve o estalar,
Espoca, pra cá e pra lá,
Quando cai a chuva,
Germina a semente,
E a vida renova,
Sem precisar de cova,
A natureza,
Mostra sua beleza,
Independência humana,
Cresce forte a catingueira.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
50. Papai
49. jitirana
Jitirana Jitirana,
Uma corda enroscada
Forma uma latada,
E linda florada,
Cresce no campo
Cresce na mata
Cresce até florar,
Cresce a se enroscar
Jitirana Jitirana,
Flores coloridas
Flores estreladas,
Flores visitadas,
Flores amarelas,
Flores rosas,
Flores azuis,
Flores alvas,
E quando é seca,
Dorme no chão,
Dormente a semente,
Espera o outro inverno.
48. Pinhão
O pinhão manso
Cresce no bem em tabuleiro,
E em qualquer lugar,
Seu crescimento é ligeiro
Seu caule é esfoliante,
Ramos moles espessados
Látex abundante e transparente
Suas folhas são lobadas,
Nervação radiada,
Copa bem aberta espigada,
Estípulas fimbriadas,
As inflorescências determinadas
Todas flores unissexuadas,
Flor pistilada e estaminada
Por borboleta visitada
Após polinização e fecundada
A tricoca é formada
Vai crescendo devagar
Pra três sementes formar
Após amadurecida
É bem desidratada
E explode a espalhar
As sementes carunculadas,
Planta bela,
Planta forte
A seca e o verão.
Viva por muitas estações.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
47. O que ha
46. Saudades
Como sinto sua ausência,
Penso em ti contantemente,
Nem acredito nessa experiência,
Saudades de tudo entre nós.
45. Amanhecer
Do alto da noite nasce um novo dia,
Quando a noite vira madrugada,
Profundo silêncio em todo lugar,
No curral, o gado a ruminar...
O chocalho a badalar,
Blim... blim... blim... Tong... tong... tong...
O aroma perfumado,
Do esterco processado,
O mourão cumpre sua função,
Vigilante e pronto está
Pra segurar alguma brabeza,
Ou de camarada coçar algumas costas.
O vento sopra de acoite,
E traz o aroma da mata seca,
Ecoa entre ramos secos,
Chia, levanta poeira e passa,
Canta o galo na pinheira,
Cocorococooooooo...
Alguém desperta dentro de casa,
Lamparina acesa,
Pela fresta se acompanha,
Na cozinha estala o graveto de marmeleiro,
Uma chama se faz
Agua na chaleira de barro,
Se ouve o pipocar da água fervendo,
Adicionado o café,
O aroma faz a barra se quebrar...
Mais tarde nasce a manhã.
E os personagens noturnos saem de cena.
44. Poesia dia
A noite desperta,
Aurora anuncia
A chegada do dia
Ave pia esperta
Voa no espaço,
Com alegria
Grande é a folia
Lindo sanhaçu
Bem-te-vi,
Corroira,
Sabiá
Desperta
Alerta,
Já é dia
Finda a poesia
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
43. Até o fim
A tarde partindo,
Luz se diluindo,
Corpos quentes,
Emitindo calor,
Sombra fresca,
Enfadado corpo,
E as memórias,
Lugares conhecidos,
Diferentes estações,
Paisagens,
Por fim
O melhor lugar,
Numa cadeira
De balanço,
Na calçada,
Até o final,
A última tarde,
Desta não se pode passar.
41. Caatingueira
Caatingueira,
Caatingueira,
Do sertão,
No carrasco,
Sobre o seixo,
Sobre a areia,
Sobre o barro,
Limite do campo,
Inicio da mata
Na seca perde folha
No inverno se enrama.
Caatingueira
Caatingueira
Casca cinza,
Torta e dura madeira,
Ramos jovem glutinoso,
de forte odor exalado,
Desarmada, a ramada,
Folhas grandes fracionadas,
chamadas de bipinadas.
Caatingueira
Caatingueira
Suas flores amarelas
São singelas e belas,
Se percebe a florada,
O odor no mundo se espalha,
O zumbido de motor,
É zumbido de mamangava,
Zuuuzzzzzzzzzzzzzuuzzzzzzzzzzzz
Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
Zuzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Uma flor,
Outra flor,
Uma inflorescência,
Outra inflorescência,
Uma árvore outra árvore,
A grande abelha pesada,
Amando a delicada flor,
Tomando doce néctar,
A manhã inteira...
Caatingueira
Caatingueira,
Após tantas visitas,
Ocorre a polinização,
Suas vagens vão crescer,
Pequenas bainhas,
A copa vão enfeitar,
Então no final da estação,
Seca vagem espoca,
Explode expulsando
Plana semente,
Que em solo fértil vai cair,
E logo que chove germina,
E a vida continua,
Caatingueira
Caatingueira
esse nome popular
Cenostigma pyramidalis na Bahia,
Cenostigma nordestinum na Paraiba,
Cenostigma bracteosum no Rio Grande do Norte,
Coisa de botânico estudado,
Sua família é Fabácea...
Chega de versos e estrofe,
Que o poeta é limitado.
41.Quintilha
Saudades de ti,
Saudades de nós,
Ficou o vazio,
E as memórias,
Doces estórias,
Tudo abstrato,
Continua a fé,
A esperança,
Aprendida
A vida é ser.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
40. Catolé
39. Agora
É preciso paciência na vida.
Saber onde está e aonde ir.
Sentimentos sem juízo,
Razão.
Esse momento agora
Que se faz um vácuo.
Quando as palavras se desnorteiam,
Pondo fora o texto inteiro
Particularidade de uma totalidade...
Fração de uma tarde,
Parte de um dia,
Momento que as palavras não conversam.
Uma ideia que não se faz,
Não segue um curso.
Um quadro desfocado.
Deixa acontecer.
Como o dia que se vai,
E o que sobra é anoitecer.
38. Poemarana
Em matéria de grafia,
Vamos fazer uma poesia,
Usando tupi,
Usando botânica,
Usando três palavras
Imburana,
Cajarana,
Jitirana,
O matuto entenderá,
E também aprenderá,
Essas três plantas
Têm origem caatinguícola,
De importância cultural
E alimentar,
Duas são arbóreas e uma trepadeira,
A primeira tem caule esfoleante
E madeira quebradiça,
Pode ser vista nas portas de pobres casas,
Em papeiros como colheres de papa,
Ou ornamentando casas.
A segunda quando madura tem grande altura,
Tem madeira vidrenta,
Muito fácil de quebrar,
Nela não vá se pendurar,
Sua fruta é saborosa,
De amarela doçura,
E suas flores inconspícuas,
São alvinhas estrelinhas,
Seus cachinhos bonitinhos
Por abelhas visitados.
E a terceira cresce como cordão,
Se enrolando na madeira das maiores copadas árvores,
formando latada,
Tem quando floresce é bela florada,
Não é planta perfumada,
Mas bela descomunal,
Alimenta a abelhada,
Com muitos tipos e diferentes cores suas flores,
De diferentes nomes... tipos de jititanas...
Deixando de lado a as particularidades,
Que compreende suas propriedades,
Vamos nos aprofundar,
Vamos a ortografia,
São palavras tupi,
Que termina com as sílabas rana,
Como a gramática diz o sufixo rana,
Imbu-rana é um falso umbu,
Caja-rana é um falso cajá,
Jiti-rana é um falso batata-doce,
Que gostosinha essa lição,
Obrigado pelo poemarana.
sábado, 20 de fevereiro de 2021
37. Aroeira
No alto da cumieira,
Dorme a linha de aroeira,
Dorme e sonha no passado,
Num longo tempo já ido,
Quando na mata crescia,
Mundo acima até o céu,
Da fartura de inverno,
Da agonia do verão,
Da sede que quase mata,
Da folha imparipinada,
Folha de odor apimentado,
De casca encarnada perfumada
Sua existência imponente,
E extremamente importante,
Para as aves se alimentar,
De sua flor come néctar a abelha,
Dos frutos come o louro são José,
Em sua copa ave que modifica
Bem-te-vi, nei-nei e pirrite,
Em sua sombra fresca corria frouxa a brisa,
Na base havia uma loje
Onde vivia sempre preá
Sonhou vendo seus frutos girando
Pelo mundo dispersando,
E a terra povoando de tudo que é aroeira,
Então a luz se acende
Acorda linha de aroeira
E acabei a brincadeira
36. Aprender
Não importa o que aconteça,
No ano temos seca e inverno,
Uma estação sucedendo a outra,
Feito cobra querendo engolir o rabo,
Nunca muda a cada ano,
Apenas uma é maior que a outra,
E assim a natureza se encanta,
Cada ano uma paisagem,
A semente germinando,
A planta florindo,
A planta morrendo,
Tudo coocorrendo,
Numa só totalidade,
Brava e a natureza da vida
Que a tudo resiste,
E a gente humildemente só aprende.
35. Filosofia de vida
Uma boa pergunta pode ser matéria para pensar a vida inteira.
E a gente vive tentando encontrar essa pergunta, esse motivo para viver.
Por não saber onde encontrar andamos perdidos anos a finco e as vezes passamos a vida inteira.
Se encontrei minha matéria para pensar.
Confesso que ando cansado de buscar.
Os anos tem me ensinado a ver a totalidade.
Acho que não encontrarei esse pensar na particularidade.
Não tenho a ilusão de que irei encontrar.
Aprendi um punhado de coisas,
Sistemas de classificações,
Entendimentos racionais,
Uma certa lógica do pensar.
De maneira que quando acho que cheguei a algum lugar,
Se olho a totalidade percebo que cheguei apenas a mais uma célula da existência.
Foi só uma mudança de esfera.
A dor nos ensina da pior forma,
Sabe quando percebemos que algo passou e ficamos atordoados sem perceber qual foi o lado.
Ainda alimento certas ilusões...
Não sou intenso como foi Cristo, Mozart, Gogh, Nietzsche ou Borges.
Se comparado sou um pequeno caramujo diante de mangas largas de corrida.
Não encontrei a pergunta,
Mas as reflexões se fazem mais rasas.
Se me perco nelas, talvez porque me deem prazer na vida.
34. Isso tudo é ilusão
Para além da necessidade
O que sobra é tudo vaidade
Imagine você na vida pretender
Escrever poesia,
Poesia metrificada,
Que ilusão...
Patativa teve sua catarse nos versos de um cordel,
Borges na madeira de imburana,
Eliseu nas cordas de uma viola,
Padin Cícero no sermão,
Lampião na coronha do fuzil,
Isso tudo é ilusão,
Tentar se eternizar em qualquer forma de expressão,
O destino é um só,
Carne dura, crânio rocha e caixão,
A terra frouxa quem come,
Essa carne que agora pulsa,
Isso tudo é ilusão,
Lutar em excesso por algo,
Ser o melhor,
Melhor fazer,
Feito os faraós egípticios,
Feito a filosofia socrática,
Feito o império de Alexandre,
A matemática de Euclides,
A genialidade de Eistein
Isso tudo é ilusão,
O joão-de-barro constrói sua casa sem pretensão,
Sabiá canta seu canto sem a mínima ilusão,
Um jumento quando rincha embeleza uma noite,
E o vento de açoite é sinal de bem está,
Quem não se refresca na água do açude na caatinga,
Bobagem e vaidade,
Isso tudo é ilusão,
Tem gente que se dana a poupar,
Comprar propriedade, casa, carro e até avião,
Gente que fala em riqueza
Gente que se aliena falando no que não sabe
Isso tudo é vaidade,
Não merece atenção,
Quem se importa com Mozart, Gogh ou Pessoa,
Tem algo para gostar,
Mas tem gente que gosta mesmo é de coisa simples
Feito caldo de cana,
Uma res gorda,
O apurado da safra...
Porque tudo é ilusão,
Já cantou o sábio Salomão,
Na vida tudo é ilusão,
Alguma coisa ameniza,
No final nada muda a equação,
Isso tudo é ilusão,
Nem mesmo vemos cerrar o caixão,
A melhor coisa é achar o meio termo,
E viver da melhor forma,
Acumular qualquer maneira,
Porra merda,
É tudo ilusão,
Deixe de procrastinação...
Viva a realidade,
Viva sua intuição,
Porque a perfeição é ilusão.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
33. Marmeleiro
Marmeleiro que mato ligeiro,
Nasce e cresce em qualquer lugar,
De beira de estrada a tabuleiro,
Não precisa nem plantar.
Essa planta é pioneira,
A caatinga é seu lar,
Na seca se encontra nua cor de poeira,
No inverno fica verde ao se enramar,
A rama é boa de cheirar,
também flores e madeira,
A madeira é boa de usar,
Por ser fina e lenheira,
Com esta se pode cozinhar,
Se faz faxina e chiqueiro,
Ao jegue faz andar,
Serve de pau de galinheiro,
Com suas folhas macias
Muita gente se asseia,
Folhas veludas, discolores,
São simples laminada,
Com poucas folhas na ramada,
Tem início sua florada,
Com inflorescência pendulada,
De flores bissexuadas,
As Flores primeiras são pistiladas,
As segundas flores estaminadas,
Se quiser simplificar
Primeiro as flores femininas,
Segundo as flores masculinas,
Em diacronia estas são apresentadas,
Evitando de serem autofecundadas,
E assim nessa jornada por insetos são visitadas,
Besouros, moscas e abelhas voam alimentadas,
Garantindo que as flores sejam fecundadas,
Ah! pequenas flores pequenas e perfumadas,
Flores efêmeras logo em fruto transformadas,
Essas pequenas tricocas formadas
Explodem ao serem desidratadas,
Sendo a semente dispersada,
No chão fica desaparecida,
Fechando um ciclo de vida,
O marmeleiro é um nome popular,
Para a ciência é Croton blanchetianus
Croton palavra grega quer dizer carrapato,
Blanchetianus nome do suiço que coletou tipo,
Lá pras bandas do velho chico,
Nas caatingas da Bahia.
Na categoria familiar se trata de uma euforbiácea,
A mesma da mandioca, do velame, da maniçoba...
Mas ai é outra vertente,
Agora só quero acabar esse poema.
32. Euforbiaceas de caatinga
O marmeleiro,
O velame,
O pinhão brabo,
A maniçoba,
A urtiga,
A favela,
A burra leiteira,
São todas euforbiáceas
Seus nomes esquisitos
São todos muito bonitos,
Croton blanchetianus,
Croton heliotropifolius,
Jatropha molissima,
Manihot cartaginensis,
Cnidosculos urens,
Cnidoscolus quercifolius,
Sapium glandulosum,
Palavra de origem grega ou latinizada,
Para quem se importa na ciência,
Para quem quer conhecer,
Sabedoria de academia,
Sabedoria da vida,
Só com sua morfologia,
Se constrói uma poesia,
Arbustivas ou arbóreas,
Estípulas se fazem presente,
Seus ramos são perfumados,
Com tricomas dourados,
Ou glabros com glândulas presente,
Folhas simples, inteira ou lobada,
Concolores ou discolores,
Finas e peludas,
Tem filotaxia alterna,
Com folhas arranjadas em espiral,
Tem forte odor,
Tem leite com e sem cor,
As inflorescências cimosas ou racemosas
Com flores são unissexuais,
Seu fruto é tricoca,
Para a rima tome taboca,
Tem semente dura
De testa marmorada,
Tem carúncula para ser por formiga levada.
Nesse poema tudo se inclui,
Conhecimento é a base de tudo,
Marmeleiro de madeira mole e perfumada,
Quanto queima tem fogo vivo e aromatizado,
Velame de corpo velado,
Que odor mais perfumado,
O pinhão point do sertão,
Não tem verruga que não caia,
Tejo usa seu veneno pra vencer a cascavel,
A maniçoba prima da macaxeira,
Cede sua madeira para fazer colher de pau,
Mas cuidado mata gado se comer as folhas quentes,
Cianetos estão presentes.
Tem a peste da cansanção,
Que queima e arde como o cão,
Tem a faveleira, na bahia chamam de cocão.
Tem a burra leiteira,
Planta arbórea das serras,
De madeira alvinha,
Não sei pra que serve não.
Chega de alucinação,
Botânica não é brincadeira,
É cultura de academia e saber popular,
Respeite os mateiros, poetas e artesões,
E construa um maior conhecimento,
As euforbiáceas de caatinga aqui te apresento.
31. Palmatória
31. Velhos tempos pescador
O peixe no sertão é uma fonte de proteína,
Aos pequenos pescadores uma fonte econômica.
Com sua vida simples de diaplanta batata na vazante.
A noite sai cedo para pescar.
Sua pescaria usa rede de linha ou uma varinha de anzol.
Sua alma se satisfaz com um boro de tabaco
E uma xícara lavrada de café.
Passa segunda-feira... Sexta-feira
E no sábado feira lava a cara e as alpercatas,
Então sai para a cidade de bicicleta barra circular ou num jegue ocre-cinzento ou preto.
Vai só matutando como venderá suas patinhas com peixe tratado, seco e salgado.
Sua mente dialoga com a freguesa.
Caro!? Tá nada. A pesca tá difícil.
É muita gente no ramo minha dona.
Então perto do terreiro dá um grito envergonhado.
Oi o peixe!
E a resposta que recebe é tá de quanto.
Cada um querendo barganhar.
Então sai uma palha, duas e todas as palhas.
Aí como o vício sustenta alguns homens.
Fuma um boró e toma uma cana.
Cana boa que queima na entrada
Depois fica adocicada.
Com o dinheiro curto compra o que precisa para alimentar a alma.
Café, tabaco, sal, querosene, torcinho, arroz açúcar, rapadura e farinha.
Pega de volta o sol a pino.
E a semana começa outra vez.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
29. Palavra
Gostar das palavras é uma benção.
As vezes numa conversa falta a palavra certa.
Então se usa a expressão "como é que se diz".
Esse lapso momentâneo, quase um branco.
Como é que se diz?
Mulher aquilo!
Pensando nas palavras me veio a mente
O poeta da roça Patativa do Assaré
Que enquanto puxava a enxada,
Sua mente contava e aprumava os versos
E logo após uma carreira de lavoura
Os versos estavam metrificados
Alinhados como uma bom aluno da escola
Com sua lição lida.
Patativa imperava na carreira e nos versos,
Nos versos não tinha para ninguém.
Agora como é que se diz.
Cadê a palavra,
Entretanto a fala tudo comunica.
Embriagado
Quando chove em minha casa,
Vai pra longe o cancão,
A corroira logo chega vestida de franciscana
E passa a fazer parte das madrugadas,
Chega também o mosqueiro.
Quando chove em minha casa canta muito o saci.
Quando chove em minha casa
A primeira água é derramada,
As telhas precisam serem lavadas.
A água parada no lajeado é usada na lavagem da roupa.
Chove, chove, chove.
Porque a chuva, a chuva.
Cheeeeeeereerr. Broooooooooo
29. Lar
Na algaroba do terreiro de casa sempre havia um ninho de tirite.
O vento soprava e a copa dançava enquanto os galhos iam e vinham.
Não era apenas uma eram quatro que a mamãe plantou certa manhã de um dia qualquer.
Elas cresceram dando boa sombra.
Eram sempre podadas, mas incomodava seus foliololos que enchiam as telhas de matéria orgânica.
Essa foi a justificativa para cortá-las.
Cortam as árvores por sua sombra.
Por mim tudo viraria mata cheia de aves e folhas e frutos e flores...
Mas esse sou eu sem autoridade.
Os tirites perderam sua morada,
O terreiro ficou mais quente,
E a paisagem ganhou uma nova forma.
29. Gosto
A gente quando se interessa por plantas faz um jeito de cultivar.
No meu caso gosto de colecionar as formas, as cores através da fotografia.
28. Buscar mangas
Mamãe mandou que fosse buscar mangas.
Mangas que forram o chão do sítio de vó Sinhá.
Bora lá Mera...
A cangalha já foi botada e os caixões também.
O jegue preguiçoso vai andando devagar.
Vai andando com suas quatro patas.
Vamos seguindo pela beira da estrada.
Já estamos em Zé de Júlio.
E avistamos as barreiras da terra de vovó.
O jegue marrento carrega o menino e a menina.
Vai andando sob a tutela dum cipó.
Para não dar bandeira vamos por tio Jessie.
Os caminhos de seixo rolado, o perfume das unhas de gatos e cipó preto encantam a caminhada.
Logo se ouve o som das águas do riacho do porção.
Logo se sente o aroma acridoce das cajaraneiras de tio Aldo.
A sobra de sua copa a terra fica coberta de esperas doces e amarelas.
Então já no porção passamos em frente a casa de Pedro Lião onde se ouve os gritos de tia Biluca.
Na casa de neta uma penca de meninos parecendo índio passam o tempo no terreiro da cozinha.
Passamos a escola e já perto de Zequinha de ver na entrada a casa de Paté.
Então chegamos a casa de vovó que não tem nenhum agrado para criança.
Vamos para o sítio da cacimba de Joel pegar as mangas.
Chegando lá até o jegue se delicia com uma delas doce e amarela.
Enchemos os caixões de mangas espadas e mangas buchas...
E voltamos pra casa em paz.
É de longe o gosto de mamãe por mangas.
A manhã se passa só nessa atividade.
A gente era rico e não sabia.
Com uma vó com um sítio de mangas.
27. Sonho de inverno
A sabiá miou na sobra da cirigueleira,
Miu... Miu...
A terra de barro molhado,
Miu... miu...
A era florida de flores lilás,
Miu... Miu...
O capim flocado áspero mole,
Miuuuu.
Miu, miu, miu...
A Pimenta malagueta está rubra enfeitada.
Pec... Pec... Pec... Pec...
A sabiá fez um ninho no pé de ciriguela.
Pec... Pec... Pec...
O girimum com sua rama espalhada bota flores amarelas.
Miu... Miu...
As flores azuis da bomba d'água imitam o manto de nossa senhora de Conceição.
Miu... Miu...
Lá está ela a sabiá de papo laranja no chão.
Miu... Miu...
No galho da cirigueleira.
Pec... Pec...
Olhe ali o ninho filhotes.
Pec... Pec...
Um tirrite estralou seu canto amarelo,
Tire... Tire... Tire...
Seu ninho um saquinho na algaroba.
Tire... Tire... Tire...
A roupa seca na cerca.
Tire... Tire... Tire...
A Pinheira está cheia de pinha.
Tire... Tire... Tire...
Os sanhaçus voam no espaço feito jato.
Iç... Iç... Iç..
O sanhaçu achou a pinha madura.
Iç... iç... Iç...
A pinha verde por fora e alva por dentro.
Iç... Iç... Iç...
O alvo mais doce que existe.
Iç... iç... Iç...
A fruta madura da palma.
Iç... Iç... Iç...
Cantou lá pra cima a patativa.
Tric... Tric... Tric...
De peito amarelo e sobrancelhas alvas tão maneira.
Tric... Tric... Tric...
Pousada não se põe parada parece uma agulha na mão de costureira.
Tric... Tric... Tric...
O umbuzeiro de Elite de Palmira tá que é só imbu no chão.
Pec... Pec... Pec...
Aquela calda verde agridoce da fruta que gostosura.
Pec... Pec... Pec...
O Juazeiro de folhas cartáceas amargas com tá coberto de juá.
Quiro... Quiro... Quiro...
Na ceriguela mia o sabiá.
Pec... Pec... Pec...
Fruta amarelada babona a fruta do juá.
Tziu... Tziu... Tziu...
A frutinha vermelha da maria-reta.
Tziu... Tziu... Tziu.
Levanto e paro de pensar.
A realidade virou saudade.
Tziu... Tziu... Tziu...
A roupa já secou na cerca.
Acorda que o inverno mal começou.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
25. Vinca
Vincas
Roberto plantou vincas no nosso jardim,
Plantou vincas alvas e depois vincas rosas.
Tenho uma longa memória das vincas,
Será provável que foi o odor que se apegou ao meu cérebro?
Papai cuidava das vincas
Quando ia lá eu cuidava dela,
Pensava um pouco de água por algumas flores.
Na terra arenosa e seca crescia e cresce a vinca,
Quando a gente coloca a água a terra chupa tudo e não deixa nada.
Em 2010 tinha água de sobra do porção,
Agora a gente fica racionando a água
Enquanto as vincas sedentas crescem nas beiras das calçadas,
Crescem aos montes no inverno nos monturos,
Algumas sobrevivem e outras não,
Adoro as vincas,
Adoro sua resistência,
Suas folhas brilhosas,
Seu odor esquisito,
Dizem que seu alcaloide cura até leucemia.
Por enquanto enfeita minha tristeza,
Me faz sentir em paz.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
24. Nelson Gonçalves
Meu querido e velho amigo.
Agora já não tenho um parceiro para ouvir Nelson Gonçalves.
Mamãe já não pode nos chamar de Manés.
Já não podemos sentarmos juntos nas cadeiras de balanço na calçada da frente.
Restam apenas as paisagens e as músicas de Nelson que posso ouvir sempre que quiser lembrar de ti.
Lembra que te dei um cd e falou que era o melhor presente que tinha ganhado.
Naquele aniversário seu, naquela noite de natal, tomou umas a mais.
A gente riu, pena que não bebi contigo.
Mas ouço sua voz e seu riso.
A partir daquele dia sempre ouvia Nelson contigo no intuito de viver um pouco se seu orgulho
de sua juventude, sua boemia e contavas as mesmas histórias.
Com a idade a gente vai se acomodando e contando as mesmas estórias.
Era a mesma coisa sempre que ia a casa de João de Licor... as mesmas estórias.
A gente conta a mesma estória tentando não apagar o passado.
A gente tem muitas ilusões.
Mesmo sabendo que tudo aqui é passageiro, continuamos sendo os mesmos anos a fio.
E as vezes descobre que as verdades são castelos de areia.
A gente descobre que sistemas de classificações são apenas ideias que nos norteiam.
No final tudo é orgânico e mortal.
Nem me incomoda se disseres que tenho péssimo gosto.
A gente gosta de coisas simples, aquelas que a gente entende.
Aquela que a gente busca gostar ou entender talvez a gente ame.
Ou não.
Lá em Serrinha está chovendo.
Lá em Serrinha está frio.
Não tem xerém que aqueça nossos corações,
O que aquece meu coração e é a saudade,
Não teve que não me perguntei por que partiu?
As lágrimas inundam meus olhos,
Um aperto espreme meu coração.
Aqui estou papai ouvindo seu cantor favorito que agora é meu favorito.
Sei que o sentido de seu gostar era adverso do meu gostar,
Mas meu gostar é meu amor por ti.
Nem um xerém aquecendo o estômago,
Nem sua voz amiga e pacata,
Nenhuma semente de milho ou feijão na terra.
Ali fora geme Vinícius... Um dia certamente saberá tudo sobre ti.
Em meio a essa profunda saudade,
Estou feliz pela chuva que cai,
As sementes germinarão,
As matas crescerão,
E me emocionarei sempre com Nelson Gonçalves.
23. Alguma coisa a dizer
Mozart compôs como ninguém,
Gogh pintou como ninguém,
Borges escreveu como ninguém,
Algumas coisas vem a minha mente sobre os melhores.
Papai foi um pai como nenhum outro.
Agora que partiu, sinto muito a sua falta.
De Mozart tenho a música,
De Gogh tenho a pintura,
De Borges a escrita,
De papai tenho o respeito, o carinho e o amor e a saudade.
Que saudade de papai ouvindo Mozart.
As vincas continuam vivas no nosso terreiro.
Quantos cachorros e gatos se foram nessa nossa vida.
Tudo que ganhei e tudo que perdi,
Quem fui e quem sou,
É a soma de minha vontade,
É a soma de minhas representações.
A maior parte das coisas não compreendo,
Só sei que meu amor paterno é eterno
E dói demais sua ausência.
22. Sentido
Dentre as formas de representar, talvez a escrita seja a mais complexa.
Todavia há aqueles que usam a fala para se expressar.
Sabem com destreza como organizar as palavras com sentido e beleza.
São os poetas populares que sabem como usar a palavra para se expressar,
A palavra que é a substância da fala,
E falam sobre tudo que há, desde a natureza humana a natureza da terra.
Então me ponho a matutar sobre o sentido de representar de organizar o nosso entorno em palavras?
Não sei se há um sentido, mas se encontra um sentido ao representar.
A inteligência humana não tem como parar.
E assim uns se expressam outros entendem e outros não estão nem ai.
A totalidade é isso o todo a falta e a presença,
Silêncio e palavra...
21. Tomada de consciência
20. Tempo
domingo, 14 de fevereiro de 2021
19. Sabiá
Acordei na madrugada e ouvi o sabiá cantar.
Ninguém o avisou que era domingo.
Cantou e cantou no sossego da madrugada.
Enquanto limpava meu menino
Ouvia aquele sabiá.
Então lembrei de outros sábias em outros lugares.
Na copa da aroeira,
No pé de cajueiro,
No solo do jardim.
Quem me conhece sabe que amo sabiá.
Depois apareceram os sanhaçus
Depois cai no sono
Sabiá doido, trabalhando num domingo.
18. Domingo
Manhã de domingo,
Nesta manhã deste dia reina a paz,
Neste dia há cultos religiosos,
O que via era a missa
Pois, minha formação é cristã.
Por muito tempo tive a benção e a presença de meu pai,
Agora que se foi restam apenas representações e memórias.
Ele nos deixou em paz.
As coisas são assim seguem o fluxo natural.
Ontem ele, amanhã eu...
Por muito tempo tive sua presença, seu amor...
A realidade é dura, mas é a realidade.
Olhando a paisagem nem parece que existiu,
Quando presente nem se pensou nessa realidade.
sábado, 13 de fevereiro de 2021
17. A tarde
À tarde cai,
Toda tarde a tarde cai,
Todo dia tem uma tarde,
Em sua totalidade a tarde pode está chovendo, nublada ou ensolarada.
À tarde sempre tem a sua história,
Os lugares contam as histórias da tarde,
Nos hospitais, nas UTIs, nas calçadas,
No sertão...
Aqui neste quarto...
As sensações, as percepções são minhas,
Todavia as tardes são universais.
Por isso ocupo meu tempo com palavras,
Com textos, com aulas ou com memória.
Recentemente esta parede está me dando companhia,
Uma linda pintura representa minha casa em 2010,
Nela papai está sentado na cadeira de balanço,
Peito a vista, perna cruzada, de havaiana azul,
Tendo no colo a cabeça de tuninha uma cachorra vermelha,
Céu azul,
As vincas floridas com flores alvas,
A algaroba faz sombra,
Só que na representação é a manhã que cai.
A tarde se vai,
Na calçada da fama
Pode se observar o céu azul,
O quintal de palmatoreas,
Pé de caju,
Pé de pinheira,
Pé de catolé.
Chega lá pra ver.
Vou voltar ao trabalho aqui.
Os bem-ti-vis cantam ali nas castanholas
E Vinícius recém chegado aqui dorme um sono de paz e plenitude.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
16. Eh ie
Quando era crianca não largava o pé da mamãe, indo onde ela fosse. As vezes, íamos para vovó Chiquinha. Onde quer que chegasse, explorava o lugar. Não era traquino apenas observador das coisas. Na casa de mãe Chiquinha como chamavam meus primos que era grande tinha tornos de madeira na parede, um autar de Santo Antônio, uma área com peituris baixos, cimento da sala ornamentado e uma cristaleira das que tinha lá em casa. A cristaleira simples com umas locinhas simples e a foto de Cristiane filha de meu primo João. Através do vidro via aquela menina numa toalha sobre a grama.
Tudo era tão misterioso. Quem colocava um toalha no chão?
Mas alí estava Cristiane.
Coisas de um mundo diferente.
Na casa de vovó tinha flores
Um pé de pimenta, um pé romã e pés de alfavaca, uma horta atrepada e um banheiro de palha.
Por isso achava que minha casa era melhor.
Eh... Ir como dizia vovó.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
15. Nos
Após perceber a mariposa voando em órbita na luz pela madrugada. Não é que o tempo mudou. Chegou até a chover e a temperatura esfriou.
Coisas acontecem o tempo todo e é pouco percebemos.
São tantos os focos e tantas as anciedades
Que vamos nos enterrando em nós mesmos.
É assim.
14. Acontece
Tudo aconteceu tão rápido em 2020.
Me pergunto por quê?
Não tenho meios de explicar
Ou entendimento para compreender.
Você se foi paizinho.
Para ou onde anda sua alma?
Não sei.
Nem saberei.
Quem sabe.
13. Lampejo
Acordei a noite,
Vinícius queria mamar,
Então, olhando através da janela,
Vi um inseto voando no halo de luz de um poste.
Minha mente alçou um voo muito longe...
Instantaneamente estava na casa de papai.
Pensei no tempo, nas duas estações inverno e verão,
Pensei no período de transição,
Grandes mudanças ocorrem além de nossa percepção,
A umidade alta, a pressão...
Só percebemos o óbvio como a chuva
Que trás a água e é a grande transformadora,
Faz a vida despertar,
Faz a semente germinar,
Enxame de insetos,
Faz os sapos coaxarem,
E a natureza despertar...
Ao fim, troquei a fralda de Vinícius e voltei a me deitar,
Até tentei escrever,
Mas o cansaço era maior.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
12. Um despertar
É madrugada profunda,
Quanto mais profunda,
Maiores as recomendações,
Papai acordava nessas madrugadas,
Fazia o fogo de lenha e passava um café
Enquanto ouvia o rádio.
Às vezes, tio Aldo que acordava cedo
Chegava lá em casa pela madrugada,
Para ir para Pau dos Ferros,
Aí conversava contando estória,
Relembrando fatos, avaliando atos,
Criando história até Ci de Doninha passar.
A madrugada está profunda,
A janela aberta, faz muito calor e silêncio,
A madrugada é silenciosa.
O menino acorda e desperta querendo um peito.
Primeiro troco a frauda.
Então ele mama até dormir
Então arrota.
Já é mais de duas quase três.
Então ouço pela a siriri vocalizando
Siriririririri
Por tempo...
Siriririririri.
Enquanto dorme
Siriririririri
Cantou pela primeira vez o sanhaçu de coqueiro.
Um galo.
Tenho sono,
Ouço
Siriririririri.
Estou tão longe,
Mas minha mente está em Serrinha
Ouvindo o siriri
Cantando num cajueiro.
Até o dia despertar.
domingo, 7 de fevereiro de 2021
11. Sorte
10. São Paulo
Certo dia fui embora.
Deixei e levei saudades.
Era tudo que queria,
Aquilo que mais desejava,
Certo dia parti novamente,
Deixei minha gente,
Outra terra,
Outro lugar,
A mata atlântica,
Os manacás,
As maritacas,
Os jerivas,
Os solanuns,
Os guapuruvus,
As paineiras,
As sibipirunas,
Os ligustruns
A realidade objetiva ali
E tudo que podia absorver,
A Guarapiranga, a Blings,
O rio pinheiros, o Rio Tietê,
A Sé,
A luz,
O Jabaquara,
O Trianon
A USP,
O Grajaú,
A rádio cultura 103,9
Eis que vi e aprendi São Paulo.
sábado, 6 de fevereiro de 2021
9. Acontecer
A tarde cai,
Pode ser uma primeira tarde consciente,
Pode ser uma última tarde,
Pode ser uma coincidência com o passado,
Pode ser uma memória ativada.
Quem sabe o que devemos fazer para despertar as memórias.
Por que despertar uma memória?
Algo de belo pode acontecer...
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
8. Ousa pensar
Escrevo de forma fragmentada,
Pedaços, fragmentos de pensamentos,
Pequenas informações volúveis, solúveis...
Que se materializa em palavras,
Não seriam ideias,
Estaria mais para a forma de vida vírus que para célula,
Estaria mais para cristais de areia que mineral,
Esses fragmentos não são peças de um quebra cabeça,
Não são peças de lego.
Acho se trata da forma como vejo e concebo o mundo.
Acho que vejo o mundo assim...
Ouço o canto das aves e reconheço por espécies,
E se vejo uma planta quero saber quem é sua família, seu gênero e sua espécie e suas particularidades fisiológicas, ecológicas...
Ler o que escrevo é perda de tempo,
A menos que tenha tempo sobrando
A menos que não tenha sido engolido pela rotina capitalista humana.
Então ousa pensar.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
7. Te amo papai
A tarde se vai e a noite chega.
À tarde sempre foi por natureza triste,
Era só sensação,
Agora, às tardes tem motivos para serem tristes...
Nestes dias papai se foi,
Seus olhos dormiram deste mundo,
Seu corpo descansou e terra se tornou.
Não verá mais o sol se esconder no poente
Enquanto a luz dourada acaricia os ramos tortos das catingueiras e juremas...
Não mais frio, papai era friorento e não reclamava do calor,
Nada mais de doce de mamão ou de caju...
Nada mais de queijo,
Nem um petisco de carne ou queijo para o lourinho,
Nem para sherlock...
Quando imaginava que papai se ia, meu peito explodia de dor.
Quase enlouqueci quando descobrimos a enfermidade como ele chamou.
Pensei... Enfermidade!
Enfermidade é melhor que câncer.
E quando caia a noite no mês enfermo, antes da cirurgia.
Quando ia dormir que lhe entregava os comprimidos...
Aqueles quatro comprimidos que tomava um a um...
Quando pegava o pinico,
Quando arrumava sua cama...
Aconchegava aquela coxa verde,
Dobrava ao meio
E dava espaço para ele rezar,
Não apagava a luz,
Beijava sua cabeça calva,
Sentia seu cheiro,
O cheiro de sua vida,
Então ele rezava,
Creio que pedia pela saúde,
Mas nunca saberei.
A oração é algo muito pessoal.
Depois de enrolado,
Ia lá beijá-lo novamente e dizer o quanto o amava.
Eu ia, Li ia, Roberto ia e Meire ia...
Aquele homem que foi tão forte um dia,
Se tornou um amável idoso,
Embora não sentíssemos isso,
A tarde caiu...
E para onde vai o dia,
E para onde vai a tarde,
E para onde foram suas orações,
E para onde foi sua alma,
Terá ouvido meus monólogos?
Meu peito papai está cheio de ti,
Acredite,
Desde o dia que me tornei pai,
Sinto que sou um pouco de ti.
E o senhor é nós,
O senhor e mamãe são a totalidade
E nós sua particularidade...
Te amo.
6. Alô
Agora, nesta tarde, senti vontade de falar com papai.
Pegar meu telefone e discar para Francisco.
E ouvir sua voz dizendo alô.
E ficar conversando sobre o calor, o tempo, os gatos, sherock, o loro,
Mamãe, Beg, Rosângela, Meire, Lidiana, Roberto...
Os amigos.
5. Elucubrar
Por onde andará o espírito sem o corpo?
Vagando em algum lugar?
Nas coisas que amou,
Nas coisas que o fez?
Onde estará,
Em mim?
Nesta hora, minha mente vagueia
Viaja no espaço,
Está lá na matinha,
Lá no orozinho,
Sabe lá onde.
Estou me referindo a papai Chico Raimundo
Que gostava de humanizar os animais...
Sherlock gosta de está onde as pessoas estão,
Gosta de ouvir as pessoas,
Só dorme tocando na pessoa.
Os últimos anos de sua vida foi assim,
Se dedicando a coisas simples
Como plantas e animais e mamãe e Li.
E tudo segue indefinido, indeterminado,
E fica a grande falta.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2021
4. Lua
É quase meia noite.
O calor e Vinícius me acordaram.
Após a mãe dele o amamentar
Vou ao banheiro me molhar.
Então vejo através da janela
A lua bela, plena e minguante
Tendo como fundo um atropurpúreo.
A beleza viva que é e logo deixa de ser.
Então minha consciência questiona.
Para onde vai a alma desencarnada.
Não tenho resposta, mas apenas o silêncio da lua.
Meu ser se cala.
3. Estórias
Papai, Chico Raimundo, herdou dos pais Chico Raimundo e Chiquinha o bom humor. Uma das melhores coisas que comungávamos eram as risadas. Papai tinha um estoque de histórias que já conhecíamos. Eram estórias de vizinhos e parentes. A gente conhecia e podia até catalogar as piadas e era como assistir o Chaves, pois a gente acabava rindo. Papai tinha bons amigos que criavam essas estórias o principal deles era Hélio de Chico Franco que por ser comerciante lutava muito com o povo e tinha sempre uma nova estória. À noite, papai ia lá para Hélio assistir televisão e conversar. Ele sempre trazia uma nova história. Foi assim por anos, desde que os meninos de Hélio nasceram.
2. Metamorfose
Minha mente se encontra em caos,
Pensamentos aleatórios,
Desordem externa e interna,
Cansaço,
Desorientação,
Às vezes, tudo isso é necessário
Que o caos se estabeleça
E do caos surge o cosmos.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
1. Coisas
Vi a aurora nascer,
Ouvi as aves cantarem,
Senti o calor do dia de verão que já nasce quente,
Senti sono,
Mas despertei ao som da respiração de Vinícius,
Troquei sua frauda olhando para a pista de caminhada,
Mas cadê a energia para sair?
Muita coisa muda em um mês
Para bem ou para mal...
domingo, 31 de janeiro de 2021
25. Ser, existência ou essência!
Viver é bom demais.
Só com a vida posso contemplar o mundo.
Só com a vida posso compreender a grandeza de tudo que Deus criou.
Só com a vida tenho impressões, sensações e percepções.
Na vida, somos todos iguais.
São as condições ou acidentes que são diferentes.
Um amigo meu sabiamente dizia que o sol nasceu para poucos, mas a sombra é para poucos.
Podemos mudar qualquer situação, mas é preciso tempo, esforço, esperança e fé.
Nossa vida é uma fração entre milhões de probabilidades,
Somos quem somos pela lotérica divina, um gameta diferente e não seria eu...
Sou quem me proponho ser,
Porque a existência precede a essência.
Ser é existência ou essência?
Ser é a soma...
Viver é bom demais.
24. Consciência
Quanto tempo temos?
E isto importa. Talvez sim ou talvez não.
Posso viver melhor ou viver pior tendo este conhecimento.
Isso é contingente,
Há um subjetivismo em tudo.
A compreensão é peculiar,
A consciência também.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
23. Salada cultural
Os livros,
A estante,
O computador conectado a internet,
A intenção,
O desejo,
A linearidade do discurso,
Aquilo que me encanta pela maestria,
Borges e seus contos,
Kant e sua filosofia,
Hegel e seu sistema complexo,
Darwin e a origem das espécies,
Londres e o capricho e arquitetura de suas ruas,
Conan Doyler,
Buenos Aires e o frio gelado,
Facundo Alves,
A divisa do Uruguai,
Eduardo Galeano,
A rádio Cultura de São Paulo,
O rio Tiete,
O por do sol de Brasília,
O calor de Campinas,
A aurora de João Pessoa...
As aves de Serrinha dos Pintos,
Uma salada deliciosa que não consigo assimilar,
Numa só vida.
22. Vinícius
Acho que não preciso mais escrever o poema perfeito,
Acho que não preciso mais encontrar o melhor escritor,
Acho que não preciso mais viajar e conhecer o mundo,
Acho que não preciso descrever uma espécie nova,
Escrever o melhor artigo,
Acho que não preciso ser o professor perfeito,
Ser o filho perfeito,
Ser o marido perfeito,
A pessoa perfeita...
Vinícius meu filho,
Tu preenches qualquer lacuna,
Pois por ti sou pai,
Pois é minha alegria maior,
Minha coisa mais perfeita,
Peço a Deus sabedoria
Para conduzir pelos caminhos
E te ensinar a conduzir o trilho de sua vida,
Enquanto estiver no meu poder,
Até que consigas caminhar com tuas próprias pernas.
Te amo imensamente meu filhinho.
P.S. ouço sonata de Mozart.
21. Aquilo que aprendemos
Acho que a gente tem inspiração para escrever quando está feliz ou triste.
Acho que precisamos de emoção.
De certo,
O nascimento de meu filho Vinícius não para de me surpreender,
Cada dia vejo que não poderia amar mais alguém,
Amor tão intenso...
Tenho vontade de ficar só olhando, contemplando, cuidando, sentindo o cheirinho...
Cuidar!
Com o que tenho vivido,
Descobri que é muito confortante cuidar...
Passei um dos meses mais intensos de minha vida cuidando de meu pai,
Desde o acordar ao dormir...
Dei todos os beijos que podia dar,
Dei todo o carinho que podia um filho dar,
Cuidei como jamais havia cuidado de alguém...
Às vezes, acho que até perturbava com tanto cuidado,
Dei banho, escolhi a roupa, dei de comer,
Dei remédios...
Papai sempre foi atencioso e paciente...
É infelizmente ele se foi...
Ai nasceu meu Vinícius que precisa dos mesmos cuidados.
Sabe cada gracejo que meu filhinho faz, mesmo que inconsciente,
Faz meu coração explodir de alegria.
Tenho certeza que papai estaria rindo comigo com essas coisas.
Está rindo comigo,
Papai está em mim, nos gestos,
No cuidado,
Em todo amor que tenho a meus irmãos, sobrinhos, mamãe e a ele mesmo...
Aprendi tudo com o jeito simples de viver de papai.
Papai dizia que não é necessário muito para ser feliz,
Para ele tudo estava bom,
É tudo está bom!
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
20. Papai
Desde o dia que papai se foi que sinto uma imensa saudade.
Saudade de sua presença, do seu jeito simples, de suas vestes, de sua voz, de suas histórias velha e conhecidas,
Mas gostosas e como ríamos juntos.
Aí você se foi e deixou tanta saudades paizinho.
Agora nasceu meu filhinho e nem pode conhecer, mas contarei a ele tudo sobre você, e sobre eu e ele...
É assim que tudo acontece
É a vida
É a vida,
É tudo e nada
Hoje mesmo vi um lindo por do sol
E lembrei de ti,
Senti saudades das coisas simples que era a tua presença.
Quando passava pela rua olhava para o verde das árvores, a arquiteta das casas
A disposição das ruas
E pensava o que é a totalidade,
E o que é a unidade,
Confesso que não entendi nada...
Meu pai, meu maior e melhor amigo
Vou continuar por aqui mais um pouquinho,
E entender a paternidade
Vinícius vai me ajudar,
Te amo papai Chico Raimundo.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
19. Inacabado
As coisas são como devem ser.
Somos quem somos,
Essa substância,
Essas ideias,
Nossas memórias,
A terra seca,
A vegetação arbustiva, intrincada,
Os ramos cor de cinza,
Os cactos espinescentes,
Algo inacabado.
18. Amor
Ontem, anteontem... lembrei de papai.
Tenho lembrado muito de papai.
E como ele se foi a saudade é tamanha que não tem explicação.
Uma vontade de vê-lo, abraçá-lo e sentir sua presença física,
Notar sua simplicidade,
Seu corpo rústico,
E sentir o seu amor.
17. Boas novas
16. Vinca
Vinca linda flor simétrica,
Flor pentâmera de corola tubulosa,
Flor cheia de cor,
Alva e rosa,
Nasce em qualquer lugar,
Nasce no pé da calçada,
E cresce e floresce,
Vinca...
Vinca...
Em minhas memórias estão sempre presente...
Gerações e mais gerações...
Vincas de odor peculiar.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
15. Facundo Cabral
Ontem por acaso conheci Facundo Cabral,
Um cantor e poeta fabuloso que desconhecia completamente,
Fiquei apaixonado por sua voz,
Seus pensamentos,
É impressionante como a vida me surpreende tanto a cada dia.
Facundo Cabral em sua fala traduziu muito do que penso...
Tenho combustível para pensar e pensar...
terça-feira, 19 de janeiro de 2021
14. O necessário
Quantas paisagens há em minha alma?
Memórias... Memórias daquilo que se desfez
No tempo e no espaço.
A velha escola isolada Serrinha do Canto,
As professoras Livani e Lenita,
As merendeiras Dudé e Ziná
A tarde e a manhã,
De 1987 e 1988,
De 1989 e 1990,
Primeira, segunda e terceira séries primárias...
Mamãe e papai, beg, nana, lera, eu e li,
Os jegues, liao, o burro e dog...
Tempos de tapioca, beiju de milho,
Xerém...
Paisagens, de ganchos de baladeiras,
Cocos catolés e mangas espadas,
Dos macios e doces cajus...
Minha rica inocência,
Minhas paixões
Quão tudo foi perfeito e maravilhoso
Que viveria tudo de novo,
Quantas fossem as vezes,
Compreendi e aprendi o nescessário,
Embora a sabedoria está distante
Que venha um dia,
Que graça foi tudo bem
Tudo que vivi foi necessário e bom.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
13. Que importa!
O tempo,
O vento...
A rima,
O verso,
O poema...
Espaço,
Compasso.
Notas musicais,
Mananciais.
12. Matéria para os pensamentos
O tempo,
Essa linha que tudo marca,
Marca nossos dias,
Nossas experiências,
O tempo existe?
Sabe lá...
As memórias viscosas, fluidas,
Que são memórias...
Ser...
Não ser...
Quanta matéria para pensar.
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
11. Desígnios
Ontem,
Agora... hoje,
Passado e presente.
Ser.
Que pode mudar?
Que pode mudar?
Desconhecer,
Conhecer...
A indiferença.
Tudo é tão rápido,
Mistérios,
Desígnios divinos.
domingo, 10 de janeiro de 2021
10. Tudo e nada
9. Paisagem do Sertão
Domingo,
A casa com paredes de taipa,
Só a sala com tijolo adobe,
E telhado com telhas velhas irregulares,
Abrigava a família de José Neves,
Ali habitava Sinhá, José e Lera,
O terreiro de solo alvo,
Estava todo varrido,
Arrastando as asas, com crista dilatada cantava o peru glugluglu.
Do lado de fora da porteira badalava o chocalho das vacas,
O cheiro de estrume aromatizava a paisagem sertaneja,
A janela da cozinha aberta,
A porta da cozinha aberta,
No fogão cozia o feijão,
O fogo laranja dançava,
Na panela o feijão com carne de boi borbulhava e soltava um gostoso aroma,
Que despertava fome na gente,
Uma melancia aberta,
Coalhada no alguidar da forquilha...
A luz iluminava o serrote,
As algarobas e pinheiras faziam sombra,
Na fachina as galinhas cocoricavam,
Vovó Zé, Mamãe, Migué e Vovô Sinhá a conversar,
Uma conversa que não entendia,
Preferia só olhar no oitão a escora da parede,
As paisagens plantas,
A serra,
Enquanto isso cantava no campo o tico-tico do campo,
Na pinheira cantava um golinha
E na gaiola o sabiá de vovô...
Que anos maravilhosos os anos 80,
Da minha infância, da velhice de meus avós,
Do eterno encontro da vida,
Das gerações se enlaçando e desenlaçando,
Feito a dança de Shiva,
Na destruição e construção...
E a consciência que tudo isso não passa de ilusão
8. Plantas
Quando nasce o dia,
Após a noite chovida,
Como canta a passarada,
Canta o fura-barreira,
O cabeça-vermelho,
O sanhaçu,
Longe canta a sapaiada,
Em casa o cheiro da terra molhada,
Se mistura com o cheiro de café com cuzcuz,
Enquanto badala na estrada o chocalho das vacas,
Eh! boi, aboia Loló de João Corme,
Vavá grita Diniz,
E só se ouve o chiado da vaçoura de Diassis...
Passa Josimar,
Passa Bunina,
E depois Teta com o leite tirado dos Joanas,
Então Papai, Chico Raimundo, bate o enxadeco,
Deixa a bacia cheia de milho e outra de feijão e o outra de fava,
A terra molhada,
A tanajurada voando para o céu perdidas,
E os pássaros enchendo o papo,
Então segue para o roçado,
Na frente vai o pouco gado,
Papai, Rosângela, Meire e eu, Rubens...
Papai cava as carreiras tortas na terra escura do ano passado queimada,
Se mistura o cheiro do verão e da chuva do inverno,
Que doce aroma,
Dog longe late,
Se vê Zé de Geremias trabalhar nas terras de Dudé,
E as carreiras tortas papai vai abrindo,
Se ouve o pic-pic do enxadeco na pedra da terra,
E eu vou ensamiado fava, Rosangela plantando milho,
Se ouve o ronco da sapaiada,
E no céu canta o gavião,
O sol aparece entre a chuva,
Casamento de viúva dizia vô José...
O tanque encheu de água,
Plantamos mais que legumes,
Plantamos esperança,
Esperamos por bonança,
Desta terra tanto arada...
E no fim da manhã a terra plantada,
A gente volta pra casa de pés enlameados,
Felizes por terminar mais uma planta.
Agora é com a natureza.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
7. Fui
Sou filho da terra,
Plantei e colhi milho e feijão,
Na minha roça,
Cansei de admirar a lavoura crescer,
Vi as estações secas ou invernos,
Me acostumei com a lida da vida,
Me acostumei a trabalhar,
Sou filho da terra,
Sou dono da casa,
Sou dono do nada,
Agora fui...
Mas amei tudo...
O que entendi e ignorei.
6. Saudades
As coisas se sucederam tão rápido,
Entre a descoberta e sua partida.
Às vezes, pego-me sem acreditar,
Mas Deus nos deu sinais,
Ele pode visitar os filhos,
Viu os campos floridos de um grande inverno...
Comeu, sorriu e amou tudo isso,
Me apavorei só de pensar em tua partida,
E agora que partiu
Meu peito se enche de saudades...
Saudades de seus abraços,
Saudades de seu cheiro,
Saudades de sua voz...
5. Passarada
O papa-cebo anuncia o verão,
O galo-de-campina canta na madrugada,
Os sanhaçus azuis cantam durante o dia,
O cantar da passarada é poesia
É alegria,
O vem-vem de peito dourado,
O saci de cucuruto invocado,
Cantam a vida,
Cantam a chuva,
Cantam o tempo...
De quem foi,
De quem é
E de quem será.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2021
4. Sabores da vida
Quando a saudade aperta o peito.
Choro,
Sinto forte a saudade de ti.
Faz pouco que tu partiu,
Deixou um vazio,
Uma relação que nunca mais irá voltar,
Temos medo do infinito,
Só de pensar em tua partida
Meu peito se rasgava,
Mas tinha a ti,
Agora que partiu,
Dói muito mais,
E como dói,
Sempre achei o final de tarde triste,
Porque a noite tudo apaga...
Este ano papai
Li o primeiro livro de Eduardo Galiano,
Como seria ler para você?
Não sei,
Acho que talvez seria bom...
Sei que o senhor leu o livro da vida,
E aprendeu tudo com destreza,
Não tenho a sua esperteza ou sua coragem
De encarar a vida,
Fui por demais Sousa,
Me envaidecia quando dizia,
Aqui só fico atrás de Rubens...
Mas aprendi tanto contigo.
Galeano vai bem...
Gosto de suas ideias,
Gosto também do castelhano,
Gosto principalmente do de Borges,
Sabe papai,
Borges foi antes que Vovó,
E Galeano Antes de ti,
Galeano era o cara,
Isso te envaideceria.
Imagino se o senhor falasse inglês e espanhol...
Te amo papai.
3. Quer um pão
Ele caminhava com passos arrastados,
Já tinha o corpo cansado,
E a idade corou sua cabeça com a bela cas e uma linda calvície,
Sua vida era aquele lugar,
E aquele lugar sua vida,
Ir e vir... nos esperar.
Brincar com Negão, Sherlock,
Deixar os gatos sossegarem em seu colo,
Enquanto cochilava ou via televisão.
À tarde costumava sair para comprar pão,
Ia a passos lentos,
Sabe lá o que pensava ou imaginava,
Ele ia e a todos cumprimentava,
Ia lá em Juninho de Viola,
Em pouco tempo chegava,
E amavelmente me perguntava:
- "quer um pão".
E eu comia porque sabia que aquilo
O deixava feliz,
Fazia um café
E a gente esperava o amigo Raimundo de Lulu,
Francisquin,
E a tarde se passava
E a gente nem via a noite chegar.
Que delícia esta presença maravilhosa...
2. Tua presença
Ainda sinto tua presença,
É como se estivéssemos os dóis,
Eu na rede e o senhor na área,
Seu olhar sonolento,
O escuro da sala,
O claro da área,
Suas havaianas marrons,
Suas camisas surradas
E seus bonés estilosos,
Sua presença completa,
Sua energia,
Suas memórias,
Seus pensamentos,
Que falta me faz,
Quanta saudades...
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
1. Matemática da vida
Obrigado senhor
Pelo maravilhoso pai que me deu a vida,
Que esteve sempre presente,
Que esteve sempre ao meu lado,
Que respeitou minhas escolhas,
Meu coração está terno e cheio de amor.
Muito obrigado pelos seus longos anos de vida,
Pela sua vida com saúde,
Muito obrigado senhor
Muito do que sei foi ele que me ensinou,
Respeito e amor aos animais,
Com as plantas, as matas,
Compreensão e paciência...
Então quando meu filho nasceu,
Quando peguei nos braços,
Chorei de tanta emoção,
A cabecinha só me fez lembrar de papai.
Ali, com entre pessoas incríveis
Que trouxeram meu filho a vida,
Chorei ao ninar pela primeira vez meu filho
E prometi ser tão bom pai quanto papai,
Chorei e ri,
E falei tantas coisas bobas,
Que fez toda a equipe sorrir,
Com Vinícius nós braços,
Embalado me olhando e ouvindo,
Senti uma explosão
Uma catarse de emoção.
Se estivesse aqui teria ligado pra ti
Teria ouvido um alô com sua linda voz
E com uma frase diga autarquia
Teria contado tudo
Que aqui estou contando,
Sabe, aquele são Francisco que comprei
Na feira de Tambaú, aquele...
Lembra você estava comigo,
Tá na minha estante perto da cabeceira,
Dayane sempre acende velas e ora para nossa proteção,
A gente ora na alegria e na tristeza...
Lembra da promessa...
Terminei biologia e fui ao Canindé,
Quando puder vou levar Vinícius e Dayane lá.
Sempre quis ir com o senhor,
Respeitava e admirava sua fé
Que é minha fé
Quero que seja a de Vinícius,
Papai está aqui no meu peito,
Ainda choro sua partida,
Choro de amor e gratidão,
Muito obrigado Senhor,
Por tirar e dar,
Obrigado por ter me dado um pai fabuloso,
Espero ser tão bom quanto o senhor foi.
Um beijão,
Não se esqueça TE AMO pai Chico e filho Vinícius.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
16. Avó, pai e filho
Meu filho,
É noite,
Última noite,
Últimos minutos de 2020,
Algo te incomodando e não sei o que é.
Então afago tua cabecinha linda e perfeita,
Minha face se banha em lágrimas,
Assim afaguei Papai este ano,
Cheirei e beijei,
Meu amor,
Agora só tenho você,
Paizinho se foi,
Tudo agora gira em torno de ti,
Ontem antes de nascer
Era eu,
Agora sou papai e você,
Enquanto viver,
Papai Chico Raimundo tem os afagos de vovó e vovô,
Aos pés de Deus,
Agora somos você Vinícius,
E eu Rubens,
Ainda meio dividido,
De coração partido,
Mas todo o meu amor
É todo teu,
Tua cabecinha é igual a minha e a de papai,
Então quem somos nós
Somos seres,
E o que somos nós,
Uma concepção do amor,
Te amo muito e eternamente papai,
E você Vinícius
Agora é minha vida.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
16.Diferente fim de ano
Que grande é o vazio frio que deixou,
O sol nasce na manhã e dorme na tarde,
A noite que o sucede estrelada ou enluarada,
Partiu no verão,
Fico imaginando,
Partiu...
Ondes está...
Por onde estás?
Aquela voz,
Seus pensamentos,
Suas ideias,
Suas memórias...
Sua presença.
Por muito tempo estará no primeiro e último pensamento do dia.
Seus abraços,
Seu cheiro,
Sua alegria...
Agora se encantou.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
15. Tua voz
Hoje a saudade apertou o peito,
Senti saudades de ti,
Queria ouvir tua voz,
Falar qualquer coisa boba,
Saber que estavas bem,
Saber como estão se comportando
Sherlock, o loro, Boris, Belinha e Romeu,
Queria saber se estava nublado ou ensolarado,
Quente ou fresco,
Queria ouvir sua vez,
Hoje queria seu abraço,
Queria que sentasse a mesa,
Mascando seu pão ou tapioca,
Me olhando comer
E rindo com o apetite de Dayane,
Queira te ajudar aguando alguma planta,
Queria ouvir me perguntar se tinha ido a matinha,
Queria comentar sobre a florada dos catolés,
Ou como tem coco no chão,
Queria falar sobre os preás,
Queria elogiar a beleza das palmas,
Das flores de feijão brabo,
Queria dizer que a madrugada ouvi a passarada cantar,
Queira ouvir seu arrastar de chinela,
O som do barulho de ti varrendo o terreiro,
Sabe pai, podia ter dito, mais vezes, que te amo ao longo da vida,
Ter te abraçado,
Mas é isso mesmo,
Tudo que vejo aqui tem um pouco de ti,
Mas sei que as paisagens mudam,
Sei que a chuva para,
A ventania vira brisa,
E tudo que me ocorre são fenômenos intensos da natureza,
E que tudo passará um dia,
Mas a nossa amizade,
Nossa intimidade,
Essa só nós saberemos,
Nossa cumplicidade,
Hoje, só queria ouvir sua voz,
Seria bom se soubesse descrever,
Para mim a mais amada,
Saudades... Saudades....
14. Terrinha
Nossa terrinha amada e querida,
Não houve uma ano em nossas vidas,
Um ano sequer sem plantação,
Tirávamos mato na enxada e na mão,
Não teve um metro sem cultivar milho e feijão.
Todo ano essa terra sagrada,
Nós dava o que comer e vender,
No inverno era milho e feijão,
Mandioca, arroz, jerimum e fava,
Seriguela, cajarana, pinha, araçá, goiaba,
Coco, acerola, mamão,
No verão tinha caju,
Comia no almoço arroz com feijão,
Na janta xerém com leite,
Da terra todos comiam,
Todos nós e os animais,
O cachorro, o gato, o louro, a galinha, o porco e
A vaca...
Ah, essa terra sagrada,
Essa terra amada,
Um metro não ficou sem cultivar,
Ano após ano,
No solo macio e plano,
No solo de barro inclinado,
Pedregoso de mato avolumando,
Se brocava e fazia o roçado,
E a gente produzia o que se comia,
Era pouco, o pouco com Deus é muito,
Pra vida melhorar,
Tivemos que buscar suplementar a renda,
Primeiro foi Beg,
Segundo Rosângela,
Terceiro Meire,
Quarto Lidiana,
Quinto Rubens
E sexto Roberto,
Porque comer e sobreviver
Se faz quando criança,
Está cheia a lembrança,
Dessa terra cansada
Que agora descansa
Como papai...
Aqui a vida continua,
Tem até nome de rua,
Mas as coisas são as mesmas,
Como nós os mesmos,
Com nossas vidas,
Nossos filhos e amigos
Até o dia final.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
13. Trovão
Quando caia a chuva
A terra seca toda água bebia,
Alegre papai sorria,
E se tinha relâmpago e trovão,
Mudava logo a expressão,
Se sentava numa cadeira
E dali não saia mais não,
Mamãe gritava véi frouxo,
Mas ele nem aí estava,
Apenas ouvia a chuva chover,
E a gente molhado do banho de chuva,
Se secava e ria do medo de papai do trovão
E quando a chuva passava,
Em seus lábios se percebia,
A reza da ave Maria,
Gesto de gratidão,
Papai como a asa branca,
Se ia,
Mas nunca deixou o sertão,
Mas sempre se apavorava com trovão.
12. Teu sorriso
O teu sorriso é lindo e maravilhoso,
É tímido, é doce...
É como a nuvem de chuva no verão,
É como o botão numa árvore virgem de for,
É como o vento nordeste,
É como o canto das aves na Aurora,
É como o solo molhado pela primeira chuva no fim do verão.
É sincero,
Mostra as lindas rugas na face,
Expressão de felicidade,
O teu sorriso papai,
Inundava meu peito de alegria,
Porque a tua felicidade
Era pra mim vaidade,
De um pai tão bom e jovial,
Que no final não deixou de a todos surpreender,
A tua paternidade me fez maior a vontade
De ser um pouco do que fostes para nós,
O teu sorriso misterioso,
Desgastado pelo tempo,
Era o sorriso mais belo
Que como a lua
Será jovial e eterno,
Enquanto pulsar este coração,
Que agora espremido de saudade,
Tem em ti grande vaidade
De ter tido o melhor pai,
E um sorriso misterioso,
Um sorriso grande e amoroso,
Minha grande vaidade,
Ter vivido até está idade,
Amando e sendo amado,
Vai pode ir sorrir para o nosso senhor,
Sois prova de amor,
Amor fraterno,
Amor filial,
Amor do seu amor
A quem nunca abandonou,
Seguiu no riso e na dor,
Até o fim.
Fiquei triste quando te vi sem sorriso,
Papai aproveite o paraíso,
Que aqui guardarei o teu sorriso.
domingo, 27 de dezembro de 2020
11. Conformação
A voz é a substância da palavra já dizia Borges.
E quando a voz se cala e a palavra perde a substância.
O corpo já não se pronuncia, não se expressa.
O que resta senão os pensamentos,
A energia dos pensamentos,
A memória,
As ações e expressões que o tempo se encarrega de apagar.
Por muito fica o vazio da presença que se fez ausência,
Da ação que se tornou inação,
Não há mais cansaço, medo, preocupação, desejo, angustia, paixão, amor ou dor...
Acabaram-se as relações...
E nós somos o que senão um continuo que avança,
O amor materializado,
Produto de um momento,
Imanente que se fez,
E continua a evoluir...
sábado, 26 de dezembro de 2020
10. Abba 3
Na noite de natal nasceu,
Entre tantos filhos gerados
Por seus pais foi muito amado,
Entre o dia e a noite,
Entre o inverno e o verão,
O primeiro amor aprendeu,
Amou pais e irmãos,
Bem como amar a vida em toda sua força,
Independente de todo ser,
Amou o ar, as águas, as terras e o o sol,
Depois veio o vigor da vida,
Logo homem se formou,
Foi para o mundo,
Porém de seus pais nunca se desligou,
Foi muitas vezes e voltou,
Se fez Chico de Aldo,
E com De Assis de Zé de Neves se casou,
Aprendeu a amar pela segunda vez,
E assim Chico de Diassis e Diassis de Chico,
Uma longa história de amor se iniciou,
Amou aquela pepita de ouro,
E deste longo namoro,
Cinco vidas gerou,
Achando pouco outro filho adotou,
E assim pela terceira vez aprendeu uma nova forma de amar
Foi em Serrinha do Canto,
Que encontrou o encanto de um lugar,
Em 1979 chegou,
E desta terra não mais ficava muito tempo distante,
O amor aos filhos era tão intenso,
Era algo tão denso,
Tão desvelado,
Como todos se sentiram amados,
Amava a Begue filho tão dedicado,
Rosângela filha amorosa,
Meire, filha forte,
Rubens, filho calado,
Lidiana filha delicada como uma flor
E Roberto filho suave...
Com De Assis seus filhos educou,
Nunca nenhum maltratou ou abandonou,
Viveu os bons momentos
E nos momentos difíceis confortou,
Esta terra macia plantou e cultivou,
Dos animais sempre cuidou,
Da religião nunca descuidou,
Seguiu a tradição e no catolicismo nos criou,
Por promessa a são Francisco
Francisca batizou,
E amante dos animais é,
Ensinou a respeitar e as contas pagar,
Ensinou a trabalhar,
Deu oportunidade a todos estudar,
Sempre tinha uma palavra sábia para confortar,
E palavras divertidas para nos fazer rir,
Sempre foi muito grato a seu filho primogénito
Que ajudou nos anos difíceis de seca,
Amou a filha mais velha
E de sobremaneira Lera,
Quando partiram os filhou sempre ficou a chorar...
Então os anos pratearam sua cabeça,
Seu corpo amadureceu,
A sabedoria lhes chegou,
Então vieram os netos,
Disse se tornar pai novamente,
Giovana, Felipe, Alessandra, Gustavo,
Pedro, Laura, Gabriela e Vinícius,
E os tempos foram tão bons,
E aconteceu como ele dizia
"O que é bom dura pouco"
A vida pareceu longa,
Mas contigo papai
Com tua presença,
Nesta hora, vemos que a vida foi breve,
Percebemos que a vida é uma linda passagem,
Que não nos cansamos de te admirar,
Seguir seus passos em tudo,
Agora que sua presença física se foi
De são Geraldo... Sempre de São Geraldo,
Mas Azul e Tam são as melhores,
Papai como te conheço,
Porque ouvia Nelson Gonçalves contigo,
Porque via qualquer programa do Sílvio Santos,
Porque gostava de ter um gato no colo,
Porque falava de negão e sherlock como pessoas,
Porque ria com o humor de Hélio e Aluízio,
Porque ouvia João de Licor,
Porque amava ouvir Francisquinho contar os negócios,
Porque ela não sabe o que diz
Porque não precisa de outra moto,
Porque Pedro é mais amoroso,
Porque Laura adora comer,
Porque Giovana é séria,
Porque Felipe é magro e estudioso,
Porque Gabi. Ahhh Gabi...
Parabéns pelo dia dos pais Rub...
Vai desbotar o moranguinho,
Está anoitecendo,
É hora da partida,
Não tem noite mais estrelada que esta,
Se saio no terreiro,
Sinto a areia gelada,
Sinto um frio um frio na espinha,
Olho para o seu e vejo estrelas brilhando,
Sabemos que sois uma delas,
Sentir o frio desta baixa,
O cheiro das flores de cajueiro,
A arquitetura das palmas,
A sinfonia das aves,
A aurora da partida,
Vai Francisco casado com Francisca,
Pai de Francisca e
Filho de Francisco e Francisca,
Certamente está no Céu
Francisco pai e filho, Francisca,
Aldo, Raimundo, Raimunda e Margarida...
E nós continuamos a caminhar,
Sob a oração do Pai nosso e das ave marias...
Dias que se seguirão.
9. Abba 2
É assim,
Hoje sou,
Amanhã não sei,
Agora presente,
Amanhã ausente,
Após a festa,
após a noite,
Vem o outro dia,
Na simplicidade,
fomos vivendo nossos dias,
Fomos cultivando
nosso pão em nosso chão,
E os dias não
pararam de passar,
E os dias não
deixaram de ser,
Todos os dias ao
teu lado aprendi a viver,
Na paz,
Com amor, com
carinho...
E fomos assim,
Comendo feijão
com arroz,
Dando comida ao
gado,
Minho as
galinhas,
Amarrando o
jumento,
Alimentando o
cachorro,
Sim entre os
dias e as noites, fomos vivendo,
De seca a verão,
Conhecia teu
medo do relâmpago e do trovão,
Como era bom
sentir o cheiro da terra macia,
E plantar as
covas que plantavas,
Como não lembrar
de cada manhã ao teu lado,
Cada café da
manhã,
Cada almoço,
Cada jantar...
Agora a vida
está aberta sem ti...
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
8. Ábba
Papai pariu deste mundo.
Sua sinfonia foi concluída,
Sua caminhada chegou ao fim,
Desceu do trem da vida...
Todavia enquanto caminhamos juntos
Tinha um orientador, um norte,
Foi seguindo seus passos que aprendi a caminhar só,
Papai me ensinou a amar a vida,
Amar os seres vivos dos mais simples aos mais complexos,
A amar o sol, amar a chuva,
Amar as flores,
Amar as matas...
Nós nos comunicávamos por telepatia,
A cerca de 35 anos ele passou a preservar uma pequena mata,
Hoje uma linda mata,
Nosso maior elo,
Ele deixou os catolés, os angicos, os feijões-brabos, as aroeiras crescerem,
Só tinha uma birra com as cajaraneiras, dizia que fazia sombra.
kkkkkkkkk.
Por último até as cajaraneiras.
Quantos pés de cajaranas cresceram na nossa terra,
Papai usava as madeiras na cerca e assim plantava mais uma planta.
Papai amava contemplar a paisagem,
Ele amava o meu amor pela vida, pelas plantas...
Lembro das poucas vezes que o ajudei na enxada,
Ele sempre me poupou, mas teve algumas vezes,
Ele me poupou de trabalhar na foice,
Ele me poupou de tantas coisas...
Lembro de ajudar ele no sítio do Pareiro,
Lembro de ajudar ele com o gado,
Lembro de plantar enquanto ele cavava os roçado com aquelas carreiras tortas,
Quando a gente mangava ele dizia, no silo vai um em cima do outro,
Lembro de ajudar a tirar pinha,
A tirar seriguela...
Lembro de ouvir as aves e os pássaros cantando enquanto a manhã nascer.
Lembro de ouvir seus pés caminhando arrastando os pés aguando as plantas,
Varrendo o terreiro;
Lembro de ir com ele para Martins nos dias de Sábado,
A motinha já ia direto para a sobra da figueira de Davi,
Então íamos a venda de Antônio de Chiquinho,
Encontrava os amigos Aluízio, Hélio, Dadá, Bolinha, Wasginton, Marlene...
Sempre tinha o café...
Lembro do carinho e o acolhimento e prazer que tinha em receber os amigos e familiares.
Papai sempre foi meu herói,
Agora se encantou,
Está guardado nos giros e sulcos cerebrais,
Está intensamente ramificado em meus neurônios,
Em cada átrio de meu coração.
Papai seu templo agora é pó,
Mas seu espírito (Gaist) eterno est.
Tenho certeza que não precisou de Virgílio para te guiar ao paraíso,
E assim é.
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
7. Modo
Deito-me numa rede na frente da cozinha de mamãe.
O céu está azul com nuvens frouxas.
A temperatura está quente ou quase morna,
Algo agradável.
Os sentidos torpes do almoço.
No céu azul plana um urubu,
As galinhas espalhadas nós terreiros,
Ora caminham, ora cantam, ora gritam,
Ora descansam.
Aparece um cancão dá uns chamados e depois some.
Sherlock e Schaquira dormem.
Continuo na rede
Observando o modo como a tarde
Se faz aqui neste momento.
Prestando atenção no modo de ser das coisas.
Um cheiro forte de caju seco chega do chiqueiro e trás memórias dantes atrás.
O tempo esse ser sem substância.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
6. Cajus e castanhas saldosos
domingo, 13 de dezembro de 2020
5. Craibeiras
Em paz
A hora da partida! Em casa, a vida é tão boa, mas tão boa que passa depressa. Passa sem que se perceba. As coisas vão acontecendo e a gente...
-
As cinzas As cinzas da fogueira de são joão, abrigam calor e brasas, cinzas das chamas que alegram a noite passada. cinzas de uma fogueira f...
-
Hoje quando voltava do Bandeco vinha eu perido em meus pensamentos, meu olhar vagando nas paisagens. Quando num instante ouvi um canto, era ...
-
Caatingueira, Caatingueira, Do sertão, No carrasco, Sobre o seixo, Sobre a areia, Sobre o barro, Limite do campo, Inicio da mata Na seca pe...