domingo, 10 de janeiro de 2021

9. Paisagem do Sertão

 Domingo,

A casa com paredes de taipa,

Só a sala com tijolo adobe,

E telhado com telhas velhas irregulares,

Abrigava a família de José Neves,

Ali habitava Sinhá, José e Lera,

O terreiro de solo alvo, 

Estava todo varrido,

Arrastando as asas, com crista dilatada cantava o peru glugluglu.

Do lado de fora da porteira badalava o chocalho das vacas,

O cheiro de estrume aromatizava a paisagem sertaneja,

A janela da cozinha aberta,

A porta da cozinha aberta,

No fogão cozia o feijão,

O fogo laranja dançava,

Na panela o feijão com carne de boi borbulhava e soltava um gostoso aroma,

Que despertava fome na gente,

Uma melancia aberta,

Coalhada no alguidar da forquilha...

A luz iluminava o serrote,

As algarobas e pinheiras faziam sombra,

Na fachina as galinhas cocoricavam,

Vovó Zé, Mamãe, Migué e Vovô Sinhá a conversar,

Uma conversa que não entendia,

Preferia só olhar no oitão a escora da parede,

As paisagens plantas,

A serra,

Enquanto isso cantava no campo o tico-tico do campo,

Na pinheira cantava um golinha 

E na gaiola o sabiá de vovô...

Que anos maravilhosos os anos 80,

Da minha infância, da velhice de meus avós,

Do eterno encontro da vida,

Das gerações se enlaçando e desenlaçando,

Feito a dança de Shiva,

Na destruição e construção...

E a consciência que tudo isso não passa de ilusão



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