terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

24. Nelson Gonçalves

 Meu querido e velho amigo.

Agora já não tenho um parceiro para ouvir Nelson Gonçalves.

Mamãe já não pode nos chamar de Manés.

Já não podemos sentarmos juntos nas cadeiras de balanço na calçada da frente.

Restam apenas as paisagens e as músicas de Nelson que posso ouvir sempre que quiser lembrar de ti.

Lembra que te dei um cd e falou que era o melhor presente que tinha ganhado.

Naquele aniversário seu, naquela noite de natal, tomou umas a mais.

A gente riu, pena que não bebi contigo.

Mas ouço sua voz e seu riso.

A partir daquele dia sempre ouvia Nelson contigo no intuito de viver um pouco se seu orgulho

de sua juventude, sua boemia e contavas as mesmas histórias.

Com a idade a gente vai se acomodando e contando as mesmas estórias.

Era a mesma coisa sempre que ia a casa de João de Licor... as mesmas estórias.

A gente conta a mesma estória tentando não apagar o passado.

A gente tem muitas ilusões.

Mesmo sabendo que tudo aqui é passageiro, continuamos sendo os mesmos anos a fio.

E as vezes descobre que as verdades são castelos de areia.

A gente descobre que sistemas de classificações são apenas ideias que nos norteiam.

No final tudo é orgânico e mortal.

Nem me incomoda se disseres que tenho péssimo gosto.

A gente gosta de coisas simples, aquelas que a gente entende.

Aquela que a gente busca gostar ou entender talvez a gente ame.

Ou não.

Lá em Serrinha está chovendo.

Lá em Serrinha está frio.

Não tem xerém que aqueça nossos corações,

O que aquece meu coração e é a saudade,

Não teve que não me perguntei por que partiu?

As lágrimas inundam meus olhos,

Um aperto espreme meu coração.

Aqui estou papai ouvindo seu cantor favorito que agora é meu favorito.

Sei que o sentido de seu gostar era adverso do meu gostar,

Mas meu gostar é meu amor por ti.

Nem um xerém aquecendo o estômago,

Nem sua voz amiga e pacata,

Nenhuma semente de milho ou feijão na terra.

Ali fora geme Vinícius... Um dia certamente saberá tudo sobre ti.

Em meio a essa profunda saudade,

Estou feliz pela chuva que cai,

As sementes germinarão,

As matas crescerão,

E me emocionarei sempre com Nelson Gonçalves.

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