quinta-feira, 12 de maio de 2011

Doçura

Nem todas as pessoas tiveram a oportunidade de colher uma fruta do pé e degustá-la ali mesmo. Há pessoas que não conhecem o doce das frutas, tão pouco desfrutaram de um pomar. Quando amanhecia o dia, cedinho, acordava e corria para a goiabeira e alí mesmo comia várias goiabas. Comia primeiro as cascas e deixava para comer as sementes depois por serem mais doce. E assim era com os cajús, com as seriguelas, cajaranas, pinhas. Gostava de sentir o doce da fruta fria pela noite, se desmanchar em minha boca e agradar meu paladar. Era muito gostoso sentir o cheiro das goiabas maduras, esmagar as goiabas do chão e ver as larvas nadarem sobre o mel. Era gostoso sentir o mel do caju escorrer braço e abaixo e logo se transformar em nódoa. Era gostoso, os banhos que mamãe me dava antes de almoçar, esfregava com força pra tirar a nódoa dos braços e da barriga.
Como gostava de está no sítio, em casa, correr pra lá e pra cá com os cachorros; por milho para as galinhas esganiçadas; correr montado no lombo do jegue, ou nos cavalos feito de folhas de coqueiro, com cabrestos de cordão.
Era muito bom poder imaginar poder tudo, e ali eu podia, meu pai não era de brigar.
Mexia na sua caixa de ferramenta, andava de bicicleta.
Derrubava cocos, tomava água e depois mascava o miolo, chupava o sumo e cuspia o bagaço pras galinhas, pro cachorro.
Tudo ali era possível, correr de lá pra cá, cheirar as flores, tocar nas malicas e ver elas se fecharem.
Ver cobras e aranhas. Caçar prear com dogue, ou por acaso ao ir buscar o gado matar um teiu, ou ainda ver o nosso dogue acuá, timbu, ou raposa.
E depois de tudo isso, de tantos sabores, tantas coisas ricas e dormir com a certeza de acordar e fazer tudo de novo e novamente, sem tempo ou porteira pra nada.
Como era bom poder acordar e ir correndo a goiabeira, ou aos cajueiros,
ou melancieiras ou mamoeiros...
Que infância mais rica, não sei se poderei ao meu filho dar.
Se poderia dar a ele o prazer de tirar da planta e comer o doce fruto,
direto da terra, Deus é que sabe onde vamos parar.
Gosto do canto do sabiar, do fruto doce no pé.


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