Numa manhã domingueira,
Segui com mamãe até o sertão,
Fomos de jegue se bem me lembro,
Lá pra casa de vovó Sinhá,
A estrada era apertada,
Com areia alva
E seixos rolados,
A gente ia caminhando
E o mundo descobrindo,
Cada árvore mais linda,
De certo era inverno,
A água escorria na terra úmida,
Era perfumada a estrada,
Um cheiro de marmeleiro,
Cheiro de velame,
A certo momento num novo lugar,
Ouvia a rolinha cantar,
Fogo-pago, fogo-pago, fogo pago...
E ao voar ouvi o som de chocalho,
Ouvi um canto lá no campo,
Era um canto maravilhoso,
Era o tico-tico do campo.
Chegando na casa de vó,
O mundo era tão amplo
E nós tão pequenos,
Ali se via serras
Eram outras terras,
Serras no nascente,
Serras no norte e no poente,
Só o sul era profundo.
Vovó nos recebeu,
Vovô também estava lá
Vimos a mana Lera
Vimos o primo Magi,
Vimos a alegria de mamãe,
Ao chegar lá se sentia em casa,
A maravaia queimava no fogão de lenha,
Queimava acabando de cozer o feijão,
Tomamos uma coisa mole e alva,
Feita de leite chamada de coalhada,
Rasparam a rapadura
Misturaram e comemos,
O que me chamou atenção
Foi o lugar onde guardava
Tal manja a coalhada,
Descansada numa forquilha,
Teve a noite dormida
E agora era comida...
Eu criança curiosa,
Achava aquilo esquisito,
Casa de taipa,
Vovó idosa,
Vovô pigarreando,
Entre eles conversando
E eu viajando,
Apenas nas formas,
Da vida nada entendia,
Só vivia,
Foi um dia maravilhoso,
Que volta sempre a minha memória,
Parece uma estória,
Mais um dia foi realidade,
Seria a realidade um sonho?
Penso agora risonho...
A casa,
A paisagem,
Meus avós são estórias e sonhos,
Coisas de minha memória,
Que compõe esta estória.
E é só.