Temos ânsia de entender o mundo. Esse mundo que tem tantas faces, tantas vertentes que o pensamento não consegue ou não tem tempo de conhecer. Nosso conhecimento é tão limitado diante do mundo, todavia há aqueles que sempre querem expandir o mundo. E o fazem a sua maneira.
Meu pai muito cedo com 17 anos tomou exemplo dos amigos, saiu de sua terra natal e foi a terras muito distantes. Saiu de Serrinha dos Pintos seio de sua família e foi para São Paulo numa viagem que suponho deslumbrante, foram 17 dias de viagem. Imagina o medo e a emoção de papai. Menino homem, que quando chegou a aquela cidade não tinha sequer um par de sapatos. Largou a enxada, o sol a pino, para trabalhar na construção civil como servente de pedreiro, abraçado a uma esperança deixou de trabalhar apenas para comer por um salário. Papai que nunca tinha visto dinheiro, passou a vender o seu trabalho e a ter algum dinheiro e ajudar a sua família. Bom filho, bom irmão e bom marido. De papai nunca tive queixa, não tenho más histórias, teve que amadurecer muito cedo. Papai na sua simplicidade foi boêmio, aprendeu carpintaria e não ficava seis meses num lugar e já mudava, queria uma nova obra, um novo lugar, novas pessoas. Papai adorava tirar barato, naquela época varava a madrugada ouvindo Nelson Gonçalves de quem tanto gosta. E quando chegava em Serrinha era o cara. Papai conheceu as grandes cidades o eixo da economia da época: Rio, São Paulo. Descreve de cabeça o centro de São Paulo e do Rio...
Papai ampliou sempre o seu olhar, sempre gostou de conhecer o mundo e hoje o tempo cada vez mais torna-o prisioneiro do seu corpo, Borges já dizia e é o que acontece nos tornamos prisioneiros de nossos corpos de nosso tempo e não acompanhamos o nosso tempo.
Apesar de tudo coragem não faltou, seu entendimento é o de seu tempo, hoje encontra-se imbricado em seus pensamentos, muitas verdades que aprendi com ele se desfazem. Verdades que para ele são teorema, verdades como as políticas, que na época do regime militar era que funcionava.
Papai não leu Foucault, Sartre, Nietzsche... Papai não leu teorias. Tudo que aprendeu foi com a vida.
Ele me ensinou valores que são atemporais. Valores que aprendeu com seus pais e irmãos.
Os valores são atemporais. Vão além das fronteiras do conhecimento.
Por isso devo tudo a meu pai e a mamãe pelos valores que me ensinou.
Creio que mais que bens materiais valores são aqueles bens que melhor de devem deixar para os filhos.
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