Para além da necessidade
O que sobra é tudo vaidade
Imagine você na vida pretender
Escrever poesia,
Poesia metrificada,
Que ilusão...
Patativa teve sua catarse nos versos de um cordel,
Borges na madeira de imburana,
Eliseu nas cordas de uma viola,
Padin Cícero no sermão,
Lampião na coronha do fuzil,
Isso tudo é ilusão,
Tentar se eternizar em qualquer forma de expressão,
O destino é um só,
Carne dura, crânio rocha e caixão,
A terra frouxa quem come,
Essa carne que agora pulsa,
Isso tudo é ilusão,
Lutar em excesso por algo,
Ser o melhor,
Melhor fazer,
Feito os faraós egípticios,
Feito a filosofia socrática,
Feito o império de Alexandre,
A matemática de Euclides,
A genialidade de Eistein
Isso tudo é ilusão,
O joão-de-barro constrói sua casa sem pretensão,
Sabiá canta seu canto sem a mínima ilusão,
Um jumento quando rincha embeleza uma noite,
E o vento de açoite é sinal de bem está,
Quem não se refresca na água do açude na caatinga,
Bobagem e vaidade,
Isso tudo é ilusão,
Tem gente que se dana a poupar,
Comprar propriedade, casa, carro e até avião,
Gente que fala em riqueza
Gente que se aliena falando no que não sabe
Isso tudo é vaidade,
Não merece atenção,
Quem se importa com Mozart, Gogh ou Pessoa,
Tem algo para gostar,
Mas tem gente que gosta mesmo é de coisa simples
Feito caldo de cana,
Uma res gorda,
O apurado da safra...
Porque tudo é ilusão,
Já cantou o sábio Salomão,
Na vida tudo é ilusão,
Alguma coisa ameniza,
No final nada muda a equação,
Isso tudo é ilusão,
Nem mesmo vemos cerrar o caixão,
A melhor coisa é achar o meio termo,
E viver da melhor forma,
Acumular qualquer maneira,
Porra merda,
É tudo ilusão,
Deixe de procrastinação...
Viva a realidade,
Viva sua intuição,
Porque a perfeição é ilusão.