quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

8. Ábba

 Papai pariu deste mundo.

Sua sinfonia foi concluída,

Sua caminhada chegou ao fim,

Desceu do trem da vida...

Todavia enquanto caminhamos juntos

Tinha um orientador, um norte,

Foi seguindo seus passos que aprendi a caminhar só,

Papai me ensinou a amar a vida,

Amar os seres vivos dos mais simples aos mais complexos,

A amar o sol, amar a chuva,

Amar as flores,

Amar as matas...

Nós nos comunicávamos por telepatia,

A cerca de 35 anos ele passou a preservar uma pequena mata,

Hoje uma linda mata,

Nosso maior elo,

Ele deixou os catolés, os angicos, os feijões-brabos, as aroeiras crescerem,

Só tinha uma birra com as cajaraneiras, dizia que fazia sombra.

kkkkkkkkk.

Por último até as cajaraneiras.

Quantos pés de cajaranas cresceram na nossa terra,

Papai usava as madeiras na cerca e assim plantava mais uma planta.

Papai amava contemplar a paisagem,

Ele amava o meu amor pela vida, pelas plantas...

Lembro das poucas vezes que o ajudei na enxada,

Ele sempre me poupou, mas teve algumas vezes,

Ele me poupou de trabalhar na foice,

Ele me poupou de tantas coisas...

Lembro de ajudar ele no sítio do Pareiro,

Lembro de ajudar ele com o gado,

Lembro de plantar enquanto ele cavava os roçado com aquelas carreiras tortas,

Quando a gente mangava ele dizia, no silo vai um em cima do outro,

Lembro de ajudar a tirar pinha,

A tirar seriguela...

Lembro de ouvir as aves e os pássaros cantando enquanto a manhã nascer.

Lembro de ouvir seus pés caminhando arrastando os pés aguando as plantas,

Varrendo o terreiro;

Lembro de ir com ele para Martins nos dias de Sábado,

A motinha já ia direto para a sobra da figueira de Davi,

Então íamos a venda de Antônio de Chiquinho,

Encontrava os amigos Aluízio, Hélio, Dadá, Bolinha, Wasginton, Marlene...

Sempre tinha o café...

Lembro do carinho e o acolhimento e prazer que tinha em receber os amigos e familiares.

Papai sempre foi meu herói,

Agora se encantou,

Está guardado nos giros e sulcos cerebrais,

Está intensamente ramificado em meus neurônios,

Em cada átrio de meu coração.

Papai seu templo agora é pó,

Mas seu espírito (Gaist) eterno est.

Tenho certeza que não precisou de Virgílio para te guiar ao paraíso,

E assim é.

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

7. Modo

 Deito-me numa rede na frente da cozinha de mamãe.

O céu está azul com nuvens frouxas.

A temperatura está quente ou quase morna,

Algo agradável.

Os sentidos torpes do almoço.

No céu azul plana um urubu,

As galinhas  espalhadas nós terreiros,

Ora caminham, ora cantam, ora gritam,

Ora descansam.

Aparece um cancão dá uns chamados e depois some.

Sherlock e Schaquira dormem.

Continuo na rede

Observando o modo como a tarde 

Se faz aqui neste momento.

Prestando atenção no modo de ser das coisas.

Um cheiro forte de caju seco chega do chiqueiro e trás memórias  dantes atrás.

O tempo esse ser sem substância.





segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

6. Cajus e castanhas saldosos

Quinta-feira, 10 de dezembro de 2020.
Acordei, mas não levantei, preferi ficar na cama olhando o telhado com aquela luz marrom. Fiquei quietinho ouvindo as aves cantarem, o som do vento no telhado e nas folhas de coqueiro. Pensei várias coisas e nada ao mesmo tempo, pois quem muito pensa nada colhe dos pensamentos, sem foco não se encontra o cosmos no caos, não se abstrai nada. Então, levantei, comi um pão e fiquei sentado a mesa com mamãe e Meire. Ali ficamos conversando. Depois, sai para caminhar um pouco e ficar só. Fui caminhando e contemplando a natureza. Eu ia observando a paisagem e refletindo sobre as mudanças nas paisagens. Ainda neste ano, vi tudo tão verde e vivo. Agora tudo seco e ou morto ou dormitando. Fui caminhando sítio a dentro. Sherlock nosso cachorro ia comigo. Fui e voltei, já quase chegando em casa encontrei  meu irmão Rosembergue catando castanhas e cajus. Então, fui ajudá-lo. Esta cena só tinha acontecido a mais de 30 anos ou nunca tinha ocorrido. Eu e meu irmão a sombra de um cajueiro catando caju. A gente ficou naquela ação, concentrados, mas era como se estivéssemos conversando. Nossa presença e companhia era tudo. Não era necessário palavras para expressar nossos sentimentos de tristeza, de dúvida, de medo e de dor. Nossas mentes estavam em papai que está na UTI em Mossoró. Então catamos caju e castanha por um bom tempo até a coluna e as pernas ficarem cansadas. Depois descastanhamos o que catamos. Pronto nossa conversa se acabou. Ele foi para o Porção. Enchi o tanque e tomei um banho e fui para o quarto ficar com a Laura.

domingo, 13 de dezembro de 2020

5. Craibeiras

A avenida é dividida por um pequeno canteiro onde jovens craibeiras floresceram recentemente.
Agora as cápsulas secas se partem e deixam as sementes aladas serem levadas ao vento.
É sol,
É luz,
É calor,
É domingo,
É dezembro,
E o ano 2020 está finalizando,
Logo será natal,
Logo será fim de ano...
Viva ao amarelo das craibeiras.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

4. Eterno

 É tarde,

Parece que vai chover,

As aves cantando,

Um sabiá cantando laranja ou banco,

Um sanhaçu cantando,

É dezembro,

As plantas verdes pálidas,

O mundo continua 

Como há de ser eterno.





sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

3. Jasmim

 Oh! 

Jasmim,

Oh, Jasmim,

Tu que enfeitas e incensas um jardim,

Jasmim-manga,

De flores estreladas alvas 

E fauce amarela como gema,

Jasmim quando te vi

Pela primeira vez tive medo de ti,

Pois tuas flores enfeitaram o primeiro defunto que vi,

Teu aroma ficou grudado na minha alma,

Assim como aquela face enrugada,

Fria e morta,

Aquelas mãos cruzadas ao peito,

Aquele corpo de tanto vivido,

Era um corpo que esfriara,

Que a pouco vivera por tantos anos,

Mudando de fases,

Vivendo,

Existindo...

Jasmim tu que enfeitastes e desses a última impressão a um corpo,

Me destes a primeira impressão do fim, a morte...

Meu primeiro grande medo,

Minha consciência...

Despertar para a realidade é árido...

Tuas pétalas macias frágeis e delicadas,

Perfumadas,

Tuas folhas de manga,

Tuas inflorescências cimosas...

Que são agora para mim?

Apocynaceae, Plumeria rubra...

Vida e morte,

Ser e não ser,

Início e fim.

2. Cadê o espírito

 À noite está enfeitada

Com árvores e pisca-piscas,

De cores mais diversas,

Azuis, verdes, vermelhas, brancas...

São árvores e enfeites de natal,

Meu coração fica contente com o natal,

Meu coração fica feliz,

Mas está apertadinho,

Parecendo um coração de frango,

Por quê?

Papai não está bem de saúde

E estou aqui longe...

Pisca-pisca.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

1. Ave

 Enquanto o sol nascia,

Caminhava na rua,

Ouvi a vocalização de um pica-pau,

Lá no nascente sobre um poste estava a linda ave...

Não lembro de ter ouvido ou visto tal beleza na rua,

Aquela impressão e percepção foi passageira,

Depois mais tarde,

Ouvi outro pica-pau vocalizar longe.

A lua estava no céu menos intensa que ontem.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

13. Novembro

 Novembro se vai,

Entraremos no último mês do ano,

Ano de 2020,

As coisas que vivemos neste ano,

Coisas boas e ruins.

Nascimentos e mortes...

Coisas deste tipo.

Tudo vai passar,

Como passou e está passando.

sábado, 28 de novembro de 2020

12. Sentido

 Ir e vir,

Subir e descer,

Potência e ato,

Verão e inverno,

Manhã e tarde,

Noite e dia...

Será o universo dialético,

Universo...

Uma direção,

Um sentido...

Qualquer um que seja.

Bati-bravo Ouratea

 Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...

Gogh

Gogh