sábado, 23 de outubro de 2010

Passiar só


Quando ganhei a confiança de mamãe e ela viu que já era uma pessoa responsável. Ela começou a deixar sair de casa sozinho, pra lugares longe de casa, tipo a casa de meus avós e a casa dde meus tios, claro que não ia em toda casa, mas ia na casa que tinha mais crianças, no ambiente que achava mais legal. Um dos lugares mais fascinantes no meu mundo infantil era a casa de vovó que meu tio Miguel morava lá. Achava aquele lugar mágico. Ali tudo era diferente, pois aquela casa velha ficava no pé da serra. Onde a paisagem era bem diferente de onde morávamos, no pé da serra tínhamos caatinga, mata branca, com árvores baixas e retorcidas, cinzas, e muito cardeiro, muita imburana, muita catingueira, e muitas aves que não dão na serra, lá tinha golinho, era difícil ver um golinho na serra. Lá tinha nos terreiros, tinha também rolinhas cascável que tem o corpo coberto de penas, mas aquelas penas parecem escamas, quando voam fazem um som muito bonito. Adorava ouvir seus cantos com duplo som "tou tu tou". Fazcinava-me aquelas paisagens, então aprendi a ir pra casa de Miguel que tinha cinco filhos e quando chegava lá eu era a sensação contava minhas histórias e ouvia as histórias do meninos. A mãe deles Tereza também contava histórias. Mazildo mais parece são Francisco, pois tinha uma amizade com os animais tão intensa. Ele tinha aves que ele mesmo criara, golinhas, rolinhas, bigodes, cantos de ouros, ele tinha um problema na perna. Era um menino muito inteligente, sabia das músicas que passava na rádio de cor, sabia cantar. Já Macilho era mais quieto, Maria era cheia de riso e Bibia calada. Engraçado como eles riam do que eu falava ou fazia. Chegava lá então a gente saia pra caçar de baladeira, era muito ruim de pontaria. As vezes ia a pé, as vezes de burro, mas nunca fui de bicicleta, tinha as pernas finas, mas muito rápidas, sabia de caminhos mais rápidos. Quase sempre ia no sábado, dormia lá. Gostava de dormir lá, pois dormia de rede. E dava pra ver a luz da lua entrando pelos furos das portas e janelas velhas. Acordávamos cedo, tomávamos café, tudo era só brincadeiras, no fim da tarde tinha que voltar, as voltava de carona ou voltava a pé. Chegava em casa cansado, mas feliz. Sentava na calçada mirando o horizonte. E assim foi por muito tempo, alí passei meus domingos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Concentração

Sentado sob uma árvore no alto de uma serra, miro a extensão do vale e o horizonte distante. Daqui de cima sinto o vento viajante incessante toca meus cabelos, minha pele e parte levando de mim a meu odor, deixando-me numa sensação de liberdade. Sinto a pressão de meu corpo sobre mim, o solo frio. Começo então viajar dentro da paisagem que vejo. A contemplar a luz do sol que me permite ver as cores e distinguir as formas. A ver cada parte da paisagem como uma paisagem peculiar. A sentir o cheiro do ar, ouvir o que fala a natureza confesso que quase sempre não compreendo nada, mas nada do que fala a natureza, porém mesmo assim me agrada ficar a contemplar a natureza, a ver a beleza na vida, as vezes é muito difícil, no entanto busco sempre tentar entender racionalmente, pois muitas vezes achar que compreendi, traz-me uma sensação de satisfação. Hoje que moro muito longe das paisagens que contemplava, simplesmente sinto muitas saudades. Nem sempre tive o que queria. A vida já foi muito mais difícil. Quando morava com meus pais era feliz, mas sempre quis ter mais, ser mais que foi, não era preciso ter muita coisa pra isso. E quando não podia ter, comprar nada. Simplesmente tinha que aguardar o dia chegar até eu conseguir meus objetivos. Quantas vezes não consegui, lembro que fiz três vestibular, mesmo assim nunca pensei que não seria capaz. Era difícil aceitar que não seria daquela vez que eu entraria na universidade, mas fazer o que. Restava esperar e estudar. Lembro que certa vez saiu o resultado e não passara, no mesmo dia comecei a estudar. Quando ficava muito triste, pra não preocupar ninguém, eu saia a caminhar por entre matos, caminho a fim. E pensava eu vou conseguir. Caminhava olhando pro poente, contemplando o sol, as nuanças da natureza que me cercava. Triste, sentava e contemplava, comentava pro sol que um dia eu iria conseguir. Tinha que me convencer que era possível, por isso pensava, acreditava. Preciso ser forte e acreditar mais que nunca que tudo valeu a pena, que cada tijolo que carreguei serviu pra construir minha morada. Hoje descobri que não preciso de morada, pois somos viajantes e devemos sempre viajar.

Indagação

Tenho amigos que já me perguntaram diversas vezes se eu pudesse fazer algo naquele momento o que gostaria de está fazendo? Confesso que nunca tive uma resposta pronta, porque pra mim o que interessa é o presente. Bem essa seria uma resposta racional e rápida. Em companhia de alguém não sentimos solidão, mesmo que seja alguém que não gostamos, pois temos outros sentimentos que vão além da solidão. Mas e se estou em casa e o fim de semana chegou, estou só, faz calor, estou com sono. Como iria responder a tal questão. Talvez gostaria de está com a namorada, com os amigos, qualquer coisa menos sentir solidão. Não adianta, somos seres solitários. Nascemos só, vivemos só com nossos pensamentos, muitas vezes não nos suportamos, queremos fugir de nós mesmos. Sentimos saudades de sermos nós mesmos. Somos seres extremamente sentimentais. É a partir de nossas sensações que construímos o mundo. O meu mundo é extremamente subjetivo, converso muito comigo mesmo em pensamento, e não conheço a mim mesmo. Agora conheço a importância do conheça a ti mesmo. Não consigo idealizar onde eu estaria agora, acho isso tão egoísta. Acho que sempre fugirei pela tangente. Gostaria de está aqui e agora. É extremamente brilhante a capacidade que algumas pessoas tem de idealizar as coisas, potencializar os desejos, fazer planos. Por que será que comigo isso não acontece? Sei que estou sendo redundante, mas porque não penso em algo bom? por que evito de pensar? um dia quem sabe isso não acontecerá?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

galo de campina

O magestoso galo de campina canta,
quando canta a natureza cala,
seu expressivo canto desperta a caatinga,
cabeça vermelha, bico de prata, corpo criso,
canta.
Sorte de quem vive no sertão
desperta ao som de uma orquestra,
corrupião, cabeça vermelho e rolinhas.
O magestoso, faz uma cantarada...
desperta a madrugada.

Acorda

Ainda me lembro, ouvir papai carinhosamente me chamar dizendo que o burro já estava arriado, era hora de buscar água. Era um gesto de muito carinho, pois ele acordava mais cedo ia até o paieiro e trazia o animal arriava e me chamava, enquanto fazia o fogo. Vinha chamava baixinho pra não acordar as menina. O sol já despontava no nascente, mas o sono como era intenso. Nem era tão cedo, mas esta frio. Levantava, escovava os dentes, vestia uma blusa, montava no burro e segui para a gruta de Zezin, pelo menos nos primeiros meses do verão, mas se o verão se estendia tinham que ir buscar água bem mais longe, no açude do Alívio, uns 4 km, pobre dos animais que levavam aquela carga pesada no espinhaço. Tinham aqueles que tinham burro e as vezes voltava montado, mas quem tinha jegue não podia fazer essa proeza. Pobre dos jegues, mesmo magro, com pouco pra comer viva a carregar peso na casa, água, lenha e forrage. Naquele tempo o jeque era muito importante era o transporte da casa. Vou na casa de fulano, vai de jegue. Haviam aqueles que viam de longe, lá do sertão, punha dois caixotes, com peixe salgado para vender e comprar uma feirinha da semana, os pescadores e vinham de jegue. Papai quando era pequeno adiquiriu dois jegues o primeiro era preto, forte e sadio. Parece que os jeques pretos são mais fortes que os marrons, mas esse ficou velho então papai adquiriu um cinza, marrom e tinha a orelha corta, não era Gogh, mas tinha a orelha cortada, não sei por que, maldade de ocioso ou as vezes pra identificar posse. Aquele jegue da orelha cortada era muito engraçado, pois quando bebia água ficava com a língua de fora, mordia e dava coice se visse que a pessoa tava com medo ele muchava as orelhas e mordia. Depois papai foi a Pau dos Ferros e comprou um burro manso e bom de carga, mais eficiente que o jeque, então ele vendeu os jegues. O fato é que vi sempre o dia despontar no horizonte, buscando água. Achava preguiçoso quem não acordasse cedo, ficava muito feliz quando era o primeiro a chegar na fonte, ser o primeiro a terminar de por água. Depois da primeira carga tomava o café. Nosso café era rústico, dia era pão de milho como nata, tapioca com nata, broa de milho, ou broa de ovos e café com leite. E vamos lá. Vai ver mais uma que ainda precisa. Lá em casa três cargas eram suficientes, todo dia. Aprendi a importância de viver o dia, trabalhar, pois sem trabalho, sem comida e sem banho. Obrigações de criança é importante pra disciplina. Uma vida feliz.

Madrugada

Madrugada fria,
escura e vazia.

o silêncio negro da noite paulatinamente se vai.

Canta um sabiá.

o dia se rebela.

Meus olhos pensados despertam,

o relógio cobra minha atenção,

Bom dia,

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quotidiano

Quando acordei, pensei ainda estava escuro, foi difícil, mas despertei. Comi duas maçãs, tomei um banho, vesti a roupa, pus o fone no ouvido e liguei a rádio e sai pra faculdade. Sol não nascera ainda, a lua ainda era iluminada pelas luzes dos postes. Pego minha bicicleta e sigo pedalando pelas ruas frias. Segui dia adentro. Nesse dia nada de diferente aconteceu, mas ouvi uma palestra de Pondé sobre pósmodernismo. Ele falou sobre o livro Admirável mundo novo. Fui a biblioteca, procurei, quase desisti, vi uma coleção do Proust quase peguei, mas fui insistente e achei. Quantos livros tenho pra ler? Quanto desejo de aprender. Bem peguei o livro. Foi o mais emocionate do dia.
Que passou lento como uma tartaruga.

Travessuras do tempo

O tempo eterno viajante constrói e consome a matéria. A matéria viva que nos constitui está em constante metamorfose e são e estas que expressam quem somos, nossas origens. Fico abismado quando me vejo no espelho. As marcas do tempo são expressas em linhas sutis ou na ausência de algo que muito povoou minha cabeça. São tão tantas as memórias, estas denunciam meu tempo vivido. Memórias que denunciam o meu ser, uma trajetória que deixei por onde passei. Estas não só me pertencem, mas que as tem também muitas vezes não lhes interessam quase sempre são só nossas. Somos extremamente egoístas. O nosso mundo gira entorno de nos mesmos. Posso ver nos lugares onde passei imagens do que vivi, detalhes que só eu percebi. Meu mundo subjetivo tão meu, jamais prospectado por ninguém, coisas que não interessam a ninguém. Afinal o mundo que absorvi é aquele que processo, expresso e sou. Minha essência, alma e vida. Acho que só o tempo e a matéria podem me decifrar. Por isso viajo com o tempo. Um dia pararei de viajar, mas o tempo é eterno viajante.

oração

Vale a pena
parar para pensar,
parar para orar,
a vida é efêmera e nem todos os sonhos requerem de ti todo seu sangue para se realizar.
As vezes não se beneficia deste sonho, mas só se desgasta como ser.
Portanto pelo menos uma vez, para e reflete.

No âmago de tua alma encontra teu melhor, tua essência.
Sob o calor do sol ora,
sob o frio do inverno ora.

Pois é ai que encontra tua essência dentro de ti.

O deus que habita em ti aflora quando refletes sobre a vida.
Ler uma poesia.
vive a vida.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Banquete dos cururus


Ah, tudo mudou lá em casa quando chegou a eletricidade. Não só para nós humanos, mas também para os sapos cururus. Eis que a luz, aquela luz clara, acesa no terreiro trouxe fartura para os cururus. Os sapos cururus, mais parecem pedras vivas com seu aspecto verruncoso, durante o verão entram em estado de estivação, ou seja, seu metabolismo reduz ao máximo possível durante longos períodos de estiagem a luminosidade e calor são tão intensos que se estes animais permanecessem expostos, chegariam desidratar até a morte. As chuvas traziam uma explosão de vida naquele lugar. Era a melhor coisa coisa que podíamos vivenciar, uma explosão de alegria, sentir o cheiro da chuva, pingo a pingo molhando o chão, as telhas e escoando, a bica chiando, quase sorrindo enchendo a cisterna. Essas águas seguiam a gravidade molhando os terreiros, desciam estrada abaixo, umedecendo o ar. Ao sentir a umidade os cururus despertavam de sono, semelhantes a múmias, amarelos ou pálidos, parecendo só ter olhos. As vezes apareciam do nada amedrontando as galinhas. Saiam de suas tocas, buracos famintos. Eis que ocorria uma explosão de vida surgem larvas de insetos e insetos adultos voam desesperados em busca do sul artificial. Aquela maravilha branca, vinda do céu, deu aos sapos um novo habitat. Sim os sapos aprenderam que no terreiro de minha casa a comida era farta, insetos aos milhares. Não precisaram mais se deslocar tanto, bastava ficar ali parado, logo caia uma presa bem em sua frente. Lepo com a língua longa, mais um, mais um. Dentro de pouco tempo os cururus ficavam gordos. E logo que as chuvas intensificavam era época de festa, sim orgias, sapos e sapas iam para os lagos copular, numa cantarola que fazia inveja a qualquer Reive. Eles estavam felizes e nós também porque bom inverno é sinal de fartura. Então no fim do dia cansado. Adorava sentar na calçada de minha casa. Pra ver os Cucurus forragear, como as estrelas no fim da tarde começava a aparecer no céu, os sapos começavam a aparecer no nosso terreiro, um, dois... Era a melhor coisa que achava ver os sapos gordos, a luz atraindo os insetos, o céu estrelado. A tecnologia facilitou a vida de todos nós homens, sapos e insetos. Aquela vida simples com horizonte que não passava do outro lado da estrada, fazia-me muito feliz, cheio de fé e amor a natureza aos sapos cururus.

Despedida infinito e eterno

 A casa A casa que morei Onde mais vivi, Papai quem a construiu, Alí uma flor mamãe plantou, Ali vivi os dias mais plenos de minha vida, Min...

Gogh

Gogh