O dia despertou neblinando,
Depois o sol apareceu e tudo aqueceu.
Assim despertei,
Fiz minhas orações,
Acalmei o coração.
Assim costumo fazer para me acalmar.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
O dia despertou neblinando,
Depois o sol apareceu e tudo aqueceu.
Assim despertei,
Fiz minhas orações,
Acalmei o coração.
Assim costumo fazer para me acalmar.
Fevereiro passageiro,
Toda soma é quatro lua
Dia e noite a se fechar.
Sol, estrela, luz e calor
O verde da mata cinzento,
Mata cansada, e enfadada,
Com a chuva que chegou,
Chão molhou,
Secura sumiu,
E tome calor
Do verão que passou,
Só a folhagem no chão,
Agora, toda florada,
Flores alvas e amarelas,
Floresce a guabiroba,
O pombeiro,
O pausangue,
O ipê e o jitai...
Nunca vi...
Nunca vi.
Guabiroba é uma planta,
Com madeira muito bruta,
Seu tronco colunado,
Seu tronco é canelado.
Sua casca áspera e estriada,
Que termina em ramos laevigatos,
Como folhas largo-obovais,
Opostamente dispostas...
Quando chega o verão,
Perde as folhas,
É caducifolia.
Depois se compõe,
Apresenta folhas e flores,
Com doces odores
De doces odores,
Uma a uma caem as pétalas,
Uma a uma pinta o chão,
De um alvo nebuloso,
Ficam os pistilos,
Seca o estilete
Enquanto cresce o fruto escuro,
Atropurpúreo,
Para as aves se alimentar,
para as aves dispersar.
O tempo e o espaço
Tudo flui sem cessar.
Ainda ontem, vivi
Ainda ontem, vivi
Vivi com o meu pai
Vivi com a minha mãe,
Porém não vivo mais.
Ele partiu,
Ela partiu.
Em plena harmonia ele vivia.
Cuidava da roça,
Cuidava da casa,
Cuidava das amizades,
Cuidava da mamãe,
Cuidava de nós.
Cuidava de si.
Como era bom no nosso sítio passear,
Nele havia harmonia.
O cardeiro, a aroeira, o anjico e o mororó
Ali crescia.
O catolé ali floria e frutificava.
A vinca e as graviolas ele aguava.
Como era bom ver o partido de palma,
As cercas aramadas.
...
A tarde na calçada se sentava.
Um café fazia e tomava.
E assim a vida passava.
Parte da minha vida assim vivi.
Agora disso tudo me despedi.
O pai agora sou,
Pai agora sou.
De papai tenho as memórias,
De papai tenho os conhecimentos.
Continuo sendo,
Seguindo até quando?
...
Só resta no fim
O tempo.
02-02-25
Um pensamento me tomou a pouco tempo.
Era uma memória, dessas que aparece e não dá em nada.
Bem, ultimamente tenho voltado no espaço e no tempo.
O espaço é Serrinha do Canto e o tempo é década de 80 e 90.
É um pensamento deveras particular.
Algo daquele tempo ainda está lá.
Sim, papai se foi, o espaço é o mesmo.
Mas há ali vários pés de cajarana.
Papai usava como estaca de cerca.
Lá vai encontrar vários indivíduos.
Dois na cerca da frente.
Na cerca ao norte quatro.
No interior cinco,
Na cerca do poente três
No total cerca de 15 árvores.
Sem contar do pé plantado na cerca de Miguel no parieiro.
É nada e é tudo.
A tarde cai morna,
Na calçada de minha casa me faz sentir esperança.
As árvores secas,
O chão torrado e empoeirado,
As vincas floridas
Com flores alvas e rosas, vincas de papai,
Um beija-flor estrala beijando as flores do sapatinho.
Tudo é esperança.
Nuvens bonitas no céu aquecendo o coração na esperança de chuva.
Longe cantam as aves, bem-te-vis.
O Juazeiro enramado e florido.
Um fim-fim.
A lufada de vento fresco.
O silêncio da minha casa, sem o café de papai, ou a presença terna de mamãe.
A vida que segue.
Os catoles continuam vivos e mais maduros.
Vivo o tempo em nós nos enche de esperança,
Porque é da nossa natureza crer em um momento melhor.
Eternidade é essa.
28-12-24
Nas cinzas do sertão,
O flamboyant florido,
Torna o dia encarnado,
Dia todo de aurora,
Dia todo crepuscular,
Encarnadas flores,
Feito o fogo da salsa,
A conversar com Abraão,
Um dia, uma semana de aurora,
Boã, boã,
Da casa de Tereza,
Da casa de Tica,
Da casa de Chica,
Um sonho plantando,
Um sonho cultivado,
Enfeitando a igrejinha de são Francisco,
Enchendo os olhos
Dos amantes das cores,
Dos amantes da vida
Vida verde vegetal.
Boã boã...
Esse mês do ano derradeiro,
Logo se entrega a janeiro,
O calor cáustico,
A vontade de comer doce, o enfado da vida.
Aquele que não se entrega as vontades
Do paladar,
Enche a alma de esperança,
Enche o peito de amor,
Troca um pouco de água por uma flor...
Jardins... Ah jardins em hortas e panelas,
Jardins de cores,
De visitas de beija-flores.
Que felicidade em tua longa aurora diurna.
Em suas casas amarelas, em suas casas confortáveis,
As senhorinhas transmitem sua sabedoria,
Ganhadas de suas avós no cultivo da paciência,
No cultivo de suas flores...
Os pereiros do morcego alvos e perfumados,
Me fizeram parar
E assim parei para contemplar os últimos dias de 2024
Boã, boã
De Tereza, Tica e Chica... No Porção, no Pinhão, no morcego e nas vertentes.
Nessas bandas do oeste potiguar, Martins, Pilões e Serrinha.
Passeando neste sertão
Vendo na estrada a marca da gente,
As casas vazias e abandonadas,
O lixo e a sujeira
Por gente ali deixada,
Desmatamentos,
Queimadas,
Barreiras rompidas,
Solo nu...
Que tristeza,
Que tristeza.
Salma a alma boa,
Aquela pessoa
Que ali habita,
Resistente do ir e vir
Ah plantas ali cultivada,
Os terreiros limpinhos,
O olhar cansado,
Aposentado,
O sertão está morrendo,
O sertão está morrendo,
Abandonado.
O sertão morre em abstração,
Só restam memórias e afeto dos que ainda estão vivos, contando os dias de morte,
O sertão está morrendo,
Sertanejo se modernizou,
Para a cidade mudou.
Sem sertanejo raiz,
Tudo fica por um triz.
Sem afeto sem apego,
Por quem vamos esperar...
Só resta exploração,
O riacho perde sua gordura de areia,
Garganta funda,
Cavada por retroescavadeira,
E caçamba a carregar,
A mata queimada,
Retirada e ocupada por usina solar,
O solo desnutrido daquela que a protegia a vegetação,
Parques de ilusão.
Todo mundo, tanta pressa, tanta pressão,
Está morrendo o sertão.
29-12-24
Sai para caminhar e vi o mundo tão imenso.
No meio da caatinga fui preenchido de felicidade.
As coisas simples que encontrei como seixos um, dois, três.
A arquitetura das arvores e arbusto,
Os círculos de tamas de garrafas, as linhas retas da estrada,
Os pássaros cantando, minha fé em Cristo.
A certa altura me perco no tempo,
A certa altura me perco no tempo.
A certa altura sou parte da natureza.
A certa altura sou consciente de minha consciência.
A certa altura estou consciente de minha razão...
Então uso as rochas de terço.
Meu Deus quanta beleza.
Então me conscientizo e estou feliz por entender que a manhã é uma parte do dia e que o todo é composto de partes.
Entendo, não recordo que o homem é o único ser capaz de abstração...
Como somos pequenos e caímos o tempo todo na cilada de nossa consciência...
Penso em tanta coisa,
Então então e me forço a não pensar em nada... E eis que o vazio me preenche.
São Francisco de Assis, padin Cícero, frei Damião... Essa fé que preenche nosso nordeste.
Feliz... Penso hoje é terça feira, independente de ser o último dia do ano... Os dias são tangíveis, semanas, meses e anos são puras abstrações.
Imediatamente me bate um desespero, então vejo meu filho... E aí sinto a melhor prova da existência... Como de tanto refletir, Descartes conclui 'penso, logo existo'...
Muita coisa junta numa única mente.
31.1.24
Saudade não mata! mas quase consegue, Falta fôlego! Aquela falta. Aquele vazio. Nunca deveras preenchido. Saudade.