O vento frio de junho chegou,
Outra estação,
As árvores estão perdendo as folhas agora,
O céu azul,
A luz intensa,
As flores brancas do jasmim.
Parece tudo tão eterno.
Eis que um dia a gente toma consciência que tudo é passageiro.
Algumas continuam a ser o que são em seres novos...
Gerações que se sucedem.
Alucinados em nosso ego,
Cremos que tudo vai continuar sendo o que é...
Hoje mesmo, cedinho ouvi um sabiá cantando.
O que me fez lembrar de uma das últimas conversas que tive com mamãe.
Sentados em frente a nossa casa, já sem papai,
Enquanto ouvíamos um sabiá cantando na aroeira.
Ela disse que só lembrava de vovô José, do sítio de fora.
Da infância.
Muito poético de doce não.
Tia Chagas eu ser questionada sobre como mamãe era quando bebe,
Ela disse que era bem fofinha.
Tia Chagas tinha memórias de mamãe que nem mesmo mamãe tinha.
A semelhança física de mamãe com tia Chaga é assombrosa.
Conheci Chiquinho que lembrava de mamãe quando criança.
Quando me olho no espelho, vejo muito de mamãe em mim
E de vovó Sinhá também.
Como sei, porque eu as olhei de perto.
Eu as intui.
Papai e eu éramos de poucas conversas,
Mas amava está ao seu lado e isso me permitia perceber o seu ser.
Outro dia, meu irmão falou que papai foi com ele a Canindé pagar uma promessa,
Pois papai havia tido um problema na perna quando criança.
Que coisa.
Eu, notava que papai tinha um lado maior que outro...
O nosso corpo é o nosso ser.
Ser é conhecer.
O ser antecede o conhecer.
Fernando Pessoa sabia disso... quando disse eu podia viver tudo isso, sem ter nada disso.
Nesse momento.
Deverá está se passando na sua mente.
Como assim... o que ele está querendo dizer com tudo isso.
Nada. Aqui é um monólogo.
O vento frio de junho...
A noite dormida além do tempo esperado.