A tarde caiu de novo.
Diferente de ontem,
Efêmera como agora.
Lembro do que senti de madrugada,
Porque acho que senti e não pensei.
A ideia de que tudo que enche minha mente
É um fenômeno
Que sou eu que escolhe o que vou usar ou descartar
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
A tarde caiu de novo.
Diferente de ontem,
Efêmera como agora.
Lembro do que senti de madrugada,
Porque acho que senti e não pensei.
A ideia de que tudo que enche minha mente
É um fenômeno
Que sou eu que escolhe o que vou usar ou descartar
Despeço-me desta tarde,
Desta linda tarde
Que nasceu, se fez
E agora se desfaz.
A luz que foi clara e intensa,
Dourada se dissolve
E esfria.
Lembro de papai e de mamãe.
Morro de saudades,
Que vontade de estar com eles.
Mas partiram numa tarde.
O dia se dissolve,
A flor murcha e perde seu vigor, dela um fruto se desenvolverá, e sementes amadurecerão.
Ouço o som amorfo dos carros na rua,
Sinto o frescor do vento.
Estou escrevendo isto
Pra provar que estou vivo.
Escrevo pois algo em mim se sente bem.
É segunda feira de carnaval.
E agora acabou.
JP. 20 de fevereiro de 2023
Após 1,1 ano de ausência de mamãe,
A saudade é imensa.
Saudade de ouvir sua voz,
Ver suas alegrias,
Lutar junto com ela sua luta.
Saudade de seu cheiro,
Seu abraço,
Sua vitalidade.
A propósito,
Ela veio me visitar de madrugada em sonho.
No sonho estava no sítio de vovó Sinhá.
Estava tudo verde.
Um milho enorme, seco.
Quando saia do roçado,
Ela estava dentro do meu carro,
No banco da frente.
Ela me viu,
Olhou bem para mim
E sorriu.
Então acordei.
Enquanto me concentro,
Minha mente foge do meu ser.
Ouço aves e cigarras entoarem seus sons.
Percebo as folhas caindo,
E me perco na leitura.
E me perco no momento.
Porque estou vivo.
Pulsa em mim vontade...
E algumas vezes sou feliz,
E outras vezes por desalinhamento,
Fico perturbado,
Mas é algo passageiro.
A mente é como o sol
Solta raios para todo o lado,
E como fotografia,
Algumas vezes esses raios voltam,
Fenômenos que nos fazem dispersar,
Ao invés de concentrar.
Vivemos muito no transcendente.
É preciso se atentar aos sentidos,
Aqui e agora.
Espaço e tempo.
E assim cumprir o que nos propomos.
Estava lá na casa de mamãe,
Certo momento
Quando a manhã se vira tarde.
Ouvi cantar um bando de anum.
Sair correndo para ver.
Eram eles...
A.
Tinham mesmo ali...
Sim!
Lindos.
Enormes
Com seu canto agudo
E olhos amarelos.
Com Vinícius nos braços
Lhes mostrava apontando.
Feliz sim.
As primeiras vezes as vezes nos emocionam.
Eles Cratophagas major,
Ali no meu quintal.
E era um grande bando.
A tarde caiu mais lindo.
B.
A chuva cai fininha,
Cai se derramando na terra seca.
Enquanto cai canta,
Parece rir.
A chuva cai fininha,
As folhas das árvores
Se refrescam,
Os troncos das árvores
Se refrescam,
Vai chovendo.
Chove chuva matinal,
Até a passarada silencia,
Para ouvir a chuva chovendo,
A chuva cantando.
As ervas agradecem
Seu frescor,
Seu conteúdo,
A chuva é água no chão,
É água do mar,
É água do céu
Que se derrama para
A vida continuar.
A tarde caiu mais lindo.
Entro no dia,
Desperto.
Uma oração faz bem,
Agradeço pela noite de sono,
Pelos sentidos,
Pela vida.
A luz que me desperta
É a luz que me alimenta,
O solo que piso
É minha fonte de alimento.
Transcender ao que vejo
E ao que desejo.
Agradeço por ouvir as aves cantarem.
Pelos dias vividos com
Meus amados,
E pelos dias com os meus vigiladores,
Sou o que sou
Porque fui amado e odiado.
Peço perdão aos que machuquei,
Mas assim se fez a minha realidade
E assim esta se desfez.
O ser aí
Dasain.
Agora ouço o mundo.
Contemplo essa existência.
04.02.23 JP.
Sou.
A tarde caiu,
A luz inclinada,
doura as formas,
O silêncio da tarde
Se plasma em meu ser.
Memórias afluem.
Penso que sou.
Sou o que penso.
Tudo vai passando.
J.P. 3-2-23
Serrinha dos Pintos - RN, 30/01/2023
Vai, vai a tarde se vi,
A lua nua no céu a se amostrar,
A noite já se aproxima,
Quente sensação,
Uma brisa faz refrescar,
O silêncio mudo da tarde
Que queda e morre,
A noite que cuida de logo enterrar
E dissipar o dia
A gente perdida em nossas mentes,
Nossas paixões,
Nossos medos
Buscando um sentido
Desta pobre vida
Num celular.
Já não se contempla a natureza.
Dito isto vou ao Jardim
Regar minhas vincas.
Até que o desejo
Me puxe para a Net.
Que entorpecente este não.
Muito mais potente que qualquer químico ou fármaco.
Estamos doentes.
E mais um dia se passa
Enquanto nós alienamos em nossos egos,
Nossos perfis,
Em nós mesmos...
Serrinha dos Pintos - RN, 26/01/2023
O canto das aves já calou.
Cantou o cabeça vermelho no cajueiro,
O rixinó a saltitar
O vem-vem e o sanhaçu na pinheira de doce alvo.
Cantou também os grilos as escondidas,
O dia despertou cedo.
O sol não para de pulsar.
Voou aqui o pacun,
Que não para de gasnar.
O friozinho silencioso
Nos faz bem.
A gente acorda animado.
Vai mudar o lorinho de lugar.
Os gatos alimentar.
E scherloque o cãozinho acariciar.
Bom dia seu sabiá.
Serrinha dos Pintos - RN, 25/01/2023
Amanheceu chovendo,
Vinícius acordou e me fez levantar e ver a chuva chovendo.
Foi lindo, foi gostoso,
A chuva chovendo,
A luz aparecendo,
Os cachorros encolhidos
Encaracolados sobre si
Aquecendo-se,
As galinhas molhadas caçavam insetos e comida.
A calha derramava a água junta no telhado,
Vinícius fez cocô,
Limpei e ele foi mamar,
Adormeceu.
Fiz um leite quente
Para me aquecer,
Fiz chá.
Ouvi o salmo 119.
Agora a chuva parou.
Ali canta um sabiá
Que me faz viver a presença de mamãe.
Nas pinheiras cantando estão os sanhaçus.
Li poema 25 de tao te Ching em três traduções,
Acha que entendi?
Mas é como contemplar
A realidade,
Na maior parte das vezes
Percebemos o que conhecemos.
Agora vou continuar a escutar esse lugar,
Até parece ouvir uma sinfonia,
Não entendo nada,
Mas me faz um bem.
Serrinha dos Pintos - RN, 21/01/2023
Esse silêncio inquebrável,
Amanheceu e quem vai acordar?
Já canta o sabiá,
Já canta o vem-vem,
Já canta o fura barreira,
Já canta a rixinó,
Já canta o piriquito,
Já canta o sanhaçu...
Canta o grilo no capim.
Sopra um vento frio.
Brilha um sol dourado.
Mas o silêncio é eterno.
Papai não levantou,
Mamãe não levantou,
A terra está fresca.
Hoje é um novo dia.
Serrinha dos Pintos - RN, 19/01/2023
A tarde cai agradável,
Depois de uma manhã nublada onde ficamos a toa, Vinícius e eu.
Aguamos as vincas, catamos umas castanhas,
Fomos caminhar no mato, onde fizemos umas fotos de plantas,
Contemplamos os catolés.
Observamos o gado pastar.
Tomamos um banho na melhor ducha do mundo.
Após o almoço Vinícius dormiu.
Aqui estar esta tarde.
A quarto anos atrás
Mamãe e Papai estariam aqui comigo sentados
Olhando essa paisagem
Que sempre muda.
Nas palmas um par de coqueiro florescem.
Papai e eu que plantamos.
Tanta coisa aqui.
Tão vazio e tão cheio.
A tarde cai.
As vincas recebem as borboletas.
Eu só contemplo.
Serrinha dos Pintos - RN, 15/01/2023
Amanheceu
Mas o sol não apareceu,
O chão molhado,
O céu nublado,
O vendo frio,
O cheiro de umidade,
O canto da passarada,
O sabiá na aroeira,
Casaca de couro na carnaubeira,
Pitiguari no angico,
Olhando no quintal
Os olhos se enchem de verde
Der árvores e arbustos esverdeados.
Mamãe e Papai no coração e na alma.
Serrinha dos Pintos - RN, 14/01/2023
"Dois é uma mera coincidência, porém três é uma configuração" Borges.
As borboletas visitam as vincas,
Os beija-flores o maracujás,
A tarde cai fresca,
Um cheiro doce incensa
A área.
O céu azul.
Memórias, memórias.
B.
Aqui e agora,
Tempo depois,
Sábado a tarde,
As coisas mudaram,
Vinícius chegou e mudou tudo.
Mamãe se foi.
Ela que ocupava a passarela a tarde,
Tarde sábado era uma
Surpresa chegava bem ou mau.
Era a vida que vivia.
As vezes ia com ela e
Entendia a dinâmica da diálise.
A dinâmica da continuidade.
Tanto que a gente passa despercebido da vida.
A forma dos objetos,
Matéria das ideias,
Meu corpo,
Meu ser,
Até parece isolado.
Papai, mamãe, tio Dedé, Raimundo de Lulu, eu...
Crejo que passava com o cachorro rajado.
Aqui, algum dia no passado,
Esses momentos
Estão todos dissolvidos no tempo.
Serrinha dos Pintos - RN, 12/01/2023
Está escuro,
A noite quase caiu,
O silêncio preenche
A estrada, os sítios,
O céu e tudo que se ouve,
No nascente o azul atropurpureo
Desaparece,
Um Nimbus vai crescendo,
Irritado de flashes,
A nambu canta longe,
Grilhos cantam no sítios,
Estrelas se acendem no céu.
Não se move uma palha,
O vento só chega às oito,
Papai não gostava desse frio logo chamava para entrar em casa.
Gosto de ficar aqui sentindo o mundo,
Pensando, pensando.
Bom está aqui.
Vinícius adora Sherlock.
Papai ia rir muito.
É noite.
Tchau.
Serrinha dos Pintos - RN, 11/01/2023
Canta o pitiguari,
Canta ativo a caçar,
Pula aqui,
Pula ali,
Pula acolá,
O sol das dez horas
Anuncia o fim das atividades,
Quente,
O dia está indo,
A manhã partindo.
As plantas murcharam,
A falta de chuva,
Mas o tempo está bom,
A sombra do cajueiro,
Que gostoso que o mundo está.
Serrinha dos Pintos - RN, 09/01/2023
O terreiro está cheio de mato,
Parece abandonado com capim ceda,
Por isso resolvi capina-lo.
Agora o sol arde queimando o capim limpo.
As vincas estão muito contentes crescendo na margem da calçada,
Flores rosas e alvas.
Espalhados os arbustos crescem assimtricamente,
Tão belo e vivo.
As borboletas vem visitar
As flores.
Sucessivamente vem e vão.
Suaves, leves de vôo irregular,
As vincas exalam um cheiro peculiar
Tão agradável,
A alma de papai paira sobre as flores,
Nessa calçada que se revela todos os dias,
Ora fria, ora quente,
Ora manhã, hora tarde,
Ora noite.
Essa calçada confidente,
Que nós viu chegar,
Que nós viu partir,
No nos deu abrigo em comemoração,
Em dias de tristezas.
Aqui estou escrevendo,
Registrando.
Para não se perder no tempo.
Transformando em memória coletiva.
A parte subjeiva
Serrinha dos Pintos - RN, 08/01/2023
Tarde grise que passa,
O vento frouxo e suave,
Céu nublado,
O estalido dos beija-flores,
Besourinhos e tesourinhas
Visitando o velho feijão-bravo.
O saci, o voo da mamangava,
O piado do pinto criado,
O chiado das folhas de catolé,
O voo rápido dos potinhos,
O verde das plantas,
As palmas grossas.
Que belo mundo
Vazio.
Cheia está minha alma
De pensamentos desnecessários.
Tudo se resume no agora
Serrinha dos Pintos RN, 07/01/2023
Hoje acordei com o canto dos pássaros.
Estava fresquinho.
Senti um vazio oco.
Então levantei e fui tomar um copo de água.
Tudo mudou.
Tudo eternamente muda.
O presente nega o passado.
O passado é memória.
Nossa mente nós seda.
Subjetivamos essa realidade que acreditamos.
A gente é o que a gente acredita e deseja.
Fui brincar com Vinícius.
E os dias vão passando.
Petrolina, 02-01-2023
Petrolina, 21-12-2022
Ele partiu desse mundo. Vivemos tanto tempo juntos que pareceu mentira. Estavamos juntos a qualquer hora do dia ou da noite. Concordávamos com tudo. Eu era cópia dele e ele minha forma. Aprendi muito com ele e o mesmo sempre foi paciente comigo. Um dia algo foi diferente e a realidade foi cruel. Mas iria acontecer algum dia. Ele se foi. Fiquei com a dor de quem fica. Um ano se fez. Um ano de saudades 😢. Hoje dois anos se fizeram. Esquecer! Sofrer menos. Não sei. Sei que um vazio se fez.
A vida está cheia de vazios... Parece que quando buscamos um sentido, perdemos o sentido da vida. Meu burrinho, meu sítio... Mamãe... Deus meu Deus.
Papai gostava de expressões.
Entre dizia ele que na bíblia estava escrito que Jesus disse que devia perdoar 70x7 vezes.
Senhor perdoai eles não sabem o que eles dizem.
Usava sempre expressões bíblicas, embora não lesse.
Indo na dispensa da memória encontro muitas coisas bonitas que falava.
Eram ensinamentos. Sábios, bíblicos.
É certo que morreremos, mas quando vários conhecidos e queridos seus partem num curto tempo. A gente fica acabrunhado! A luta do corpo com ...