Maio mês das mães.
Em maio, ocorriam novenas na capela de nossa cidade "nossa senhora da Salete" em Serrinha dos Pintos.
A mamãe e o papai nos levava para assistir as novenas.
Confesso que não gostava das novenas em si.
Gostava de ir e voltar, apesar do escuro.
Gostava de está com meus pais e meus irmãos.
Sempre saia umas balinhas.
A gente via o povo, papai e mamãe via os conhecidos.
Quem coordenava as novenas eram o Chiquinho de Raimundo Moura.
Tinham as cantoras...
Eu olhava para o altar, para os santos, para a figura de cristo e nada entendia.
Eu olhava para o piso.
Gostava de observar o piso.
Tinha uma textura de formas geométricas, eu via formas, profundidade e cores.
Mamãe mandava eu sentar lá perto do altar, mas nunca ia, tinha medo de me perder deles.
Ficava ali no colo ou do lado.
Eu não entendia o sermão.
Eu não entendia tanta coisa.
Gostava das ladainhas, talvez pela repetição.
Gostava quando estava chegando no final.
A gente vai aprendendo a lógica das coisas.
Gostava quando terminava.
Odiava ficar parado, preso.
Mas era obrigado, porque a mamãe fazia questão que ficasse calado e prestasse atenção.
As palavras não faziam muito sentido.
No meu mundo o que me fazia feliz era coisa simples: bala, doce, brinquedo e diversão.
Adorava doces, nisso mamãe e papai sempre nos agradava.
Brinquedo até tínhamos, mas preferia usar a imaginação...
Até que em fim a novena acabava.
As vezes, Chiquinho perdia a paciência e tome carão no povo.
Eram outros tempos.
Sem televisão, a igreja pipocava de tanta gente.
Quando acabava a gente ia para a frente da igreja que era de barro.
Só tinha a cigarreira de Neto de Zezeu...
Que vendia confeitos e cigarros.
Ficava feliz em deliciar de uns confeitos.
Voltava para casa feliz.
Papai e mamãe faziam a sua parte.