Faço um chá de camomila ou maracujá.
Aguardo esfriar lendo ou pensando algo.
Hoje é sexta-feira.
Distinta de todas as demais.
Em frente a minha mesa um quadro de nossa casa com papai sentado contemplando a frente e a tarde.
Sexta-feira sem cinema,
Sem saída.
Sexta-feira com um bebe.
Leio um poema "Os mortos" de Neruda.
Ouço Mozart "la fiera de veneza".
Adoro som de piano.
O chá amornou, dá para tomar é de maracujá.
Em poucos tragos tomo a xícara.
Ano passado, papai estava vivo,
Descobriu o câncer que o consumiu.
Penso na vida e na morte.
Ultimamente vem a mente o sítio de caju do parieiro.
Ali fomos muito felizes,
Ali papai e eu colhemos caju,
Descastanhamos as castanhas no silêncio.
Na verdade papai sempre me poupou do trabalho pesado.
Sou muito grato.
Ficava ali, descastanhando e pensando...
Ouvindo o ronco dos carros na estrada para Martins,
Ouvindo o som dos pássaros,
Na sombra sentindo o mel do caju melando as mãos.
Ouvindo o som dos filhos de Dadá.
E pensando qualquer coisa sem muita consciência de nada.
Assim vivia.
Assim me achei na vida.
Agora na certeza da finitude da vida leio qualquer coisa que me faça esquecer a consciência.
Tento organizar meus pensamentos,
Dar algum brilho a minhas aulas.