Tudo aconteceu tão rápido em 2020.
Me pergunto por quê?
Não tenho meios de explicar
Ou entendimento para compreender.
Você se foi paizinho.
Para ou onde anda sua alma?
Não sei.
Nem saberei.
Quem sabe.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
Tudo aconteceu tão rápido em 2020.
Me pergunto por quê?
Não tenho meios de explicar
Ou entendimento para compreender.
Você se foi paizinho.
Para ou onde anda sua alma?
Não sei.
Nem saberei.
Quem sabe.
Acordei a noite,
Vinícius queria mamar,
Então, olhando através da janela,
Vi um inseto voando no halo de luz de um poste.
Minha mente alçou um voo muito longe...
Instantaneamente estava na casa de papai.
Pensei no tempo, nas duas estações inverno e verão,
Pensei no período de transição,
Grandes mudanças ocorrem além de nossa percepção,
A umidade alta, a pressão...
Só percebemos o óbvio como a chuva
Que trás a água e é a grande transformadora,
Faz a vida despertar,
Faz a semente germinar,
Enxame de insetos,
Faz os sapos coaxarem,
E a natureza despertar...
Ao fim, troquei a fralda de Vinícius e voltei a me deitar,
Até tentei escrever,
Mas o cansaço era maior.
É madrugada profunda,
Quanto mais profunda,
Maiores as recomendações,
Papai acordava nessas madrugadas,
Fazia o fogo de lenha e passava um café
Enquanto ouvia o rádio.
Às vezes, tio Aldo que acordava cedo
Chegava lá em casa pela madrugada,
Para ir para Pau dos Ferros,
Aí conversava contando estória,
Relembrando fatos, avaliando atos,
Criando história até Ci de Doninha passar.
A madrugada está profunda,
A janela aberta, faz muito calor e silêncio,
A madrugada é silenciosa.
O menino acorda e desperta querendo um peito.
Primeiro troco a frauda.
Então ele mama até dormir
Então arrota.
Já é mais de duas quase três.
Então ouço pela a siriri vocalizando
Siriririririri
Por tempo...
Siriririririri.
Enquanto dorme
Siriririririri
Cantou pela primeira vez o sanhaçu de coqueiro.
Um galo.
Tenho sono,
Ouço
Siriririririri.
Estou tão longe,
Mas minha mente está em Serrinha
Ouvindo o siriri
Cantando num cajueiro.
Até o dia despertar.
Certo dia fui embora.
Deixei e levei saudades.
Era tudo que queria,
Aquilo que mais desejava,
Certo dia parti novamente,
Deixei minha gente,
Outra terra,
Outro lugar,
A mata atlântica,
Os manacás,
As maritacas,
Os jerivas,
Os solanuns,
Os guapuruvus,
As paineiras,
As sibipirunas,
Os ligustruns
A realidade objetiva ali
E tudo que podia absorver,
A Guarapiranga, a Blings,
O rio pinheiros, o Rio Tietê,
A Sé,
A luz,
O Jabaquara,
O Trianon
A USP,
O Grajaú,
A rádio cultura 103,9
Eis que vi e aprendi São Paulo.
A tarde cai,
Pode ser uma primeira tarde consciente,
Pode ser uma última tarde,
Pode ser uma coincidência com o passado,
Pode ser uma memória ativada.
Quem sabe o que devemos fazer para despertar as memórias.
Por que despertar uma memória?
Algo de belo pode acontecer...
Escrevo de forma fragmentada,
Pedaços, fragmentos de pensamentos,
Pequenas informações volúveis, solúveis...
Que se materializa em palavras,
Não seriam ideias,
Estaria mais para a forma de vida vírus que para célula,
Estaria mais para cristais de areia que mineral,
Esses fragmentos não são peças de um quebra cabeça,
Não são peças de lego.
Acho se trata da forma como vejo e concebo o mundo.
Acho que vejo o mundo assim...
Ouço o canto das aves e reconheço por espécies,
E se vejo uma planta quero saber quem é sua família, seu gênero e sua espécie e suas particularidades fisiológicas, ecológicas...
Ler o que escrevo é perda de tempo,
A menos que tenha tempo sobrando
A menos que não tenha sido engolido pela rotina capitalista humana.
Então ousa pensar.
A tarde se vai e a noite chega.
À tarde sempre foi por natureza triste,
Era só sensação,
Agora, às tardes tem motivos para serem tristes...
Nestes dias papai se foi,
Seus olhos dormiram deste mundo,
Seu corpo descansou e terra se tornou.
Não verá mais o sol se esconder no poente
Enquanto a luz dourada acaricia os ramos tortos das catingueiras e juremas...
Não mais frio, papai era friorento e não reclamava do calor,
Nada mais de doce de mamão ou de caju...
Nada mais de queijo,
Nem um petisco de carne ou queijo para o lourinho,
Nem para sherlock...
Quando imaginava que papai se ia, meu peito explodia de dor.
Quase enlouqueci quando descobrimos a enfermidade como ele chamou.
Pensei... Enfermidade!
Enfermidade é melhor que câncer.
E quando caia a noite no mês enfermo, antes da cirurgia.
Quando ia dormir que lhe entregava os comprimidos...
Aqueles quatro comprimidos que tomava um a um...
Quando pegava o pinico,
Quando arrumava sua cama...
Aconchegava aquela coxa verde,
Dobrava ao meio
E dava espaço para ele rezar,
Não apagava a luz,
Beijava sua cabeça calva,
Sentia seu cheiro,
O cheiro de sua vida,
Então ele rezava,
Creio que pedia pela saúde,
Mas nunca saberei.
A oração é algo muito pessoal.
Depois de enrolado,
Ia lá beijá-lo novamente e dizer o quanto o amava.
Eu ia, Li ia, Roberto ia e Meire ia...
Aquele homem que foi tão forte um dia,
Se tornou um amável idoso,
Embora não sentíssemos isso,
A tarde caiu...
E para onde vai o dia,
E para onde vai a tarde,
E para onde foram suas orações,
E para onde foi sua alma,
Terá ouvido meus monólogos?
Meu peito papai está cheio de ti,
Acredite,
Desde o dia que me tornei pai,
Sinto que sou um pouco de ti.
E o senhor é nós,
O senhor e mamãe são a totalidade
E nós sua particularidade...
Te amo.
Agora, nesta tarde, senti vontade de falar com papai.
Pegar meu telefone e discar para Francisco.
E ouvir sua voz dizendo alô.
E ficar conversando sobre o calor, o tempo, os gatos, sherock, o loro,
Mamãe, Beg, Rosângela, Meire, Lidiana, Roberto...
Os amigos.
Por onde andará o espírito sem o corpo?
Vagando em algum lugar?
Nas coisas que amou,
Nas coisas que o fez?
Onde estará,
Em mim?
Nesta hora, minha mente vagueia
Viaja no espaço,
Está lá na matinha,
Lá no orozinho,
Sabe lá onde.
Estou me referindo a papai Chico Raimundo
Que gostava de humanizar os animais...
Sherlock gosta de está onde as pessoas estão,
Gosta de ouvir as pessoas,
Só dorme tocando na pessoa.
Os últimos anos de sua vida foi assim,
Se dedicando a coisas simples
Como plantas e animais e mamãe e Li.
E tudo segue indefinido, indeterminado,
E fica a grande falta.
Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...