Eterna

A noite,
A lua crescente,
O vento nordeste,
Após um dia muito quente,
Nada mais reconfortante,
Parece que o tempo regrediu aqui,
Só as aves habitam este lugar
Onde as noites, as madrugadas, manhãs e tardes são perfeitas,
Até os bichos se moldam a este lugar,
As plantas aqui ficaram
E permanecem eternas.

Este instante

A existência é uma incógnita que precisamos conhecer ou ao menos buscar nos adaptarmos.
Nessa busca seguímos alguma lógica que nossa consciência nos faz acreditar.
Pode ser tentar consumir nossos desejos,
Pode ser tentar obter algo para nosso conforto ou para nos empoderar.
No entanto nessa miríade de coisas há quem descubra nos versos nas palavras um alento, como os poetas, e talvez nem estes suportem, não julgando pela morte precoce de muitos deles.
Pode ser que encontre um sentido na pintura como Gogh, Rubens...
Pode ser que seja na música como Mozart.
Mas quem sabe ou conhece estes caminhos?
Quem é capaz de subjetivar estas obras de arte com tantos problemas imediatos?
Como fugir do presentismo? Das frustrações e das angustias?
Não serei aquele que poderá fazer alguma coisas.
Se algumas vezes nem mesmo me suporto.
Então, deixa pra lá vou ouvir Mozart.
Tudo estará bem por este instante.

Humor

O silêncio fresco da manhã e das palavras que podem alterar o meu humor.
As manhãs que reiniciam os dias de minha vida.
As palavras que estenderam e ampliaram meu mundo.
Pensar ouvir minhas palavras sempre revisando minhas memórias.
Pensar consciente que a vida é uma incógnita fadada ao fim a qualquer momento.
Querer o fim, mas querer também e desenrolar das coisas.
Querer descobrir mais sobre o mundo que nós habitamos.
Sobre as noites contingentes, poder ouvir a diversidade de pássaros cantando no ambiente natural,
Querer conhecer as flores mais belas em seus ambientes naturais
Em lugares como México, Peru, Brasil, mas nem poder imaginar como é na África ou Ásia.
O natural e o antropológico daqueles continentes primeiros.
E pensar tudo isso sem se levantar da cama.
E pensar tudo isso sem precisar sair dela numa manhã de domingo.
O que devo esperar de melhor ou pior da vida?
Se tudo é uma questão de humor,
Uma questão celular, bioquímica, neural.
Não tenho nenhuma resposta,
Apenas meu mundo subjetivo assim como tens o seu.
Tudo é uma questão de como combinamos e fazemos a vida acontecer.
Tudo é uma questão de humor.

Um sonhador

Quando era criança não entendia muito as coisas.
As minhas ideias eram fixas, quando falo em ideia me refiro ao que acreditava ser a realidade.
Na minha cabeça padres eram divinos pois falavam com Deus e os médicos eram imortais pois sabiam curar todas as doenças.
Sabe acho que não sabia o que era morte.
Não tinha outra fonte de informação além de meus pais, meus irmãos, vizinhos e um motor-radio.
Sabe como é no sítio não se tem muito o que fazer para passar o tempo.
E na maior parte do tempo as pessoas estavam ocupadas fazendo alguma atividade de trabalho.
Nos intervalos de tarde quando mamãe cochilava, eu ficava atoa.
O mundo era muito grande e amplo.
Eu não conhecia sequer o que me cercava.
Aos poucos fui aprendendo as coisas importantes como plantar, colher e cuidar dos bichos.
Assim o meu muito fui construído em grande parte no silêncio e na desordem que aparentemente é a natureza.
Acho que me acostumei com meus monólogos.
Sei que ouço minha voz apenas na mente o tempo todo.
Embora o vocabulário tenha aumentado, a voz é a mesma.
Complexa.
Hoje, entendo muitas coisas, mas o universo que me cerca ainda é uma grande incógnita.
O mundo ficou menor.
A consciência levou minha felicidade,
Não sei mais ser como era, um sonhador...
Um sonhador de onde surgiu essa idéia?

Aqui

Então, vamos aprendendo com a vida,
Aprendendo a viver com a realidade,
Sob as leis da realidade que não tem nada de ideal.
A realidade é dura,
Mas pelo menos está oculta por ser uma incógnita,
Bem, assim vamos valorizando o que é bom
E aprendendo com o que é ruim.
Porque não sabemos até quando estamos aqui.

Precisamos

Precisamos de algo que preencha o espaço de nossa existência.
Esta existência que é linear por seguir sempre o mesmo sentido de tempo.
Sentido que se dar do passado para o futuro, mas que se resume ao presente.
Somos nos que direcionamos nossas histórias e como água em um rio nem sempre sabemos qual é o melhor caminho a seguir, porém sabemos que o fim é sempre o oceano.
Precisamos nos livrar das memórias ou pelo menos se não conseguirmos
Valorizarmos mais o momento presente, pois sabemos sempre qual é o fim de tudo.
Então, preenchamos o espaço da existência que é o tempo com algo que nos faça sentir bem.

Assim

O que me toca?
Que me faz bem?
Sei que o mundo nos impressiona, mas tem coisas que tocam forte nosso eu.
Poderia citar a música,
A natureza,
Um conto,
Um poema,
Uma paisagem,
Uma pintura,
Uma fotografia,
A consciência...
O que nos toca se trata de matéria subjetiva.
Vivemos nos perdendo e nos encontrando,
Felizes ou tristes...
A existência sempre nos assusta quando a descobrimos.
Alguns momentos nos sentimos bem
Enquanto outros nos apavora,
E assim vivemos.

Entendimento

Entre coisas que vejo,

Tem coisas que prefiro ver

Como as flores,

As aves,

As matas,

Os bichos,

A natureza...

As vezes o silêncio.

Coisas simples

As paisagens que mais me acalmam são memórias distantes de minha infância.
Paisagens da caatinga com suas coisas singelas como o cair da chuva,
Nascer da babugem, encontrar um ninho de uma ave,
Sentir o cheiro do marmeleiro e do velame,
Ver rolinhas voando,
Pássaros cantando,
Um bem-ti-vi, uma casaca-de-douro,
Um azulão, um papa-cebo.
As coisas mais simples são mais interessantes.

O possível

Através de uma fotografia, 

Vejo a forma de alguém que foi

E já não é mais.

Para a realidade é como se nunca tivesse sido.

Um sonho, uma memória ou uma ideia?

Isso nos assombra,

Ser e não ser,

Vir a ser e deixar de ser,

Fazemos de tudo para não deixarmos de ser,

Buscamos incessantemente negar o não ser,

Um poeta escreve um poema, Pessoa.

Um pintor pinta, Gogh.

Um músico compõe, Mozart.

E um ser comum?

É como se tivesse em meio oceano,

Buscando uma ilha,

Sabendo que o destino é morrer afogado,

Mesmo assim nunca se desiste,

Pois é assim que tem de ser.

Nossos instintos muitas vezes nos salva,

E a nossa consciência nos afoga.

Uma fotografia é uma memória,

Nos alertando para a brevidade da vida.

Sabendo disso, temos a certeza que nem tudo é possível,

Mas o que for possível.

Que seja.