terça-feira, 2 de abril de 2019

Hoje e ontem

Após uma manhã chuvosa veio uma manhã ensolarada.
Neste dia a madrugada  surgiu crepuscular.
Foi o que vi quando sai na rua que ainda havia uma estrela.
No céu limpo, encontrava-se ainda a lua crescente e acima dela havia um planeta.
A fechadura fez soar um estalo quando abriu e então sai na rua.
Fui caminhando firme sobre as pedras irregulares. Sempre penso que tipo de rocha é essa!
Já está clara a manhã, mas ainda vejo nuvens encarnadas no nascente onde se encerra o horizonte.
Ligo o MP3 e vou ouvindo uma palestra sobre o "ser e o nada" de Sartre.
O dia de hoje nasceu o oposto de ontem.
Sigo em frente perdido em meus pensamentos.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Chuva

A madrugada escura e sem aurora,
A alta umidade do ar,
O calor,
Nuvens azuis ocultam o céu,
Então os pingos vão caindo,
A chuva começando,
Então a chuva chovendo,
É chuva intensa,
De água fria,
Água escorrendo,
Sem parar,
Sem cessar.
E a chuva a molhar
A manhã de segunda-feira.

domingo, 31 de março de 2019

Vazio

Os lugares sem pessoas perdem sua identidade.
Na minha infância, entre décadas 80 e 90, haviam povoados que desapareceram com o tempo. Refiro-me as Vertentes, a Serrota e a Grugéia. Nas vertentes, moravam vô José e os tios João e Miguel; na Serrota nossos amigos Pedro Baliza e os Benícios e na Grugéia minha tia Nina. Em todos aqueles lugares as condições de vida eram difíceis, pois faltavam coisas básicas como eletricidade e a água era escassa. As vertentes ficava na depressão o sertão e tinha terras planas e arenosas perfeitas para o cultivo de feijão e algodão, lá se plantava e se criava gado. A Serrota e a Grugeia ficavam na serra, tendo o primeiro povoado um aspecto mais árido repleto de plantas de caatinga como marmeleiro, aroeira e angico e muitos afloramentos nos terrenos inclinados, enquanto a Grugeia se localizava na base da Chapada onde apesar de inclinada os solos eram profundos o que permitia cultivar cajueiros, laranjeiras e mangueiras. A década de 90 foi crucial para o despovoamento destes lugares. Naquela época apareceram as primeiras televisões e as escolas foram ampliadas efetivamente as pessoas começaram a colocar seus filhos nas escolas e assim as atividades foram mudando. O ensino passou a ser obrigatório e para isso as pessoas migraram para próximo dos centros urbanos. As pessoas migraram em massa em busca de emprego no sudeste do Brasil. As atividades agrícolas perderam o significado de ser. As pessoas fugiam da falta de água. E os lugares tornaram-se vazios, restando apenas memórias. Embora a eletricidade e de água encanada foram colocadas nestes lugares, às pessoas não voltaram.
Hoje tudo é um grande vazio.
O que não significa que as pessoas melhoraram as condições de vida, apenas migraram, deixando para trás sua identidade.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Dias assim

A madrugada despertou calma e fresca, pois ainda neblinava.
No calçamento de paralelepípedos irregulares havia várias espelhos de água límpida.
Caminhando e prestando atenção aos detalhes percebi que a natureza agradecia.
Podia ver na grama coberta de gotículas de água, nos pingos que caiam das árvores e no solo de chão úmido que emanava frescor.
As flores nem aberta estavam,
Os pássaros permaneciam em silêncio, nem as formigas trabalhavam.
É o que chamamos de inverno.
A rua principal estava vazia seria por causa da chuva ou porque era sexta-feira?
Enquanto caminhava, liguei o mp3 para ouvir Pedro Bartolim falar sobre "O ser e o nada" de Sartre.
E fui caminhando, tropeçando em pensamentos.
Algumas pessoas se sentem mais vivos pela manhã.
Após o treino concluído, voltei para casa e logo em seguida parti para a Universidade.
Sobre minha bici fui pedalando, contemplando e pensando.
Que bonito que é silêncio da natureza nele reina a calma.
Sobre as plantas floridas flores deitadas e molhadas sorriem vivas.
É nessa atmosfera que se inicia o dia.
Dias assim nem sempre acontecem ou melhor, não estamos abertos a contemplá-los com frequência.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Fato curioso

Há algum tempos, ganhei dois cactos. Uma coroa-de-frade e a outra uma desconhecida. A coroa-de-frade não se adaptou e morreu, mas a desconhecida não, continua vivinha. Então, não mexi nos vasos apenas deixei ali mesmo na janela da cozinha. Então, certo dia, aconteceu algo atípico na cozinha,  tive intuição. Que seria? Ai, fiquei curioso e passei a observar minuciosamente aquele ambiente, vi que havia terra no piso, mesmo assim não deduzi nada. Passei uma semana fora e por acaso esqueci a janela aberta. De maneira que após chegar em casa, o fato foi revelado. Era uma rolinha caldo-de-feijão que se aninhara no jarrinho vazio. Quando me viu, voou desesperada. De certa forma, demorou a reaparecer, já nem imaginava que voltasse. Então, os gravetinhos foram tomando a forma de um ninho.  A partir dali, tínhamos duas inquilinas que simplesmente chegaram e não pediram permissão nem fizeram contrato ou sequer pagaram aluguel. A gente ficou sem jeito, não queria incomodá-las. O silêncio reinou. Era boa a sensação de outro ser em casa. O interessante é que não dormir, incrível a qualquer hora da noite, tinha os olhos abertos. Com o tempo nem ligava para nós. Já não voavam com nossa proximidade. Havia uma amizade ou uma cumplicidade. Sua presença era muito agradável, pois passava uma sensação de paz. Com o tempo vieram os ovinhos, dois e em mais alguns dias, segundo Dayane que leu no wikiaves que eram 13 dias. Foi uma pena que apenas um filhote nasceu. E nossa, como eles crescem rápido. Meu Deus! Logo estava esperto e pronto para voar. Então foi num sábado, em fevereiro, que anunciou sua partida. Despertou ativo, esperto, saiu do ninho... Então partiu. Nos deixando cheios de saudades. A janela ficou vazia e sem expectativas, sem os olhos, sem o cuidado. 
Bem, o interessante é que não demorou muito, acho que duas semanas após, vieram mais duas e ocuparam o ninho e os filhotes já estão quase coberto de penas, prontos para partirem. Quão rápido vem, quão rápido vão. Já sinto saudades dessa realidade

Mistério côsmico

O tempo,
O espaço,
O ser.
Matéria e energia.
Num pulso,
O fluxo,
E tudo surgiu.
Divino mistério.
O som,
A imagem,
O cheiro,
A textura,
A pressão.
Impressão!

Um homem tentando entender o universo,
Mergulhando no mais profundo mistério
Que nem todas as vidas o revelariam.
O eterno devir,
O uno e o múltiplo de Parmênides,
Os labirintos e espelhos de Borges.

Que impressionante mistério.

Agora mesmo cantou um sabiá
Tão pleno de vida,

Que encanto.
Que paz.

sábado, 23 de março de 2019

Loop

Enquanto lia na cama algo tirou minha atenção e tirou-me o foco da leitura. Foi o canto de um gavião carijó que ouvi soar. Imediatamente, lembrei de mamãe que sempre que ouvia um gavião cantar se recordava de vovó que dizia que quando gavião cantava era sinal de logo iria chuva. Que memória bonita. Quem teria dito isso a vô José? Naquele instante, vô se fez presente em minha alma. Então, fui tomado de alegria, pois acho que tentar entender essa trama onde filho lembra da mãe que lembra do próprio pai que se lembrou de algum numa espiral temporal fônica e simbólica. Onde se inicia a gênese de tudo isto?
Suponho que seja a água o recurso essencial a vida e suas transformações. Onde mamãe mora e vovó morou é uma região semi-árida que se caracteriza pela baixa disponibilidade de água. A água é o fator limitante de tudo e a água está associado a alegria, a fartura, a beleza e ao bem está. Ali, na serra tudo é regido pela atmosfera que trás a água por meio das chuvas. 
Então, alguém associou o canto daquela ave aos fenômenos atmosféricos da chuva. A fé norteava vô José e a esperança não o fazia fraquejar. Ouvir a ave cantar fazia sua esperança se perpetuar.
Para certas situações só resta apelar para a fé e a esperança.
O gavião canta para a fêmea e seu canto significa reprodução que é um processo que só ocorre mediante a presença suficiente de recurso que só o inverno pode oferecer.
Sendo assim, canta gavião o canto da chuva.
Enquanto isso saudades de mamãe por esta longe e de vovó por ter desencarnado, mas agradecido pelo dom da existência e pela memória dagora.    

sexta-feira, 22 de março de 2019

As três ruas um espaço de lazer


Um lugar muito conhecido em João Pessoa são as Três Ruas que se localiza no bairro dos Bancários. Para alguns trata-se apenas uma via de acesso, no entanto, para os moradores dos Bancários este espaço vai muito além desta função. As três ruas tem esse nome por apresentar três ruas paralelas com grandes espaços arborizados. Dessa maneira, as Três ruas se trata de um excelente espaço de lazer, sendo perfeito para caminhar. Durante a semana, a rua principal é de uso exclusivo para caminhada, sendo proibido a passagem de veículos entre as cinco e sete horas. Assim as pessoas têm a sua disposição um espaço para caminhada com 1,5 km de comprimento, onde é possível caminhar ou correr com tranquilidade. A pista tem espaços planos e suavemente ondulados, mas sem oferecer muita resistência. Uma das coisas que chama atenção no lugar a presença de uma longa área verde, o ambiente é composto por uma espaços arborizados durante sua criação. Embora, ainda seja necessário arborizar alguns perímetros, até o momento foram contabilizadas mais de 80 espécies vegetais que apresentam uma variação no porte desde ervas até e árvores. Essas espécies em sua maioria são compostas por espécies exóticas que são as trazidas de outros países, todavia são muitas as espécies nativas de grande importância ecológicas, dentre as nativas se destacam a guabiroba, pitanga e jatobá. O porte das árvores pode atingir 30 metros em espécies como castanhola e casuarina, no caso das castanholas sua copa é enorme com mais de 10 metros de diâmetro. Estas promovem em determinadas áreas a redução da temperaturas e são locais favoritos por motoristas para tirar um cochilo após o almoço. Entre as árvores com sombras são encontradas ainda figueiras, jamboleiros, mangueiras, cajueiros, acácias. Algumas especies são muito raras com poucos indivíduos como um pé de canela e pés de jatobá. O interessante é que essa diversidade de espécies vegetais se reflete na riqueza de aves que variam de pássaros a aves de rapina que usam este espaço como habitat. Além disto, é uma via de acesso a estes pássaros que podem migrar de área, bem como para pousar e descansar. Pela manhã, é possível ouvir os essa riqueza de pássaros através do seus cantos. Muitos destes pássaros como sanhaçus e os tangarás se alimentam das plantas frutíferas como cajueiros, cheflereiras, pitangueiras, amoreiras, mata-fomes, piriquiteiras, aroeiras e embaúbas outros como os bem-ti-vis se alimentam de insetos e outros como os gaviões se alimentam de outros pássaros como rolinhas e pardais. Estes pássaros prestam um excelente serviço como dispersores de sementes. Além de pássaros é possível ainda observar a presença de morcegos frugívoros, ou seja, aqueles que se alimentam de frutas como a castanhola, o jambo e figos silvestres. Os Sem dúvidas, as três ruas é um excelente lugar para começar o dia. 

Quanto as pessoas, em sua maioria são compostos adultos de segunda e terceira idade que utilizam este espaço e quase todos são moradores do bairro. Efetivamente, caminhar pelas três ruas nos proporciona muito bem está, pelo espaço, pelo contato com as pessoa, pela sombra das árvores e pelo sentimento de pertencimento.

Poucos são os problemas, mas eles existem e dois deles são bem recorrentes que são a presença de lixo o desrespeito pelos motoristas quanto ao horário uso da pista central. O lixo na maior parte das vezes é deixado pelos motoristas que usam apenas como via, sendo os principais objetos encontrados vasilhames de bebida e sacola. Quanto ao desrespeito muitas vezes ocorre pela ausência de fiscalização. Atualmente os guardas de trânsito não tem aparecido para colocar os cones.

A parte isso, resta caminhar e desfrutar deste delicioso espaço.





Pé de ficus bejamim

pé de cajueiro

Uma palmeira

terça-feira, 19 de março de 2019

Desacelerar

Na correria cotidiana, imersos em atividades e problemas a serem solucionados, acabamos nos esquecendo de viver. Hoje, terça-feira, no final da tarde quando retornava da caixa econômica para minha sala na UFPB, ouvir cantar um sabiá. Minha reação foi instantânea, parei naquele instante e desci da bicicleta, pois queria ouvi-lo novamente cantar. Então percebi quanto era linda aquela luz dourada. Num momento esqueci de tudo, porém fui tomado pelas memórias vivadas das tardes lá em Barão Geraldo, algo nesta tarde se convergia naquele instante. Era a tarde dourada, andar de bicicleta, ouvindo cantar o sabiá. Os tempos, os problemas, assim como as circunstâncias são outras, porém acho que sou o mesmo, mais velho. Quando cheguei na minha sala, havia esquecido quase tudo que me tomava. Assim arrumei minhas coisas e vim para casa sem perceber no caminho e nem me ater ao caminho. Apenas percebi que à tarde caia, assim orgânica sem poesia. E quando a noite caiu, não percebi na delicia que estava a água, nem nas atividades que fiz como estender as roupas, pois meu foco era jantar. Comi bastante como quem tem muita fome. Em seguida, fui fechar a janela e foi quando vi que era lua cheia. Ah! Que agradável surpresa que é contemplar o céu plenilúnio e sentir a brisa fresca. Depois cansado, deitar-se feliz porque esses momentos valem a pena e nos deixam feliz.
Agrada-me ouvir o piano Debussi ou Chopin ou ler Platão ou simplesmente algo do gênero que me faça esquecer o cotidiano, desacelerar e dormir em paz.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Viagem ao Cariri

Sexta-feira à noite, viajei pela quadragésima vez para os Cariris Velhos. Não canso de visitar e conhecer aquele lugar que me traz intensas sensações como de alegria, de harmonia, de resistência, de silêncio e de paz. Acho que o Cariri representa tudo isso em sua paisagem rústica imensa, profunda. Percebo tudo isso através das formas dos afloramentos de gnaíses e granitos, do cheiro exalado pelas plantas, do som dos pássaros, da comida sertaneja e de cada momento do dia do primeiro ao segundo crepúsculo, do pino do meio dia ao enluarar de lua cheia onde céu mais limpo não há. Há uma magia quando saímos do asfalto e entramos na estrada de chão com terra branca quando reduzimos a velocidade e se prepararmos para os obstáculos, sentimos-nos mais próximos da natureza. Então entre salavancos, vamos contemplando as paisagens de caatinga com suas vegetação arbustiva, cinzenta e empoeirada ou verde e lamacenta composta por cactáceas candelabriformes, juremas com acúleos em formas de unha gato, catingueiras retorcidas, baraúnas majestosas, granitos pungentes e harmonizando esta paisagem encontramos os velhos casarões de tijolo nu ou caiados compostos pelas janelas azuis. Por vezes sentimos os odores das plantas, da natureza, do esterco de gado, do almíscar de raposas. Esta miscelânea de impressões  fazem minha nossos corpos sentirem uma paz plena interior. Na entrada da fazenda o carro para então abro a cancela, a entrada permitida é sinal de boa acolhida pelo caririzeiro, falta pouco para chegar e descansar, a estrada serpenteia, ondula, chego a reconhecer os pontos na estrada. Então finalmente chegamos a casa onde somos recebidos calorosamente pela dona que simplesmente é a alegria viva. Conversamos um pouco e vamos dormir, pois a viagem longa foi cansativa o que facilita muito para um sono intenso que é ajudado pelo silêncio ensurdecedor. Antes de dormir nada melhor que contemplar o céu estrelado.
Então, deito e apago sem tempo sequer para sonhar, a gente dorme a noite inteira. Imagina que somos despertados pelo som da passarada, onde cantam sabiás, cardeais, sofréus, asa-brancas, ben-ti-vis, teteus e golinhas. No mesmo instante, pego minha câmera e saio em encontro das surpresas que a natureza quer me mostrar, enquanto minha mente monologa vou fotografando, compondo em meus planos com linhas simétricas, composições de cores, texturas, formas inertes e vivas e paisagens, de forma que o mundo parece se expandir diante de minha câmera. Assim, antes que sinta fome, estou de volta, tomo café e converso com meus amigos e interajo com as pessoas que trabalham e vivem pacientemente ali.
Em seguida, volto para a rede e fico matutando.
E assim o fim de semana simplesmente desaparece.
Quando voltamos para casa, parece que o fim de semana passou em um curto instante.
No fim de tarde de domingo cá estamos novamente em João Pessoa, mas tornamos a ter vontade de voltar lá. 

Bati-bravo Ouratea

 Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...

Gogh

Gogh