quinta-feira, 27 de junho de 2013

Fria noite de lua


A  noite fria
a lua minguante,
águas do lago ondulante,
o verde das plantas apagado,
tudo que vemos são sombras,
tudo que sentimos
é o frio.
A noite tudo soa vazio,
a noite até a natureza descansa,
o frio das construções,
o frio seco do cerrado,
a lua sem povoado,
só uma metrópole fazia,
mendigos dormindo no frio,
mulheres seminua vendendo
sua honra,
gente dormindo,
grilos cantando,
e a lua no fim da manhã
some à luz do sol.

Ver e ser

O sol que desperta o dia, não é o próprio dia?
A terra que gira sem parar, não é o dia e a noite?
e ambos, dia e noite, não se tratam senão faces opostas da terra?
Esta luz que agora me revela as formas,
as cores, traduzem em mim o que sinto e percebo,
não é a mesma luz que aqueceu
numa manhã qualquer Gogh,
e lhes revelou as cores que o impressionaram
e inspiraram revelar o mundo a sua maneira?
Esta luz que faltou a Borges aos 55 anos,
e a muitos que não enxergam não perde o sentido
que escrevo acima?
Amanhã talvez os meus olhos que agora veem
com deslumbrar o mundo, a manhã,
poderão não abrir e isto um dia acontecerá.
A luz da manhã continuará a vir,
mas, nem sempre estaremos vivos para percebe-la
e aprecia-la.
Sol, dia, terra e ser.
Tudo só parece ter sentido,
no seio do eu.



quarta-feira, 26 de junho de 2013

Chegar

Chegar a qualquer lugar,
a qualquer hora,
seja qual for o tempo,
faça sol ou chuva,
noite ou dia,
nos deixa ansiosos.
Há uma ansiedade
por aquilo que almejamos ver,
aquilo que queremos encontrar.

Chegar a qualquer lugar
é sempre um encontrar
ou reencontrar,
a chegada nos deixa
eufóricos.
É tão emocionante
quanto a partida.

Nem todas são saudosas,
mas as chegadas
sempre proporcionam
o encontro ou reencontro,
é redescobri-se
e descobrir,

Chegar não é o fim,
mas um novo começo.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Mistérios infantis

Temos sempre lembranças das visitas à casa de nossos avós. As casas de nossos avós são cheias de mistérios, há tanta coisa oculta a nosso pequeno mundo. Muitos dos objetos e hábitos ali encontrados não absorvidos por nossos pais e a nós é muito estranho. Na casa de vô chiquinha havia um oratório de Santo Antônio, algo meio barroco, sacro. Não sei porque, mas tinha medo daquele altar. Sempre abria para ver o que havia ali dentro, tinha essa liberdade. Todas as vezes que passava na anti-sala eu dava uma olhada, parecia uma pequena igreja. Por que ter uma pequena igreja dentro de casa?
Na sala, havia o quadro de meu pai de quando era jovem e eu não conseguia ver ali meu pai e o quadro de meus avós Chico e Chica. Tinha também várias cadeiras de balanço, mas de cordinha.
Lembro que a voz de meu avó era grossa e a de minha avó arrastada. Bom e quem interessa o tom da voz de meus avós? só para ter mais um lugar para guardar.
Não lembro de nenhum meio de comunicação lá nos meus avós, nem mesmo de um rádio. Tudo ali se contava ou era silêncio.
As noites escuras alumiadas a gás, a carne seca a sal e sol.
O doce do café e da rapadura.
A fumaça solta da lenha no fogão a lenha.
O tempo parado.
O tempo ali não escorria,
pingava.
As vezes mal chegava e já queria voltar.
Tinha muitas plantas que minha avó cultivava e não lembro de ter em minha casa.
Lembro do jasmim do lado do chiqueiro no nordeste, nas beiras das calçadas haviam vincas rosas e brancas, brancas com fauces vermelhas. Havia uma pimenteira do gênero piper, uma romanzeira, louro por todo o terreiro, roseiras e carnaubeiras.
Minha avó tinha uma horta sem faxina.
Tudo era tão orgânico.
O tempo levou meus avós e acabou com tudo.
Restam apenas as vagas memórias acima redigidas.
Mais nada.

Vejo

A terra continua a mesma,
o sol a brilhar alumiando o dia,
após a noite plenilúnea.
as árvores tem seus ramos balançados pelo vento.
Através da janela vejo tudo isto.

Vejo ainda um joão-de-barro
caminhando e forrageando.
O joão-de-barro de penas
telhadas, anda desengonçado,
De lá pra cá, olha desconfiado,
caminha sobre as folhas secas do bambus,
bica aqui, bica ali.
Bica, bica, bica...
Me olha e continua.
Por que não canta?
Eh! João... corre e voa e some.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

São João

Hoje é noite de São João,
as fogueiras já não ardem queimando no chão.
Não tem milho cozido, pamonha, traque ou rojão.

Hoje é noite de São João,
na minha infância esta noite era sagrada,
via todo mundo na estrada, toda a gente animada,
bandeirolas coloridas,
os meninos de havianas ou tyo-tyo
corriam em volta da fogueira.

Estopim aceso, o estou do traque,
e o grito das crianças,
na maior esperança,
de no ano que vem ter mais que 10 traques,
nem sei porque sou machista, mas lá em casa
só eu que era menino ganhava bombinhas,
minhas irmãs não...
mas não tinha problemas,
tinha bolo de milho feito na folha da bananeira,
com cravo e canela,
tinha bolo de ovo.

Tinha alegria!
Enquanto a fogueira se consumia,
havia alegria,
Os crentes subiam para a igreja,
mas hoje todos dormem,
a nossa baixa está vazia,
as vozes que gritavam,
sumiram no mundo,
hoje só restam as vozes da natureza,
mamãe nem faz mais bolos,
acho que papai ainda acende uma fogueira,
era bom irmos para o mato pegar lenha,
Papai cortava galhos da cajaraneira,
mas ai,
só resta a lembrança,
acesa...
nem uma vela em minha mesa.
Nem um viva São João,

nada além de lembranças.

Coisas raras

Nem tudo continuará,
mas se transformará a cada instante.
A manhã torna-se tarde,
a tarde torna-se noite
e a noite manhã.
Nem tudo é um eterno retorno.
A vida é impar, por isso pare
para pensar e senti-la,
sempre tento fazer isto.
Hoje, à tarde sai para caminhar,
e basta parar para ver que nem tudo é belo no mundo,
há um mau cheiro não dei de onde
aqui no setor terminal norte,
ao longo de todo o lago há lixo.
Não sei por que raios e com que intenção
quebraram a grade do dique.
Quando tudo nos desilude,
eis que o crepúsculo é mais pleno,
o vôo da garça leve,
o mergulho do peixe nas águas transparentes,
o desabrochar da ipomoea alba,
o fim do dia,
nem sei quanto tempo terei,
mas quero ver apenas as coisas boas,
já que são tão raras.

domingo, 23 de junho de 2013

Luz

A luz que invade o meu quarto
e revela as cores e as formas
dos meus objetos é a luz
que atravessa minha pupila
e excita o meu cérebro
e me revela tanta coisa
que faz minha memória
se ativar.
É a mesma luz que entrava
pelas frestas da nossa velha janela
de nossa casa de infância,
que atravessava as frestas do telhado.
Luz que se movia no escuro
atravessando as frestas do telhado,
o ronco do carro ou da moto
a luz em movimente,
minha mente em movimento,
o calor do cobertor
o pai nosso e a ave maria,
mamãe e papai,
e os sonhos ainda acordado,
luz que me tornou o que sou,
um ser de paz.

sábado, 22 de junho de 2013

Saudades

Que saudades imensa
me tomou ao acordar.
Saudades do cheiro do café
prontinho na mesa.
Da broa de milho quentinha,
da bolacha dentro do café com leite,
das rizadas da manhã,
do cheiro da chuva
molhando o barro seco,
do grito do peixeiro,
do barulho colorido
de poeira dos caminhões,
dos muitos opas,
do barulho da vassoura
riscando e limpando os terreiros
dos gritos de mamãe.
Saudades, da infância
e quem não tem boas
memórias.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Lua serena, grito de guerra

A lua serena de camarote olhava para a esplanada.
Quanta gente e quanta emoção.
Os espelhos plácidos do planalto estavam escuros
de militares e o som alto do povo ecoava nos ares.
"Brasil, Brasil, Brasil"
Quanta gente colorida, animada.
Gente bonita e pacífica,
E uma passeata decorreu e a noite
linda se passou!

É isso o tempo

 O sofrimento dilata o tempo! O tempo não existe! O tempo é um conceito. Eternidade é a ausência de tempo. Vinícius de Morais cunhou a frase...

Gogh

Gogh