Hoje é noite de São João,
as fogueiras já não ardem queimando no chão.
Não tem milho cozido, pamonha, traque ou rojão.
Hoje é noite de São João,
na minha infância esta noite era sagrada,
via todo mundo na estrada, toda a gente animada,
bandeirolas coloridas,
os meninos de havianas ou tyo-tyo
corriam em volta da fogueira.
Estopim aceso, o estou do traque,
e o grito das crianças,
na maior esperança,
de no ano que vem ter mais que 10 traques,
nem sei porque sou machista, mas lá em casa
só eu que era menino ganhava bombinhas,
minhas irmãs não...
mas não tinha problemas,
tinha bolo de milho feito na folha da bananeira,
com cravo e canela,
tinha bolo de ovo.
Tinha alegria!
Enquanto a fogueira se consumia,
havia alegria,
Os crentes subiam para a igreja,
mas hoje todos dormem,
a nossa baixa está vazia,
as vozes que gritavam,
sumiram no mundo,
hoje só restam as vozes da natureza,
mamãe nem faz mais bolos,
acho que papai ainda acende uma fogueira,
era bom irmos para o mato pegar lenha,
Papai cortava galhos da cajaraneira,
mas ai,
só resta a lembrança,
acesa...
nem uma vela em minha mesa.
Nem um viva São João,
nada além de lembranças.