segunda-feira, 28 de março de 2011

Norte

Nossos horizontes são tão pequenos quanto nossa capacidade de pensar, refletir e sonhar. Estes vão se ampliando a medida que vamos alimentando o pensar, a reflexão e o sonho. Certo dia me via preso a um lugar bem pequeno, com poucas relações com mundo, poucas vias para alcançar o mundo que desejava que pudesse proporcionar crescimento humano. Eu estava ligado aquele lugar pois alí estava toda minha origem, meus genitores; fora naquele lugar pequeno que aprendi a decifrar as palavras, aprendi primeiro a ler o mundo, aprendi a pedir comida e água, e foi naquela pequena escola isolada como o próprio nome, que aprendi o significado abstrato das coisas, juntando as letras, foi ali que comecei a ver uma nova luz, fui alimentado com a mais fortes das coisas, mais potente das coisas a PALAVRA, no começo não sabia da importância, mas percebia a estática que era um estado daquele lugar, então ao tomar tino da vida. Comecei a pensar o porque das coisas, do agir das pessoas, os modos, a religião, comecei então a construir meu mundo baseado no que via, havia ali sim o diferente e eu percebia a diferença, comecei então a refletir sobre essa diferença, comecei a construir meu mundo com base naquele mundo, mas queria mais que aquilo sim, aquele mundo era muito pequeno para minha imaginação, então comecei a sonhar, o que faria para poder sair dali, significava para mim liberdade. Tinham algumas formas uma delas era completar a idade e fugir para a cidade grande, mas isso não iria mudar muito, percebi que aqueles que iam embora sempre voltavam, com algo no bolso, mas voltavam, eu queria ir e não mais voltar, confesso que tentei, mas o destino e o amor dos meus pais por mim me fizeram esperar. A paciência foi fundamental, pensamentos profundos sobre valores, medos; reflexões e sonhos e de moeda tinha muita fé. Rezava todas as noites, meus pais estavam, sempre estiveram ao meu lado. De maneira que construí meu mundo ali, mas me preparei, pois meus pensamentos, minhas reflexões e meus sonhos me levariam longe. Aprendi todo o necessário para viver ali, cultivar a terra, criar animais e ter uma religião, dominando essas artes estaria muito bem ali, mas queria mais, queria o melhor para mim, mesmo achando que o melhor era o material, o ter, o saciar meus desejos. Então cai em profundos estudos, aprendi a gostar de saber, de ler seja o que fosse, mas não era fácil, pois não tinha um foco, até que uma professora de biologia me deu um norte, foi uma pessoa maravilhosa pois mostrou a beleza da vida, o estudo dos sistemas, da ciência da vida. Então projetei o meus sonhos para o estudo biologia e lutei com todas as garras, não foi fácil fiz três vestibulares, em anos diferentes foram dois anos de luta em vão, cada derrota tinha um sabor amargo, de frustração, de medo, mas só servia para alimentar meu sonho e um dia as coisas deram certo dei o pulo do gato,
meu sonho projetado deu certo e então sai dali. Sai do interior, mas o interior não saiu de dentro de mim, tive que aprender a me relacionar de maneira diferente com as pessoas, isso não foi fácil, mas enfim, suporta-se tudo e se vence. Hoje de onde estou, volto quase diariamente aquele lugar, vou buscar minhas reflexões, meus sonhos foram atingidos, preciso de novos sonhos, preciso potencializar minha vida. Então volto sempre aos lugares de minha infância que povoa toda minha mente. A minha razão está lá e aqui ao mesmo tempo. Muitas vezes sou aquele menino de bucho grande melado de caju, muitas vezes sou adulto e outras vezes não sou eu sou uma mistura de meus pais. Hoje tenho consciência de quem e do que sou, tenho consciência de mim, uma das coisas que mais me alimenta é conhecer, e como uma estrela que desponta no fim da tarde, sinto aos poucos vontade de passar o que conheço, espero ser uma estrela, um norte na escuridão de alguma alma. Se assim o for me sentirei pleno.

Devir

Quando na manhã o sol brilhar,
subindo lentamente do nascente,
quando o vento o acompanhar,
soprando bem lentamente,

as fruteiras irão acenar,
para o sol, para o vento incontinente,
o jasmim seu aroma vai exalar,
e a todo o campo perfumar intensamente,

as vacas irão ruminar e urrar,
quando a poeira do chão levantar calmamente,
as ordens da maestra a varrer e a cantar,

a vida parece tão plena, bela e eterna,
o vento sopra pra longe a manhã,
e o dia segue o caminho do eterno devir.

Janela

E não são pelas janelas que entram a luz, o vento, ar, poeira, vida. Não são por elas que vemos o que acontece fora do lar, não ela que abrimos para fazer a luz, o vento entrar, não são elas que cerramos para a chuva não entrar. Não somos nós responsáveis por seus movimentos. De dia abrimos para o átrio clarear e a noite para arejar, fazer correr a corrente de ar, não somos nós que delimitamos o que deve ser feito da janela? Não seria nós portanto os responsáveis por filtrar o que entra pelas janelas da nossa mente, nossa visão, audição, pressão, calor, frio, cheiro? Não somos nós que julgamos o que melhor nos convém? Tenho a liberdade de olhar para onde quero, de ver o que quero, de ignorar o que não quero, mas muitas vezes salta a nossos olhos, coisas que chamam nossa atenção, coisas que querem tirar de nós nossa liberdade de escolher o que devemos julgar, ou melhor querem tomar decisões do que devemos fazer de nossas janelas. O que deve ser visto, ouvido, sentido? Ah sim quem está aqui primeiro, impõe em nós seus sentidos na crença de que aquilo é o melhor, bem que seja o melhor, mas somos nós quem devemos saber a partir de nossas experiências julgar o que devemos fazer de nossas vontade e desejo. Somos nós quem devemos construir nosso mundo, muito embora, possamos seguir o mesmo sentido. Preste atenção, somos todos diferentes, aprendemos a ver e agir no mundo de maneira diferente, construímos nossas relações de maneiras diferentes, somos responsáveis pela beleza de nossos átrios, nossas mentes. Estamos constantemente aprendendo, regulando essa aprendizagem de acordo com a abertura que fazemos de nossas janelas. A luz torna mais belo o quarto pois podemos perceber as cores, os detalhes, as sujeiras escondidas; o ar areja da uma sensação de bem está, mas cuidado, não vês bactérias, poléns coisas que podem ser alérgicas para ti. É preciso muito cuidado para que, por que está abrindo a janela, apreenda os signos, racionalize sobre eles e perceba a essência das coisas, a partir de seus juízo de seu discernimento, faça o que melhor lhe convém, mas cuidado não acredite muito naquilo que promete uma potência exagerada. Seja cuidadoso com sua janela, seja cuidadoso com o teu ser. E seja feliz.

O dia

As seis da manhã o sino soou no nascente,
o sino abriu o dia, estava tão bela a aurora,
que ouvir aquele sino foi em boa hora,
senti o aroma da manhã molhada,
da pequena chuva passada,
o vento não soprava, mas o sol a terra
já clareava, então segui,
a caminhar, a sentir a natureza,
segui por onde sempre seguia,
quando caminhava, fui em paz,
e assim caminhei onde tanto andei,
senti o aroma do jasmim,
procurei a beleza das ipomoea violácea,
mas não estavam lá as flores com suas cores,
cores só no céu, um véu de algodão
com tonalidade de azul,
tal qual quarto que espera
um bebê ornava o céu,
as ruas não cheirava,
nada era diferente,
mas percebi que em frente a escola,
tem belas palmeiras, tão linheiras,
vi que a mandevila rosa está florira,
que na casa após a casa da esquina
haviam lianas floridas, além da rosa mandevila,
e caminhei por onde tanto passei,
cruzei a rua, passei do lado de jasmim manga,
mas não estavam floridos,
vi que sob a palmeira havia coco de pássaros,
então pensei, que aquelas aves iriam condenar
a palmeira, mas segui,
ouvi o som do riacho com águas turvas,
senti lisa a placa de granito,
do Tilicenter,
e assim caminhei,
cumprimentei operários de uma obra,
e segui, para meu dia, que tão rápido se passou,
e quando voltava para casa,
percebi a coisa mais bela,
a figueira sorria, pois durando o fim do dia,
três lindas flores nascera,
mas pareciam bebês,
folhas tão jovens que ainda brilhavam,
tinha uma cor vinho,
aquela figueira sorria da sua arte,
das suas jovens e belas flores,
então pensei,
não temos muitas plantas tecendo
suas folhas, não tem,
as folhas caem nesta época,
as flores são raras,
a natureza toda se prepara,
mas no fim do dia
toda a natureza sorria,
o crepúsculo anuncia o fim da noite,
nenhum sopro,
então o sino tocou 18 horas,
o dia se entregou para a noite,
então sorri,
e agradeci,
por mais uma dádiva,
mais um dia,
fecho minha poesia.

Sinto

Sereia tu que canta,
me encanta,
dar uma vontade louca
de beijar sua boca,
uma vontade maluca
de beixar sua cuca,
uma vontade transcendente
de sentir sua mente,
acariciar seus dedos,
sua pelo, seus pelos,
e fazer voce arrepiar,
e sentir seu corpo queimar,
sentir o aroma dos teus cabelos,
o perfume guardado
nos teus seios,
quero poder deliciar,
e poder delirar,
te amando,
me envenenando
de tanta paixão,
mergulhado na ilusão,
da felicidade,
que é como as ondas do mar,
sempre a oscilar.

Bateu um desejo,
de seu beijo,
bateu uma saudade,
tão forte no coração,
minhas vísceras
congelaram, meu sangue
gelado, como água salgada, gelada,
senti uma emoção diferente,
mesmo tu ausente,
minha flor,
desejo seu beijo,
mesmo que beijo de vento,
sinta minha alma
a surfar
nas ondas do vento,
no tempo,
desejos,
vontades,
vaidades,
assim sinto.

domingo, 27 de março de 2011

Mudança

Mudanças acontecem. As coisas, as pessoas, as relações mudam e permitem que ocorram transformações. Essas transformações requerem um certo custo à natureza que leva milhões de anos para desenhar-se. Algumas destas mudanças tem sucesso e evoluem e outras simplesmente são eliminadas. As adaptações que se estabelecem, se replicam, diversificam e povoam o ambiente. Quando não ocorre mudança, tudo permanece inalterado, mas quando algo entra em desequilíbrio, a busca pelo equilibrio, certamente levará a metamorfoses. Mudanças de ideias humanas acontecem por alguma necessidade. A curiosidade alimentou o intelecto humano, que vem mudando até hoje, mas essas modificações vem levando o homem a perder o mundo que habita a inexistência. Está transformando a diversidade em unidade, a natureza . Em pouco tempo está destruindo o que a natureza levou milhões de anos para adaptar, longas mudanças, rearranjos, modificações irrevesíveis. Essa mudança poderá ser crucial para o fim da pluralidade de formas e relações levando a existência ao seu fim. Já sabemos o que fazer, mas já está fora de controle. Que restará? que mudança nova virá?

Luz

Luz que ilumina tudo e todos,
que varre todos os lugares,
clareia todos os lares,
sedes uma forma divina,
que a tudo anima,
aquece a substância,
nessa rede de relações,
fazes a vida pulsar,
onde quer que venha passar,
luz que tudo alimentas
de energia, tendes a magia,
luz que a tudo aquece,
ao mundo faz das relações
em matéria, potência,
ser, luz que me anima e tudo anima,
a natureza molda,
sedes a energia reticular
do existir da vida.

Aprender

Olho e vejo,
mas o que vejo?
ouço e escuto,
mas que escuto?
sinto o cheiro,
mas o que cheiro?
O novo me espanta,
o novo me encanta.
o que vejo me provoca curiosidade,
quando vejo e vejo sinto vontade,
essa curiosidade desperta desejo,
mas se o que eu vejo me fala,
por que não entendo?
ah, mas quando vejo,
quando indago, eu compreendo,
logo aprendo,
mas se o outro ver, e entende, compeende,
mas por que? de certo já viu,
apreendeu, viveu,
no seu mundo, seu juizo,
já estava registrado.
Sinto a vida,
ouço, percebo os cheiros,
e o que me desperta
me agrada ou desagrada,
o que me agrada potencializa meu ser,
o que desagrada potencializa meu ser,
por isso cheiro, mas não cheiro,
simples mente ignoro
o cheiro do esgoto,
ignoro também
o barulho dos carros,
o brilho das estrelas,
as luzes elétricas são mais potentes,
fico contente com o mundo
onde tudo é possível,
mas nada posso,
me apego a essa ilusão,
de ser algo,
mas não ser nada,
por isso vejo,
mas não percebo minha precariedade,
vaidade,
aqui posso ser quem quiser,
mas nada sou,
leva tempo pra aprender a ser voce mesmo,
leva tempo pra entender o outro,
leva tempo pra poder ver
o necessário,
leva tempo a entender a vida,
não se entregue totalmente a fé,
creia, mas seja mais prática e ação,
seja, simplesmente seja,
pois logo voltará ao que sempre foi,
nada, tu existes,
olhe e veja,
ouça e escute,
e entenda que viver é um eterno aprender.

sábado, 26 de março de 2011

Sertão

Olhai à paisagem e veja arbustos, arvoretas e cactos. Perceba que todos estão armados, de espinhos ou quando macerados vertem látex. Perceba ainda que no sertão época de verão a natureza se cora de cinza, tudo é meio branco, plantas parecem mortas. Solo seco, muitas vezes esturricados, rachados; o céu azul, limpo e o sol brilhando intensamente. Há tanta luz, faz tanto calor. Mas aqui tudo é diverso, peculiar e belo; pois aqui tudo tem um aroma e forma que impregna na alma a essência deste lugar, faz-se memória instantânea. A vida sofrera para se adaptar, muitas vidas vieram e aqui ficaram, e quando escasso de água, a latência das plantas e das sementes que se encrosta em suas casas, suas testas e adormecem, como dríades grega. Os animais ali se escondem entre as plantas, sob rochas, entre castas, insetos, réptil, e pequenos animais. O vento quase não sopra, nada se passa, tudo para, a natureza dorme durante o dia e acorda durante a noite. Os afloramentos graníticos, serrotes, abrigam macambiras, urtigas e cardeiros, rochas soltas pelo chão, desordenadas adormecidas no tempo, movidas apenas pela natureza, são evidência das proezas da natureza, barram os horizontes, aqui pode se sentir o pulsar do sangue nas veias, a respiração ofegante, o coração a bater, o suor a escorrer, do corpo e da alma, a carne quente, a mente refrigerada, a pele tingida pela luz do sol, a vista cinza, caatinga. É possível ver a vida bem presente, é possível ser consciente de si, dos próprios limites, da certeza e esperança que tudo melhora, aprende-se a ser paciente, é preciso ser ciente pra poder aqui morar, pra poder aqui amar. E quando no fim da tarde o céu também arde em brasa, tingido de vermelho, como uma brasa que se apaga a natureza do dia se entrega a noite, paulatinamente, aparecem os planetas, sucedendo as estrelas, então cai a noite, surge um vento de açoite, e tudo está escuro, a natureza esfria lentamente, na escuridão, apenas o brilho das estrelas se percebe, então por esta se mede, a abóboda celeste, pode-se perceber que a profundeza é para cima o infinito torna-se algo bonito, estrelas amarelas, vermelhas e azuis, de brilhos rutilantes, brilhos percorrentes, antigos, percebemos o tamanho do universo, então matutamos em Deus, em nós e percebemos quanto somos pequenos e respeitamos o mundo. E amamos a vida, sendo eternamente crentes no oculto. Vindes ver o sertão, vá além da imaginação, lugar mais diferente não há.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Varrer

Vejo os grandes terreiros, limpos, varridos com melosa, no suave e intermitente movimento da vassoura que aquelas senhoras, começavam seus dias, num exercício para o corpo e para a alma,
pra lá e pra cá, varrendo folhas, galho, tornando os terreiros desérticos, porém limpos, um terreiro sujo revela uma casa sem hábitos higiênicos. Assim as senhoras acreditavam e teciam notícias com quem ali passava, se informava e informava, construindo sua idéia de mundo, seus pensamentos, seus juízos.

Um pão

 A correria! Ontem, saímos para caminhar! Sassá está com muita energia! A felicidade dele é ganhar algo. No meio do caminho o que voce vai c...

Gogh

Gogh