sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Pensando o tempo

 A tarde cai morna,

Na calçada de minha casa me faz sentir esperança.

As árvores secas,

O chão torrado e empoeirado,

As vincas floridas

Com flores alvas e rosas, vincas de papai,

Um beija-flor estrala beijando as flores do sapatinho.

Tudo é esperança.

Nuvens bonitas no céu aquecendo o coração na esperança de chuva.

Longe cantam as aves, bem-te-vis.

O Juazeiro enramado e florido.

Um fim-fim.

A lufada de vento fresco.

O silêncio da minha casa, sem o café de papai, ou a presença terna de mamãe.

A vida que segue.

Os catoles continuam vivos e mais maduros.

Vivo o tempo em nós nos enche de esperança,

Porque é da nossa natureza crer em um momento melhor.

Eternidade é essa.

28-12-24

Encamtamento 29-12-24

 Nas cinzas do sertão,

O flamboyant florido,

Torna o dia encarnado,

Dia todo de aurora,

Dia todo crepuscular,

Encarnadas flores,

Feito o fogo da salsa,

A conversar com Abraão,

Um dia, uma semana de aurora,

Boã, boã,

Da casa de Tereza,

Da casa de Tica,

Da casa de Chica,

Um sonho plantando,

Um sonho cultivado,

Enfeitando a igrejinha de são Francisco,

Enchendo os olhos 

Dos amantes das cores,

Dos amantes da vida

Vida verde vegetal.

Boã boã...

Esse mês do ano derradeiro,

Logo se entrega a janeiro,

O calor cáustico,

A vontade de comer doce, o enfado da vida.

Aquele que não se entrega as vontades 

Do paladar,

Enche a alma de esperança,

Enche o peito de amor,

Troca um pouco de água por uma flor...

Jardins... Ah jardins em hortas e panelas,

Jardins de cores,

De visitas de beija-flores.

Que felicidade em tua longa aurora diurna.

Em suas casas amarelas, em suas casas confortáveis,

As senhorinhas transmitem sua sabedoria,

Ganhadas de suas avós no cultivo da paciência,

No cultivo de suas flores...

Os pereiros do morcego alvos e perfumados,

Me fizeram parar

E assim parei para contemplar os últimos dias de 2024

Boã, boã 

De Tereza, Tica e Chica... No Porção, no Pinhão, no morcego e nas vertentes.

Nessas bandas do oeste potiguar, Martins, Pilões e Serrinha.

Indignação

 Passeando neste sertão

Vendo na estrada a marca da gente,

As casas vazias e abandonadas,

O lixo e a sujeira 

Por gente ali deixada,

Desmatamentos,

Queimadas,

Barreiras rompidas,

Solo nu...

Que tristeza,

Que tristeza.

Salma a alma boa,

Aquela pessoa 

Que ali habita,

Resistente do ir e vir

Ah plantas ali cultivada,

Os terreiros limpinhos,

O olhar cansado,

Aposentado,

O sertão está morrendo,

O sertão está morrendo,

Abandonado.

O sertão morre em abstração,

Só restam memórias e afeto dos que ainda estão vivos, contando os dias de morte,

O sertão está morrendo,

Sertanejo se modernizou,

Para a cidade mudou.

Sem sertanejo raiz,

Tudo fica por um triz.

Sem afeto sem apego,

Por quem vamos esperar...

Só resta exploração,

O riacho perde sua gordura de areia,

Garganta funda,

Cavada por retroescavadeira,

E caçamba a carregar,

A mata queimada, 

Retirada e ocupada por usina solar,

O solo desnutrido daquela que a protegia a vegetação,

Parques de ilusão.

Todo mundo, tanta pressa, tanta pressão,

Está morrendo o sertão.

29-12-24

Pensado não vivido

 Sai para caminhar e vi o mundo tão imenso.

No meio da caatinga fui preenchido de felicidade.

As coisas simples que encontrei como seixos um, dois, três.

A arquitetura das arvores e arbusto,

Os círculos de tamas de garrafas, as linhas retas da estrada,

Os pássaros cantando, minha fé em Cristo.

A certa altura me perco no tempo,

A certa altura me perco no tempo.

A certa altura sou parte da natureza.

A certa altura sou consciente de minha consciência.

A certa altura estou consciente de minha razão...

Então uso as rochas de terço.

Meu Deus quanta beleza.

Então me conscientizo e estou feliz por entender que a manhã é uma parte do dia e que o todo é composto de partes.

Entendo, não recordo que o homem é o único ser capaz de abstração...

Como somos pequenos e caímos o tempo todo na cilada de nossa consciência...

Penso em tanta coisa,

Então então e me forço a não pensar em nada... E eis que o vazio me preenche.

São Francisco de Assis, padin Cícero, frei Damião... Essa fé que preenche nosso nordeste.

Feliz... Penso hoje é terça feira, independente de ser o último dia do ano... Os dias são tangíveis, semanas, meses e anos são puras abstrações.

Imediatamente me bate um desespero, então vejo meu filho... E aí sinto a melhor prova da existência... Como de tanto refletir, Descartes conclui 'penso, logo existo'...

Muita coisa junta numa única mente.

31.1.24

Saudade

 Saudade não mata! mas quase consegue, Falta fôlego! Aquela falta. Aquele vazio. Nunca deveras preenchido. Saudade.

Gogh

Gogh