sábado, 13 de abril de 2019

Impressões e percepções do entardecer

Sem querer, passamos a perceber e gostar de determinados momentos do dia. Um dos melhores momentos que desfruto é entardecer. Associado ao fim de tarde, temos belezas como a luz dourada, o silêncio da natureza e sons e odores peculiares.
A percepção de que a luz é dourada ao entardecer se deu certa vez, quando viajava pelo Pantanal do Mato Grasso do Sul com o meu supervisor do estágio pós-doutoral, lembro que ouvi Valls dizendo que aquele era o melhor momento para vender uma fazenda de tamanha que era a beleza da paisagem preenchida por luz dourada. Foi muito marcante.
Naquela época por morar em Brasília, tinha nas tardes os horizontes mais profundos e assim a vista se perdia na planura do planalto Central. Às tardes com horizontes profundos nos tornam mais reflexivos porque nos permite perceber quão pequenos somos diante da magnitude do mundo.
Quanto aos sons, bem havia um programa na radio que adorava ouvir que se chamava "um piano ao cair da tarde" que era ao vivo e misturava conversa com musica tocada no piano. As tardes era secas, porém não muito quentes sem odores.
Depois que me mudei para João Pessoa tudo mudou e às tardes e a dinâmica da vida passou a ser totalmente diferentes. Os horizontes profundos foram substituídos por horizontes rasos  compostos por uma mata e ruas com casas e prédios e o som de piano desapareceu. Tive que aguardar e descobrir um novo som. 
Então, o bom e belo da tarde passou a ser momento de retornar para casa. 
Vi naquele momento uma breve sensação de liberdade que se de dava ao cruzar o portão da UFPB e sair pedalando através da avenida do contorno contemplando sempre as árvores, desde as grandes mungubas até os mais tênues dos capins.
Parece que tenho uma fotografia em minha mente. Ao sair pela geografia olhando em frente temos uma grande munguba, depois as Tachigalis com lianas de Lundia, as Luehea, uma sucupira, um Handroanthus roseo-alba, uma Inga thibaurdiana com trepadeiras de Passiflora galbana, depois as Cecropias pachystachyas (embaubas), os Sapiuns glandulosos, um espaço aberto da cajepa com muitas Diocleas virgatas, uma Luehea, um comicha (Allophylus), uma piriquiteira (Trema micrantha), uma cajazeira e na sequencia duas cajazeiras... Isso apenas do lado esquerdo. Enfim, essa percepção se deu através de observações cotidianas, perdidas no meu turbilhão de ideias ou preocupações com a vida de professor. Sinto que sair dali pedalando sozinho e em silêncio, consciente ou inconsciente me relaxa de fato. Então descobri um novo som para ouvir tocado pelos grilos que cantam na serrapilheira da mata. Durante o verão não tem muitos odores, mas na época de inverno quando ocorrem as chuvas matinais, a mata fica muito úmida de forma que à tarde, podemos sentir um aroma maravilhoso que creio ser liberado da serrapilheira e dos fungos.
Aqui, as relações são extremamente complexas e naturais. Um diferente que me agrada muito.
Cada vez mais vou descobrindo faces da vida que desconheço e os aceito e me fazem bem.

     

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