quinta-feira, 15 de abril de 2021

32. Questões divinas

 O não ser,

Eis o grande mistério que ninguém quer desvendar.

Todos temem, mas um dia conhecerão a verdade.

A verdade do não ser.

A ausência de corpo.

Não sentir,

Não ouvir,

Não ver,

Não cheirar.

Todo o corpo e toda matéria organizada se desorganiza,

E se reduz as suas propriedades primárias,

A átomos.

Átomos...

Átomos que são e não deixam de ser apenas se reorganizam.

A matéria continua intacta se transformando.

E o que é a vida energia?

O não ser é a ausência de energia?

Agora mesmo aprecio Mozart que deixou de ser em 1791.

Mas aqui está sua música sendo tocada,

Harmoniosamente me fazendo bem.

O que é isso?

Para onde vão as almas os geist das pessoas?

Para alguma teca divina?


30. Pensar

 Acordar e ouvir o mundo.

Sentir a vida pulsar em casa coisa.

Cada impressão sentida,

As cores, os sons, os odores...

As formas, as harmonias, as comidas.

Viver essa vida,

Neste mundo caótico,

É preciso algo que nos impulsione.

É preciso fé.

Traduzir tudo em nosso favor,

Nosso ser.

É tudo.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

31. Percepção

 Após um longo dia,

Não tem impressão

A percepção desligou.

29. Ser papai

 Os dias nascem e nem percebo.

Não percebo nem a luz.

Tudo que percebo são sutilezas

Coisas de bebê.

Vinícius se mexe e acordo.

Mexe-se dando pernadas,

Fazendo barulhinhos com a boca,

Virando-se de um lado para o outro.

Já sei...

Ele quer mamar.

Acordo a mamãe que o alimenta.

E com os olhos fechados volta a dormir,

De madrugada, às vezes troco a frauda.

É tudo mudou inclusive minha percepção.

Foi muito bom.

Está sendo maravilhoso.

terça-feira, 13 de abril de 2021

28. Consolar

Ouvi o galo cantar
Ao ouvir mamãe falar,
Ouvi o lorinho piá, 
Deu uma saudade de casa,
Essa pandemia,
Esse pandemônio 
Prende a gente.
Ai, fico trabalhando em casa.
O bom é está ao lado de Vinícius.
Bom e pesado cuidado dobrado.
A gente nem pensa porque não consegue.
Não raciocina.
E os fatos vão se passando,
E as coisas ocorrendo,
Só o genocida não caí.
E os dias vão passando frios
Mornos.
Ainda bem que tem a internet
E aí falo com mãe.
Vai ficar tudo bem.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

27. Grande encontro

 Iremos nos encontrar,

Numa manhã pós chuva,

Manhã de inverno,

Com muitas flores de jitirana,

O milho pendoado,

O vento soprando fruxo,

Siriri cantando,

Iremos comer queijo,

E tapioca no café.

Terá um louro e sherlock.

Todos estarão em casa,

Mamãe berrando,

E todo mundo feliz.

Amem

domingo, 11 de abril de 2021

26. Juntos

 Após dia de chuva,

Domingo passou

Molhado e úmido 

Montei e colei um souvinir,

O dia foi muito longo e agora se vai.



25. Papai e os anos

 Oitenta anos vividos.

Meu pai viveu por este tempo,

Viveu uma boa vida.

Oitenta anos são cerca de 29.600 dias.

E um câncer o consumiu em 120 dias.

Na equação da vida nada mal,

Mas na equação do coração

Nossa que saudade!

Faz quase quatro meses que se foi e a vida 

Perdeu um pouco do brilho.

Mas a vida continua.

O mundo está aí.

Pandemia, isolamento e muita morte.

Melhor voltar no tempo,

No tempo do pensamento.

A realidade está dada, objetiva.

Foram anos bons nossos anos vividos juntos.

Tantos sorrisos,

Um calar, um falar...

O que dizer de uma realidade que sofre metamorfose o tempo inteiro

Que somos parte desta metamorfose,

Nada...

Melhor pensar na caatinga,

Nas estações,

Nas transformações.

E encerrar dizendo que papai 

Vive em nós.




sábado, 10 de abril de 2021

24. Pinheira

 Só de lembrar como era rico em fruteiras o nosso sítio dá até uma tristeza. 

Eram cajueiros, pinheiras e goiabeiras por todos os lados.

Do nada lendo Clarice Lispector me veio a memória uma pinheira que ficava à sobra de um grande cajueiro perto do barreiro feito para a confecção dos tijolos de nossa casa.

Aquele cajueiro que se juntava com dois outros formando uma agradável copa.

Tinha aquela pinheira e goiabeiras.

Tinha um capim tênue sob eles.

Aquela pinheira de pinhas suculentamente alvas. Quando tava na época era normal ir lá e encontrar pinhas madurinhas.

Então ficava atento as patativas e os sanhaçus.

Quantas vezes não enchi a barriga grande de menino.

Mais pra frente tinha a goiabeira que sempre ia com mamãe e subia pra tirar goiabas e me sentia grande.

Tudo se acabou.

Nossa terra tá aí.

Mas essas secas e falta de água foi matando tudo. Antes a gente mesmo replantava comia aqui e defecava ali. Tava feito a dispersão.

Agora temos muitos catolés.

As nossas lindas palmeiras.

Temos também pinheiras tudo em volta de casa.

Tomara o mato não cubra tudo.

Minhas areias amadas.

Gente a nossa vida muito está ligada a infância.

Não tenho mágoa dos trabalhos manhã cedo.

Era nossa forma de subexistência.

É a nossa história.

Foi nossa fonte de alimento de dinheiro para o básico.

A gente era feliz, pois desconhecia a necessidade.

Hoje a história é outra,

Mas aí que saudades daquela pinheira,

Que saudade.

Ali certa vez achei um ninho de nambu.

Fiquei tão feliz, pois aqueles ovos pareciam pérolas.

Alí fui tantas vezes.

Pensei na vida.

É sério.

O doce macio alvo de uma pinha 

Enchendo o bucho,

Trazendo contentamento.

Depois sair em busca de goiaba.

A gente explorava o sítio,

A geladeira nem existia.

Lembro que Chico Neco foi quem inventou

A papai comprar uma geladeira.

Era uma clímax azul.

A gente pra ter as coisas vendia um bicho.

O dinheiro era curto.

Pobre de Begue foi embora tão novo.

Fui mais velho e chorei que só.

Não imaginava que seria assim.

A terra tá lá.

A pinheira só na lembrança.


23. Cuidar

 A noite caiu chuvosa.

Escureceu e nem percebi.

Só percebi o riso de Vinícius,

O cheirinho bom de bebezinho.

Só cuidei dele.

Assim se passam os dias.

Com cuidado.

Só a fé

 É certo que morreremos, mas quando vários conhecidos e queridos seus partem num curto tempo. A gente fica acabrunhado! A luta do corpo com ...

Gogh

Gogh