quarta-feira, 24 de abril de 2019

A natureza

A natureza com sua beleza,
A arquitetura das árvores e os arbustos,
As formas das folhas, flores e frutos,
Os odores das flores, da serrapilheira e da umidade,
Som de mamíferos, aves, insetos e o canto dos pássaros,
O azul do céu ensolarado,
A forma amorfa das rochas,
Os riachos, os tanques e os solos,
Ah, a natureza,
A natureza persistente,
E a gente,
Perdido na busca de entendimento,
Tentando dominar o indominável,
Tateando no existir.
Se há um caminho, este deve ser seguir a natureza.


quarta-feira, 17 de abril de 2019

Despertar

Entre pensamentos fico perdido,
Etimologia, filosofia, ciência,
O que alimenta o saber?
Substantivos, verbos, adjetivos, numerais.
O mundo que me impressiona.
O afeto que me cerca.
A vida passageira é tão curta
E ainda perdemos tempo com pileras.
É bom acordar e começar a viver a vida.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Céu azul

O céu azul ornado de cirro,
Límpida profundidade,
A luz que agora alumia
É energia que faz a erva brotar,
Que faz o pássaro cantar,
Que faz o verde verdejar.
O céu azul e a mente vazia,
Às vezes se perde a pensar,
Às vezes se perde no se preocupar,
Coisas humanas, vagas.
Esse universal que é o céu azul
Me mostra que a vida não tem fronteira.
E sigo assim entre um poema e outro,
E vou trançando minha vida.

sábado, 13 de abril de 2019

Impressões e percepções do entardecer

Sem querer, passamos a perceber e gostar de determinados momentos do dia. Um dos melhores momentos que desfruto é entardecer. Associado ao fim de tarde, temos belezas como a luz dourada, o silêncio da natureza e sons e odores peculiares.
A percepção de que a luz é dourada ao entardecer se deu certa vez, quando viajava pelo Pantanal do Mato Grasso do Sul com o meu supervisor do estágio pós-doutoral, lembro que ouvi Valls dizendo que aquele era o melhor momento para vender uma fazenda de tamanha que era a beleza da paisagem preenchida por luz dourada. Foi muito marcante.
Naquela época por morar em Brasília, tinha nas tardes os horizontes mais profundos e assim a vista se perdia na planura do planalto Central. Às tardes com horizontes profundos nos tornam mais reflexivos porque nos permite perceber quão pequenos somos diante da magnitude do mundo.
Quanto aos sons, bem havia um programa na radio que adorava ouvir que se chamava "um piano ao cair da tarde" que era ao vivo e misturava conversa com musica tocada no piano. As tardes era secas, porém não muito quentes sem odores.
Depois que me mudei para João Pessoa tudo mudou e às tardes e a dinâmica da vida passou a ser totalmente diferentes. Os horizontes profundos foram substituídos por horizontes rasos  compostos por uma mata e ruas com casas e prédios e o som de piano desapareceu. Tive que aguardar e descobrir um novo som. 
Então, o bom e belo da tarde passou a ser momento de retornar para casa. 
Vi naquele momento uma breve sensação de liberdade que se de dava ao cruzar o portão da UFPB e sair pedalando através da avenida do contorno contemplando sempre as árvores, desde as grandes mungubas até os mais tênues dos capins.
Parece que tenho uma fotografia em minha mente. Ao sair pela geografia olhando em frente temos uma grande munguba, depois as Tachigalis com lianas de Lundia, as Luehea, uma sucupira, um Handroanthus roseo-alba, uma Inga thibaurdiana com trepadeiras de Passiflora galbana, depois as Cecropias pachystachyas (embaubas), os Sapiuns glandulosos, um espaço aberto da cajepa com muitas Diocleas virgatas, uma Luehea, um comicha (Allophylus), uma piriquiteira (Trema micrantha), uma cajazeira e na sequencia duas cajazeiras... Isso apenas do lado esquerdo. Enfim, essa percepção se deu através de observações cotidianas, perdidas no meu turbilhão de ideias ou preocupações com a vida de professor. Sinto que sair dali pedalando sozinho e em silêncio, consciente ou inconsciente me relaxa de fato. Então descobri um novo som para ouvir tocado pelos grilos que cantam na serrapilheira da mata. Durante o verão não tem muitos odores, mas na época de inverno quando ocorrem as chuvas matinais, a mata fica muito úmida de forma que à tarde, podemos sentir um aroma maravilhoso que creio ser liberado da serrapilheira e dos fungos.
Aqui, as relações são extremamente complexas e naturais. Um diferente que me agrada muito.
Cada vez mais vou descobrindo faces da vida que desconheço e os aceito e me fazem bem.

     

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Reminiscências da chuva

A chuva resolveu chegar,
Os nimbustratos anunciaram,
O céu se ocultou,
A brisa fria soprou quando a chuva caiu.
A água foi se se espalhando e aos poucos escorrendo,
Descendo, descendo...
Na salha olhando através da janela a chuva é tão maravilhosa
Que faz a gente pensar.
Como é bom pensar ouvindo a chuva e tomando um chá.
São oportunidades impares.
São maravilhosas.
Lembro sempre de quando menino lá em Serrinha do Canto quando à tarde antes da chuva chegar ela anunciava pegue os pintinhos e coloque na casa velha. Era minha grande preocupação. Os pintinhos inocentes. A chuva só podia chover quando a gente tivesse guardado a galinha de pinto.
Depois caiam grandes pingos, pingos médios e a chuva pegava.
A gente pulava e ia tomar banho. Banho de chuva... Depois que enchiam as latas a gente podia tomar banho de bica. Se começasse a relampejar e trovejar... Mamãe nos protegia gritando para entrar. Então a gente entrava se enxugava e ia ver e ouvir a chuva chovendo.
No fogão de lenha uma penela de xerém cozinhava.
Papai sentado descansava as pernas sobre outro tamborete. Já tinha muito medo de chuva.
E quando a valeta arrebentava lá ia ele concertar para que o terreiro de mamãe não ficasse só lama.
E quando a chuva parava a gente se aquetava e ia comer o xerém com leite ou com torresmo.
E a noite caia e a gente era as pessoas mais felizes e protegidas do mundo.
E mamãe nos embalava e depois rezava.
E aprendi a ver a beleza da chuva na fé de mamãe e papai e na certeza que chuva é sinônimo de fartura.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Vetor desconhecido

O espaço preenchido de matéria
Que constitui tudo
O ar, a água, as rochas e os seres vivos,
Por quanto tempo este sistema existirá?
Ver o amanhecer,
Ouvir a chuva chover,
Sentir a flor florescer,
O mais doce aroma
Destilado do amago da vida.
Poder contemplar tudo
E compreender tamanha magnitude,
Eis que o espírito se reproduz,
Pena que de maneira heterogênea em certos sentidos...
A luz do saber por um lado e a treva da ignorância pelo outro,
Objetivos distintos,
A cultura do ser se afirmando no ter,
Escorrendo fenda a baixo na direção de um fim.

terça-feira, 9 de abril de 2019

O tempo

O tempo dissolve tudo,
Dissolveu meu breve e longo passado,
Senão fossem as memórias,
Se não fosse a matéria trabalhada,
Se não fosse a vontade
O que seria agora?
Menos ou mais?
Quem sabe...
Quem domina o destino?
Mesmo sabendo da incerteza,
Mesmo sendo devir,
Vir a ser não é uma decisão,
Muito menos deixar de ser,
O tempo viu tudo,
Mas o tempo não tem memória,
O tempo não tem matéria,
O tempo é apenas medida de existência,
E nem isso pode ser.
O tempo é subjetivo e objetivo,
O inicio e o meio do infinito.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Hoje e ontem

Após uma manhã chuvosa veio uma manhã ensolarada.
Neste dia a madrugada  surgiu crepuscular.
Foi o que vi quando sai na rua que ainda havia uma estrela.
No céu limpo, encontrava-se ainda a lua crescente e acima dela havia um planeta.
A fechadura fez soar um estalo quando abriu e então sai na rua.
Fui caminhando firme sobre as pedras irregulares. Sempre penso que tipo de rocha é essa!
Já está clara a manhã, mas ainda vejo nuvens encarnadas no nascente onde se encerra o horizonte.
Ligo o MP3 e vou ouvindo uma palestra sobre o "ser e o nada" de Sartre.
O dia de hoje nasceu o oposto de ontem.
Sigo em frente perdido em meus pensamentos.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Chuva

A madrugada escura e sem aurora,
A alta umidade do ar,
O calor,
Nuvens azuis ocultam o céu,
Então os pingos vão caindo,
A chuva começando,
Então a chuva chovendo,
É chuva intensa,
De água fria,
Água escorrendo,
Sem parar,
Sem cessar.
E a chuva a molhar
A manhã de segunda-feira.

domingo, 31 de março de 2019

Vazio

Os lugares sem pessoas perdem sua identidade.
Na minha infância, entre décadas 80 e 90, haviam povoados que desapareceram com o tempo. Refiro-me as Vertentes, a Serrota e a Grugéia. Nas vertentes, moravam vô José e os tios João e Miguel; na Serrota nossos amigos Pedro Baliza e os Benícios e na Grugéia minha tia Nina. Em todos aqueles lugares as condições de vida eram difíceis, pois faltavam coisas básicas como eletricidade e a água era escassa. As vertentes ficava na depressão o sertão e tinha terras planas e arenosas perfeitas para o cultivo de feijão e algodão, lá se plantava e se criava gado. A Serrota e a Grugeia ficavam na serra, tendo o primeiro povoado um aspecto mais árido repleto de plantas de caatinga como marmeleiro, aroeira e angico e muitos afloramentos nos terrenos inclinados, enquanto a Grugeia se localizava na base da Chapada onde apesar de inclinada os solos eram profundos o que permitia cultivar cajueiros, laranjeiras e mangueiras. A década de 90 foi crucial para o despovoamento destes lugares. Naquela época apareceram as primeiras televisões e as escolas foram ampliadas efetivamente as pessoas começaram a colocar seus filhos nas escolas e assim as atividades foram mudando. O ensino passou a ser obrigatório e para isso as pessoas migraram para próximo dos centros urbanos. As pessoas migraram em massa em busca de emprego no sudeste do Brasil. As atividades agrícolas perderam o significado de ser. As pessoas fugiam da falta de água. E os lugares tornaram-se vazios, restando apenas memórias. Embora a eletricidade e de água encanada foram colocadas nestes lugares, às pessoas não voltaram.
Hoje tudo é um grande vazio.
O que não significa que as pessoas melhoraram as condições de vida, apenas migraram, deixando para trás sua identidade.

Só a fé

 É certo que morreremos, mas quando vários conhecidos e queridos seus partem num curto tempo. A gente fica acabrunhado! A luta do corpo com ...

Gogh

Gogh