sexta-feira, 12 de abril de 2019

Reminiscências da chuva

A chuva resolveu chegar,
Os nimbustratos anunciaram,
O céu se ocultou,
A brisa fria soprou quando a chuva caiu.
A água foi se se espalhando e aos poucos escorrendo,
Descendo, descendo...
Na salha olhando através da janela a chuva é tão maravilhosa
Que faz a gente pensar.
Como é bom pensar ouvindo a chuva e tomando um chá.
São oportunidades impares.
São maravilhosas.
Lembro sempre de quando menino lá em Serrinha do Canto quando à tarde antes da chuva chegar ela anunciava pegue os pintinhos e coloque na casa velha. Era minha grande preocupação. Os pintinhos inocentes. A chuva só podia chover quando a gente tivesse guardado a galinha de pinto.
Depois caiam grandes pingos, pingos médios e a chuva pegava.
A gente pulava e ia tomar banho. Banho de chuva... Depois que enchiam as latas a gente podia tomar banho de bica. Se começasse a relampejar e trovejar... Mamãe nos protegia gritando para entrar. Então a gente entrava se enxugava e ia ver e ouvir a chuva chovendo.
No fogão de lenha uma penela de xerém cozinhava.
Papai sentado descansava as pernas sobre outro tamborete. Já tinha muito medo de chuva.
E quando a valeta arrebentava lá ia ele concertar para que o terreiro de mamãe não ficasse só lama.
E quando a chuva parava a gente se aquetava e ia comer o xerém com leite ou com torresmo.
E a noite caia e a gente era as pessoas mais felizes e protegidas do mundo.
E mamãe nos embalava e depois rezava.
E aprendi a ver a beleza da chuva na fé de mamãe e papai e na certeza que chuva é sinônimo de fartura.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Vetor desconhecido

O espaço preenchido de matéria
Que constitui tudo
O ar, a água, as rochas e os seres vivos,
Por quanto tempo este sistema existirá?
Ver o amanhecer,
Ouvir a chuva chover,
Sentir a flor florescer,
O mais doce aroma
Destilado do amago da vida.
Poder contemplar tudo
E compreender tamanha magnitude,
Eis que o espírito se reproduz,
Pena que de maneira heterogênea em certos sentidos...
A luz do saber por um lado e a treva da ignorância pelo outro,
Objetivos distintos,
A cultura do ser se afirmando no ter,
Escorrendo fenda a baixo na direção de um fim.

terça-feira, 9 de abril de 2019

O tempo

O tempo dissolve tudo,
Dissolveu meu breve e longo passado,
Senão fossem as memórias,
Se não fosse a matéria trabalhada,
Se não fosse a vontade
O que seria agora?
Menos ou mais?
Quem sabe...
Quem domina o destino?
Mesmo sabendo da incerteza,
Mesmo sendo devir,
Vir a ser não é uma decisão,
Muito menos deixar de ser,
O tempo viu tudo,
Mas o tempo não tem memória,
O tempo não tem matéria,
O tempo é apenas medida de existência,
E nem isso pode ser.
O tempo é subjetivo e objetivo,
O inicio e o meio do infinito.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Hoje e ontem

Após uma manhã chuvosa veio uma manhã ensolarada.
Neste dia a madrugada  surgiu crepuscular.
Foi o que vi quando sai na rua que ainda havia uma estrela.
No céu limpo, encontrava-se ainda a lua crescente e acima dela havia um planeta.
A fechadura fez soar um estalo quando abriu e então sai na rua.
Fui caminhando firme sobre as pedras irregulares. Sempre penso que tipo de rocha é essa!
Já está clara a manhã, mas ainda vejo nuvens encarnadas no nascente onde se encerra o horizonte.
Ligo o MP3 e vou ouvindo uma palestra sobre o "ser e o nada" de Sartre.
O dia de hoje nasceu o oposto de ontem.
Sigo em frente perdido em meus pensamentos.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Chuva

A madrugada escura e sem aurora,
A alta umidade do ar,
O calor,
Nuvens azuis ocultam o céu,
Então os pingos vão caindo,
A chuva começando,
Então a chuva chovendo,
É chuva intensa,
De água fria,
Água escorrendo,
Sem parar,
Sem cessar.
E a chuva a molhar
A manhã de segunda-feira.

domingo, 31 de março de 2019

Vazio

Os lugares sem pessoas perdem sua identidade.
Na minha infância, entre décadas 80 e 90, haviam povoados que desapareceram com o tempo. Refiro-me as Vertentes, a Serrota e a Grugéia. Nas vertentes, moravam vô José e os tios João e Miguel; na Serrota nossos amigos Pedro Baliza e os Benícios e na Grugéia minha tia Nina. Em todos aqueles lugares as condições de vida eram difíceis, pois faltavam coisas básicas como eletricidade e a água era escassa. As vertentes ficava na depressão o sertão e tinha terras planas e arenosas perfeitas para o cultivo de feijão e algodão, lá se plantava e se criava gado. A Serrota e a Grugeia ficavam na serra, tendo o primeiro povoado um aspecto mais árido repleto de plantas de caatinga como marmeleiro, aroeira e angico e muitos afloramentos nos terrenos inclinados, enquanto a Grugeia se localizava na base da Chapada onde apesar de inclinada os solos eram profundos o que permitia cultivar cajueiros, laranjeiras e mangueiras. A década de 90 foi crucial para o despovoamento destes lugares. Naquela época apareceram as primeiras televisões e as escolas foram ampliadas efetivamente as pessoas começaram a colocar seus filhos nas escolas e assim as atividades foram mudando. O ensino passou a ser obrigatório e para isso as pessoas migraram para próximo dos centros urbanos. As pessoas migraram em massa em busca de emprego no sudeste do Brasil. As atividades agrícolas perderam o significado de ser. As pessoas fugiam da falta de água. E os lugares tornaram-se vazios, restando apenas memórias. Embora a eletricidade e de água encanada foram colocadas nestes lugares, às pessoas não voltaram.
Hoje tudo é um grande vazio.
O que não significa que as pessoas melhoraram as condições de vida, apenas migraram, deixando para trás sua identidade.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Dias assim

A madrugada despertou calma e fresca, pois ainda neblinava.
No calçamento de paralelepípedos irregulares havia várias espelhos de água límpida.
Caminhando e prestando atenção aos detalhes percebi que a natureza agradecia.
Podia ver na grama coberta de gotículas de água, nos pingos que caiam das árvores e no solo de chão úmido que emanava frescor.
As flores nem aberta estavam,
Os pássaros permaneciam em silêncio, nem as formigas trabalhavam.
É o que chamamos de inverno.
A rua principal estava vazia seria por causa da chuva ou porque era sexta-feira?
Enquanto caminhava, liguei o mp3 para ouvir Pedro Bartolim falar sobre "O ser e o nada" de Sartre.
E fui caminhando, tropeçando em pensamentos.
Algumas pessoas se sentem mais vivos pela manhã.
Após o treino concluído, voltei para casa e logo em seguida parti para a Universidade.
Sobre minha bici fui pedalando, contemplando e pensando.
Que bonito que é silêncio da natureza nele reina a calma.
Sobre as plantas floridas flores deitadas e molhadas sorriem vivas.
É nessa atmosfera que se inicia o dia.
Dias assim nem sempre acontecem ou melhor, não estamos abertos a contemplá-los com frequência.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Fato curioso

Há algum tempos, ganhei dois cactos. Uma coroa-de-frade e a outra uma desconhecida. A coroa-de-frade não se adaptou e morreu, mas a desconhecida não, continua vivinha. Então, não mexi nos vasos apenas deixei ali mesmo na janela da cozinha. Então, certo dia, aconteceu algo atípico na cozinha,  tive intuição. Que seria? Ai, fiquei curioso e passei a observar minuciosamente aquele ambiente, vi que havia terra no piso, mesmo assim não deduzi nada. Passei uma semana fora e por acaso esqueci a janela aberta. De maneira que após chegar em casa, o fato foi revelado. Era uma rolinha caldo-de-feijão que se aninhara no jarrinho vazio. Quando me viu, voou desesperada. De certa forma, demorou a reaparecer, já nem imaginava que voltasse. Então, os gravetinhos foram tomando a forma de um ninho.  A partir dali, tínhamos duas inquilinas que simplesmente chegaram e não pediram permissão nem fizeram contrato ou sequer pagaram aluguel. A gente ficou sem jeito, não queria incomodá-las. O silêncio reinou. Era boa a sensação de outro ser em casa. O interessante é que não dormir, incrível a qualquer hora da noite, tinha os olhos abertos. Com o tempo nem ligava para nós. Já não voavam com nossa proximidade. Havia uma amizade ou uma cumplicidade. Sua presença era muito agradável, pois passava uma sensação de paz. Com o tempo vieram os ovinhos, dois e em mais alguns dias, segundo Dayane que leu no wikiaves que eram 13 dias. Foi uma pena que apenas um filhote nasceu. E nossa, como eles crescem rápido. Meu Deus! Logo estava esperto e pronto para voar. Então foi num sábado, em fevereiro, que anunciou sua partida. Despertou ativo, esperto, saiu do ninho... Então partiu. Nos deixando cheios de saudades. A janela ficou vazia e sem expectativas, sem os olhos, sem o cuidado. 
Bem, o interessante é que não demorou muito, acho que duas semanas após, vieram mais duas e ocuparam o ninho e os filhotes já estão quase coberto de penas, prontos para partirem. Quão rápido vem, quão rápido vão. Já sinto saudades dessa realidade

Mistério côsmico

O tempo,
O espaço,
O ser.
Matéria e energia.
Num pulso,
O fluxo,
E tudo surgiu.
Divino mistério.
O som,
A imagem,
O cheiro,
A textura,
A pressão.
Impressão!

Um homem tentando entender o universo,
Mergulhando no mais profundo mistério
Que nem todas as vidas o revelariam.
O eterno devir,
O uno e o múltiplo de Parmênides,
Os labirintos e espelhos de Borges.

Que impressionante mistério.

Agora mesmo cantou um sabiá
Tão pleno de vida,

Que encanto.
Que paz.

sábado, 23 de março de 2019

Loop

Enquanto lia na cama algo tirou minha atenção e tirou-me o foco da leitura. Foi o canto de um gavião carijó que ouvi soar. Imediatamente, lembrei de mamãe que sempre que ouvia um gavião cantar se recordava de vovó que dizia que quando gavião cantava era sinal de logo iria chuva. Que memória bonita. Quem teria dito isso a vô José? Naquele instante, vô se fez presente em minha alma. Então, fui tomado de alegria, pois acho que tentar entender essa trama onde filho lembra da mãe que lembra do próprio pai que se lembrou de algum numa espiral temporal fônica e simbólica. Onde se inicia a gênese de tudo isto?
Suponho que seja a água o recurso essencial a vida e suas transformações. Onde mamãe mora e vovó morou é uma região semi-árida que se caracteriza pela baixa disponibilidade de água. A água é o fator limitante de tudo e a água está associado a alegria, a fartura, a beleza e ao bem está. Ali, na serra tudo é regido pela atmosfera que trás a água por meio das chuvas. 
Então, alguém associou o canto daquela ave aos fenômenos atmosféricos da chuva. A fé norteava vô José e a esperança não o fazia fraquejar. Ouvir a ave cantar fazia sua esperança se perpetuar.
Para certas situações só resta apelar para a fé e a esperança.
O gavião canta para a fêmea e seu canto significa reprodução que é um processo que só ocorre mediante a presença suficiente de recurso que só o inverno pode oferecer.
Sendo assim, canta gavião o canto da chuva.
Enquanto isso saudades de mamãe por esta longe e de vovó por ter desencarnado, mas agradecido pelo dom da existência e pela memória dagora.    

Bati-bravo Ouratea

 Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...

Gogh

Gogh