Na infância sobrava ociosidade e espaço.
Tudo que existia dependia das estações que para nos era a chuva e a seca.
Na seca que tinha para olhar? Tudo era reduzido, a comida e a água, tanto nossa como dos animais.
Desapareciam os animais invertebrados como insetos, imbuas e vertebrados que por vezes apareciam como os preás.
E sempre tínhamos a esperança de tudo melhorar no inverno seguinte.
A gente precisava acreditar no futuro por questão de sobrevivência.
No inverno o chão estava molhado e dava para fazer curral.
Tinham as flores para olhar e dissecar, frutos para brincar e comer.
Tinham ainda imbuas, formigas, borboletas, mariposas, serpentes apareciam.
A gente tinha matéria de sobra para viver.
A gente aprendeu a acreditar no futuro, mas o futuro guardava tragédias que a gente depois pela razão iria descobrir.
Na infância tudo era interessante por sermos totalmente ignorantes.
Tudo que existia ia ganhando nome...
E esses nomes depois ganharam símbolos sem as representações pictóricas.
A, E, I, O e U.
Cara! o que é isso?
Porque não aprendemos a desenhar?
A ler os desenhos.
Foi profundamente influenciado por um livro de animais da sexta série de capa verde e com animais.
Foi ali que pus os meus pés na sistemática e na biologia.
E o que me atraiu foram os desenhos
As representações.
Lembro que queria muito desenhar coqueiro.
Tínhamos uma aula e era na sexta-feira, e não tínhamos caderno de desenho.
Uma ou outra vez.
O desejo nos alimenta.
Queria desenhar.
E não decifrar as vogais e o alfabeto seco.
Queria imaginar nos desenhos e não aqueles textos abaixo dos desenhos.
Como vim parar aqui?
Me questiono.
Da infância até aqui foi um longo caminho.
E ele continua até o fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário