Após um longo dia,
Não tem impressão
A percepção desligou.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
Os dias nascem e nem percebo.
Não percebo nem a luz.
Tudo que percebo são sutilezas
Coisas de bebê.
Vinícius se mexe e acordo.
Mexe-se dando pernadas,
Fazendo barulhinhos com a boca,
Virando-se de um lado para o outro.
Já sei...
Ele quer mamar.
Acordo a mamãe que o alimenta.
E com os olhos fechados volta a dormir,
De madrugada, às vezes troco a frauda.
É tudo mudou inclusive minha percepção.
Foi muito bom.
Está sendo maravilhoso.
Iremos nos encontrar,
Numa manhã pós chuva,
Manhã de inverno,
Com muitas flores de jitirana,
O milho pendoado,
O vento soprando fruxo,
Siriri cantando,
Iremos comer queijo,
E tapioca no café.
Terá um louro e sherlock.
Todos estarão em casa,
Mamãe berrando,
E todo mundo feliz.
Amem
Após dia de chuva,
Domingo passou
Molhado e úmido
Montei e colei um souvinir,
O dia foi muito longo e agora se vai.
Oitenta anos vividos.
Meu pai viveu por este tempo,
Viveu uma boa vida.
Oitenta anos são cerca de 29.600 dias.
E um câncer o consumiu em 120 dias.
Na equação da vida nada mal,
Mas na equação do coração
Nossa que saudade!
Faz quase quatro meses que se foi e a vida
Perdeu um pouco do brilho.
Mas a vida continua.
O mundo está aí.
Pandemia, isolamento e muita morte.
Melhor voltar no tempo,
No tempo do pensamento.
A realidade está dada, objetiva.
Foram anos bons nossos anos vividos juntos.
Tantos sorrisos,
Um calar, um falar...
O que dizer de uma realidade que sofre metamorfose o tempo inteiro
Que somos parte desta metamorfose,
Nada...
Melhor pensar na caatinga,
Nas estações,
Nas transformações.
E encerrar dizendo que papai
Vive em nós.
Só de lembrar como era rico em fruteiras o nosso sítio dá até uma tristeza.
Eram cajueiros, pinheiras e goiabeiras por todos os lados.
Do nada lendo Clarice Lispector me veio a memória uma pinheira que ficava à sobra de um grande cajueiro perto do barreiro feito para a confecção dos tijolos de nossa casa.
Aquele cajueiro que se juntava com dois outros formando uma agradável copa.
Tinha aquela pinheira e goiabeiras.
Tinha um capim tênue sob eles.
Aquela pinheira de pinhas suculentamente alvas. Quando tava na época era normal ir lá e encontrar pinhas madurinhas.
Então ficava atento as patativas e os sanhaçus.
Quantas vezes não enchi a barriga grande de menino.
Mais pra frente tinha a goiabeira que sempre ia com mamãe e subia pra tirar goiabas e me sentia grande.
Tudo se acabou.
Nossa terra tá aí.
Mas essas secas e falta de água foi matando tudo. Antes a gente mesmo replantava comia aqui e defecava ali. Tava feito a dispersão.
Agora temos muitos catolés.
As nossas lindas palmeiras.
Temos também pinheiras tudo em volta de casa.
Tomara o mato não cubra tudo.
Minhas areias amadas.
Gente a nossa vida muito está ligada a infância.
Não tenho mágoa dos trabalhos manhã cedo.
Era nossa forma de subexistência.
É a nossa história.
Foi nossa fonte de alimento de dinheiro para o básico.
A gente era feliz, pois desconhecia a necessidade.
Hoje a história é outra,
Mas aí que saudades daquela pinheira,
Que saudade.
Ali certa vez achei um ninho de nambu.
Fiquei tão feliz, pois aqueles ovos pareciam pérolas.
Alí fui tantas vezes.
Pensei na vida.
É sério.
O doce macio alvo de uma pinha
Enchendo o bucho,
Trazendo contentamento.
Depois sair em busca de goiaba.
A gente explorava o sítio,
A geladeira nem existia.
Lembro que Chico Neco foi quem inventou
A papai comprar uma geladeira.
Era uma clímax azul.
A gente pra ter as coisas vendia um bicho.
O dinheiro era curto.
Pobre de Begue foi embora tão novo.
Fui mais velho e chorei que só.
Não imaginava que seria assim.
A terra tá lá.
A pinheira só na lembrança.
A noite caiu chuvosa.
Escureceu e nem percebi.
Só percebi o riso de Vinícius,
O cheirinho bom de bebezinho.
Só cuidei dele.
Assim se passam os dias.
Com cuidado.
Olho pela janela o céu nublado. Faz calor.
Minha mente gira feito uma roleta russa.
São muitos os pensamentos e a concentração é mínima.
A roleta gira, gira e gira e não para.
Quando para o tempo exauriu.
Tudo está um caos em desordem.
O mal estar piora.
Calor,
Sono...
Por onde começar.
É muito mais fácil colocar o mundo externo em ordem.
Retratos,
Imagens,
Paisagens...
A brisa refrescou.
Para roleta.
A madrugada é silenciosa e fria,
Só se acorda numa urgência.
Vinícius acorda faminto,
Não fala, mas gira e faz um gemido.
Eu acordo e pego ele e acordo a mãe
Deu ele para ela amamentar.
Penso em papai.
Um cachorro late afobado não muito longe.
Chove suavemente.
Lembro da chuva em minha casa.
Os pingos na bica.
Quanto tempo já não faz que não contemplo este fenômeno.
Sinto repentinamente saudades de casa.
Esta prisão do vírus.
Chove lá fora.
Vou trocar Vinícius
Que a manhã está chegando.
Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...