sábado, 28 de março de 2020

40. Manuel de Barros

O grande poeta pantaneiro Manuel de Barros
Que Deus o tenha. Gerou em mim grande afeição. Entre os anos 2008 e 2013, pude acompanhar sua ascenção na mídia.
Ouvi na rádio Band News um poema "gratuidade das aves e dos rios*", lido pelo ator Juca de Oliveira. Então fui tomado por uma profunda paixão pela alma do escritor.
Aquele ser tímido que usava as palavras para produzir encantamento.
Faz falta, faz falta e muita.
Deixou sua obra.
Lembro que dizia: _ "se quiser me conhecer leia minha obra".
Inspirador.



*Gratuidade das aves e dos rios

Sempre que a gratuidade pousa em minhas palavras,
elas são abençoadas por pássaros e por lírios.
Os pássaros conduzem o homem para o azul,
para as águas,para as árvores e para o amor.
Ser escolhido por um pássaro para ser a árvore dele:
eis o orgulho de uma árvore.
Ser ferido de silêncio pelo voo dos pássaros:
eis o esplendor do silêncio.
Ser escolhido pelas garças para ser o rio delas:
eis a vaidade dos rios.
Por outro lado, o orgulho dos brejos
é o de serem escolhidos por lírios
que lhes entregarão a inocência.
(Sei entrementes que a ciência faz cópia de ovelhas
Que a ciência produz seres em vidros
Louvo a ciência por seus benefícios à humanidade
Mas não concordo que a ciência
não se aplique em reproduzir encantamentos).
Por quê não medir, por exemplo,
a extensão do exílio das cigarras?
Por quê não medir a relação de amor
que os pássaros têm com as brisas da manhã?
Por quê não medir a amorosa penetração
das chuvas no centro da terra?
Eu queria aprofundar o que não sei,
como fazem os cientistas,
mas só na área de encantamentos.
Queria que um ferrolho fechasse o meu silêncio,
para eu sentir melhor as coisas increadas.
Queria poder ouvir as conchas
quando elas se desprendem da existência.
Queria descobrir por quê os pássaros escolhem
a amplidão para viver enquanto os homens
escolhem ficar encerrados em suas paredes?
Sou leso em tratagem com máquina;
mas inventei, para meu gasto,
um Aferidor de Encantamentos.
Queria medir os encantos
que existem nas coisas sem importância.
Eu descobri que o sol, o mar, as árvores e os arrebóis
são mais enriquecidos pelos pássaros do que pelos homens.
Eu descobri, com o meu Aferidor de Encantamentos,
que as violetas e as rosas e as acácias são mais filiadas
dos pássaros do que os cientistas.
Porque eu entendo, desde a minha pobre percepção,
que o vencedor, no fim das contas, é aquele que atinge
o inútil dos pássaros e dos lírios do campo.
Ah, que estas palavras gratuitas
possam agora servir de abrigo para todos os pássaros do mundo!

39. Matéria

Sábado,
Até parece que os pássaros sabem que é sábado.
Silêncio!
Tudo que reina e existe.
É apavorante,
Bom, mas estranho.
Nessas horas que fazemos com os pensamentos?
Este silêncio é do mundo ou dos nossos pensamentos.
Temos medo do silêncio,
Pois é matéria para começar a pensar.
Até nos agoniamos quando queremos pensar algo interessante.
Algo lógico e linear.
Que!
Melhor ouvir o silêncio.
Melhor abrir um livro e ler.

sexta-feira, 27 de março de 2020

38. Estalo

O caos,
O que é e o que provoca na gente.
Desordem,
Desconexões
E a arte,
A arte pode colaborar para um cosmo.
Ordem,
Conexões,
Um limiar,
Um limite,
Caos e cosmos,
Consciência!
Sei lá, pensar nisso. Cansa.
Melhor pensar e olhar coisas de passarinho.
Assim vivo melhor.

37. Breve

Mais uma madrugada com o céu azul-marinho,
Estrelas rutilando, alinhadas e geometricamente,
Linda ilusão,
A luz amarela dos postes,
A aurora,
Agora,
Este momento,
Após ir e vir na rua,
Ouvir os sons,
Ver as formas serem reveladas pela luz.
Singela a vida não.

quinta-feira, 26 de março de 2020

36. Partida do dia

Por ironia do destino uma saíra pousou no fio
Em frente a minha janela.
Tão bela,
Fiz quatro fotos.
Agora que é fim de tarde,
A luz doura tudo que toca,
Os sanhaçu-de-coqueiro
E bem-ti-vi vocalizam,
Um cachorro late longe,
O cheiro de abacaxi que vem da cozinha
Torna tudo agradável,
A tarde caindo,
A tarde se indo.

35. Por acaso

A rua vazia,
A luz dourada,
O silêncio oculto no canto das aves,
Sob o jambolão se ouve o poque de uma baga,
Baga oblonga, macia, lisa e escura
Que caiu e se achatou no chão,
Perdeu sua forma genuína, macia e lisa,
E ganhou uma nova forma,
Sua cor atropurpúrea revela o violeta acridoce.
Esse movimento rápido
Que se passou num atino instante.
Por acaso, passava ali,
Por acaso,
Então, caminhei e continuei ouvindo o sanhaçu-de-coqueiro,

quarta-feira, 25 de março de 2020

34. Saíra

Sairá pássaro belo,
Pequeno e ágil,
Que agitado e belo seu canto.
Bico preto, corpo marron ou amarelo,
Tangara cayana é seu nome,
Canta o dia inteiro,
Manhã e tarde,
Vive sempre em bando,
Linda nectarifera,
Sempre adora floradas de jambeiros.
Certa vez, a vi explorando nectário
De leucena.
E vejo e tento fotografar,
Mas é tão arisca.
Assim, um dia nos encontraremos.

33. Isolamento

Isolado,
Preso,
Vendo o mundo atrás das janelas.
O desconforto da ausência de liberdade.
O celular, a tv e os livros são um bom passa tempo.
Vamos vivendo assim,
Um dia após o outro.

32. Aves felizes

A madrugada estava chuvosa,
Na rua ainda escuro, caiu o maior toró.
Enquanto chovia a água escorria,
E paulatinamente amanhecia,
Quando a chuva parou,
As tanajuras do alto de uma azeitona
Saiam para voar,
Então chegou um grupo de pássaros,
Sanhaçus e saíras fizeram a festa,
Saltando, vando, cantando, comendo,
Peneiravam-se todas de alegria.

terça-feira, 24 de março de 2020

31. Entro às escuras

Durante a caminhada, no final das três ruas, vi uma grana ave branca voando.
Tinha asas retas.
Quando me aproximei vi que era uma grande coruja de igreja.
Não deu para contemplar, pois voou para longe logo.
Que maravilhoso encontro.

Bati-bravo Ouratea

 Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...

Gogh

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