Faz bem

Pensar que todas minhas memórias podem ser deletadas do universo em um momento.
Nada de infância, adolescência, fase adulta ou sequer dum presente recente como ontem.
Pensar o que são essas memórias?
Saber que estão presentes num órgão que se assemelha a uma noz protegido com uma estrutura dura
e seu interior cheio de giros e curvas formando uma massa cinzenta, formado por células dendriformes chamadas de neurônios.
Isto não assusta?
Saber que fazemos coisas enquanto dormimos que não lembramos?
É a vida é o que há de mais frágil no universo.
Nem paramos para pensar ou contemplar este fenômeno que é ser nosso ser.
Para tudo a consciência é tremendamente potente, mas quanto a vida. Não é.
Se temos nossos dias contados, então por que não passamos a utilizarmos melhor nosso tempo com as pessoas que amamos e fazendo o que gostamos. Caso não saibamos, tudo bem ainda é tempo para descobrir.
Depois dos 40, acho que descobri o que me faz bem.
Acho que a botânica, ensinar, aprender, ouvir Mozart, ver Gogh, ler filosofia ou literatura, ir ao cinema, contemplar jardins, rochas, formações estruturais, lembrar de vovó, está em casa...
Viver é entre todas as coisas a mais sublime que há.
Pensar essas coisas faz bem.

Animalidade

Sob o sol ao pino o gado ruminando sob o pé do juazeiro,

A brisa quente pouco incomoda o momento de descanso bovino.

A luz intensa do sol, o silêncio da natureza,

Os pensamentos o que são?

Seta do tempo

O sol a pino,
O cinza do tempo no verão.
A certeza da impermanência,
A incerteza do amanhã,
As coisas não mexidas,
Os pensamentos deletados,
O fim do ser,
Esperança?
Quem sabe onde?
A seta do tempo transpondo e ultrapassando nosso ser.

E o tempo

Entre um dia e outro,
Entre está sã e está doente,
Ai governa a existência,
Um dia seguindo o outro,
Sequencialmente, cotidianamente,
Vamos consumindo nossa vida,
Vamos trilhando nosso caminho,
Vamos seguindo em frente,
Sem dar por si,
E num certo dia a gente percebe
Que a vida passou!
Percebemos que temos que partir,
Só de pensar já enchemos o peito de saudades,
Cada dia é impar, embora nos acostumemos e passamos  crer que não.
Mas ai,
Amanhã!

Ontologos

Este corpo que agora pensa e escreve, logo mais nada será.
Este corpo cheio de marcas e memórias, logo mais será.
Esta alma cheia de sonhos e poesia,
Com o tempo tornou-se diáfana.
Viver foi quem mais desgastou,
Só na arte pude proteger os sonhos,
Ontem fui menino,
Hoje sou adulto,
Todavia, amanhã!
Amanhã é uma incógnita.

Razão

A vida é uma tragédia iminente.
Pacientemente vamos vivendo os dias por Deus dado,
Vivendo o presente e esquecendo o passado,
E nesses dias que vivemos, nessa iminência
Descobrimos tantas maravilhas que compensam a consciência,
Descobrimos a beleza da música e da arte,
Descobrimos a literatura,
Descobrimos os paladares,
Descobrimos que existir é ser,
E ser é um eterno devir.
Até o dia que Deus conceber.

Luz

A luz de cada dia que doura e embeleza as formas existentes durante o primeiro e secundo crepúsculo,

Que promove fotossíntese, aquece os bichos, as rochas e as águas dos mares promovendo a evaporação.

É essa luz que me permite ver e me permite contemplar o horizonte,

Separar e unir as formas,

Perceber a beleza das coisas, das flores, dos animais, da arquitetura,

Luz,

Luz que preenche minha memória,

Minha alma,

Meu espírito,

Que me ensina a amar.

Até o fim.

Nossa casa

Quando a gente vive muito tempo em um lugar, somos preenchido por este espaço. Primeiro, temos a sorte de vivermos muito e segundo, passamos a conhecer cada parte deste ambiente. Só é preciso fecharmos os olhos para vemos os átrios. Podemos ver com detalhes a sala, os quartos, a cozinha e os banheiros, assim como os objetos que preenchem e dão sentido aos mesmos. Quando essa casa é nossa, temos a certeza que toda a organização é parte de nós, pois fomos nós que escolhemos cada peça e escolhemos os lugares que deveriam ocupar. Nossa casa é nosso espaço de existência. É a gente aprende a viver nestes limites que são as quatro paredes. Neles nos alimentamos, dormimos, vemos televisão, ouvimos rádio, usamos a internet, cultivamos plantas. É o nosso espaço. Temos o melhor dos espaços quando nascemos e em seguida crescemos e um dia temos que deixar nossa casa paterna para darmos sequência a vida.

Talvez

Sentir este mundo

Através da luz, dos sons, de toques de sabores,

Em parte nos ajuda a entendê-lo em unidades,

Mas a totalidade que poderá contemplá-la?

A vida inteira passamos e não entendemos,

Nos acostumamos e muitas vezes paramos de buscar entender,

Talvez por isso o mundo fica sem graça para muitos,

Talvez.

Reverso

Entender o mundo meu maior desejo,
Desde que acordo até quando vou dormir,
Contemplo as coisas que vejo como o céu,
O verde das matas, as flores das heliófitas,
Parece que quando isso me faz viver bem
E consumir a vida com alegria.
Entretanto, meus sentimentos,
Meus pensamentos, minhas razões,
São fontes eternas de angustia.
Um ponto final é visceral,
É a maldita consciência que me deixa triste,
Embora poderia pensar o reverso,
E se sentir bem.