quarta-feira, 18 de maio de 2011

A casa de meus avós



Meus avós, pais de minha mãe, tinham duas casas uma na serra e outra no sertão. É da velha casinha do sertão que tenho as minhas primeiras lembranças deles, pois era nela que moravam até então. Aquela casa era pequena, velha, baixa e escura, com por ter poucas janelas. Era uma casa sem conforto, feita sem capricho; construída para abrigar trabalhadores durante o inverno, guardar a safra da chuva e do sol. Mamãe contou-me que meus avós foram morar lá depois que todos seus filhos deles se casaram.  Como meu avó já estava ficando cansado e não podia mais trabalhar tanto como fazia quando era jovem, resolveram que seria melhor morar naquele lugar que se chamava Vertente, pois tinha ali terras mais planas e mais próxima de casa para cultivar. Exigindo menor esforço no trabalho. Assim foram morar nas naquela propriedade, naquela casa.
Eles viviam do trabalho, criavam gado, porcos, galinhas e perus. Meu avó cuidava da lida da roça, cultivava feijão, arroz, milho e algodão. Enquanto minha avó cuidava dos afazeres caseiros. O passa tempo  naquele lugar era trabalhar. Ali, trabalhava-se de inverno a verão. No inverno cultivava-se feijão, arroz e milho, melancia e melão, e no verão se cultivava algodão e preparava as terras para plantar no inverno. Já o trato com o gado se estendia por todo o ano.
Naquele tempo as Vertentes era muito povoada. Até tinha uma escola funcionando. Tinham várias famílias que conviviam em paz.
Meu avó era uma pessoa muito, como diz lá no sertão, gaiata, brinachona, feliz. Gritava naquele sertão velho.
-Olha a erva rasteira.
E dava uma bela gaitada.
Já minha avó era séria e recatada. Não tenho muitas recordações de quando eles moravam lá.
Minha irmã do meio, mais velha que eu um ano, morava com eles. Meu avó a chamava carinhosamente de Lera.
Todavia o tempo foi passando e chegou o dia que meu avó não podia mais trabalhar. Então tomaram o caminho de volta para a serra, onde ficariam mais perto dos filhos, e da cidade no caso de doença.
Então, eles partiram de lá, na mesma época que as pessoas começavam a ir embora dali,  em busca de melhores condições de vida.
Aquela vida pacata já não bastava para as pessoas que ali viviam.
A velha casa do sertão logo foi ocupada por um tio que viveu nela por muito tempo, ele recebeu de herança aquela velha casa com uma pequena quadra de terra, mas ele trocou aquela propriedade pela propriedade de  meu irmão que fica na serra. Então mais uma vez a casa foi abandonada. Hoje a velha casa das Vertentes está abandonada.
Na última vez que fui a casa de meus pais resolvi ir visitar e rever a velha casa.
Fiquei muito triste de ver aquela casa que tanto pulsou, foi tão cheia de fartura, de gente e agora se encontra vazia com as portas fechadas e por vezes com algumas partes ruindo. Foi de cortar coração. Como deixar a velha casa desmoronar?
O que se pode fazer. Conservá-la de pé seria muito bom, mas falta capital. Então como corpo decadente a casa morre a cada dia. Chegará o dia que não mais existirá.
A casa também envelhecera e agora aos poucos como toda matéria desfaz-se as estruturas.
Minhas memórias daquela casa são muito vagas, eis que todos aqueles que tinham diversas memórias de lá, dormem eternamente.






Pessoas se encantam

As pessoas ficam velhas e se encantam.

Outro dia, quando visitava uma área de cultivo de plantas aromáticas no núcleo da Unicamp, durante a tarde, enquanto caminhava através das hortas. Chamou-me a atenção uma grande casa rosa com um grande pé de jatobá em sua frente. Então parei para observar, pois gosto de ver o estilo como eram construídas as casas antigas. Eis que vi ali, bem na frente da casa, sentado um senhor idoso. Quem seria? O que fazia? Não sei, mas aquela cena. Um senhor sentado com a cabeça baixa ou seria sinal de cansaço ou de pesar na alma. Nem imaginei sobre isso. Só imaginei quantos anos haveria de ter? Que teria feito durante a juventude? A tarde estava quente, mesmo assim estava sentado diante do sol. Eis que o seu tempo estava gasto. Só lhes restava descansar, seu corpo consumido pelo tempo, aguardava o descanso. Esperando se encantar

Oculto

A manhã vem vindo. O sol logo despontará no nascente, mas ainda está escuro. O que me aguarda este dia?
Nada me conta. A manhã chega silenciosa e fria. Estou preparado para viajar, mas o desenrolar do dia é quem vai dizer o que vai acontecer comigo. A cada instante que se desvenda o mistério da vida é algo totalmente desconhecido. Se tudo sair como penso vou viajar, ver o mundo claro, mas eis que a tudo e a todos é oculto o que vai acontecer.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Viva e deixe eu viver

"Viva e deixe eu viver" foi uma frase que sempre vi escrita na parede da casa de João de Licor, um vizinho nosso lá de serrinha. Essa era a frase emblemática daquele senhor. Sua mulher era evangélica e ele se dizia também ser evangélica, participava dos cultos que havia em sua casa. É realmente uma frase muito forte. Ele era uma pessoa muito prestativa. Só tinha um problema. Não tinha piedade de gatos, quantas vezes não matou gatinhos novos. Nesse ponto de vista cria como Descartes que os animais eram autômatos. Mas como assim, "Viva e deixe eu viver". Quanta demagogia, por acaso os gatos não mereciam viver? 

Aprender a conversar

Vivi toda minha infância numa casa simples no sítio, que ficava numa comunidade muito pequena, pertencente a uma cidade também pequena. Nos primeiros anos de minha vida, não tínhamos eletricidade em nossa comunidade. Então as noites eram escuras, clareadas por luz de lamparina, lâmpada a gás e pela lua quando estava cheia. Não tínhamos televisão, mas tínhamos um rádio alimentado por carregos, onde tínhamos notícias do mundo, das cidades vizinhas. Acho que ninguém ouvia o programa a voz do Brasil ali. Vivíamos quase em total isolamento. O fato é que para passar o tempo, tínhamos que fazer alguma coisa. Senão a vida ali não passaria. Então, saíamos para o mato pra caçar pássaros, maribundo e preá. Não tinha muita coisa pra fazer. Realmente era um tédio. Eu era um garoto tímido. Lá em casa, só podíamos ouvir a conversa, não tinha nada que se intrometer em conversa de gente grande. E eu cresci neste ritmo, só ouvindo as conversas. Sem nunca reportar uma conversa. Mamãe era assim, se chegasse com conversa das casas dos outros apanhava. Já imaginou, não poder reportar, conversar nada. Então cresci só ouvindo as pessoas conversar. Acho isso muito engraçado porque imagina quando vou para casa, eu converso bastante com meu pai, mas se tem alguém de fora, meu pai e eu, fico calado, não sei o que falar. Veja só que engraçado. O mesmo acontece comigo quando estou com meu irmão mais velho. Eu descobri que não aprendi a conversar, a expor o que penso e isso me fez uma pessoa calada. Quando fui para Natal não sabia conversar, mas não tinha ninguém pra conversar por mim, aprendi a falar o que viesse a mente. Que louco, eu aprendi a falar muita besteira, a não levar as coisas a sério. O que foi muito ruim para mim, pois com o tempo percebi minha dificuldade para me comunicar. Eu tive que me inventar, não foi fácil me relacionar com as pessoas. Só o tempo foi me ensinando. Bem uma vez um um vizinho e amigo nosso falou que quem fala menos erra menos, acho que ele tem razão, mas é tão difícil ficar calado quando se acha que tem algo para fazer, mas na verdade não se tem nada para falar. E foi como um cego que quer conhecer o mundo, que sai tateando, ouvindo e sentindo o mundo para conseguir  compreender o mundo. Assim estou fazendo com a linguagem. Primeiro já sei ouvir e agora estou aprendendo como conduzir uma conversa. Percebo que é preciso muita calma, paciência e reflexão para conduzir uma boa conversa.

Lua, luna, lune, moon, Mond...

Que generosa a lua em maio,
quanta beleza a cada noite.
Hoje, nasceu tão cheia,
estava tão prateada.
Fazia tanto frio,
mesmo assim a lua nasceu,
Nua.
Vinha na rua,
parei para ver ela, a lua,
parei para contempla-la.
É porque a lua. A lua meus queridos,
é uma chave inestimável.
E mais para mim que nasceu no campo.
É uma chave inestimável
que abre as portas de minha memória.
Sabe, não sei por que, mas quando era pequeno
eu acreditava que a lua nos seguia,
achava que ela era tão companheira como um cão,
pois para onde agente ia, ela nos seguia.
iluminando nossos passos do escuro da noite.
É lembro que a luz da lua brincávamos de cai no poço,
uma brincadeira de adolescente do interior, bem interiorano.
Brincadeira que permitia dar uma volta no terreiro e um beijo.
A lua era muito romântica e indiscreta, pois sempre vigiava para
ver se não fazíamos nada além de um beijo e uma volta.
Sob a luz da lua brincávamos de tantas coisas.
A cresci sempre junto da lua,
ela me é tão familiar quanto qualquer coisa.
Afinal é a lua plena.
Moon, luna, lua, lune, Mond...
Simplesmente lua maravilhosa, mãe, protetora da noite.

Riacho

A água do riacho corre para baixo
faz curvas, cai nos poços e segue
sempre em direção ao lugar mais baixo,
as vezes o riacho se cansa e as águas
nem chegam a chegar,
simplesmente evaporam,
mas a intenção é correr
sempre para baixo der
onde for dar, segue o riacho,
água abaixo.

Quarto

No quarto escuro dos fundos da casa havia uma janela. Que não dava para ver nada, pois bem a frente desta havia um muro. Na janela havia uma grade para evitar a entrada de ladrões. Daquela janela que dava para ver o mar, o sol nascer, pescadores passarem com os sextos de carregar peixe dias cheios, dias vazios. Já não pode mais ver o mar. Bem naquele quarto havia uma senhora que morava ali desde a infância. A janela era elegante feita de madeira de lei e vidros trazidos da França. E todas as manhãs assim que o sol nascia no mar a senhora abria a janela e então a brisa do mar ocupava aquele átrio. O cheiro do mar trazido pela brisa da manhã fazia aquele lugar pulsar e expulsar o bafo do átrio de toda a noite. Então a senhora sentava numa cadeira de balanço com uma xícara de cheiroso café e ficava mirando as ondas chegarem do alto mar. Mas certo dia a senhora não acordou, a janela não abriu, não se sabe o que aconteceu. Só sabe-se que no fim daquele dia, uma caixa grande saiu daquela casa e seguida de muitas pessoas. Desde então o quarto nunca mais foi aberto as manhãs. Construiu-se um grande muro e pôs-se uma grade na janela. O quarto então permaneceu escuro, durante as manhãs o sol enviava sua luz iluminar aquele lugar, o vento não mais ali entrou, nem o mar pode mais mirar o a senhora que ali morava. 

Castelhano

Subi as escadas, a luz atravessava a janela intensamente, então contornei e caminhei em direção ao laboratório de anatomia, repentinamente uma linda menina vinha saindo do laboratório de citotaxonomia. Era uma ninha, filha de dois professores da universidade de Cordoba. Não me segurei, não podia deixar de fazer uma piada. Então mirei a menininha, e os pais e soltei uma frase.
 - Essa menina é muito inteligente.
 E continuei. - Deste tamanho e já sabe falar espanhol.
Felipe meu amigo que estava com eles, complementou.
- E desde pequena.
Então todos riram muito.
Creio que a menina não entendeu nada, pois seguiu com um olhar de anjo indiferente a toda situação.
Talvez tenha pensado que fosse um palhaço ou não pensou nada, pois talvez nunca tenha vivido tal situação.
Então eu sai rindo por dentro. Os pais dela e todos que os seguiam riram também.
Voltei ao trabalho, após um bom tereré e uma piada.
Fui ao trabalho rindo por dentro.
Que doce momento.

Maio

Não sei por que, mas sempre ouvi as pessoas falarem que maio é o mês das mães. Talvez, porque tenha um dia que se comemora o dia das mães, mas seria esse o motivo? Bem, pelo que sei, lá de onde eu vim. Maio é o mês das floradas. E na minha cidade natal, durante todo o mês celebra-se novenas, onde as pessoas se reúnem na igreja, para celebrar a bomdade e a existência de Maria, mãe de Jesus. É uma coisa linda. Na celebração lê-se o evangelho, faz-se oferendas a Maria, a igreja é enfeitada, cantam uma canção chamada ladainha.  É muito bom pois todas as pessoas se reúnem e no final solta-se fogos para a Santa. Bem, conheci, quando aqui em São Paulo cheguei, umas flores chamadas flores de maio, nome que faz jus, pois essas plantas ficam floridas apenas neste mês. Suas flores são lindas com tons variando de branco, rosa e vermelhas. Geralmente é um mês frio em que nos sentimos só e é na figura da mais que achamos aconchego. Nos aproximamos mais de nossas mães.

Bati-bravo Ouratea

 Aqui na universidade UFPB, campus I, Bem do lado do Departamento de sistemática e ecologia tem uma linda árvore com ca de sete metros. Esta...

Gogh

Gogh