No sertão bem antes da televisão,
os homens conversavam,
se comunicavam, resolviam
seus problemas sem ambição,
os negócios era coisa simples,
vender um porco, galinhas,
bodes, e legumes e um peixinho
pra complementar a alimentação,
quando muito no fim do ano,
comprava um metro de pano,
pra uma roupa nova vestir,
usava havaiana, ou chinela
de peneu, tinha os pés rachados,
a pele tingida, mostrava
as dificuldades da vida,
na lenha fazia algum recurso,
bem como plantando algodão.
A mulher sertaneja
tinha uma destreza
de saber dividir a comida,
varrer os terreiros,
lavar a louça, pra isso
tinha que ter habilidade,
não tinha muita vaidade,
cuidava da casa,
e da divisão,
sabia bordar,
passar, lavar e cozinhar,
mas quando veio a televisão,
as coisas mudaram,
e como aprendeu aquele povo
a ver novela,
ver as coisas mais belas,
mulher e homem artista,
um povo egoísta,
cheio de malícia,
mostrava que a vida
boa estava na cidade,
e o povo humilde povo
que só sabia falar
daquele lugar, que sabia rezar,
na ilusão, passada pela televisão,
foi embora em busca de melhor vida,
e só encontrou
devacidão,
fora do seu mundo,
seu conhecimento perdeu
sua função,
no sertão sabia os remédios para
qualquer mal,
sabia tirar do mato
o sustento, mas na cidade,
o que era então,
um povo mal trapilho,
de ego ferido,
por todos ofendido,
até que chegou
a luz no sertão,
água e o povo
que já envelheceu,
aquele povo que ali
nasceu já não pode mais voltar,
e o povo novo
voltar nem pensar,
o sertão
tá virando um desertão,
e cada vez mais calado,
como o homem que
tem vergonha se expressar,
que vivia a cantar,
as cantigas do sertão
em sua animação,
maldita televisão,
maldita ilusão,
um dia volto pro meu
sertão
ah volto
aquilo lá ainda vai virar mar.