Por acaso, hoje, brincando com Vinícius ele com a sanfona e eu com o vialejo ou gaita.
Recordei de uma passagem de minha vida, quando ainda morava em Serrinha, era adolescente.
Na casa de tia Nina ou vovó, João de Lorival, meu primo havia presenteado um parente com um vialejo.
E contente o rapaz tocava alegrando o lugar. Senti dor daquele moço por não enxergar.
Nunca parei para pensar o mundo sem perceber a luz, as cores as formas. Nem consigo fazer isto,
já que tenho mais de metade de minha consciência associada a imagens.
Entretanto tenho inúmeras memórias associadas aos outros sentidos.
Outro dia, estava pensando em pessoas que conheci com deficiências, mas que superaram.
Se acostumaram ou não tinha uma consciência para além.
Aquele moço que vivia sem conhecer a luz.
Sentia o mundo só pelo som, pelo tato, pelo cheiro e pelo gosto.
Sua mente deveras desenvolvera uma consciência, distinta de quem é provido de todos os sentidos.
Ele tocava o vialejo com alegria, animado com a gaitada de João e de suas palavras agradáveis.
As palavras nos tocam, quando as conhecemos, quando tem um sentido...
Nas palavras ouvidas havia agrado.
Na maior parte do tempo, na sua vida, aquele jovem só escutava o silêncio.
Talvez o som dos pássaros, do fogo, da panela cozinhando,
O cheiro do café,
Da comida.
Quem sabe...