terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cinzas do São João

As cinzas

As cinzas da fogueira de são joão,
abrigam calor e brasas,
cinzas das chamas que alegram a noite passada.
cinzas de uma fogueira feita as pressas,
de improviso, com madeira velha e madeira verde, pra não queimar e acabar com a festa cedo.
Coisas de papai.

Quando chegava junho que alegria sentia. Começava logo no dia 12 dia de Santo Antônio, não sabia que era dia dos namorados, só sabia das experiências do santo casamenteiro. Tantas superstições engraças e ingênuas. Papai não fazia fogueira, pois nos preparávamos para o São João. E contava a dedos os dias que se passavam, esperando o grande dia. O dia dos bolos de milho, dos traques, das bombas, da queima de bombril. Eis que chegara o grande dia. Acordava feliz, pulava da cama e fazia tudo que papai e mamãe mandade, pois tinha que ganhar traques no mínimo vinte estouros ganhava. Botava água, cortava palmatória pro gado. Moia o milho prós bolos, prás broas. Mamãe sempre fazia dois ou três bolos. Um nos comíamos a noite mesmo e o outro ficava pra manhã, lógico que o melhor né. Então papai quebrava milho verde e assava na fogueira. Era um ritual, ajudava papai a fazer a fogueira. Pra isso saiamos sítio a dentro em busca de madeira seca, dos galhos ou cajueiros secos, papai cortava madeira de cajarana, que não é uma madeira boa quando seca, verde pra não queimar tudo até o fim da noite. Então chamava os filhos do meu vizinho para ajudar a carregar a lenha. Os pais deles não fazia fogueira, não creiam em santos, eram evangélicos. Então trazíamos o balseiro de lenha pro terreiro e antes das cinco horas estava pronta a foqueira, grande e linda. Às seis iamos todos para o terreiro ver papai acender a fogueira. Logo aquele fogo tímido saido da lamparina tomava conta da lenha. Os crentes passavam pra igreja e davam boa noite. As vezes Heleno vinha com Maria e Fernando lá pra casa. Então soltava o primeiro traque pra animar a festa. Pow, Lidiana minha irmã mais nova tinha medo de traque coitada e começava a chorar, pra ela creio que era um pavor a festa, acho que pra ela só prestava quando acabavam os estouros. um, dois, três... pow, pow, pow... Respondia longe lá prás bandas de Antônio Matins. Ouviamos o som do forró longe. Vinha o milho assado, o café feito na fogueira e o bolo. Que alegria, que festa. Viva São João!!!!
Eram sempre felizes as festas juninas.
De manhã cedo mamãe já acordava pra varrer o terreiro e as cinzas eram posta na valeta da frente. Sempre ficava a marca de queimado no chão que só era apagada com as últimas chuvas do ano. E a assim foram minhas festas juninas felizes, divertidas e abençõadas.

O percevejo

Um percevejo pousado no bebedouro, será que queria tomar água? apenas suas antenas quebravam a estática. Parei, enchi a xícara de água. e só por isso o percebi. O vi alí estático. Movia as antenas, acho que queria expressar algo, será que pedia por um pouco de água? Linguagem de símbolos, nem me comunico através do alfato, talvez ignore o percevegês não entendi nada, então ele começou a se movimentar. Acho que perdeu a paciência. Aquele corpo pequeno, compacto, cinza. Tentou se comunicar, mas eu não entendi nada. O que queria dizer? Quem sabe, talvez se um dia aprendermos a compreender os insetos, possamos ter uma boa conversa. Porque agora só dar para ficar assim, parados a contemplando a vida efêmera.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cara formiga

Quantas coisas consigo pensar?
Quantas coisas consigo pesar?
Se sou apaixonado pelo que expressa.
Se me atrai a atenção até o simples caminhar de uma formiga.
Se percebo a natureza em movimento, além de mim.
Se me encanta o som das aves, o cheiro e as cores das flores.
Se me encanta a dúvida.
Sou atraído pelo enigma da vida.
Se o mundo pode ser interpretado pela matemática,
então equações deduzem o marchar de uma formiga.
O que move uma formiga a viver?
Vida efêmera.
Elegante a formiga sobre suas patas desfila pra lá e pra cá.
Não sabe o que buscar.
O que é importante na vida?
Como avaliar?
Formiga, lagartixa, pássaros, não estão nem ai pra isso.
Simplesmente ignoram a razão de viver, de querer e simplismente. Vivem.

Busca

Quantas vezes cremos que estamos buscando a coisa mais valiosa, e acreditamos de de corpo e alma que se alcançado tal objetivo a vida vai mudar. Então mergulhamos na busca deste sonho, lutamos, trabalhamos e assim vivemos acreditando ser supremo o que fazemos. Mas e se descobrimos algo tão maravilhoso, sublime que compreendemos. O que devemos fazer? A dúvida nos consome. Parece não ter muita coisa a fazer. Segue em frente sem olhar pra trás.

domingo, 7 de novembro de 2010

Incerto

Não seio o que busco na vida. Muitas vezes sou tragado pelas paixões que crio em minha mente, inventar e reinventar motivos pra dar sentido a minha vida, nem sempre consigo ou as vezes tenho um bom motivo que com o tempo vai perdendo o brilho e fica ofuscado. As vezes me falta convicção. É preciso ser forte ter os nervos de aço para seguir uma jornada que se escolheu. As vezes falta paciência, outras vezes falta saco, mas é preciso entender que a vida é constituída de pequenas coisas. Os pequenos atos vão nos tornando experientes. Sem pressa a vida vai passando e nem percebemos, é como está diariamente diante de uma árvore e não ver que esta cresceu, não percebemos porque o tempo que demora pra árvore crescer é um tempo lento. A árvore precisa de tempo pra elaborar um tronco forte pra suportar o próprio peso. Dia a dia ela cresce, faça chuva ou faça sol, do inverno ao verão, no frio e no calor ela continua crescendo. Assim acontece conosco. Embora nos olhemos no espelho todos os dais não percebemos as rugas, não percebemos o quanto mudamos. Sempre olhamos para o futuro, esquecemos o passado e ignoramos o presente. Ora se só existimos no presente, pois nem o passado, nem o futuro nos pertence mais. E persistimos na eterna dúvida da busca. Em alimentar nossas paixões. Entendia mais a vida antes do que hoje, pois era a natureza que ensinava, a paciência e a calma. Que fui perdendo ao longo do tempo na busca de alimentar o imediato. Tenho certeza que tudo passará.
Pelo menos uma coisas ficará. As saudades da vida.

Banho

O corpo cansado,
ainda soado,
pede por um banho.

No banheiro peça por peça,
se despétala.
Despido até a alma,
enfim no banheiro,
somos nós mesmo,
sozinhos cúmplice,
apenas o espelho.

Muitas vezes nos encara,
nos questiona.
Sentamos na privada e pensamos na vida,
um alívio instantâneo nos faz esquecer quem somos.

Sob o chuveiro cai a água,
molha nosso corpo,
nossa alma,
nosso ser se molha.

E quando acaba,
por instantes renovamos,
revivemos, relaxados ressurgimos.
Com apenas um abraço da alma.

Dúvidas da vida

Minha mente está um embróglio, nem sei mais pensar, nem como pensar, o mundo não permite mais pensar. Como pensar se pensam por nós. Quando ligamos o rádio, a televisão ou nos ligamos na internet. Somos bombardeados com propagandas de compre isso, adquira aquilo. Promessas de que nossa vida vai mudar. Realmente recebemos uma avalanche de informações todos os dias, milhões de coisas são produzidas e nós, seres consumidores que somos queremos usufruir de tudo o que é novo, que vai mudar as nossas vidas. Ah! essa roupa vai me deixar mais bonita, ah! Esse batom. Hum, imagina eu dirigindo aquele carro. Que livros maravilhosos. Nossa você leu a veja, a isto é, o estadão... Estamos ficando paranóicos, querendo saber sobre tudo e todos. Não é fácil realmente o tempo encolheu, como absorver tudo em 24 horas, sete dias? um ano passa rápido. Meu deus já é novembro e ainda tenho memórias fresquinhas da virada do ano. Já vem o fim de ano de novo? E o que eu fiz? O que construí de novo? Não sei mesmo, parece que nada. Tenho uma certeza que consumi a maior parte do tempo em frente ao computador, consumindo meu tempo, alimentando minhas loucuras. Minhas loucuras? Será se são realmente minhas? ou será que todo mundo está nessa paranóia? Se todo mundo estiver não são minhas. Estou apenas seguindo o fluxo, a corrente louca do nosso tempo. Vivendo essa tal pós-moderinidade. Isso mesmo fui no google fiz uma busca e a wikipédia já deu até um conceito pra essa palavra veja:
Pós-modernidade é a condição sócio-cultural e estética que prevalece no capitalismo contemporâneo após a queda do muro de Berlim e consequente crise das ideologias que dominara o século XX. Está ai realmente somos loucos. É isso nós seres humanos somos todos loucos acreditando na razão. Somos regidos pelo poder hegemônico que dita como tem que ser as coisas. Dia a dia vamos absorvendo essas idéias, vamos perdendo nossas convicções. Tornando-nos escravos das ideias. Acho que estamos perdendo o referencial de seres humanos ORGANICOS. Cada dia mais acreditamos que podemos mudar o nosso mundo particular, acreditando que poder de consumo nos torna poderosos. Que grande engano. Queremos sumir com a morte, acabar com os ciclos da vida. Nascemos, crescemos e não queremos mais envelhecer, não aceitamos a velhice. Não queremos aceitar a realidade, por isso tempos que fazer de tudo para driblar essas fases. Por isso não paramos para pensar, pois se o fizermos seremos atropelados. E estou aqui coberto de dúvidas, medos e incertezas. Certas vezes escrevo algum verso, ouço a natureza, contemplo um por do sol, porque de onde venho as pessoas ainda tem tempo pra fazer isso, aliás sobra tempo de sentar na praça e conversar ou simplesmente senta-se na calçada da frente pra ver alguma pessoa passar, ou ficar contemplando a tarde. Sinto saudades daquele tempo, onde tinha muitos sonhos. Sim eu tinha muitos sonhos com estes alimentava minha mente, tinha tempo de pensar. Depois que cheguei neste mundo pouco tempo me sobra, tenho que consumir informações, fazer a tese... e pensar. Ai da droga do tempo novamente exigindo mais de mim. Eu sou só um ser humano orgânico que necessita comer, digerir, e descartar o que sobra, preciso dormir e esquecer o que tenho pra fazer senão não vivo pra mim, mas para o pós-modernismo. Senão a vida passará e quando não puder fazer mais nada, irei me arrepender de não ter vivido. Quando morava naquela cidadezinha não sabia que estava cavando minha cova. Pensei que fugir do cabo da enxada, da labuta diária, seria mais feliz. Não sei o quanto sou feliz e acho que muita gente tem essa dúvida. Imagine as pessoas que nasceram e cresceram aqui nesta ilusão de progresso que não sabem contemplar a natureza e que só sabem trabalhar. Que vida dura. Meu irmão já foi absorvido e só pensa em adquirir patrimônio para curtir a velhice. Acho muito legal conversar sobre os planos dele de ter casas de aluguel, melhorar a casa, não entendeu que a vida é o presente momento. Não sei explicar pra ele o mundo que conheço, mundo do conhecimento, dos livros, dos valores, das ideias, mas o fato é que sou igualzinho a ele e só mudei de foco. Ele acumula propriedade e eu conhecimento. Somos dois matutos vindos de uma cidade pequena com o sonho de progresso que estão passando pela vida. Aos poucos estou aprendendo a valorizar a vida, os instantes, mas estou pagando muito caro, dedicando minha vida a isso que faço e que sou e quero ser. Tomara não venha a perder a razão de viver.

sábado, 6 de novembro de 2010

Manhã efêmera

O sol só deu as caras ao meio dia, durante toda a manhã neblinou. Foi uma chuvinha fina, nem assim o calou passou, parece que minha casa é uma estufa. Acordei e fiquei deitado curtindo a preguiça. Pensei num monte de coisas, nada interessante a unica coisa interessante no ambiente era o canto das aves. E a manhã foi assim sem graça, sem luz. Agora o sol apareceu, espalhou o brilho por todos os lugares, nas gotas presa as folhas, no verde intenso das briófitas agregadas ao tronco das árvores. Pela janela aberta entra uma brisa fresca, úmida e trás o odor da magnólia.
Tomei meu café, pouco falei, colhi minha roupa seca do varal. Calmamente passa o dia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

João de Licó

Uma das pessoas que mais nos servia era João de Licor, um senhor cheio de crença na bíblia, escrevia na parede da casa onde morava e da casa velha pertencente a sua sogra a sábia frase "Viva e deixe eu viver". Casado com Elita que recebeu o sobrenome de Elita de João de Licor. Ele veio do sertão lá para as bandas da morada nova. Depois que ficou viúvo casou com Elita. Nasceu e se criou no Jenipapeiro no município de Portalegre-RN. Ouvi muitas vezes ele falar deste lugar, ficava imaginando como seria. Tinha uma boa narrativa, costumava contar as histórias por meu pai que quase todas as semanas fazia uma boca de noite lá. Era assim desde que éramos criança. Sempre que ia pra lá a noite saia um café, um chá de folha de laranjeira ou um docinho, nunca faltava um agrado. Mais o melhor era ouvir as estórias que ele tinha pra contar. Fui crescendo sempre ouvindo ele falar dos sobrinhos que fizeram faculdade. Dois fizeram agronomia e um fez faculdade pra professor, biologia. Tinham feito a vida, ganhavam muito bem. Sempre que precisávamos de algo emprestado se ele tivesse nunca negava, ensinou todo aquele povo a ser solicito e era recíproco, só tinha um problema se emprestasse algo a ele tinha que ir buscar de volta senão ficava lá até precisar e se voce pegasse algo dele podia ficar o tempo que precisasse. Com ele não tinha frescura. Tinha uma voz arrastada, uma cabeça grande e os cabelos brancos desde que conheci-o. Andava sempre devagar. Acompanhava sempre o PMBD, foi assim até a morte. Nisso não concordava com papai que era do PDS. Eram como se fossem torcedores de times. Nem sabia porque era PMDBista, mas acompanhava o partido. Suponho que segui o partido que doutor Laci apontasse. Era muito amigo do Laci que foi um médico muito importante, diria que um dos primeiros que medicou ali na região. Desde que era pequeno ele via eu ler, estudar e dizia que eu ainda teria um bom futuro pela frente. Gostava quando nos domingos pela manha ele chegava lá em casa e ficava conversando até a hora de almoço. Nunca almoçava lá em casa ia era comer em casa. Sim, pois Elita cozinhava muito bem, gostava de comer carne de pato. Por isso ia pra casa. Quando vovó vinha passar uma temporada lá em casa, ele sempre vinha conversar com ela. Tinham quase a mesma idade. Aquele bom velho tinha uma língua afiada e quando se juntava com papai não sobrava ninguém em Serrinha do Canto que não passe na língua dos dois, três dependia do tamanho da turma. Quando fui morar em Natal não podia voltar em casa sem que ele fosse me visitar. Ficava muito feliz quando ia na casa dele, sempre saia uma broa com um copo de leite e uma boa conversa. Papai gostava muito dele, eu também pra mim era quase um avó. Faleceu velhinho com mais de 90 anos. Ele com certeza foi uma das pessoas que marcaram minha infância.

Vento da Noite

A noite

Quando caia a noite,
o céu peneirado,
todo estrelado,
o vento de açoite,

animava a noite,
elevando a poeira,
a luz ofuscar,

A ventania,
na noite vazia,
no vai lá
e vem cá,
canta a folha da carnaubeira,
a quenga de coco,
num tac-tac...
como um relógio,
ao tempo contar.

Nessa hora a noite chegada,
a rua parada,
não passa ninguém,
ninguém vai ou vem.

E o vento sorrateiro,
vento ligeiro,
a varrer a rodagem,
os terreiros.

E demora a passar,
mas parece um cargeiro,
a passar, passar, passar
e quando passa,
leva a noite,
só deixa a manhã limpa.

Só a fé

 É certo que morreremos, mas quando vários conhecidos e queridos seus partem num curto tempo. A gente fica acabrunhado! A luta do corpo com ...

Gogh

Gogh