A tardinha caia,
Andando no meio do mato,
Vinícius, eu sherlock e chaquira,
Andando vimos um pica-pau voando,
Como uma seta caindo e subindo.
Subindo e Caindo...
Era um bichão grande preto,
Linda seta,
Gritou cricrirooo.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
A tardinha caia,
Andando no meio do mato,
Vinícius, eu sherlock e chaquira,
Andando vimos um pica-pau voando,
Como uma seta caindo e subindo.
Subindo e Caindo...
Era um bichão grande preto,
Linda seta,
Gritou cricrirooo.
Pela janela do banheiro,
Vi um lindo passarinho,
Ele era azulzinho.
Seu movimento era tão ligeiro,
Era um lindo sanhaçu,
Então ouvi o outro chamar,
Algo como venha pra cá.
Vou e desapareceu de minha minha vista.
Paciência é a chave para tudo.
Difícil é encontrá-la,
Cativá-la.
Paciência e bom humor salva tudo.
Tudo que há.
Paciência.
Árida caatinga,
Seco sertão,
O solo exposto alvo,
Sedoso e amarelado capim,
Garranchos de árvores,
Verdes algarobas,
Quentes seixos,
Sol a pino,
Treme o peito do calango,
Na loca está o preá, a lagartixa,
No serrote está o urubu,
Ou planando no ar,
Por aqui só vejo aqueles de cabeça vermelha,
A brisa aqui arde de calor,
A natureza parece morta,
Mas dorme,
O pau-mocó já despertou,
Será se já despertei...
Caatinga...
A paz está aqui.
No meu querido sertão.
A tarde cai dourada,
O canto das aves nas árvores.
O som dos carros que passam.
Uma composição de Mozart.
Meus pensamentos se perdem
No tempo e no espaço...
Onde estou?
Em qualquer lugar do meu passado.
Cheio de saudades inspiro.
Dai lembro de Vinícius meu porto seguro.
Então tenho a certeza que não queria esta em lugar nenhum senão perto de meu filho.
Meu amor inteiro.
Cada riso que ele dá me preenche completamente.
Mais uma tarde,
Mais um dia,
E como tudo mudou com o meu lindo filho.
Meu amado Quinquinho.
Sábado à tarde,
Novembro de 2021,
A dez anos vivia em outro lugar e fazia outras coisas.
A 20 anos vivia em outro lugar e fazia outras coisas.
A 30 anos vivia em outro lugar e fazia outras coisas.
Até aqui foram muitos os lugares...
Se fatiar a vida em 10 anos.
Vivi em Serrinha dos Pintos.
Vivi em Natal.
Vivi em São Paulo, Campinas, Brasília.
Nos últimos dez anos muitas coisas aconteceram em minha vida.
Muitas conquistas e também perdas.
Assim que precisamos ver a vida.
Através da lente da realidade,
Tentando perceber o que há de melhor.
Seguindo o curso espiralado
Pulando de círculo em círculo.
Descobrindo a vida.
A existência.
O agora...
Que vem a ser e deixa de ser.
Daqui a 10 anos...
Que me importa...
O que importa é o agora.
Nem passado e nem futuro.
Vivendo bem o agora.
Deitado entre as flores alvas.
Flores azuis e rosas como jitiranas,
Perfumadas como flores de jurema.
Sobre a grama verde e macia ali papai está.
À sombra da tarde que parte que parte.
Olhando ora para o céu, hora para o horizonte.
Ali está papai.
Nos esperando, para um dia irmos caminhando até o pai.
Olhar fotografia é um exercício doloroso por ser cheio de sentimentos.
Acho que é uma janela para acessar memórias que dormem em nosso cérebro.
Determinados momentos nos dão acesso as nossas memórias.
A fotografia é esse livre acesso...
Hoje abri a janela e estava tão ensolarado.
Então a luminosidade intensa me deu acesso a uma boa memória.
Memória de papai.
Ele era sempre tão generoso comigo.
Nossa terra era pequena e criávamos algumas rezes.
De maneira que a gente vivia fazendo ou renovando as cercas e dividindo a propriedade em pequenas pastagens.
Lembrei de longe uma vez que fomos fazer uma cerca lá no final da terra, depois de um tanque.
Essas cercas eram também para proteger as pequenas roças.
A gente sempre fazia esses movimentos.
E eu o ajudava.
Ele sempre me poupava do trabalho forçado, mas não dispensava minha ajuda.
A gente estava fazendo a cerca.
Ele selecionava as estacas, marcava os lugares e eu o ajudava a cavar os buracos.
A gente usava muitas estacas de cajaraneiras e é tanto que ainda hoje tem pés de cajarana na nossa terra.
Papai era muito sabido.
Sabia fazer de tudo.
Hoje que ele se foi. Os momentos de sua presença são tão saudosos e gostosos.
Como nos faz falta.
Revendo as fotografias chorei... Temos a sorte de ter vídeos.
Que eternizaram sua presença entre nós.
Um caleidoscópio,
Cheio de cores e imagens,
Cada face um arranjo,
Quantos arranjos há num caleidoscópio?
Tantos quantos há na vida.
Infinitos?
E como encontrar o padrão mais harmônico?
Um caleidoscópio.
As vezes nossa mente é um caleidoscópio,
Belo e infinito,
Porém é preciso contemplar,
Pois pode parecer um caos.
A gente vive no mundo da lua.
Pensando em como podemos solucionar o mundo.
E nesse processo a gente esquece de viver o presente.
Esquece de realizar e ficar atento a coisas simples.
Essa descoberta não é minha.
Cotidianamente ouvimos proferirem esta máxima.
Mas como mudar nossa maneira de pensar, de viver e de agir?
Há alguns anos eu tive essa epifania de viver o momento.
Fiquei apavorado com minha capacidade de compreender o mundo.
Descobri que vivia no mundo da lua mais que as outras pessoas.
Meu medo era de perder tudo aquilo.
Acho que em 2016 voltei a flertar com essa ideia.
Mas passou.
Hegel me ajudou ver e entender essa máxima.
Agora acho que por enquanto tenho meu equilíbrio no aqui e agora.
A gente caminha e caminha em busca de algo, porém com o tempo, a gente descobre que aquilo que buscávamos está bem ao nosso lado. Aprender leva tempo. Hoje de manhã, estava com o meu filho. A gente foi para o quarto dispensa que é o mais frio pela manhã. A gente usa todos os cômodos da casa para brincar, todavia o quarto da bagunça é especial. Bem e o esforço de aprender do meu filho e de toda criança é absolutamente potente e parece ser infinito. Ele se deparou com o aspirador de pó. O aspirador de pó tem um plugue contrátil e ele descobriu. Então puxava, puxava... Eu apertava o botão e todo o fio se contraia se encaixando dentro do aspirador. Fiz inúmeras vezes e ele não se cansava deste exercício. Acho que ele pensava como pode uma coisa desaparecer? ser engolida? Foram quase 15 minutos que para uma criança é muito tempo. No final, tirei ele do campo de visão e liguei o aspirador mostrando as diferentes velocidades. Ele ficou em estase com o barulho. Dai pegamos um cabide e fomos voar de nave espacial apartamento a fora. Talvez o pequeno príncipe entenda o que eu contei. Eu andei tanto para tantos lugares e fui encontrar felicidade plena no meu apartamento. E olhe do nascer ao por do sol quando giramos o disco do candelabro indicando que o sol se foi e a lua chegou... Boa noite.
Temos um candelabro interessante.
Ele tem uma base de ferro e na moldura um disco.
Num dos lados tem uma lua e 13 estrelas.
No lado oposto tem o sol com uma coroa de 10 pontas.
Então uso este lindo objeto para mostrar ao meu menino a sequência do dia e noite.
Desde que Vinícius nasceu desacelerei
E as pequenas coisas parecem ser tão grandes e reveladoras.
O fato é que o movimente define tudo.
O tempo é uma criação nossa.
O tempo deve servir para nos orientar e não para nos escravizar.
Acho que cada um deve seguir o seu tempo.
Às vezes, um fato pode mudar o curso de nossas vidas.
Coisas que só são reveladas,
Mediante a reflexão,
Ou a decisão de mudar.
O tempo e as obrigações da vida ocultam muitas vezes a beleza da vida.
Quando tem e espaço entram em conflito...
Ficamos atordoados e esquecemos de perceber o mais simples
Aquilo que está ao nosso redor.
Às vezes, tentamos racionalizar o irracionalizável.
Então ficamos perdidos...
É bom fazer algo quando se está com vontade.
Às vezes precisamos fazer o necessário que não implica esta em nossa zona de conforto.
A tarde que caiu.
Em que da livre...
Os pássaros cantam,
Os pássaros cantam,
As paredes esfriam perdendo o calor do dia.
As coisas são tão diferentes.
Depois que Vinícius chegou em nossas vidas.
A ausência revelada dói.
A presença era a face que conhecia.
Esta nova face tem dolorido meu peito,
Tem corroído a minha alma.
A fé não fez milagre.
Tínhamos tanta esperança
Que ficasses bom papai.
Não me acostumei com a sua ausência.
Ainda lembro de ti todos os dias.
Dias até choro de saudade.
Hoje é aniversário de mamãe
Então quase sempre estávamos juntos
Até tirávamos fotografias.
Tempo.
É assim.
Em 2020 ouvi uma andorinha cantar no prédio da frente.
Até fiz uma foto e inclui num guia que fiz.
Um ano depois ouvi ela cantar.
Ela surgiu agora bem à tarde e cantou,
Tirou da monotonia de sons.
Saudades de ti andorinha.
Bela como um piguin
Vestida de garçon.
Às vezes na correria da vida,
Na busca de resolver os problemas
Esquecemos de atentar para as pequenas coisas.
Um pássaro cantando,
Um por do sol,
Um céu plenilúneo.
Às vezes nos envolvemos tanto com os problemas
Que esquecemos que a vida é ligeira
Que a vida é passageira.
Toda a energia e canalizada em solucionar o problema,
Independente de qualquer coisa.
Ai quando a gente percebe que passou,
Que não tem mais jeito,
Não podemos voltar atrás.
Por tanto,
Quando a coisa estiver difícil
Contemos até 10,
Respiremos funto.
Tudo vai ficar bem.
Everything Is Going To Be AlrightA gente amanhece junto com o dia.
Está tão fresco o tempo.
O vento sopra suavemente
Ecoando nas telhas um sussurro
Tão antigo.
As aves vocalizando
Sempre felizes.
Serrinha como te amo
Minha terra meu ser
Fez-se em ti.
Assim foi o dia de alegria.
Assim foi um dia de poesia.
Entramos e saímos.
Saímos e entramos.
Fomos ver métricas,
Fomos ver ruas...
Conhecemos.
Ontem lembrei da minha estada em Londres.
Fotografias, a língua, a botânica...
Coisas que me atraem.
A simetria das ruas,
As rádios, o rio Thames,
As lindas árvores,
Os coloridos jardins.
Bem conheci apenas a primavera.
Dá até vontade de voltar.
Mas estive em tantos lugares.
Melhor conhecer o que não conheci.
Aqui, ali, acolá.
Aqui e agora,
Ali e acolá depois.
Espaço e tempo.
Aqui e agora.
Ali, acolá.
Um falante,
Um ouvinte.
Um canal.
O entendimento.
Ando andando aéreo.
Fazendo coisas boas.
Pensando no bom, apesar das aflições da vida.
As coisas vão fluindo e seguindo.
Assim segue a vida.
Neste dia a 11 anos estava morando em Natal,
Na residência universitária.
Tanta coisa passou de lá para cá.
Assim são as coisas no tempo.
Precisamos de calma e paciência no agir.
Precisamos refletir,
Compreender o que fazemos.
As vezes a ordem demora a aparecer,
Mas ela aparece.
Há de aparecer ou não...
Hoje ministrei uma aula para professores de Biologia.
Que maravilha como eles participam.
Mesmo conhecendo o princípio da ordem,
Nem assim encontramos a ordem.
A vida é uma dádiva que precisa ser contemplada,
De forma que se veja a multiplicidade e a unidade
E avaliar e saber por onde andas teu princípio.
Há dias em que a saudade é mais intensa.
A vida segue.
A vida é movimento.
Não foi só tu que descestes na estação.
Parte de mim também desceu.
Tua boa presença faz falta.
Todos nós sentimos tua falta papai.
Estou tentando ainda digerir a morte.
Que momento, que tempo o levastes.
Sinto-me cansado, mas agora tenho que seguir em frente.
Descobrindo mais faces da vida.
Assim a gente vai vivendo cada dia.
Aprendi a valorizar mais meus dias.
Cada vez mais.
Um dia vivido é um dia somado ou um dia...
Graças por tudo até hoje.
Hoje faz alguns anos, era dia de festa.
Ia para a festa tradicional em Martins.
Festa no CLEN.
Festa de muita alegria, uma banda tocando.
Uma vez quem tocou foi Aviões do Forró.
Eu ia para a festa só olhar, pois não sabia dançar e tinha uma timidez.
Então saia com os amigos.
Ficava só olhando as pessoas passando,
Estas eram conhecidas.
Achava maravilhoso.
E foi aquele um maravilhoso tempo.
A vida tem me ensinado tanta coisa.
Agradecimento é um sentimento potente e altruísta.
Então muito obrigado por cada momento,
Com estes muito aprendi.
Cada um foram essenciais para me tornar quem sou.
Ou quem cultivo ser.
Muito obrigado pela dor e pelo amor,
Pelos opostos que me permitem conhecer,
Não ignorar mais conhecer.
Amém.
A noite chegou,
O dia foi quente e ensolarado.
Céu azul,
Brilho amarelo.
Noite estrelada.
Assim passou o dia, o domingo.
Tanta coisa boa aconteceu hoje.
Tanta coisa boa vivemos.
Amém.
As manhãs foram engolidas pelo trabalho,
As leituras foram engolidas pelo trabalho,
Tudo bem, não não a presença de Vinicius não deixei o trabalho engolir.
Assim é o novo setembro.
Assim é o novo mês.
Nesta nova categoria chamada pai.
O tempo é curto.
Estica com o filho,
Encurta com o trabalho.
Assim se vai.
Hoje Vinicius comeu camarão pela primeira vez.
São tantas coisas pela primeira vez.
A gente precisa se empolgar também.
Aprender a se espantar com os filhos.
Às vezes, vale a pena,
Uma palavra,
Um estímulo,
Uma conversa,
Sempre há tempo,
Até o dia final...
Este dia não sabemos quando será.
Setembro chegou.
O sol já brilha ardente no céu azul.
Nas três ruas as castanholas já estão vermelhando,
Logo cairão as folhas,
E o vento arrastará-las pela rua
Elas vão chiando e se arrastando.
São essas as coisas reais da vida.
Coisas pequenas.
Passado,
Passado,
Acabado,
Vivido.
Não existe mais.
Só memórias,
Só fatos.
Nada mais.
Agosto de 2021 já passou.
Agora reina setembro por um mês.
Carregar na alma a dor do sofrimento.
Passou.
Acabou.
Toda dor e sofrimento.
Agora o que resta é o espelho da memória,
Fotografias.
Coisas boas.
O amor amado.
As doces palavras ditas.
Momentos impares vividos,
O silêncio do ouvir,
A cautela no falar.
A presença viva.
Papai saudades de ti.
Sempre lembro de ti nos pequenos gestos.
Vinícius quando força o corpo faz um som igual ao seu.
Às vezes, quando solto um riso lembro de ti,
Às vezes, quando caminho e arrasto a chinela lembro de ti.
Oito meses de tempo nos separa,
Agora esse espaço de tempo só aumentará,
Não te esquecerei jamais.
Sinto por não ter estado mais presente.
Mas assim a vida segue.
Hoje fez oito meses que Vinícius chegou em nossas vidas.
Muitas coisas mudaram em nossas vidas,
Nossa casa,
Nossos hábitos.
Quanta coisa aconteceu nestes 240 dias.
Aqui, em Serrinha em Petrolina em Casa Nova.
E vivi cada dia graças a meu bebezinho.
Desvelado o motivo da dor,
A dor só aumentou,
E se estendeu até o fim,
Meu coração se apequenou
Se apertou tanto,
Foi tanta a dor,
Foi tanto o sofrimento.
Passou,
Acabou,
Chegou ao fim.
Restam lembranças.
Em agosto algumas coisas boas aconteceram
Outras ruins.
Assim são os meses.
Sem culpa de nada.
Nos estamos ai,
Até o fim.
O vento frio de agosto anuncia a mudança.
Tempo que vai mudar.
Agosto mês augusto.
Embora rime com augoro.
É só mais um mês passageiro que deixa marcas em nossas vidas,
Umas boas e felizes,
Outras ruins e tristes.
Cada um tem o seu mês trágico.
Ultimamente procuro ver mais coisas boas.
O riso juvenil de Vinícius me faz feliz.
Independente do mês ou da literatura.
Nem tenho percebido nada de pintura.
Nada.
Apenas ouvindo Mozart por diversos interpretes ao piano.
Lili Kraus, Claudio Arrau, Walter Giesiking...
Na verdade, estou sempre tentando encontrar um prumo.
Já que a morte é o desaprumo de tudo.
Agosto...
Faço um chá de camomila ou maracujá.
Aguardo esfriar lendo ou pensando algo.
Hoje é sexta-feira.
Distinta de todas as demais.
Em frente a minha mesa um quadro de nossa casa com papai sentado contemplando a frente e a tarde.
Sexta-feira sem cinema,
Sem saída.
Sexta-feira com um bebe.
Leio um poema "Os mortos" de Neruda.
Ouço Mozart "la fiera de veneza".
Adoro som de piano.
O chá amornou, dá para tomar é de maracujá.
Em poucos tragos tomo a xícara.
Ano passado, papai estava vivo,
Descobriu o câncer que o consumiu.
Penso na vida e na morte.
Ultimamente vem a mente o sítio de caju do parieiro.
Ali fomos muito felizes,
Ali papai e eu colhemos caju,
Descastanhamos as castanhas no silêncio.
Na verdade papai sempre me poupou do trabalho pesado.
Sou muito grato.
Ficava ali, descastanhando e pensando...
Ouvindo o ronco dos carros na estrada para Martins,
Ouvindo o som dos pássaros,
Na sombra sentindo o mel do caju melando as mãos.
Ouvindo o som dos filhos de Dadá.
E pensando qualquer coisa sem muita consciência de nada.
Assim vivia.
Assim me achei na vida.
Agora na certeza da finitude da vida leio qualquer coisa que me faça esquecer a consciência.
Tento organizar meus pensamentos,
Dar algum brilho a minhas aulas.
Aqui, nesta noite de quinta estou.
Estou, sou...
Sou...
Pensando em algo para deixar para você ler.
Como peixe na água são os pensamentos,
Lisos e escorregadios.
Por isso muito difícil de capturar um sem os devidos utensílios.
Ultimamente tenho pensando no pensar.
Na consciência? Não é muito aquém.
Pensado no que vivi e vivo.
A verdade que não é algo inteligível.
Há uma aleatoriedade em tudo.
O que me faz perder o fio.
Assim vou montando esses pequenos textos com o afinco que um dia leias e possa ter alguma epifania.
Senão que ocupe o tempo que sentes ser tendioso.
Passamos a maior parte do tempo pensando no desconfortável e desagradável.
Isto fazemos com destreza.
Aprendemos ou é instintivo?
Quem sabe?
As flores,
Os jardins,
O mundo,
Olho o nada...
Tentando entender o mundo,
Entender a vida toda...
E o tempo e nada.
Nada.
Acordei,
A manhã estava fresca,
Deitei na rede,
Abri um texto...
Então ouvi um vem-vem cantando,
Bem longe...
Fim... fim... fimm.
Fim... fim... fimm.
Ai lembrei de tia Raimunda que nem me lembro,
Só de suas superstições...
Com vem-vem cantando vem visita.
Fim fim fim...
Que gozo auditivo.
Ganhei o dia...
No fim da tarde indo ao mercado,
Ouvi um piado de um bem-ti-vi...
O que me lembrou o vem-vem da manhã.
Cada uma estação com suas peculiaridades,
Chuva e chuva,
Sol a sol...
O tempo contando as estações e o tempo.
Uma noite estrelada,
Vi tantas coisas lindas,
Usei um telescópio,
Vi até os anéis de Saturno.
Era inverno...
Coisas da vida.
Coisas simples e complexas.
Simples como comer chocolate,
Complexa como comer caranguejo.
Gostosas de viver.
Tempo
Não sei em que tempo estou.
Minhas memórias me fazem perder a noção de tempo.
O mundo também.
As coisas mudando,
A natureza se apresentando intocada.
Há lugares que conheço que não mudou nada.
Absolutamente nada.
Hoje olhei pela janela do tempo,
Vi através da trajetória de nossas vidas,
Neste dia, momentos de felicidade,
Momentos de alegria,
Um dia de comemoração!
Aniversário de minha amada irmã, Meire,
Que anos depois viria a ser mais um motivo de alegria
Com o nascimento de Giovana minha sobrinha.
Quando a gente abre a janela do tempo,
Corre algum risco,
Tudo pode acontecer pois a emoção aflora,
Podemos contemplar alegria ou tristeza.
Temos alegria dupla.
Como adoraria está fisicamente próximo de vocês
Irmã e sobrinha e assim comemorar esta nova data que se inicia.
Do alto da nossa idade, podemos olhar através do tempo,
Podemos contemplar nossas histórias,
Que se entrelaçam e são uma só.
É uma alegria compartilhar a vida com vocês,
Com nossa família...
Agora seguimos sem o papai,
Mas ele olha a nos o tempo todo,
Está em nós por meio de seus ensinamentos.
Fará fala sua ligação, mas sabemos que ele está melhor que nós.
Daqui damos parabéns triplo meu, de Vinícius e Dayane.
Que possamos contemplar a janela do tempo quantas vezes Deus nos agraciar.
Parabéns.
Amo as duas Meire e Giovana.
Sentir o mundo pela luz, pelo som, pela textura, pelo cheiro.
Certas impressões nos impressionam outras não.
Absorver ou ignorar, cabe a consciência decidir,
Desenvolver uma percepção,
Entender o que ai está.
Três figuras da consciência discriminadas, elencadas por Hegel.
A maneira de encarar a vida...
Pelo caos ou pelo cosmos.
Quem sabe.
Todos um dia partirão,
Aos que partiram saudades,
Enquanto aguardamos nossa partida, paciência.
Saudades e alegrias convivem,
Afastando-se do momento da partida,
Novas chagadas, novos momentos,
O corpo cansado,
Os dias contados.
O sono eterno sempre está se aproximando.
Já havia me conectado com Hegel,
No doutorado, algo me fez pensar que por detrás de minhas plantas havia um entendimento, uma síntese.
Faz tanto tempo isso.
Mas tinha gosto pelas ideias de Hegel.
Quando tentei ler a fenomenologia do espírito até parecia que estava tentando engolir água com dor de garganta.
Para melhor analogia, parece que estava vendo um quadro abstrato a meio metro de distância.
Tomei distância, estou vendo várias imagens para ver se contemplo esta obra.
Cirne Lima me mostrou que sim.
Estou olhando por pequenos quadros.
Estou adorando.
Primeiro veio o universal incondicionado.
Depois a Certeza Sensível,
A percepção, bem até flertei com essa ideia.
O que dirá do entendimento, das leis e das forças.
Quando se fala em Hegel o povo fala em tese, antítese e síntese.
Falam do senhor e escravo...
Mas isso é uma imagem tão escabrosa dele que chego a pensar que não entenderam nada dele.
Bem, acho que o povo está vendo o chapéu quando se refere a Hegel quando se trata de uma sucuri digerindo um elefante.
Acho que Hegel é como o sol não pode encarar de vez senão cega.
A gente vai usando vários filtros...
Vamos vendo os sumários,
Ouvindo com os olhos um e outro...
Contemplando seus comentadores.
As vezes até tentam sintetizá-lo,
Mas como diz o professor Chagas o negócio é difícil, quando se acha que entendeu, na verdade não entendeu nada.
Para flertar com ele, acho que tem que olhar para o conhecimento e suas faces, montar o mapa por detrás de sua fotografia.
Ah!
Consciência que me atormenta,
Com essa dura realidade das coisas,
Ah, a experiência,
Pode ser boa e ruim.
Depende.
Tudo vivido dar um ar de sabido,
Mas será isso mesmo?
Será que percebemos todos os acidentes,
Será o necessário mais importante que o contingente?
Relações...
Penso que o tempo está passando.
Sei que não para.
Sei que é como uma seta em direção a um alvo.
Mesmo assim, não controlo os meus impulsos que me fazem sentir desconforto.
Agora, sento para ouvir Rachmaninoff.
Piano Concerto no.2 op.18 - Anna FedorovaA tarde até cai mais calma.
Até posso contemplar um pouco a vida,
Sem ansiedade e sem pressa.
Ler é uma das coisas mais sublimes em minha vida.
Ler me informa, me inspira, me sublima.
Li tantas coisas nessa vida.
Desde poesia a prosa, de crônica a romance, de ciência a religião.
Leio poesia...
Gosto de Neruda, entre tantos poetas
Gosto de Neruda por sua poesia fotográfica.
Gosto de imaginar uma realidade escrita.
A imaginação é uma variável torta da realidade.
Lendo Neruda, parece em minha mente o México que conheci.
Será o castelhando? Serão os pinus? Será o frio?
Conheço a fama de Octávio Paz, mas nunca o li.
Vi seu discurso para o Nobel.
Não sei porque, mas algo me sentir tão real as noites de Pablo quando infante.
Suas memórias são tão inebriantes.
Tem algo nos textos que me embebedam...
Alguns livros nunca os esqueci.
Tornaram-se atemporal.
A chuva de Macondo.
A morte de Baleia.
Os cortiços de Aluízio.
É assim, a leitura mexe com minha imaginação.
Quando cheguei em São Paulo em 2007.
Mamãe passou um ano conosco...
Comecei a ler naquele ano muito frio Nietzsche...
Li também Spinosa.
Nada haver.
Lembro que quando fui visitar Rosangela na maternidade em Santo Amaro.
Vi aquele bebê, Alessandra.
Só vi um bebê.
Achei a vida tão dura.
Lembro que havia chovido que o cão estava molhado.
Sai da maternidade, passei num sebo e comprei um volume de história dos pensadores de David Hume o qual nunca li.
Ser bibliófilo é isso.
Agora meu coração tá pequeno.
Saudades de papai.
Fecho o texto.
A tarde caia ensolarada,
No horizonte os raios dourados se espalhavam refletindo tudo com tamanha beleza aurianta.
Saímos a caminhar na rua engembrada das Três Ruas.
Fomos no fim ou no início dependo do referencial.
Na volta num cruzamento encontramos o nosso professor da academia, Ivan.
Conversamos um pouco e então tivemos uma triste notícia.
Soubemos que nossa colega Das Neves havia falecido.
Ficamos inertes.
Enquanto isso Vinícius dormia sossegadamente.
Dona Neves logo ela que tomava todos os cuidados.
Era uma pessoa muito alto astral.
Que se cuidava, fazia academia, hidroginástica...
Quantas vezes não levava um cafezinho para uma comemoração.
Pois é ficamos impressionados.
Que dó.
Voltamos a caminhar.
Vinícius nem acordou.
E a tarde caiu e a noite surgiu.
À tarde de domingo é sempre mais saudosa.
Há muito tempo que não vejo televisão.
Então por acaso enquanto fazia uma transferência de fotos para o celular,
E aguardava o movimento cessar.
Sobre a mesa descansava o livro de Neruda,
Memória da Isla Negra,
Então, peguei-o e abri bem onde havia parado de ler.
O poema que li foi "Aquela luz".
Um deslumbrante poema.
Deu para sentir o movimento do sentimento ai cristalizado em palavras.
E pensei quão vivo e eterno foi aquele momento publicado em 1964.
Aquelas linhas engendradas,
Pensadas e escritas a tanto tempo, porém tão vivas palavras.
Ultrapassou tanto tempo o meu tempo de existência...
Então nesta tarde, por acaso que magnífico...
Pelas palavras revivi um momento que nunca vivi,
Mas é como se fosse um dejavour.
Sei lá meus domingos já foram felizes,
Muito felizes,
Depois obscureceram e tiveram uma cortina de uma missa no final.
Agora melhorou, pois renovei no filho que nasceu a sete meses.
Assim a vida dando lições.
A tarde e suas particularidades,
Como uma batata que sai da panela quente ardendo,
E aos vai esfriando com o tempo.
Tem um momento que o morno da tarde é até gostoso,
Um morno silêncio que um um silvo ecoa no espaço tempo.
Uma das particularidades da tarde é muito subjetiva,
O sabor do fim,
A esperança do amanhã,
O sabor do sucesso...
O sabor do fim de uma etapa ou o início de um turno.
Gosto muito de particularidades vespertina,
Principalmente quando o crepúsculo aparece.
E consigo perceber que desapareceu.
Ultimamente tenho pensado tanto na vida.
A morte de entes próximos me fizeram pensar ainda mais.
Não é fácil entender que alguém tem um fim.
Que perde tudo até a autonomia e desaparece na eternidade.
Podemos está muito próximo deste momento também.
Sinto uma saudade descomunal de papai.
Sua partida deixou uma marca profunda no meu ser.
Por outro lado nasceu meu filho.
Fato que deu um peso muito grande na existência.
Descobri um amor que jamais havia sentido.
Um amor partiu e o outro chegou...
A vida é isto?
Movimento.
Fluxo...
Não encontrei uma definição para a vida.
Estava eu contemplando um arbusto de algodão-de-seda.
Pensando que lindo indivíduo, que folhas sadias e vistosas.
Na inflorescência vi uma lagarta comendo botões e partes das flores.
Pensei quão efêmeras são as flores e ainda por cima esta lagarta as devora com tanta gana.
Meu pensamento foi além, logo aquela lagarta se transformará numa borboleta e passará a consumir néctar e se reproduzir pondo ovos em outra planta.
Estava eu sentado numa rocha que por certo poderia aquele ente pensar.
Pobre ser humano de vida efêmera, logo será consumido pela terra.
Enquanto, descanso na minha eternidade.
Platão já afirmava que o tempo é o reflexo da eternidade.
Tempo pode ser uma escala para nos posicionarmos em nossa existência.
Tempo contado numa ampulheta com grãos já caídos referentes ao passado,
Grãos por cair referente ao futuro,
E grão que caem referentes ao presente.
Então se trata de um fluxo com um sentido.
Talvez se trate apenas de uma escala subjetiva...
Talvez nunca encontremos uma definição, um conceito... um ponto para se fixar.
Como dizia o poeta Vinícius é eterno enquanto dura.
A eternidade está no presente.
Ou são apenas elucubrações deste que escreve e só sabe que nada sabe.
Encontrei nas letras uma nova forma de existir.
Encontrei na palavra uma força para reagir.
Como foi marcante aprender a ler,
Como foi importante as primeiras frases que li num livro de Gandhi encontrado num baú antigo.
As tardes longas e tediosas de minha juventude me fizeram ocupar meu tempo com as palavras.
Livros velhos que conversavam comigo, me diziam quão era o mundo além do meu entorno.
Encontrei algo da minha existência nos pequenos contos dos livros de português.
Minha criação é de longa data, tem mais tempo que minha consciência.
Os anos muito me ensinaram,
Assim como os professores e assim fui me reinventando.
Assim chego a ser quem sou e que gosto de ser.
Mas ainda tenho na memória a textura do papel de frases belas de Chico Xavier,
Tenho na memória a oração cantada de São Francisco,
Tenho na memória o Padre Nosso e a Avemaria ensinados por mamãe.
Palavras que carregam informações, valores, sabedorias.
Tudo se passando em minha mente ultimamente.
Dias chuvosos nesta semana,
Nuvens frouxas e garoa,
Assim nascem e se passam os dias.
O frio fresco da manhã,
O banho frio que não orna,
O silêncio das aves,
O céu que se abre numa tarde dourada,
Hoje o sol mal apareceu.
Só deu um oi e se foi.
Enquanto agosto vai passando
Passando bem agosto.
Amanheceu calma e nubladamente,
Chovendo bem devagarzinho,
Vento soprando,
Aves em silêncio...
Os ruas sob cortina,
Gostosamente o chão se encharcando.
Assim nasce mais um dia,
Assim nasce mais um dia.
A felicidade é tema escabro,
Por que tratar?
Perca de tempo?
Não sei,
Mas, às vezes somos tomados duma sensação boa de alegria.
Será felicidade?
Felicidade é um conjunto de alegrias?
Sei lá.
Hoje a 21 anos atrás saia de casa.
No dia 08 de agosto de 2000,
Sai de casa para estudar na UFRN.
Fui estudar Ciências Biológicas.
Agora faz mais tempo que vivo no mundo
Que morei em casa.
Muita coisa para refletir,
Mas vou ali brincar com Vinícius.
Dia dos pais,
Saudades de meu pai,
Saudades de sua presença,
De nossas conversas,
De nossos encontros,
Saudades de suas piadas,
Da paz que passava.
Papai seria indescritível o meu amor.
Agora sigo sendo pai,
Honrando tudo que me ensinou,
Passarei para ti.
Abraços telepáticos.
Através do olhar posso me expressar,
Fotografar o que me permite se expressar,
Passar para o outro a beleza que vejo.
Que maravilha esse todo.
O tempo não para já cantava Cazuza.
O tempo é matéria permanente de minhas reflexões.
O tempo tem me ensinado intermitentemente.
Cada vez mais tenha a certeza da unicidade das coisas,
Da peculiaridade das coisas,
Tudo é muito impar.
Quando aprenderemos sobre isso?
Só com a dor...
A paciência pode nos facilitar muita coisa.
Atenção aos momentos que são particularidades, singularidades do tempo.
O tempo que cremos ser nosso,
Mas não é de ninguém.
As vezes nem percebemos, mas somos mumrá em nossos sarcófagos corpóreos...
Vivendo na mediocridade que aprendemos a ser.
Esperando que um mal se acabe.
Esperando que uma dor cure...
Esperamos mais pelo amanhã.
Valorizamos mais o amanhã que o hoje, o agora...
Esperamos o perfeito, porém amanhã pode ser tarde demais.
Tempo...
Espero ser feliz nos meus momentos...
Assim como fui a cada momento que aproveitei com quem amei e amo.
Espero ter tempo de ler o que amo, tanta coisa... De Platão a Borges.
Ouvir e apreciar músicas Mozart.
Aprender mais sobre cores com Gogh.
Ensinar a melhor maneira de ver e viver o tempo ao meu filho,
Mas cada um tem sua percepção.
Espero está ao lado dele como papai este ao meu.
O tempo me ensinou muita coisa.
Que tudo é passageiro,
Tem tempo de nascer,
Tempo de crescer,
E tempo de morrer... Vi isso em algum salmo.
É isso.
E assim a gente vai levando a vida,
Fazendo o que pode,
Fazendo o necessário,
Vamos tocando em frente,
Enquanto há vida,
Enquanto nos é permitido,
Tentando sempre ver o melhor da vida.
Tentando ver poesia em tudo que existe,
Alegria em tudo que vibra...
Assim seremos felizes.
Tempos idos não retornam jamais.
Tudo no universo é uni é impar,
Cada coisa a seu tempo,
Sossega o teu coração,
Um flecha disparada não volta atrás,
Assim como a palavra falada.
Reflete e age com sabedoria,
Com razão...
Cuida de teu tempo e de ti,
Pois o momento pode ser o último.
Reza e acalma teu espírito.
Doma teus instintos,
Age com prudência,
Assim vive sua vida e deixe a vida dos outros para que os mesmos se cuidem.
Noite longa mal dormida,
O canto dos grilos,
O tic-tac do relógio,
A luz acesa,
Algo não me deixa relaxar,
Algo me faz acordar
Ou nem dormir,
Coisas assim,
Não é caso de insônia.
Que será?
Os pintos piam no chiqueiro,
O cachorro alvo dorme na areia branca,
Um papa-lagarta corrocheia na pinheira,
No sítio canta um fim-fim,
Um picapuzinho anão,
Cheiro de umidade gostoso,
O que é tudo isso?
A manhã surge tão animada com o canto das aves. Vocalizam os papa-cebos, sanhaçus, cancões, anuns, tirrites.
Aqui estou na área em sentava em companhia de papai para tomar um chá e sentir a vida.
A vida tem uma atmosfera que as vezes nos faz pensar demais.
Estou aqui sentado e sentindo o beijo da manhã.
A tarde cai no sítio
Como as chuvas que partiram do ano.
Na pinheira canta o fim-fim,
Uma sabia cisca no monturo,
Sábado veio em casa uma alma de gato,
Chamou, chamou,
Até ficou a vista com seu corpo rufo
E seu olho vermelho,
A coisa mais maravilhosa,
O milho já secou,
As pinhas racham nos pés,
O período de chuvas se foi,
Até o papa-cebo já está cantando.
Segunda-feira,
Serrinha do Canto,
Coisas assim.
Que experiência ácida,
A saudade de uma pessoa amada,
Essa partida sem volta do ser amado.
Parece que a vida perde todo o sentido.
As relações viram gaz,
Se desfazem...
Que momento díficil.
Assim é.
A ausência fria,
A inação,
Tudo que sobrou foram memórias.
Tudo acontece tão rápido,
E o vazio que fica na gente,
Que vazio,
Tudo segue,
Mas que vazio.
Aqui estou, faz meses que papai se foi.
Nosso sofrimento foi muito dolorido,
Ainda sofremos, mas aceitando a realidade.
Tudo mudou muito em mim.
Externamente pouco mudou,
As coisas continuam as mesmas.
Agora ficou a grande questão,
O corpo se degrada, mas e espírito?
Metafísico!
Difícil!
É fácil ver papai e lembrar dele.
Da generosidade e o amor pelos filhos,
Pelos animais e plantas.
O cuidado com o sítio.
A proteção e a fé.
A gente aprende observando
E essas coisas aprendi com ele.
Que aprendeu com o pai dele.
Cada um constrói sua história.
Papai nos deu sua história.
Seu legado somos nós.
Dia,
Aqui estou em Serrinha dos Pintos.
Experimentando a ausência de papai.
Deitado na rede ouço os pássaros a cantarem.
São vem-vem, papa-cebos, sanhaçus,
E galinhas.
Tudo continua do mesmo jeito,
Sem as coisas por papai feitas.
As pinhas estão ficando todas rachadas
E com brocas.
Já o verão chegará.
Que vazio esse novo tempo.
A manhã fria,
O piado dos pássaros,
Julho.
Sol brilhando no céu azul.
Frio!
Amanhã viajaremos.
Tempos verbais,
Verbos astrais.
Através de minha mente
Vejo as cores,
Vejo o tempo.
Sinto o mundo.
Mozart sua obra magnífica me impressiona,
Tempos vindos e idos.
Tudo num pensamento,
Numa cadeira,
Numa ação inerte.
Tenho saboreado meus dias,
Manhãs, tardes e noites...
Cada um destes segmentos de tempos.
Minha mente a todo tempo matutando,
Ordenando e organizando minha maneira de pensar.
Ai vem as tragédias e perturbam minha alma.
Na velocidade que vivemos não dá para saborear muito as coisas.
E perceber as pequenas coisas da vida.
Como o piado das aves,
O aparecer das estrelas,
Uma música,
Um pensamento mais elaborado.
Nada...
Só essa fome de saber o que acontece agora ou daqui a pouco.
A internet tem nos aprisionado em nos mesmos.
Andamos ansiosos demais.
Por nada.
A manhã silenciosa e fria vai partindo lentamente.
Nas três ruas canta uma cambacica.
Som de carros seguindo pelas três ruas.
Bem-ti-vis vocalizam difusamente.
Algo para ouvir e pensar?
Ou no nada pensar.
Tenho pensado em papai,
Sua partida me deixou muito abalado.
Numa manhã fria de domingo,
Quando tudo entrou em silêncio.
Que paz.
Vinícius está sendo amamentado.
A paz dura pouco.
O vento frio sopra através da janela.
A tarde quase caiu por inteiro,
O relógio indica que são 16:30 h.
Ouço pio de pássaros, como estamos próximo a um remanescente de mata atlântica
Os pássaros se fazem muito presentes.
Os jornais e revistas só comunicam política atualmente.
Por acaso descobri o nome de uma composição de Mozart que adoro
Piano Concerto No. 27 in B flat, K. 595.Para uma vida tão curta,
É preciso saber o que importa,
É preciso ter um norte para seguir,
Não dá para viver por viver.
Há de se dar um sentido.
O silêncio da manhã,
Após uma noite chuvosa,
Tudo recomeça,
Temos a oportunidade de começar de novo.
A manhã é uma dádiva que temos
Todos os dias,
É a base da esperança.
Manhã entre as manhãs.
Aqui estamos para mais um dia.
Amém.
Um outro dia,
Um outro mês...
Que bom.
Junho passou sem festas.
Agora que chega agosto,
Chega chuvoso,
Chega com muito vento soprando.
Gostoso, pois chega até a dar vontade de sentar e pensar.
Ouvir a chuva,
Ver as sombras e as luzes da noite fria.
Ler alguma coisa.
Ouvir alguma coisa...
Mozart.
O tempo passou,
Como era esperado,
O filho chegou inesperado,
A vida está boa,
Papai partiu,
Alguma coisa há de ficar desta vida.
A vida se revela orgânica
E nunca se negou,
Alguma coisa há de ficar,
Alguma coisa...
Alguma lição hei de levar.
A noite caiu silenciosamente nublada
A penumbra está mais escura e úmida,
Neblinando assim a noite foi chegando.
Depois de um dia de trabalho,
Assim caiu a noite escura.
Apaguei as luzes e fiquei com a janela aberta
ouvindo a chuva chovendo por um bom tempo.
Deitado no sofá e pensando
Nas curvas que a vida dá.
A lembrança de papai é constante,
Já não é a dor do medo de perdê-lo,
É a dor de tê-lo perdido,
É diferente, muito mais dolorido,
Penso numa desculpa,
E no porquê ter acontecido.
Dói demais.
Dói demais.
Ao mesmo tempo tem Dayane e Vinícius
Que me fazem companhia e amenizam a dor.
Assim os dias vão se passando.
Há seis meses nossa vida se tornou maior,
Numa noite de quinta-feira de céu plenilúneo,
Aconteceu algo espetacular,
Nasceu meu filho Vinícius,
Quanto o vi fui tomando de carinho e amor,
Suas necessidades se sobrepuseram a minha,
Ele dormia plenamente enquanto passavamos noites
Quase em claro esperando que nada acontecesse com ele,
Esperando sua hora de mamar,
Foi um grande estresse,
Aos poucos ele foi abrindo os olhinhos,
Aos poucos foi aprendendo a sorrir,
Hoje sorrir a maior parte do tempo,
Riso lindo banguelo,
Gosta de sorrir para o papai,
Talvez saiba que é a coisa que o papai mais ama no mundo.
Seis meses, parece uma eternidade, parece que ele sempre esteve em nossas vidas,
Nem imagino uma vida como eu,
Só percebo uma vida como nós...
Se acorda chorando, nós o acalentamos,
Se acordas sorrindo, nos explodimos de amor.
E tem sido assim,
Muitos cuidados,
Cuidado no estarmos juntos,
Nos banhos,
Na hora de teté,
Na hora de naná...
A vida é cheia de surpresas maravilhosas,
E essa foi a mais maravilhosa,
Sem sombra de dúvidas.
O que são as coisas?
Singularidades ou totalidades?
O que nos constitui de importante?
Pensar é uma dádiva ou um carma.
A noite caiu escura.
Fria e estrelada,
Mais tarde a lua nascerá,
Lua minguante,
Após o dia
Por trás do dia
Há uma poesia,
Alegria ou coisa do gênero,
Algo foi desvelado,
Algo acabado.
Em busca de uma categoria.
A tarde cai fria como a tempos não percebia,
O vento frouxo de junho atravessa a janela gelado.
A tarde cai nublada.
Até as aves se calam.
Silêncio!
Som de vento.
Som de vento.
É o vento pela janela.
É o vento e o tempo.
O lugar sólido pouco muda,
Paisagem petrificada.
Vida dura,
Vida no cruzamento
Entre o espaço e o tempo.
Amanheceu silenciosamente,
O sol nublado, quarando as nuvens,
Pardais piam,
Um galo canta,
Um cão late.
Deito no sofá,
Ouço o mundo,
Em busca de consciência,
Tentando atingir uma conexão com o inconsciente.
Amanheceu simplesmente.
Domingo é assim com missa!
Com descanso!
A tarde cai,
No meu inconsciente há uma dúvida.
O que é ser e não ser?
Talvez entenda melhor se a pergunta for o que é vida e morte?
Simplesmente somos,
Momentos depois deixamos de ser.
Do ser surge o não ser...
O corpo é enterrado.
Será o corpo descartado?
Ou será a alma descartada?
A sombra da noite essas dúvidas se fazem mais afloradas.
Essa dúvida ainda vai me matar.
Que tarde ensolarada e fresca,
Sol ao pino,
Vento frouxo,
Assobiando nas janelas,
Levantando areia,
Agitando folhas de palmeira,
Que tempo é esse?
Tempo exterior,
Tempo interior...
Desconheço uma conexão.
O tempo a passar,
Tarde atrás de tarde,
Alegria e tristeza.
O que é a vida?
Vento soprando frouxo,
Vento do litoral,
Aves piando na tarde ventosa.
Assim se faz o dia de sexta-feira
Nos Bancários de João Pessoa.
A lua está cheia,
A noite está nublada,
Neblina e passa!
Escura noite silenciosa de São João.
Hoje mamãe me falou que Evaldo morreu.
Evaldo era um moço deficiente,
Por natureza tímido,
Calado, quando era novo ele conversava mais.
Usava bigode e chapéu de palha,
Tinha uma cadeira três rodas,
Devia ter seus 50 anos.
Mais um de serrinha do canto dorme na eternidade.
Pessoa de minha infância,
Teve pólio.
Como outros.
O que é a morte?
O que é a vida?
Algo muito estranho de se definir.
Hoje sou,
Amanhã posso deixar de ser.
Doido demais.
A noite esta escura,
Bonita demais para pensar nessas coisas.
À tarde cai fria,
Vento soprando frouxo sem sentido,
Um pacum voando verde no céu nublado,
Dia de São João,
Sentado olhando o tempo passar,
Pensando no que pensar,
Decidindo o nada.
Cães ladrando longe,
Vinícius vocalizando.
Eu aqui tentando alguma conexão.
Hoje noite de são João!
Cadê o fogo da fogueira?
Cadê o dançar da labareda?
O laranja lambendo as sombras das noites frias de junho,
Cadê o milho para assar,
Cadê papai para acender a fogueira...
A eternidade levou.
Viva viva viva!!!
A manhã desponta silenciosa,
O mundo isolado,
Hoje, noite de pré São João
Já foi motivo de festa,
Hoje muito do mundo perdeu o brilho,
Em espiral as coisas vão se dando,
E a gente sendo forçado a aceitar,
Que o tempo passou
Tanta coisa aconteceu
E continua a acontecer,
Num loop.
A manhã se deu com luz,
Pardais e calma.
A lua este espelho do tempo.
A noite está plenilúnio,
As sombras da noite são suavemente clareadas,
Memórias afloram na alma,
De tempos passados,
Tempos em que estávamos juntos
E agora só sou eu e a lua.
Está vivo as vezes nos dá uma sensação de vazio,
De incompletude...
Olhando a lua a gente se sente saudoso,
Porque algumas coisas são impossíveis no tempo.
Ver a lua é ver a lua, sentir a lua, sentir a vida...
E a vida é plena de tudo,
Nosso subjetivismo, nossos medos...
Ou seja é preciso abdicar de tudo
Para ser pleno...
A lua esse espelho do tempo e da alma.
O sofrimento dilata o tempo! O tempo não existe! O tempo é um conceito. Eternidade é a ausência de tempo. Vinícius de Morais cunhou a frase...