A noite caiu chuvosa.
Escureceu e nem percebi.
Só percebi o riso de Vinícius,
O cheirinho bom de bebezinho.
Só cuidei dele.
Assim se passam os dias.
Com cuidado.
A concepção de mundo é subjetiva, sendo a experiência sua fonte capital. O mundo é representação. Então, não basta entender o processo aparentemente linear impressão, percepção e o entendimento das figuras da consciência. É preciso viver, agir e por vezes refletir e assim conhecer ao mundo e principalmente a si mesmo. Aprender a pensar!
A noite caiu chuvosa.
Escureceu e nem percebi.
Só percebi o riso de Vinícius,
O cheirinho bom de bebezinho.
Só cuidei dele.
Assim se passam os dias.
Com cuidado.
Olho pela janela o céu nublado. Faz calor.
Minha mente gira feito uma roleta russa.
São muitos os pensamentos e a concentração é mínima.
A roleta gira, gira e gira e não para.
Quando para o tempo exauriu.
Tudo está um caos em desordem.
O mal estar piora.
Calor,
Sono...
Por onde começar.
É muito mais fácil colocar o mundo externo em ordem.
Retratos,
Imagens,
Paisagens...
A brisa refrescou.
Para roleta.
A madrugada é silenciosa e fria,
Só se acorda numa urgência.
Vinícius acorda faminto,
Não fala, mas gira e faz um gemido.
Eu acordo e pego ele e acordo a mãe
Deu ele para ela amamentar.
Penso em papai.
Um cachorro late afobado não muito longe.
Chove suavemente.
Lembro da chuva em minha casa.
Os pingos na bica.
Quanto tempo já não faz que não contemplo este fenômeno.
Sinto repentinamente saudades de casa.
Esta prisão do vírus.
Chove lá fora.
Vou trocar Vinícius
Que a manhã está chegando.
Sexta-feira dia bom. Ótimo sem pandemia. Saudades dos encontros com os colegas, de ir para o trabalho. E voltar no fim da tarde. Todavia a mais de um ano estamos nesta. Sem almoçar com os amigos. Só casa e super mercado. Uma rotina longa. Não conseguimos distinguir os dias. Só sentimos cansaço.
Estou desaprendendo a ouvir os pássaros,
Estou aprendendo a amar um pequeno ser.
Estou desaprendendo a caminhar de madrugada,
Estou aprendendo a observar um pequeno ser,
Estou desaprendendo tanta coisa,
Estou aprendendo tanta coisa,
É uma revolução,
Sinto gratificante trocar uma fralda,
Pegar o termo bebê,
Quando vejo que sorrir,
Meu ser explode de alegria,
Sorriso banguelo
O mais perfeito,
Ingênuo,
Doce,
E puro.
Não desaprenderei de ouvir os pássaros,
Ensinarei como se ouve a natureza e a vida.
O vazio ao meu redor,
Uma infância silenciosa,
O mundo objetivo ai,
Mudo.
Meu mundo subjetivo.
Mudo.
Tudo estava ai dado.
Rochas, solos, plantas, flores, frutos.
Agricultura, pecuária, cozinhar e trabalhar.
A linguagem muda.
O que ouvia?
Não havia literatura, arte, ciência.
Era a vida crua,
A vida crua requer muito das pessoas,
Os estímulos o que nos envolve pode ser qualquer coisa,
Sortudo fui tive amor.
O lugar nu se mostrava,
Mas não tinha olhos para ver,
O lugar cozido se oferecia a uma refeição, mas a boca não era usada.
O início era o princípio mesmo,
Sabe um caderno, um lápis e uma borracha num saquinho de macarrão.
Todos éramos assim,
Isso...
Este reflexo da falta de recurso.
Este era o nosso retrato,
Essa era minha comunidade,
Minha realidade,
A vida crua,
A vida nua,
Mas a natureza diretamente nos ajudava,
E o trabalho nos fortificava,
Triste quem nem a natureza pode recorrer,
Triste quem vive a fome,
São as realidades deste mundo,
Com pessoas injustas,
Triste forma de ser,
Uns com mais outros com menos,
Sempre querendo,
Não foi fácil,
Porque ficamos com muitas marcas,
O importante é que deu certo,
Vem dando certo.
Em meio a tantas coisas onde nós encontramos?
Cansados, tristes, desiludidos?
Não é de fácil ordenar as ideias.
Aí olho meu bebezinho, lindo, perfeito.
E tudo muda.
Sabe por que?
Porque ele me faz crer na vida.
Sua inocência não tem nada a haver com meus sentimentos.
Só quer um pouco de meu amor,
Minha atenção
De mim.
Então sou impelido a lutar
E vencer por amor.
Por amor só um pouco mais.
Jurubeba espinhenta,
Folhas grandes e macias,
Parecem coro curtido,
De verde petróleo pintado,
Ramos cinzentos e armados
De agudos acúleos
Flores estreladas, lilases,
Com anteras poricidas amarelas,
Vai formar um tomatinho,
Escuro e muito amargo,
Jurubeba jurubeba
Quem te ama é a carouxa.
Desconhecer muitas vezes oculta a beleza das coisas. Lá na Grugeia onde papai nasceu grandes granitos deitados nas terras descansam pela eternidade. Para eles nada mais que pedras. A objetividade não se revela a toa as pessoas. Os lindos cristais de quartzo, ortoclazio e mica. Na terra de solo alvo onde nasce unha de gato aos montes. Espinheiros... Floresta decidual. Classificada a vegetação e o solo e as rochas. Em que isto impacta na vida das pessoas? Acho que em nada só nos permite contemplar melhor o mundo. As coisas podem ficarem belas quando as compreendemos. A quebrada, a falta de perspectiva endurece um coração termo.
Que bela planta,
Nua tem casca verde,
Suas folhas articuladas,
Grandes e palmadas,
Embiratanha,
Que bela flor
Grande e alva,
Cálice tubuloso,
Estames vistosos,
Embiratanha,
Casca milagreira,
Planta milagrosa,
Rica em taninos,
Pseudombax marginatum,
Planta linda do sertão.
Quando criança gostava se sair com papai. Não era para todos os lugares.
Geralmente a gente ia na casa dos tios dele. Manuel Souza, Raimundo Souza e Michico.
Gostava de ir a casa de tio Michico por causa das aves, das jaqueiras ou a caramboleira?
Aquela casa enorme com uma Ficus elastica na frente, com aquelas estípulas enormes vermelhas.
Tinha uma área com uma estrutura de um avião numa areazinha.
A casa antiga com calçada alta, telhado alto.
A gente subia a calçada e entrava numa área grande que dava para o curral.
Tinham várias plantas, inclusive um jasmim.
Depois tinha uma área com um poço e a cozinha escura.
Com vários viveiros.
Lembro da graúna.
O terreiro da cozinha dava numa caramboleira e várias jaqueiras, mangueiras, cajueiros.
Eu como moleque curioso ficava curiando os quartos.
Tinha um criatório de preá.
Papai sempre conversava muito.
Eu só olhava as buguesas, a graúna...
Lembro de ir com papai num carnaval e vi pela primeira vez uma televisão colorida.
Allananda
Cipó leitoso,
Folhas verticilada,
Simples
Flores tubulosas,
Cor de vinho,
Vi lá no pé do serrote,
Em flores
E depois em frutos
Cápsulas armadas,
Linda flor natural,
Usada como ornamental.
O silêncio agora é tudo.
O corpo descansa,
A alma está em paz,
Tudo que teve significado
Agora se desfez.
Não adianta tentar entender sob a lente de nossa razão.
Aconteceu! Deus assim quis.
Assim foi sua partida,
Assim será nossa partida.
Somos sempre levados a observar sob a ótica da razão,
Sob a luz de nossos pensamentos e ideias,
Porém há uma barreira intransponível que alguns creem existir uma janela, uma porta,
Que ao que tudo indica só tem um sentido.
Vendo o que ficou...
E o que não ficou.
A questão é o que é a vida?
Essa construção interminável que se encerra no último suspiro.
Não sabemos.
Fica sempre em aberto, mas um dia saberemos.
Um dia até lá, vamos nos virando.
Anos 2000
Faculdade,
Nova cidade,
Natal, universidade federal,
Cazuza,
Dunas,
Distância de casa.
Dificuldade na faculdade,
Tudo excessivamente novo.
Novos amigos...
Tudo acontece.
Cedinho, no berço o menino se mexe. Vou até ele. Sento no banco e olho e toco. Então, ouvi o bem-te-vi e lembrei imediatamente da época que fui para a faculdade. Lembrei da dor de deixar minha casa. As madrugadas que acordava para caminhar e correr no campinho de areia. Pensando nas futuras conquistas. Pensando em casa em papai e mamãe. Sofri novamente e percebi o quanto me sacrifiquei para ser quem me fiz. Não tinha como retroagir. Vinícius girou de novamente e o dia começou. Agora só o ronco do nebolizador
Estou aqui e em outro universo,
Universo mental
Quantos lugares,
Ah...
Perdidos nos meus giros,
Nos giros,
Na massa cinzenta.
Estou perdido.
Essa linda árvore de tronco cinza
Folhas verde escuro, macias
Folhas imparipinadas e caducas
Gosta de serrote pra viver
Vi em Serra e sertão,
Vi florida beira a perfeição,
Flores alvas fios rosas
Frutos secos cinza mariposa
Frutos estiptados e alados,
Pelo vento é levado
E nas chuvas a semente,
Germina e se desenvolve,
Dando início outra vida,
Continua a geração.
Hoje é sexta-feira Santa,
Não estou em Serrinha,
Não poderemos mais estarmos juntos fisicamente.
Porém está em mim, na minha essência,
Nos meus pensamentos mais felizes.
Não sentará mais a mesa, mas está entre nós.
Em todos os momentos de celebração, sejam eles felizes ou tristes,
Ensinarei e continuarei nossa linhagem.
Sois parte da unidade.
Um pilar essencial.
Sois nosso pai.
O pai de nossa família,
Pater familie...
Nossa pinha.
Amor eterno.
Não é por que partiu que não celebraremos a ti.
Quem sabe está em páscoa em família com seus pais e irmãos.
Hoje é sexta-feira Santa.
Sangue de Cristo tem poder.
O cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo.
Quantas esperanças alimentadas ao longo da vida.
A vontade de ser de ter a ideia da felicidade.
Quantas páscoas estivemos juntos,
Jejuamos, sejamos e oramos.
A fé foi nossa maior guia sempre.
Alguma vez mudamos nossa forma de agir.
Nossa forma de ser.
Parece que nascemos assim.
Nascemos ou nos tornamos assim?
Pensar para avaliar se está tudo bem ou se necessita mudar.
Pensar para organizar o ser a ideia de ser.
Amarrar as ideias soltas,
Várias e várias vezes,
Novamente, repetidamente...
Tenho feito isso observando a natureza.
A Jurema tem época de florada,
Independente da chuva,
A Jurema tem folhas até na seca,
Porque assim se fez
Ou lugar assim a gerou?
Entende.
Ver e aprender com o visto.
A fé é um combustível
Mas nós somos a usina.
Uma fotografia,
Uma música,
Um odor,
Um gosto,
Despertam memórias,
Boas ou ruins,
Memórias,
Memórias...
Reviver.
O que é real?
O que é sonho?
Traços em todo lugar.
Quando quero lembrar,
Acesso uma das fontes.
Boas lembranças.
De amor...
Esqueça a dor.
Meu bebê está crescendo tão rápido.
Ainda a pouco o sorriso era um reflexo involuntário.
Ainda a pouco não via nem as cores.
Em três meses está tudo mudou, agora está evoluindo tão rápido.
Benza Deus.
À tarde caiu. Acabei umas atividades e fui cuidar de Vinícius meu filho. Pego no braço e vou pra lá e pra cá. Coloco no carrinho e fico brincando. Ontem fez três meses de vida. Nem sei expressar o quanto que ele preencheu as nossas vidas. Enfim, sai na sacada para olhar o mundo. O que vimos foi um mundo lindo, mas triste com a Covid. Meu bebê nem imagina. Mas estamos passando por isso a mais de um ano.
Ouvi o sanhaçu de coqueiro cantar, um gavião cantar, o brilho do sol numa parede.
A tarde caiu no infinito.
Por vezes, amanheço indisposto. A razão não me impulsiona a agir. Até parece que o mundo é um pesar.
Embora não queira, até meus pensamentos são lentos e cansativos.
Nem todas as manhãs são maravilhosas quanto manhãs pós chuva no semiárido em que acordamos dispostos.
Dizem que pode ser o açúcar no sangue, acho essa hipótese plausível.
Colocar a culpa no açúcar.
O tema entendimento tem me interessado bastante ultimamente.
Talvez não seja possível filtrar ou peneirar deste texto algo palatável.
Espere!
Coloque ai no youtube "Divertimento pour cordes K 136" de Mozart.
Ouça um pouco!
Sentes algo?
Não.
Apois, eu sinto algo bom.
Sabe ouvindo eu visualizo uma memória que adoro cultivar.
A paisagem é de Serrinha do Canto,
Entre os anos 80 e 2000, os meses são entre julho e setembro,
O ano foi ótimo. Choveu muito teve muito inverno.
A roça de milho já secou e papai dobrou cada um dos pés
E a fava faz pavio se enovelando nos pés de palha seca,
E o vento sopra a vontade,
Livre, solto...
Canta a siriri...
Da terra nasce um mato verde de cabeças brancas.
Volto ao agora, momento presente.
E a realidade dos fatos atormenta meu coração.
Calma Rubens!
Calma... Vinícius está dormindo no colo da mamãe.
Fez três meses.
E você ai tentando organizar as ideias.
Tentando ler Neruda e Pessoa,
E flertando com Kant e Hegel...
Já não basta a complexidade do mundo.
É isso...
Entendo você!
Quer por ordem neste caos para poder se sentir melhor.
Mas o mundo é tão multifacetado né.
Uma coisa de cada vez.
Relaxe...
Tudo vai está melhor mais tarde.
Só relaxe.
Acordei de madrugada. Vinícius mudou nossos hábitos. Após amamentando, troquei sua fralda. Voltou, mamou novamente. Enquanto isso fiquei vendo as manchetes.
Não se vê uma notícia boa. Nenhuma sequer.
Volto a dormir e é tudo.
Uma siriri cantou,
Foi o que ouvi,
Cantou lá nas três ruas,
Lá nos pés de castanholas.
Siriri tem muito por aqui,
Tem muito no nordeste,
Lá para as bandas onde nasci,
Tinha muitas
Que ficavam pousadas nos fios de eletricidade.
Depois que a rede chegou,
Abandonaram os ramos dos cajueiros,
Agora só ficam na rede,
Na beira da estrada.
Contemplei muito a siriri enquanto a tarde caia,
Enquanto a vida passava,
Enquanto pensava como um dia sairia dali.
Era um sonho,
Hoje um sonho realizado,
E olhe!
Aqui estou pensando no lá.
Não estou vendo o siriri,
Mas ouvindo ele vocalizar.
Os tempos são outros,
Assim como as responsabilidades e os problemas.
A vida só muda de faces.
Já fui a tantos lugares,
Já morei também em outros lugares,
Vivi tantas coisas
E olhe a conclusão que chego é que são apenas
Acidentes...
Situações acidentais.
Situações acidentais que ocorrem enquanto os dias se passam,
Os meses e os anos...
Quando nos damos conta disso,
Às vezes já é tarde.
Um siriri, minha memória e o agora,
Amarrando um momento,
Que tão logo deixa de ser.
A vida muda de faces.
Não saber qual é a próxima face nos assusta.
Não dá para esperar feito semente pelo melhor momento para nascer.
A vida é contínua...
E continua até o fim.
Eu Rubens sou testemunha disso.
Quando estudava em Natal era mais fácil ir em casa. Sempre que podia voltava para casa. Papai nas manhãs de sábado me chamava para irmos a rua. A gente pegava a nossa moto azul, uma Honda que temos desde 1997, e partiamos para Martins. A moto até sabia o caminho. A parada era a figueira de seu Davi o famoso da bodega em frente ao colégio Alumínio Afonso. Lá estacionava e íamos a venda do profundo Antônio de Chiquim do Alive. Onde havia maravilhosos encontros dos amigos. Era Aluízio, Hélio de Chico Franco, Bolinha de tio Aldo, Marlene de Chiquim, Washignton, Antônio de Doquinha, Dadá Vicentin. Era uma festa de tanta lorota boa. Depois de tomado o café. A gente ia a venda de Heide Godin pra fazer uma feirinha. Arroz, açúcar, carne, café, produto de limpeza, tomates, bolachas e o meu abacaxi... Papai tinha o prazer de fazer um pequeno mimo. Provava sempre de uma ou duas uvas, no açougue depois de pedir a carne sempre dizia... Pese bem pesado. Pedia a Soró uma caixa. Depois Ceição fazia a conta. Papai pagava e a gente voltava pra casa. Esse foi nosso gostoso hábito por muito tempo. Era um momento só nosso. As vezes a gente não percebe que a grandiosidade dos momentos está na simplicidade do ser e do existir. Fabulosos momentos que pude viver com o papai.
Sabiá ah sabiá.
Se te ouço chiando já sei o que é que está acontecendo.
É o gavião perturbando.
É o gavião xeretando.
Xô gavião.
Longe cantando está outro sabiá.
Sabe, sabiá tem em todo lugar que já fui no Brasil.
Lá em Serrinha do Canto, onde nasci.
Nas manhãs após boas chuvas,
Quando íamos plantar só se ouvia sábias cantando.
Não queria estar plantando,
Queria está sabiazando.
O solo fértil pronto para germinar as sementes
Parecia está contente com o canto do sabiá.
Em Campinas o sabiá vinha arrancar minhocas no meu jardim.
Até fazia ninho na linha da área de fora.
Amo o sabiá 😍
Calumbi
Arbusto de copa fechada,
Mais eita que a rama é armada,
Armada de unhas de gato
As folhas bem miudinhas,
O cheiro da rama que forte,
As flores são tão alvinhas,
De doce maravilhoso odor,
Os frutos quebradiços
Achatados e articulados,
Calumbi nasce bem alí,
No lado da cerca,
Cresce um inverno
Ou dois e depois
Desaparece.
Escritos de Borges,
Fenomenologia do espírito de Hegel,
A crítica da Razão Pura de Kant,
Sonatas de Mozart,
São elementos que precisam serem conhecidos,
São elementos essenciais na expansão da consciência...
Sim a bíblia,
O Gita também.
Uma ou duas coisas de cada vez.
Não se pode com muita fome a mesa,
Nem com muita sede ao pote.
Se te apetece coisas simples e geniais da netflix, então se empanturre,
Se te cansas pensar, então simplesmente sirva-se deste banquete.
A vida tem os dias contados,
Faça sua opção.
Deitado no sofá,
Ouço o meu entorno,
A chuva chovendo,
Que chiado gostoso,
Um galo cantou,
Um papa capim,
Um bem-te-vi
Duas siriris
No céu alvo voam tanajuras
E bem-te-vis a comer.
O ventinho frio sopra pela janela,
Manhã a dentro.
Casaca-de-couro pássaro estouro,
Em Serrinha do Canto em nosso sítio,
Na galha do cajueiro cantou e fez
Um ninho a casa-de-couro
Papai ficou tão orgulhoso
Papai ficou tão feliz.
Está ouvindo é a casaca de couro.
Vou plantar um cajueiro
Pra a casaca de aninhar,
E cantar, e enfeitar a nossa vida.
Até o picapauzinho ficará feliz,
A vida enfeitada
A vida feliz.
Plic plic plic amanheceu chovendo,
É muito gostoso acordar bem cedo
Ouvindo a chuva chovendo
Pássaros calados...
Falando em pássaros nunca
Ouvi o joao-de-barro
Eram tão lindas as tardes
Mas num lugar arenoso
Não tem João de barro.
Certa vez um João de barro
Construiu um ninho no orozinho,
Papai ficou tão orgulhoso,
A terde de inverno ele sempre
Sempre canta na caatinga,
João-de-barro e a chuva chovendo.
O pode ser melhor na vida?
Silêncio e o sono quebrado,
Meia noite e o bebê acordou,
Pra mamar, pra trocar frauda,
Pra respirar melhor.
Ommmmrommmmmm.
Voltou a dormir.
Boa madrugada.
A tarde caiu chuvosa,
Úmida e escura e quente.
Em silêncio.
Só se ouvia os pingos chovidos,
Era tarde de sexta-feira,
Em casa, só se via os prédios
Do altiplano acessos
Acenando para o mar.
Daqui de casa
O escuro da mata feliz
O jardim feliz,
A rua molhada,
Molhando,
A chuva chovendo.
Quando a chuva chovia,
Papai se encolhia,
Se recolhia,
Papai dorme o sono eterno,
Saudades dele.
A chuva continua a chover,
Chuva universal,
Chuva eterna,
Tarde eterna,
A gente é só um espectador,
Um sujeito
Entre tantos outros.
Mufumbo
Folhas cinzentas
Madeira rígida,
Cresce em maloca,
Sai em uma soca,
Flores pequenas
E perfumadas,
Doce aroma de mel
Que incensa o tabuleiro,
Planta resistente,
Mufumbo, mufumbo, mufumbo,
Planta maravilhosa,
Cinzenta e escabra,
Frutos estrelados,
Tetralados,
Para o vento dispersar
O vento suave assoviando pela janela,
Passou a manhã inteira me lembrando,
Lembrando de momentos plenos da vida,
Sabe quando a gente está feliz por esta vivendo,
Pelo momento...
Sabe quando a gente percebe isso
No vento soprando.
Soprando assanhando a mata.
Soprando ecoando no fogo da cozinha,
Soprando e assoviando a janela,
Soprando e limpando o milho ou o feijão.
Soprando na algaroba,
Soprando na serra,
Soprando na aurora.
O vento nos fazendo sentir a vida.
Coisas de seu tempo,
Quando as chuvas partem da depressão,
Deixam o sertão,
Enquanto o vento tudo ameniza,
E cela uma mudança de estação.
Tambor tamboril,
Árvore imensa de copa aberta,
Tronco e ramos alvo a cinzento
Folhas folhinhas agudas
Fruto seco auriculado,
Cresce nas serras
No verão endurecido fica,
E se veste e floresce em outro.
A planta é tão bela,
De caule linheiro,
De agradável cheiro,
Folhas sanfonadas,
Sendo as hastes armadas
Com cera nas fechadas
Bela árvore da vida.
Oferta suas folhas
Para serem vassouras,
Suas hastes para giral,
O caule serem linhas,
As raízes tira sal.
É sinônimo de lugar,
Carnaúba, carnaubais,
Carnaúba dos Dantas,
Cresce perto do rio
Sempre verde linda está
Perfeita e maravilhosa carnaúba.
Lá agora chove,
Aqui dentro está tão bom.
Cama e cobertor macio,
Meia luz,
O barulho da chuva chovendo,
O sono...
Hoje, cedo da manhã. Estava aqui sentado matutando. Ouvi bem longe um rouxinol cantando.
Achei aquele canto tão lindo. Até senti quão maravilhosa é a vida. Eu aqui parado e ele lá talvez perto das
três ruas cantando, de certo saltitando e voando. Na minha infância só ouvíamos e víamos rouxinol cantando na época das chuvas.
Quase sempre ela fazia ninho na soleira da porta. A gente não gostava porque geralmente dava cafifa.
Aquela avezinha marrom se reproduzindo. Depois cuidando dos filhotes. Depois ia embora, sumia no mundo e só voltava no ano seguinte. Ela sempre voltava.
Chegava em janeiro e partia em julho. Talvez fosse esse o tempo que ficava com a gente.
Ela chegava com as chuvas e com as moscas. Visto que quando chovia apareciam as moscas.
Apareciam as tanajuras e os sapos.
Ou seja... um pensamento nunca é isolado.
O tempo,
Os relógios,
Os calendários...
Escalas temporais...
Memórias.
Espaço,
Aqui,
Lugar,
Brasil,
Escalas espaciais,
Estará tudo determinado,
Estará tudo dado?
Moiras tecem um destino?
A pandemia.
2020... China, ... Brasil.
Amanheceu e nem vi,
Vi que era madrugada,
Mas achei que era sonho,
Abro a janela que dá para as três Ruas,
Relaxo ao sentir a brisa fria,
Brisa fria da manhã.
Folheio um livro do Neruda,
Leio um poema.
O mundo parece perfeito.
Sanhaçus piando e cantando nas árvores lá das três Ruas,
Olho a pintura de casa na parede,
Vejo papai sentado acariciando a cabeça de tuninha.
Penso no caos que está o Brasil,
Penso sobre de quem é a culpa...
O chiado do computador me puxa para a realidade do quarto e da vida.
A brisa volta a soprar pela janela,
Acompanhada de gritos de jandaia,
Olho no espelho,
Ouço Vinícius bocejar.
É os anos são um declínio para nosso corpo,
A vida passa num filme,
E ouço na mente a sexta sinfonia de Beethoven.
Calmamente...
Volto deste momento feliz.
Que linda de encontrar
Com sua copa florida,
Sem folhas está despida,
Encarnadas de flores vestida
Com beija-flores visitando,
No córrego fez morada
Seu tronco é grosso e armado
Sua folha de feijão é semelhante,
Seu fruto é uma vagem
Com sementes reniformes
Com testa dura e avermelhada
Esse é o mulungu.
Houve um tempo
Em que tudo era novo,
Em que tudo era descoberta,
Houve um tempo
Que acreditava no amanhã,
Que existia um amanhã
Aquele tempo
Eram os anos da infância,
Eram anos fabulosos,
Que a felicidade explodia
Com confeitos
Com brinquedos
Aquele tempo
Não tínhamos nada
Porque de nada precisávamos,
Éramos autossuficiente,
Tínhamos frutas,
Tínhamos leite,
Havia dias plenos
Festas juninas,
Dia das crianças,
Semana de páscoa,
Noite de natal,
Eram dias plenos,
Serrinha do Canto
Era o centro do mundo,
Minha casa o centro da galáxia,
Minha cama o centro do universo,
Meus pais e irmãos meu norte
E eu era tudo.
Ai o tempo passou,
Ai aprendi sobre tudo,
E tudo se descortinou,
E tudo ficou insuficiente,
E perdi o eixo de tudo,
Aqui estou...
Sendo pai
Sendo o eixo principal de meu filho,
Que tem João pessoa como galáxia,
A mãe e eu como universo,
O berço e o carrinho como universo,
E ele é tudo.
A noite caiu nas três Ruas.
O escuro e o silêncio me impressionam.
Ouço o canto dos grilos,
Ou será um eco em minha cabeça?
Penso ou sinto em minha mente que estou em Serrinha do Canto.
Penso qualquer coisa.
Quando se está cansado os pensamentos são desorientados.
Mistura saudades com realidade
E o que tem é a insônia...
Mais sensação de cansaço.
Acho que é possível superar tudo isso.
Com o sorriso desdentado de Vinícius,
Meu bebê.
É isso.
A madrugada silnciosa
É inundada pelo canto do siriri
Que vai ondulando seu canto
Siriririririri
E entra em cena a corroira
Cantando seu canto marrom
Daqueles saltitando na faxina,
No chiqueiro, na casa velha.
Canto tão lindo.
Até valoriza a madrugada de domingo,
Até valoriza a rua, que dá nas três Ruas.
A gente fica pensando essas coisas
Ouvindo o mundo de fora e de dentro da gente.
Mundo real e mundo subjetivo.
São apenas divagações,
De quem perdeu o sono
E ama ouvir o mundo
Na esperança de se prender ao mesmo.
Canta siriri.
Canta corroira.
A noite e o dia,
Em casa.
Um bebezinho lindo,
Com horários militares,
Com gostos apurados,
Hora dos bainhos,
Hora de mamar,
Hora de dormir,
Hora de dirigir,
Hora para tudo...
A gente se acostuma com o tempo
E ama cada momento.
Até mesmo limpar e trocar a frauda.
Tem horas que cansa,
Mas o cansaço vai embora
Num lindo riso,
E o coração desmancha
E ternura e amor.
É madrugada escura,
Nas três Ruas o vazio,
No firmamento céu estrelado,
No substrato paralelepípedo
Dormem lado a lado.
Ali nas árvores e nos telhados,
Canta contente a corroira,
Aqui acordado estou deitado,
Pensando a existência,
A continuidade da vida,
Os fatos e os sentimentos,
Memórias agora internas,
Vovó, vovô, tio Aldo, papai
Ontem reunidos pelo tempo
Hoje pela morte,
Nesse eixo,
Aqui estou eu e a corroira
Acordados na madrugada,
Cantará pelo seus pais?
Ou já superou e canta por cantar?
Quem saberá.
Teu cheirinho,
Tua maciez,
Tua altivez,
Teu sorriso,
Teu carinho,
Tua inocência,
Tua impaciência,
Que plenitude
É você
Só você,
Meu bebê.
Onde andará tua alma,
Além do real e racional,
Em algum lugar onírico,
Onde reina a paz.
Onde andará tu,
Não sei, mas percebo a ti,
Nas árvores não cortadas,
Na mata fechada,
Na cerca mal alinhada,
Na roça de palma,
Nas fruteiras do terreiro,
Nas flores do jardim,
Nas fruteiras do quintal,
Na minha pele.
Por onde ando
Num universo aéreo,
Perdido entre pensamentos,
Buscando uma referência,
Já que perdi minha maior inspiração.
Me perco olhando pro tempo,
Para as coisas lentas,
Acendo velas para orações.
Acho que nunca fui tão místico
Será possível se encontrar?
Tenho um mar de dúvidas
E nem uma gota ou um grão de certeza.
Amanheceu chovendo.
Que fenômeno maravilhoso,
A chuva chovendo,
Que fenômeno curioso,
A água tudo rompendo,
A água caindo e preenchendo,
E então vai se escorrendo,
As vezes nos encharcamos,
As vezes, nos sentimos chovidos.
São coisas da vida,
Coisas boas como ouvir a chuva chover.
A chuva amanhecer,
A vida acontecer.
Tenho pensado na vida o tempo todo e não sei se é bom ou ruim. Para melhor dizer, não é a vida toda, mas desde o momento que tomei consciência de minha existência. Desde então, soube que a vida tinha um fim. Esta ideia tomou o meu ser. A finitude. Então passei a observar o mundo. A noite, o dia, a aurora, o crepúsculo. E pensava as coisas e estas aconteciam, mas nunca da maneira como imaginava. Então me perco na celeuma de pensamentos... Até que as coisas aconteçam como tem que ser.
Mucunã cipó calibroso,
Que cresce nós lajeiros
Sobre a vegetação
Vai se enovelando,
Formando ramada,
Quando em florada,
Fica toda roxeada,
Intensamente perfumada,
De longe se ouve o zzzzz
Da mamangava abelha avantajada,
As Folhas trifolioladas são caducas
Se desprendendo na seca,
Fica só o estirão,
Com suas Vargens macias e veludosas
Que espocam atirando as sementes
Que parece encoraçada
Essa é minha toada.
Árvore enorme
E Sombra rala
Miúdas folhas
Armado tronco
Casca encarnada,
Feito couro curtido,
Mandeira forte e dura,
Usada no carvão,
Na porta e janela,
Na cangaia...
Perfume de verão,
Alimentar a fauna
Plataforma de pouso
Mata frouxa
É o anjico
Manhã plena ensolarada,
Céu azul oceano céu a brilhar
Então saio a pedalar,
Cruzo ruas olho os jardins
Vou seguindo até a mata
Que vigor viridescente,
Flores amarelas,
Flores alvas perfumadas
Perfume de angélica
Perfume de guabiroba,
Perfume de mutamba,
Eita mata perfumada,
Até o feijão bravo tá florido
Nesta faixa tão estreita,
Cada vez mais esmagada,
Pela construção civil,
Já não sobra quase nada,
E o que sobra ainda descartam lixo,
Pobres árvores esmagadas,
Pobrezinhas perfumadas
Mutamba,
Guabiroba,
Angélica,
E o que sobrar no futuro
Nada nada nada,
Só o luxo
Só o lixo,
A mata tá condenada,
Pobrezinhas esmagadas,
Porém floridas e perfumadas.
A noite escura
O céu estrelado,
Estrelas brilhando,
Nuvens passando,
Um dejavour,
Faltou o relinchar
De um jegue
Besouros ciciando,
Minha mente está perdida,
Divagando sobre o não ser
A brisa sopra
Os olhos se cansam,
E a ordem lógica não foi achada,
Nenhuma ideia,
Cadê o entendimento?
Como sempre atrasado,
Como sempre acanalhado
Muito querendo e pouco comendo.
E a sextilha?
Não sei ainda,
Mas vou aprender
Estou tentando aprender a aprender.
Mais nada.
Árvore torta e armada,
Romos abertos e difusos
Casca castanho avermelhada,
Quase sempre esfoliada,
Suas folhas imparipinadas,
Perfumada se rasgada,
As flores reduzidas
Diclinas e tetrameras,
Os frutos cápsulas
Com sementes ariladas,
Na cultura popular,
Se usa a madeira
Pra fazer artesanato,
Porta, bichos, objetos,
Nasce muito na Paraíba,
Mas dá em toda caatinga,
Embeleza nosso lugar.
A janela aberta,
Quadro na parede,
A brisa fria que entra,
O canto do sanhaçu-palmeira,
O sanhaçu-cinza,
O papa-capim,
O chiado do computador,
A vida é sublime sobre tudo,
Mas lembrar que está vivo,
Pensar nisto tudo,
Pode tornar tudo mais gostoso.
O meu amor nasceu contigo,
Seu primeiro choro derreteu meu coração,
Ao te pegar no braço, fui tomado de amor,
Ao te ver sorrir, fui tomado de amor,
Ao te ver respirar, fui tomado de amor,
Ao te ver chorar, fui tomado de dor,
Seu choro é seu código que aprendemos a decifrar,
Tudo fazemos para sentir que estás bem,
Estás bem...
Se dorme te amamos,
Se brincas te amamos,
Contigo nasceu uma nova forma de viver.
A madrugada encantada,
A corroira cantando calma,
O bem-te-vi de sobrancelhas,
Dizia que tinha me visto
Som belo, som perfeito
Nem vi a madrugada
Agora canário corrochiam
Há uma grande beleza
Em tudo isso
A celebração do ser.
A gente vive como sabe, como foi ensinado a viver.
E como a gente sabe?
Porque viver é ser.
E o que é ser?
Está ai?
Ensinaram-me tudo que sei.
Aprendi o que que me ensinaram.
Aprendi o que entendi e o que busquei aprender, além do que sinto, além do que percebo.
Como se nortear sem uma direção a seguir?
Olho no espelho,
Encaro-me olho no olho. Penso quem sou?
E me perco ainda mais na consciência.
Se o fim é único para que tanto esforço?
Sou e uma aranha na teia é,
Uma mosca presa a teia é,
Uma jurema é.
A coisa em si e a coisa para si.
Até quando é e enquanto é.
Qual o valor de cada coisa?
Tudo isso me custa o entendimento.
Mais nada.
Que saudade da infância
Que foi toda vida campestre
Em tudo só via e sentia,
Em nada pensava,
Só existia, só ria,
Mamãe pensava por mim,
Papai fazia o que podia,
Riso era alegria,
Alegria igual a confeitos,
Por isso ficava ansioso,
Pelo sábado quando papai ia pra feira,
E trazia sempre em saquinho de papel,
Um punhado de confeito,
E distribuía pra gente,
Trouxe um caminhão amarelo de botijão,
Trouxe um caminhão azul de cavalos.
Mamãe me mimava,
Rosangela me cuidava,
Nas terras arenosas desconhecidas,
Fui vivendo minha vida,
Nossas vidas,
Chupando caju e umbu,
Envergonhado, sonso,
Dentre outras variações
A infância traçou minha existência,
As orações guardaram o medo,
A fé o norte...
A vida uma essência...
Momentos doces de infância.
Na infância memórias são cristalizadas,
Memórias maravilhosas de serem rememoradas,
Até parecem fluir no momento que são acessadas,
Vou agora contar uma memórias visualizadas,
Memória que de certo não serve para nada,
Só para que não esquecer de uma vida passada,
As paisagens constantemente são transformadas,
Porém essas jamais serão esquecidas,
Passaram do nada para a existência amada,
Por isso aqui vou compartilhar,
Minhas primeiras memórias botânicas,
Sinal de já sabia o que queria quando nem imaginava,
Eram estas paisagens com seus elementos
Que enchiam a minha infância de lindo espaço,
E alegram o meu presente ao matutar.
Tinham plantas ornamentais que admirava...
A mumguba de Lídia de Severino
Um tanto perfumada com filetes alvo e vinho
O ipezinho de jardim de Elita de Joãozinho, Antonio de chiquinho e da Primeira igreja batista.
O Jasmim de Elisa de Vicente Joana e de Maria de Vicentin,
Os hibiscos de Loló de Assis,
A mutambas de Vicente de Paulo,
O bico de papagaio de Dorinha de Luiz de Bonifácio,
A figueira de João Corme, linda árvore abandonada ao pé da ruina da velha casa.
As plantas medicinais
Um lindo eucalipto na casa de Zé de Júlio e na casa de Banício,
A romã na casa de Irelda,
Com as plantas alimenticias a gente olhava e se deliciavam
A condessa de Nelope,
As pitombeiras de Bonifácio e Chico Franco,
As jaqueiras de Dezu de Loló Laercio de Bonifácio, e de tio Jessie,
Os umbuzeiros de Elita de João de Lico, Zezim de Tica, Jona Rosendo, Loló de Assis, Antônio de Chiquim do canto,
As cajaraneiras de Laurita, Munda e Mariana e Mindin.
A baixa de coqueiro de Dudé,
A mangueira espada de Bunina,
A mangueira de Leoni,
A ciriguela de Antônia de Nelson,
A pimenta de macaco e mangericao de vovó Chiquinha,
A groselhas de Irelda,
A gravioleira de Loló de Diniz,
A laranjeira de Elita de João de Lico,
O linheiro catolé de Eunice,
As plantas nativas sua natureza se expressava,
O feijão bravo de Iola de Dequin
Os anjicos de Rita das urupembas,
Os catolés de Vicente Paulo,
A Timbaúba de Toto de João Corme,
A embiratanha de Chico de Vicente Joana,
O coração de negro de Nelope,
A aroeira de Juvenal,
Os odores das flores de cipós de Bignoniaceae...
Odores de cor rosa ou amarela das tecomas.
Os odores doces alvos das mimosas, unhas de gatos e espinheiros.
As flores estreladas das Jitirana,
Flores multicolores rosas, azuis, alvas e amarelas,
A rama prurida das urtigas,
O amarelo ovo das senas,
O cheiro violeta das mucunas,
A azeda fruta da imburana,
O cheiro doce do cumarú,
O amargo da Marcela,
O baboso do juá,
O azedo do cajá,
O travoso da maniçoba,
A torteza do Jucá,
São lições botânicas
Fortemente afetivas,
De pessoas muito amadas,
Algumas já partidas...
Assim é viva está minha
Meu canto em Serrinha do Canto.
Apesar de ser armada com unhas de gato
Eram bonitas e perfumadas suas flores,
Um pompom bem rosadinho que fica alvinho,
De tanto abelha visitar e assim realizar
A famosa polinização que é a condução
De pólen de flor em flor por meio de um vetor o agente polinizador,
A flor ao ser fecundada vai se desvanecendo
E o fruto a ser formado vai logo se desenvolvendo
Dos estames o pólen é formado,
É nas anteras gerado.
O pistilo por estames é rodiado,
Essa estrutura feminina por estigma
Estilete e ovário é formado,
No estigma o pólen é recepcionado
Pelo estilete encaminhado,
Onde tubo polínico se desenvolve,
Sendo no ovário recepcionado
Pela micropila o tubo se rompe
E os microgametofito e megagametofito se encontram se fundindo,
Assim um embrião é formado,
A micropila aí se fecha,
Dos integumentos a testa é formada,
Da dupla fecundação o endosperma seminal
Assim a semente é formada
E concomitante a está o fruto do ovário se origina.
Fruto seco achatado de craspedio é chamado
Sendo autodispersado,
A semente é tão pequena e dura
De cor castanha pela testa envolvida
Com uma forma de ferradura ornada
Pelo nome de pleurograma é chamado
Na terra fértil é germinada.
As folhas são todas miudinhas de invermo
De dia se aberta e a noite se fecha
Se desprendendo no verão
É um pé de cerrador planta bela do sertão,
Mimosa paraibana é batizada
Pela taxonomia classificada.
Assim chego ao breve fim
Creio ser a botânica assim.
A lembrança tem seu encanto,
Por vezes, nos causa espanto,
Na infância era tudo diferente
Em casa pouca coisa tinha a gente
Para nossa pequena lida tinha
Enxada, enxadeco e chibanca,
Até uma velha campinadeira
Para o mato da roça campinar
Roçadeira, facão, foice e machado,
Para tirar forragem e madeira
E o gado alimentar e o curral cercar
Um velho morão de pegar e vacinar
Na casa velha havia uma caixa de madeira
Cheia de traquitanas como pregos,
Alicate, troques e martelo, suvela,
Serrote, pua e plana gostava de chafurdava
Então foi num ano pela tarde
A uma escola fui pra lá levado
Todo mundo em fila estava sentado
Me deram um caderno e um lápis
Num quadro verda a professora
Explicava que riscos eram sons
A - E - I - O - U e A, B, C...
Vogais e alfabeto
Um caderno e um lápis
E a incompreensão e insubordinação
Tinha como punição um puxão
De orelha... Ardia e queimava,
Acho que não ligava pois sempre repetia a ação
Ah lição complicada,
Do ABCD chegar a entender o mundo
Que paciência e perseverança,
Largar a infância e se abraçar a responsabilidade
De ler e entender o mundo pelas palavras
As ferramentas de casa eram muito mais simples,
Mas a coragem faz o guerreiro,
Aos trancos e barrancos passava de ano
E ouvia um elogio e um livramento passar de ano,
Ouvia com prazer que ao menos era inteligente,
Ouvia dizer das aparências com Françuar
Comparado até nas astúcias assim cultivava
Minha inteligência pequeno era o mundo
E grande a imaginação...
E ouvi dizer que Dona Lenita era mais rígida,
Mais valente, então o medo me adestrou,
Tomei de primeira as lições, aprendi o que achava
E pontuava as escola, passei por média,
Entre ditongos e tritongos... a Bahia e o Paraguai,
Algo era uma luz e deixara de ser cruz,
Na Serrinha Grande foi a vez de Conceição,
Professora do sertão
Que chegava a serrinha,
E rezava toda manhã,
Agora mais liberdade,
Agora mais responsabilidade,
Três litros de leite e a sala de aula,
Na vergonha vendia aqueles litros,
E o dinheiro a mamãe dava,
Na escola sempre passava...
Quinta série essa foi um destroço
Era muito o alvoroço,
Estudar com professores,
Esperar aula de educação sexual,
Fui expulso da aula de religião,
Fui para quarta avaliação em matemática,
E em ciências, quase reprovei,
Ainda lembro do olhar de severo
De dona Rivete,
Lembro de Cleiton e Primo Valdene...
Edineia, Cileuda, Alessandra e Joesilha,
Sexta série Chaguinha de Viriato me salvou,
Como ave em arapuca,
Fugi de um bagunça nas últimas,
E Chaguinha professor de matemática e ciências
Me salvou da matemática,
Nas ciências me apeguei,
Adivinhe o por quê,
Ali descobri minha inteligência
O livro cheio de imagem,
De bichos e sistemas,
E Chaguinha contava as histórias do Colégio Agrícola de Jundiaí...
Muito obrigado professor,
Na sétima série não esqueço
Aula de geografia,
O mestre José Silva descrevendo as ilhas Polinésias e Melanésias...
Tomava a lição,
Naquela grande inverno,
Para a estrada ia o gado pastorar,
Com o caderno na mão
Aprendia geografia,
Virando as pedras brancas do Barroso
Em busca de escorpião,
Ai veio o professor Luiz Silva também da geografia,
Tomei gosto pelas boas notas.
Na oitava série o destaque foi Ledimar,
Professora Perpétua e Genilda,
Desculpe mas português não era minha praia...
Lembro da tarde que Drummond morreu,
A professora Genilda falou com muita tristeza.
Essa dificuldade da língua ainda carrego,
Em Martins teve a fabulosa Janildes de biologia,
O fantástico Pedro de matemática,
Oneide e Fátima de Português,
O que dizer da generosidade de drs. Moacir e Luizinho,
Josineide de inglês,
A professora de literatura que me fez pela primeira vez ler o mulato
Dona Marta esta apostou na gente...
Me divertia mesmo era na biblioteca
Ali onde ficava dona Bebeta...
Lia os livros de contos...
Fernando Sabino...
Naquelas noites frias da serra,
Não estava só tinha minhas irmãs
Nossos vizinhos e vizinhas...
Sabe os caminhos foram tortusos,
Mas descobri a caixa de ferramenta de Foucualt muito cedo,
E não teve um dia em minha vida
Que não tivesse um aprendizado,
Agradeço a todos que me ajudaram
E principalmente aqueles que me apoiaram,
Aqueles que vieram e se foram,
Seria impossível descrever...
Dedico tudo que sou a mamãe e a papai.
E fico por aqui.
Às vezes, a gente fica concentrado,
Fazendo atividades cotidianas,
E ouve sons de coisas humanas,
Som de longe distinto e perturbado,
Parece que ouvimos o eco do tempo,
Parece que nos perdemos no espaço,
A gente sente intensa nossa individualidade,
Sente o quanto somos solitários
Talvez tenha tido essa sensação
No estalado a queimar a maravalha,
No ferver do café com água que borbulha,
No chiado da chuva longe que vem chegando,
Na solidão noturna ouvindo um roncar...
Coisas humanas,
Coisas humanas,
Coisas humanas,
Pulsações da vida,
Que renega até a morte a morte,
Esse medo do desconhecido,
Aprendido desde o ser um bebê.
Agora ouço longe
Roncos de motores,
Ecoando nas ruas,
Longe muito longo vou,
Estou no meio do mato,
Ouvindo roncos de motores
Ecoando nas gargantas das serras,
Ecoando entre as caatingas...
Quem desconhece a cinza
Que se faz ao apagar crepuscular
De cada dia, o cantar da ave maria
Na voz de Gonzaga...
Esse profundo eco
Espelho do tempo,
Eternidade momentânea,
Num ponto é fiado é tecido
O presente e o passado
No ser...
Agora a compreensão que o entendimento está para além da experiência.
O tempo em conta gota
Sendo o sono fracionado
A noite que antes fora oculta
agora está sendo desvelada
Entre horas se ouve seu chamado
Um gemido, uma virada, uma tosse
Quando a gente olha e ver
Tanta beleza condensada
Fica hipnotizado cansado
E feliz sem perceber a noite
E seus fenômenos revelados
Frágil Belo e delicado
Necessita de atenção,
Precisa de cuidado
A paternidade é assim revelada.
Um dia esses versos
Serão empoeirados
Serão esquecidos,
Não desaparecidos
Terá sempre uma chave
A quem quiser acessar,
A quem poderia interessar,
São imaturos e pobres
Nem sabem o que expressar,
Falta métrica e rima e emoção,
Amorfos buscam uma classificação,
Querem em um gênero se encontrar
Desejam ser objeto do pensar,
Buscam nas palavras enunciação
Buscam alguma participação
Mas como um um habitat encontrar?
O tempo e o espaço hão de se encarregar
O que vos escreve desconhece a arte
Desconhece os paradigmas e toda parte,
Sabe apenas que o oriente ama a lógica.
Matutar a palavra encaixa-la feito dominó
Encontrar a beleza na organização rimada
Me trás uma reflexão pouco embasada
Que os espaços são ocos e podem ser um só
Ocupado, limitado ou ilimitado,
Pois agora é a melhor hora
De quebrar o paradigma
O protocolo, e aqui intuir
Criar uma quimera
Que seja mesmo independente,
Particular ou universal
Que seja livre
E apesar de tudo original
Que tenha fim imediato.
Serrinha do canto
Meu amado encanto,
Meu centro espiritual,
Meus referenciais,
Em linhas gerais
Aqui sempre estou,
Serrinha do Canto
Foi onde eu cresci,
Foi onde vivi
Vivi protegido,
Vivi amado,
Papai e mamãe,
Meus irmãos e irmãs,
Nossa casinha,
Serrinha do Canto
Onde tudo começou,
As primeiras brincadeiras,
As primeiras amizades,
As primeiras orações,
Serrinha do Canto
Meu ponto de dormida,
Meu ponto de comida,
Meu sentir plena a vida,
Serrinha do Canto
Os nossos vizinhos,
Nossas famílias escolhida,
Elita e Joãozinho,
Du Carmo e João Lusso,
Chico Neco e Arlete,
Artur e Eliza,
Ribamar e Lena,
Airton e Eliene,
Zezin e Tica,
Dudé e Zé de Geremias
Hélio e Paulinha,
Crejo e Josa,
Loló e Dezu,
Seu Mundinho e Luiz,
Dequinho e Iola,
Totó e Zuleide,
Nelson e Antônia,
Raimundo Vieira e Cacau,
Antonio de Doquinha e Ziná
Diã e Neta,
Joquinha e Nena,
Juvenal e Iraide,
Adelson e Antônia,
Nelope e Luzia,
Livani e Evandro
Chiquinho do Canto e Socorro,
Bonifácio e Loide,
Tirite e Lenita,
Leci e Laurita,
Maria de Cajumba,
Tio Juice
Zé Vieira,
Miguel e Tereza,
Mané de Branca e
Dadá e Preta
Dinarte e Doraci
Deo, Nazareno, Gorete, Régia,
Zé Paulo e Elita
Jaíme e Luiza,
Chico de Joana e Daleia,
Minino e Ieda,
Vavá e Elieuza,
Neto e Júlia
Diniz e Loló,
Josimá e Elenita,
Elias e Loló...
Serrinha do canto
Minha alfabetização
Dona Livani e dona Lenita,
Não não podes imaginar
Nossas distintas relações...
As brincadeiras de criança
Fazenda, dinheiro moeda de carteira de cigarro,
Carro de madeira,
Caçada de baladeira
Caçada de cachorro,
Pegar passarim...
No inverno os banhos de cachoeira no porção
No verão o fotebol no porção e no marocão,
A biclicleta barra circular e a escola,
Nossa monareta azul,
A luz elétrica...
A televisão
Show da Xuxa,
Leandro e Leonardo
Serrinha do Canto
Um ponto entre os avós
Chico e Chica
José e Sinhá,
Tio Aldo e Tia Nevinha,
Esse meu imaginário...
Serrinha do Canto
Nossas vacas magras,
Nossos cachorros,
Nossos gatos,
Serrinha do Canto
É meu alicerce
Meu tempo e meu espaço...
Afinal quem somos nós
Parte de onde partimos,
Parte de onde saímos,
Parte do que ouvimos,
Parte do que repetimos
Aquilo que queremos repetir,
Agora é hora de matutar
Maturar,
Digerir e representar...
Serrinha do Canto.
Quem conhece o sertão
Reconhece seus odores
E suas diferentes cores,
Quem conhece o sertão
Odores fortes de plantas,
Odores forte de carniça,
Odores fortes de lixo,
Quem conhece o sertão
Conhece a caatinga cinza,
Conhece o vinho do mourão de aroeira,
E o laranja ou a alva da poeira,
Conhecer o sertão
Faz parte da existência sertaneja,
é gostar de caldo de cana e rapadura
Gostar de melão e melancia,
Gostar de feijão verde,
Gostar de pamonha,
Gostar de pescar no açude,
Gostar de ouvir cantoria...
Gostar de se encontrar em festa de padroeira,
Gostar de vida simples,
Mas o sertão mudou,
Criança não come coalhada só yogurt,
Criança não brinca correndo,
Criança tem tablet até aprende inglês,
O sertão mudou,
Agora a caatinga é cheia de lixo,
Agora a caatinga é pobre de bicho,
Muita coisa mudou no sertão,
Cemitério tem telhado,
Adulto vive no celular,
Ninguém mais quer trabalhar,
Mudaram as tradições...
Quem vê o sertão de hoje,
Nem imagina como foi,
Tudo evolui
Que se adapta sobrevive
Que não se adapta morre,
Corre corre corre...
Foi o sertão que mudou ou foi sertanejo?
A morte é o não ser,
A morte mata todos,
A morte é o ponto final
Não da frase, mas do texto.
A gente se pergunta
O que é a morte
Quando nos cerca,
Quando nos leva
Alguém muito querido
Pensamos sem parar
Por que isso aconteceu?
A morte é caixão
É paixão,
É dor
É diluição
Desaparecer
E por fim
Adeus poesia
Morte.
Na madrugada, canta marrom a corroira
Canta, cantando vai pulando pra lá e pra cá,
Grita amarelo o bem-te-vi perto de seu ninho,
Canta laranja o sabiá que parece assobiá.
A passarada anuncia um novo dia,
Um lindo dia de março de 2021,
Um novo dia de ação dia de ser.
Numa manhã domingueira,
Segui com mamãe até o sertão,
Fomos de jegue se bem me lembro,
Lá pra casa de vovó Sinhá,
A estrada era apertada,
Com areia alva
E seixos rolados,
A gente ia caminhando
E o mundo descobrindo,
Cada árvore mais linda,
De certo era inverno,
A água escorria na terra úmida,
Era perfumada a estrada,
Um cheiro de marmeleiro,
Cheiro de velame,
A certo momento num novo lugar,
Ouvia a rolinha cantar,
Fogo-pago, fogo-pago, fogo pago...
E ao voar ouvi o som de chocalho,
Ouvi um canto lá no campo,
Era um canto maravilhoso,
Era o tico-tico do campo.
Chegando na casa de vó,
O mundo era tão amplo
E nós tão pequenos,
Ali se via serras
Eram outras terras,
Serras no nascente,
Serras no norte e no poente,
Só o sul era profundo.
Vovó nos recebeu,
Vovô também estava lá
Vimos a mana Lera
Vimos o primo Magi,
Vimos a alegria de mamãe,
Ao chegar lá se sentia em casa,
A maravaia queimava no fogão de lenha,
Queimava acabando de cozer o feijão,
Tomamos uma coisa mole e alva,
Feita de leite chamada de coalhada,
Rasparam a rapadura
Misturaram e comemos,
O que me chamou atenção
Foi o lugar onde guardava
Tal manja a coalhada,
Descansada numa forquilha,
Teve a noite dormida
E agora era comida...
Eu criança curiosa,
Achava aquilo esquisito,
Casa de taipa,
Vovó idosa,
Vovô pigarreando,
Entre eles conversando
E eu viajando,
Apenas nas formas,
Da vida nada entendia,
Só vivia,
Foi um dia maravilhoso,
Que volta sempre a minha memória,
Parece uma estória,
Mais um dia foi realidade,
Seria a realidade um sonho?
Penso agora risonho...
A casa,
A paisagem,
Meus avós são estórias e sonhos,
Coisas de minha memória,
Que compõe esta estória.
E é só.
Agora é tempo...
Quase meia noite é
Desperto deitado,
Ouço o som
Que vem lá de fora,
Fora é espaço,
A chuva que chora...
A chuva chorando,
Num átino,
Vejo o que não mais existe
Memórias o são essas coisas,
Sei que estou triste
Sinto é tristeza...
Tristeza é reflexo de memória?
A tristeza tem a mesma matéria da memória?
Então penso e escrevo meu pensamento,
Materializando assim tanto a memória
Quanto a tristeza que existe,
Se é que existe...
Só sei porque me disseram,
Você está triste,
Então esse sentimento
Ganhou uma palavra na língua portuguesa.
Se fosse inglesa seria Sad
Ou ainda BLUE...
Esse sentimento existe na natureza?
Duvido que exista fora de mim
Fora de ti!?
Então o que existe fora de mim
Precisa ter substância?
Qual é a substância da memória?
E a substância da tristeza?
A tristeza pode ser controlada
Via medicamentosa
Regulando bem os hormônios,
Endorfina...
A contemporaneidade e a ciência
Juntas numa só mataram a melancolia,
Enterrando as trevas,
Superando os ciclos de Danti.
Parou de chover,
Tudo é silêncio
Mas ouço um som
Um som não é só memória,
A prosa me fez esquecer a tristeza
Ou acabei de ficar triste
Não contente...
Ouço um ruído
Parece som de mangangá
Zuummmm
Zummmmm zeeeeeeee.
Aquela abelha gorda
Sobre a flor papilionácea
Flor violeta da mucuna
Do olho de boi,
Até na sobra da ignorância
Me encantava a natureza das plantas,
Em suas flores, frutos e sementes.
Espere perdi o foco
Ganhei o sono,
Uns versos
Melhor não adiar
Em casa com criança
Sono é artigo de luxo...
Parou de chover.
Chega me calei.
O amor foi feito só para quem ama de verdade. E eu nunca senti por ninguém o que sinto por você. Te amo de verdade. De seu pai para Rubens.
Está frase está numa plaquinha que papai trouxe do Canindé.
Papai era assim nos pegava no amor nos simples gestos.
Seus presentes jenuinos enchiam nossos espíritos de maravilhosos sentimentos.
Hoje recebeu seu amigo Amós aí onde estiver.
Saudades.
Ainda é muito viva a presença de papai na minha vida. Faz quase três mês que ele partiu, mas ainda sinto
intensamente sua presença. Ouço sua voz. Vejo seus gestos. Lembro de nossas conversas. Lembro de tudo.
Dói muito saber que não terei mais sua presença não compartilharei mais nada.
Quando adoeceu foi a pior parte de nossas vidas, pois adoecemos juntos. Entramos em desespero.
Fui correndo cuidar dele. Ele falou assim. Cansado, sem esperança. Era um domingo a noite.
A vida não faz mais sentido.
Não faz sentido.
Então começamos a cuidar dele com o maior do mundo.
E ele ganhou um sentido. Ganhou uma sobrevida.
Viveu um pouco a mais.
O amor pode mudar a maneira de ver o mundo.
Podemos mudar o mundo com amor.
Podemos dar sentido a tudo e principalmente a vida.
A doença venceu a carne, mas não o espírito.
Toda noite papai rezava...
Estava do seu lado o tempo todo.
Enchia ele de beijo, de carinho...
E meu maior medo era da tua partida.
Não sei expressar o que sinto.
E quando não sei expressar.
Esse sentimento externa em lágrimas.
Tenho que reavaliar tudo.
Os anos que vivi ao teu lado papai.
Tudo que aprendi com o senhor sobre a vida,
Coisas grandes e coisas pequenas.
O respeito a vida, aos seres, as pessoas...
E sempre que lembro de seus momentos de fragilidade meu coração se comprime.
Na fragilidade ajudou a mamãe cuidar de mim.
Na fragilidade todos nos cuidamos de ti.
Cuidamos da maneira que podemos até o fim.
Na minha parede agora tem uma imagem sua.
Na minha mente tem o teu espirito.
Amor infinito.
Quando alguém deixa este mundo,
E é gente por nós muito amada,
Fica a ausência algo profundo,
Fica aquela atmosfera destroçada
Parece que tudo chegou ao fim
Fica faltando uma parte,
E demora pra se acostumar
Então a gente pensa no ser
A gente pensa no tempo
A gente pensa mais
Pensa no que aconteceu
E enfim um dia aceita
Embora a dor nunca mais acabe.
Outras coisas ocupam o lugar
A ausência dói.
Não há nada mais sublime que segurar seu filho enquanto dorme na mais perfeita paz.
Seu corpinho frágil, macio, sua respiração, sua vida aos teus cuidados. A impressão que temos é que
nossos corações vão explodir de tanto amor.
A gente fica olhando, assistindo cada coisinha no corpinho.
Sentimos seu cheirinho, sua cândida existência.
Até dois meses atrás desconhecia todas essas sensações.
Até dois meses atrás quando meu filho nasceu,
Certamente eu me transformei, houve uma catarse amorosa.
Noites e noites mau dormidas,
E aquela preocupação na mente está tudo bem?
Está tudo bem...
Mesmo estando tudo bem a gente não acredita e fica acordado olhando até a exaustão.
E quando o dia nasce
E quando aqueles olhinhos se abrem,
Parece que deram uma supercarga de energia,
Porque agora nossa felicidade não é nossa é algo compartilhado.
A mamãe amamenta e o papai colabora cuidando de cada coisinha.
E ai surgem novas conversas, surge aquela empatia de quem é pai...
Nossos exemplos compartilhados.
Não sei se sou mais bobo, mas rio à toa com as coisas de meu bebê,
E a proporção que vou sendo reconhecido, a proporção que ganho um sorriso,
Descubro que o amor é infinito.
Ser pai é uma grande dádiva.
Poder falar ouça o papai, venha pro papai, o papai vai te ajudar.
Pegar aquele serzinho e dizer "Te amo".
Você é o meu maior tesouro...
A gente fala sem saber se ele vai entender.
Sabe aquela manhã que você acorda bem e percebe o mundo,
As flores em frente as casas, na campina,
Você ama está vivo, ama ser quem é.
Pois é a sensação de ser pai é muito superior.
Então enquanto lindamente ele dorme ali no carrinho,
Ouço Schubert para bebês
E dedico este pequeno texto aquele que mais amo no mundo,
Vinícius meu bebezinho.
A tarde caiu nublada e chuvosa,
Chove, dá um tempo, chove,
Fecha a janela e abre a janela,
Toma um chá,
Faz calor,
Abre a janela,
Faz frio,
Uma música,
O cuidar das coisas,
Cuidar do bebê,
Cuidar da esposa,
Cuidar dos irmãos,
Da família...
E a fé.
A noite me acordou com seu calor
E me entregou a madrugada estrelada
Entregou-me em silêncio,
Meu menino acordou e mamou
Discretamente dormiu.
Dormiu no meu peito e nos meus braços
Sua cabecinha perfumada incensou minhas narinas,
Se mexia, respirava
Era quente seu corpinho, tão gordinho.
O galo cantou, ouço o teco-teco do ventilador da vizinha de baixo,
Também ouço o canto mudo dos grilos,
Olho pro céu parece que o piscar das estrelas imitam o ciciar dos grilos.
Minha esposa ressona,
Vinícius no berço em busca de se acomodar
Uma corroira canta
Um galo canta,
E penso que ainda me surpreende ter galinha em algumas ruas desse cidade.
Olho a x brilhando e penso em pai.
Até o calor refresca na madrugada,
Enquanto Vinícius mamava
Peguei um livro de Neruda
As uvas e o vento e li o prólogo em um poema.
Pensei em Vô José...
Em mamãe...
Vinícius dormia em meu peito.
Agora lá fora ouço
Siriririririri...
Uma brisa fria atravessa a janela.
O sono já chega...
Andamos perdidos em nossos pensamentos.
Somos infantis?
Sempre em busca de algo que nos preencha.
Parece que o vazio é nossa maior parte.
Somos balões?
Não percebemos a nossa realidade seja qual for.
Somos míopes?
Temos medo de perder algo o tempo inteiro.
Nem vivemos intensamente o presente, o aqui e o agora.
E quando perdemos nem tomamos conta que precisamos nos ater ao presente ao agora.
Parece que a vida é um punhado de areia em nossas mãos
Que vai perdendo grão em grão.
...
Mozart sem dúvida é meu compositor favorito. Se me perguntar por que? Não tenho uma resposta. Como não tenho respostas para a maior parte das coisas que existe ao meu redor. Todavia, gosto pois sinto sua música. Bem todos podem sentir, mas por que não sente ou aprecia, como não apreciava. Cuidando agora de meu filho passo entender e racionalizar muita coisa. Ele não entende coisas que para mim são óbvias. Coisas que o irrita para mim são maravilhosas, mas não é sobre mim. É sobre o outro, sobre você. Quando me perguntas porque Mozart direi porque sinto, porque vejo alegria, felicidade... Sabe a gente tem uma coisa chamada consciência. Que por definição seria a apreensão de um sentido. Desde que a gente passa a ter consciência a vida fica muito mais complicada, porque passamos a nos basear nos outros. Estava sozinho em meus pensamentos e perguntei a mim mesmo. O que poderia ser bom neste momento. Liguei o computador e ouvi Mozart. Não entendi nada. A primeira vista as coisas nos desnorteiam, são apenas impressões. Na segunda vez que ouvi, já me familiarizei um pouco e fui tomando consciência, passei a ter percepção, depois mais um pouco me interessou saber quem foi o compositor, o que o fez compor tal e tal peça... Bom esse é meu modo de ser. Veja que arrodeio muito para falar algo. Gosto de Mozart porque descobri que podia gostar. Então fique em paz que vou ouvir aqui.
https://www.youtube.com/watch?v=FZ1mj9IaczQ
O mundo essa soma de tudo que existe
É a pluralidade além de nossas impressões,
Por certo objetiva, mas que é sem emoções,
Existe a sensação de está alegre ou triste.
Meu mundo o que seria representações
Ou seria o que é pura matéria
Ou um produto do trabalho de reflexões,
Ou coisa descabida de explicações.
Versos, estrofes, rimas frases com migalhas de perguntas.
Uma tentativa de organizar o universo humano.
Talvez algo se consiga entender,
Talvez seja tudo vaidade,
Talvez seja uma busca da verdade,
Ou tudo é ilusão.
Na antena
Pousou um sanhaçu
Ficou ali plinçando
Ficou ali cantando,
O frescor da manhã,
O céu infinito,
A liberdade em suas asas,
A liberdade em seu canto,
A beleza dessa realidade
A beleza da simplicidade,
Se perde em nossos pensamentos,
Por vezes se encontra no agora,
Em estado de graça.
Lá fora está fresco.
A manhã nasceu agradável.
Nublada, mas com campos de azul do céu.
Canta sem parar,
Canta em todo lugar,
O bem-te-vi,
A corroira,
A patativa,
O sanhaçu...
O que dizem não sei,
Mas é uma beleza de ouvir.
São as coisas deste mundo,
São as coisas desta vida,
Particularidades de uma totalidade.
Onde a consciência não consegue tocar
Apenas contemplar.
Uma manhã qualquer
Em qualquer lugar que seja.
A base de tudo é subjetiva.
Papai meu papaizinho querido,
É pena que tenhas partido,
Deixando meu coração fendido
Em dor e muita saudade
Logo você minha maior alegria,
Meu alicerce, meu pilar, minha poesia
Meu confessor e amigo mais antigo,
Como dói a sua ausência a noite ou de dia
Me faz falta sua grande Alegria
Forte e intensa que me contagia.
Ah papai que intensa foi a dor,
Como foi triste sua partida
Achei que ia perder a vida
De tanto sofrer de amor
Não tenho mais o que fazer
Só me resta agora é sofrer,
Tá cheia minha lembrança,
De todo o tempo vivido
Em sua presenças ouvido
A vida cheia de bonança
Mas aí, mas aí
O tempo cruel vai
Levar que a gente ama
A gente imóvel na cama
Neste triste momento
A gente se questiona
Por que a vida se vai
Por que levou meu pai?
Cadê você papai
Cadê você papai
Não falas
Não ouves
Não és
Continuar aqui a sofrer
Quem sabe um dia ao morrer
Venha te encontrar
Eis maior mistério
Que o senhor me perdoe
Mas é a dor quem me fala
É a dor que não cala
De alguém que um dia foi
Agora é só memória
Nada mais.
Umbuzeiro
Árvore intrincada e retorcida,
De copa muito fechada
Conhecida como árvore da vida,
Madeira mole, quebradiça e alva
Nuas na seca se tornado cinza,
Floresce quando o clima muda,
Seus cachinhos são alvinhos
Miudinhas flores estreladas
Que planta amável
Já chove três dias seguidos aqui em João Pessoa.
Vários alagamentos ocorreram nas ruas mais baixas.
As pessoas estão reclusas em casa.
Esperando esta chuva parar.
Já choveu mais que chove nesta época.
Segundo jornal a 30 anos não Chovia tanto na mesma época.
Segue chovendo muito.
Canta o sabiá e o bem-te-vi.
E tudo está acontecendo como sempre.
Juca
Esta planta marrenta
De crescimento lento,
De tronco liso bicolor
Tronco forte e enroscado,
Cresce feito espeto
Ramo inerme e lenticelado,
De copa muito fechada,
Reune toda passarada,
Tem folhas o ano inteiro,
De inverno a verão,
E quando floresce,
Seus cacho amarelos,
A copa embelezada,
Por abelhas visitada,
Após forma fruto duro,
Mulungu
Belas flores encarnadas
Assim tem sua florada
A copa aberta enfeitada,
De flores naviculadas
Nela aparece o beija-flor,
Buscando néctar de flor em flor
Aparece o sofreu
Aparece o sanhaçu,
E após polinizada
Tem as flores fecundada,
Da vagem moniliforme
Semente vermelha é dispersada,
E na beira do riacho,
Germina e a semente,
É a natureza moira
Que determina a geração
Essa prima do feijão
De madeira mole
Só encanta a natureza
Só é fonte de beleza
É uma planta invocada
Sempre encontra-se armada
Na seca perde as folhas e fulora
No inverno se enrama e cresce
Assim é o mulungu
Planta viva do sertão.
Nela aparece
Que bela e imensa árvore,
Que cresce em beira d'água
Tronco armado e estriado,,,
O sofrimento dilata o tempo! O tempo não existe! O tempo é um conceito. Eternidade é a ausência de tempo. Vinícius de Morais cunhou a frase...