quarta-feira, 30 de março de 2011

Voar

Quantas vezes não queria voar,
quantas vezes fico a sonhar,
se tivesse asas, se pudesse sentir
meu corpo flutuar,
e ver o horizonte mais distante,
então busco asas para voar,
e encontro ideias, desejos,
que me fazem voar
muito além do céu,
muito além do ser,
então volto a si,
e sinto o perfume da vida,
os sons, as cores
e sinto a vida,
existir e poder imaginar,
é tão bom quanto voar.

céu

No fim da tarde de céu azul,

cirros no alto do céu,

formava um leve véu,

O sol brilhava intenso,

fazia calor,

E lentamente o sol despontava

para o poente,

O vento soprava do norte,

Refrescava o calor,

num leve frescor,

a tarde fagueira,

incomodava a mente

que se achava vazia,

e ficava a contemplar

o que o rodeava,

o céu, o sol,

as árvores verdes,

o vento,

tudo parecia tão vazio,

tudo parecia tão vulgar,

mas o tempo não parava

de passar,

e a tarde caiu,

e cúmulos cobriram o céu,

apagou o sol, trazendo o vento frio,

e o calor da matéria a irradiar,

a tarde então passou,

mas um dia,

mais uma poesia

a contemplar.

Calango

Um calango caminha no meio do caminho,
parece esquiar sobre a terra quente,
expondo sua língua para reconhecer o ambiente,
com suas escamas elegantes, vai devagarinho,
segue a intuição, não tem lar,
não tem comida, não tem nada,
só tem a sim, seu corpo é sua morada,
o que busca e viver,
e assim de geração em geração,
o calango vai aprendendo com a natureza,
que seu lar é qualquer lugar,
qualquer abrigo,
não teme o inimigo o incerto,
porque a vida tudo é,
segue passo a passo,
num compasso,
calda, corpo solo,
a se rastejar, sem raciocinar,
a natureza guardou em seu DNA a sua
história a potência de existir,
tem tudo ali,
natureza se encarregou de ensinar,
o instinto de buscar, de forragear,
tudo que precisa é viver,
buscar o que comer,
em seu território,
nem o tempo,
nem as adversidades
fizeram sair do caminho,
das veredas,
o lagarto segue a desfilar,
a existir, é potência
e é ato, tem espírito
que é a vida,
é tudo que precisa
o o calango
a vida dar.

Mamãe general

Mamãe como um general, nos tempos de criança sempre acordou cedo, assim como fazia sua mãe e talvez a sua avó. Bem ela acordava depois de papai, lavava a cara e ia para o curral. Tirar o leite. Fizesse chuva ou sol lá ia ela. Papai nunca aprendeu ou fazia o máximo de dificuldade para não aprender a tirar leite. Então era mamãe quem fazia. Então, engraçado como o humor dela variava quando voltava do curral, começava uma gritaria, era um acorda, como soldados ela queria ver todos de pé em seus afazeres, mas as meninas resistiam e ela ficava furiosa e só relaxava depois de tomar o café e começar a varrer o terreiro da frente. Era neste instante que começava seu espírito jornalístico e a todos que passava retenha informações que vinham da cidade ou do sertão. Naquela época era muito fácil, pois todo mundo andava a cavalo ou a pé. Com advento da tecnologia, as motos e carros substituíram os meios de locomoção. Não dar mais para conversar. Então depois de ouvir aquela conversa gritada, ela nos contávamos as novidades, mas nós já sabíamos, mas gostávamos de ouvir ela contar a sua versão, pra confirmar o ouvido. As vezes ficávamos sabendo da morte de alguém assim e o dia já começava triste. Depois apareceu a televisão com os plantões da globo e passamos a saber muitas coisas fora daquele universo, daquele cotidiano. Passamos a conviver com pessoas muito distante, Xuxa, Chacrinha e Cid Moreira. Bem, aquilo era tv, e lá em casa era coisa real, o que acontecia na nossa comunidade, no nosso distrito e em nossa cidade. Pessoas importantes alí eram médico, padre, dentista e comerciante, a polícia era a autoridade; nunca conheci um juiz. E era sob aquela estrutura de sociedade que construía mamãe construiu seu mundo. Sob as ordens severas de seus pais, irmãos mais velho. Aprendera sozinha a criar os filhos, e construiu toda a sua ideia de ordem e ordenava assim seu mundo, com seus soldados amados. Muito carinhosa, mamãe cuidou de nossa educação, achava importante que fossemos a escola, e nunca trazer conversas de fora pra dentro de casa. Então todas as manhãs quando acordava varrer o terreiro era o momento sublime em que ela organizava suas ideias e mantinha a ordem de sua casa, seu reinado.

terça-feira, 29 de março de 2011

Noite e suas peripecias

A noite veste um véu escuro,
estrelas acendem para ilumina-la,
trajada de gala a noite
oculta tudo que há de belo,
oculta a luz, oculta as cores,
mas a natureza roubou,
da caixa da noite
os sons e o aroma
e os deu as damas,
que se perfumam
e cantam diante da noite,
e atraem as paixões dos cavalheiros,
que as seguem
pelos seus sons e odores,
embrenhados no escuro,
nasce a paixão,
e a sensação de toque
faz as damas sentirem os cavalheiros
e estes aquelas.
A noite egoísta continua sozinha,
linda, mas sozinha
enquanto as damas,
e os cavalheiros se apaixonam
e cegam, se acostumam,
e se amam,
nunca abandonam,
a noite ao saber disso,
confundiu os cavalheiros,
e as damas doando diferentes aromas
e silenciando suas vozes,
tomando o tato como conhecimento,
desde então cavalheiros e damas
se encontram, mas nunca se reencontram,
estão sempre a procurar sua dama.
Quando é dia a noite se vai
e a ilusão da beleza
exposta pelas cores confundem
os seres que a noite se amam.

Luz

Conheci pessoas que não enxergavam muito cedo, pois todas as vezes que íamos visitar meus avós paterno, passávamos por um lugar esquisito, era um caminho onde só dava para passar duas pessoas a pé. Então quando já estávamos quase chegando na casa de meus avós tinha uma casa de tijolo cru, nua de reboco e em frente a porta tinha uma latada de folha de coqueiro onde estático ficava um senhor idoso, era cego e permanecia alí, parado, sentado, tal qual uma árvore a tomar a luz do sol. Nada se ouvia naquele lugar, não me lembro de ouvir meu pai cumprimentar. Era diferente aquele homem nunca ouvi ele falar. Só sei que via ele sentado sempre que passava. Achava muito estranho. Depois que passei a ir à escola conheci o João de Dalea que tinha um avó que também era cego. Não fora sempre cego, perdeu a vista com a idade. E na casa dele tinha um jasmim manga enorme, já falei que tinha medo de jasmim, pois é tinha, porque as pessoas utilizavam aquelas flores para enfeitar defuntos. O fato é que o avó do João ficava sentado o dia todo, calado. Chamava-se Chico de Vicente de Joana e falava as vezes com sua esposa, Eliza, ambos eram idosos. Bem não sei porque não tive medo dos cegos como tive dos deficientes. Mamãe conta que o tio de meu pai, usava seus sobrinhos para me assusta quando era pequeno foi ai que criei medo de deficiente, medo que perdi com a idade. Bem mais velho conheci o Francisco um parente que era cego, mas era um cego feliz. Francisco tinha uma gaita que tocava com muito prazer, as vezes levavam ele lá para a casa de minha avó e ele tocava sua gaita, ficava florado de crianças em sua volta. Bem Nessa vida nunca tive contato pessoal com cegos, nunca tive um amigo cego. Mas tenho lembrança destas pessoas que povoaram minha infância. Que me fizeram perceber que para uns a cegueira foi motivo do silêncio, sim pois aqueles que eram calados perderam a visão adultos, enquanto o Francisco da gaita nascera cego, superando sua deficiência com a voz, a audição e usando do instrumento para levar alegria a vida. Cada pessoa traça o destino que acha merecer. As deficiências não são entraves à felicidade.

Forma

O som da chuva na noite surda,
ecoa nas calçadas, no telhado,
gotas que caem e escoam pelo chão,
gotas que tomam qualquer forma,
e sem forma dissolvem-se chão,
água cristalina, pura escoa e se mistura
a sujeira que está no chão,
água que cai na noite,
não ver a manhã.

Barata

No meio da noite, no escuro silencioso do banheiro eis que a barata sentiu que aquela era a hora de por. Saiu do ralo, seu lar, para por na paz daquele lugar. Saiu e ficou ali paralisada, só se moviam as antenas pra lá e pra cá. Parada parecia sofre, enquanto um ovo enorme saia de seu abdome. Eis que acordei e vi ali a barata, não fiz nada. Decidi não acabar com a vida da barata, simplesmente peguei um papel higiênico e pus ela do lado da privada. Ela parecia agradecer, mas parecia gemer pelas antenas. Então ficou lá estática. Então fui para minha lida, mas antes fiquei feliz pois novamente ouvi o sino soar as seis da manhã. E quando foi a noite, quando voltei da faculdade. Depois de um dia puxado, mas muito gracioso, fiz várias coisas que gosto, li minha coluna predileta, fresquinha diretamente do Peru. Sabendo da morte do Senhor ex-vice-presidente José de Alencar, do fato de nosso ex-presidente Lula ganhou o título de doutor honoris causa em Portugal, enfim depois de uma tarde de chuva quando entro no banheiro o que vejo? A barata sendo esquartejada por um exército de formigas pretas, eram centenas, seu ovo e ela serviram de alimento para aquelas famintas e assassinas que não respeitaram sequer o momento de parto da formiga. Então já que a natureza é sábia. Deixei que as formigas fechassem a cadeia ecológica, mas aquela barata me olhou, parecia querer falar de sua dor, mas não conseguia se expressar. Não conseguia se expressar.

Pipoca

Engraçado que todas as minhas colegas de faculdade resolveram ter filhos, milho de pipoca a estourar, percebo que cada dia a mais uma pipoca estoura, mais uma criança, primeiro foi a Erica Cristina, depois Zizi e agora a Kênia, sem contar as que não estão no meu orkut. Que coisa meu deus, nunca imaginei a Zizi. Então a vi naquela foto segurando um bebe e curioso fui ver era o filho dela, minha nossa era a garota mais nova da nossa turma de faculdade e estava segurando sua prole, meu deus entrei em parafuso. Estou ficando velho, disso não tenho dúvidas, mas a Zizi, teve um bebê. Parecia tão menina. Bem eu acho que o tempo passou e nem percebi, e nem me vejo com um filho. E estouram uma a uma, daqui a pouco todas terão seus bebês. E eu? não tenho pressa. não tenho pressa.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Norte

Nossos horizontes são tão pequenos quanto nossa capacidade de pensar, refletir e sonhar. Estes vão se ampliando a medida que vamos alimentando o pensar, a reflexão e o sonho. Certo dia me via preso a um lugar bem pequeno, com poucas relações com mundo, poucas vias para alcançar o mundo que desejava que pudesse proporcionar crescimento humano. Eu estava ligado aquele lugar pois alí estava toda minha origem, meus genitores; fora naquele lugar pequeno que aprendi a decifrar as palavras, aprendi primeiro a ler o mundo, aprendi a pedir comida e água, e foi naquela pequena escola isolada como o próprio nome, que aprendi o significado abstrato das coisas, juntando as letras, foi ali que comecei a ver uma nova luz, fui alimentado com a mais fortes das coisas, mais potente das coisas a PALAVRA, no começo não sabia da importância, mas percebia a estática que era um estado daquele lugar, então ao tomar tino da vida. Comecei a pensar o porque das coisas, do agir das pessoas, os modos, a religião, comecei então a construir meu mundo baseado no que via, havia ali sim o diferente e eu percebia a diferença, comecei então a refletir sobre essa diferença, comecei a construir meu mundo com base naquele mundo, mas queria mais que aquilo sim, aquele mundo era muito pequeno para minha imaginação, então comecei a sonhar, o que faria para poder sair dali, significava para mim liberdade. Tinham algumas formas uma delas era completar a idade e fugir para a cidade grande, mas isso não iria mudar muito, percebi que aqueles que iam embora sempre voltavam, com algo no bolso, mas voltavam, eu queria ir e não mais voltar, confesso que tentei, mas o destino e o amor dos meus pais por mim me fizeram esperar. A paciência foi fundamental, pensamentos profundos sobre valores, medos; reflexões e sonhos e de moeda tinha muita fé. Rezava todas as noites, meus pais estavam, sempre estiveram ao meu lado. De maneira que construí meu mundo ali, mas me preparei, pois meus pensamentos, minhas reflexões e meus sonhos me levariam longe. Aprendi todo o necessário para viver ali, cultivar a terra, criar animais e ter uma religião, dominando essas artes estaria muito bem ali, mas queria mais, queria o melhor para mim, mesmo achando que o melhor era o material, o ter, o saciar meus desejos. Então cai em profundos estudos, aprendi a gostar de saber, de ler seja o que fosse, mas não era fácil, pois não tinha um foco, até que uma professora de biologia me deu um norte, foi uma pessoa maravilhosa pois mostrou a beleza da vida, o estudo dos sistemas, da ciência da vida. Então projetei o meus sonhos para o estudo biologia e lutei com todas as garras, não foi fácil fiz três vestibulares, em anos diferentes foram dois anos de luta em vão, cada derrota tinha um sabor amargo, de frustração, de medo, mas só servia para alimentar meu sonho e um dia as coisas deram certo dei o pulo do gato,
meu sonho projetado deu certo e então sai dali. Sai do interior, mas o interior não saiu de dentro de mim, tive que aprender a me relacionar de maneira diferente com as pessoas, isso não foi fácil, mas enfim, suporta-se tudo e se vence. Hoje de onde estou, volto quase diariamente aquele lugar, vou buscar minhas reflexões, meus sonhos foram atingidos, preciso de novos sonhos, preciso potencializar minha vida. Então volto sempre aos lugares de minha infância que povoa toda minha mente. A minha razão está lá e aqui ao mesmo tempo. Muitas vezes sou aquele menino de bucho grande melado de caju, muitas vezes sou adulto e outras vezes não sou eu sou uma mistura de meus pais. Hoje tenho consciência de quem e do que sou, tenho consciência de mim, uma das coisas que mais me alimenta é conhecer, e como uma estrela que desponta no fim da tarde, sinto aos poucos vontade de passar o que conheço, espero ser uma estrela, um norte na escuridão de alguma alma. Se assim o for me sentirei pleno.

Despedida infinito e eterno

 A casa A casa que morei Onde mais vivi, Papai quem a construiu, Alí uma flor mamãe plantou, Ali vivi os dias mais plenos de minha vida, Min...

Gogh

Gogh