quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Fim de uma era

 Chagas chega ao céu,

Cumprimenta o pai, a mãe e seu irmão Epitácio.

Mais atrás estão Tião e Chico Raimundo. A panelinha da serrinha.

Querendo saber as novidades da Serrinha.

Chaga já avisa que está tudo mudado.

O nossa geração já está quase chegando ao fim.

Tem gente naquela serrinha que nem conheço.

Tem e com força.

Eu que cheguei ano passado e vivia na Serrinha já percebia isso falou Willa.

É o fim de uma Era.


Chaga de Horácio

 Ontem, Serrinha, minha Serrinha perdeu um de seus grandes personagens. 

Seu Chagas de Horácio, que por sinal era primo legítimo de meu pai.

Chagas de Horácio morava na rua Agostinho Freire, n° 36, esquina com a Cícero Caetano.

O interessante é notar a importância das referências. Por que estou pautando sobre isso? Pelo fato de poucos Serrinhenses que não moram na cidade sabem decorado o nome das ruas de desta cidade. As pessoas se referem a rua do correio ou da prefeitura, a rua do cemitério. E aqui Chagas virou um ponto importante, a rua da budega de Chaga de Horário. Se falar a rua Agostinho Freire a pessoa para para pensar, mas se falar a rua de Chaga de Horácio sai intuitivamente. Aquela mercearia que enchia os meus olhos de desejo com os baleiros. Ali, podia comprar tudo de comida. Ainda funciona com o nome Mercearia Serrinhense do Chaga. 

Escrevo isso, pela importância que há na minha vida.

Serrinha tem todos os elementos que me ensinaram a pensar, meus anseios e desejos primeiro.

E ao escrever isso entro no tempo, por via das memórias, de minha infância ao entrar na budega cheia de sinestesia o cheiro da corda de agave, do fumo, da cachaça servida ao apreciado, da bolacha e do pão de Genilson; as cores dos baleiros, as cores dos brinquedos pendurados. Uma Budega sortida é sinal de prosperidade, mas antes de mais nada é sinal de inteligência de psicologia social, de matemática, de contabilidade e tudo mais. As budegas, caíram em desuso com a chegado dos hipermercados, e ali não foi diferente. Todavia Chagas parte e deixa a budega sortida, sob nova direção.

Falar de Chagas, no meu caso é falar das minhas décadas de existência, e das muitas vidas de Serrinha.

Ali, quantas conversas não se deram nos intervalos do dia, quando a freguesia estava trabalhando e quantas interações não se deram durante o horário de pico. Quer trocar uma ideia, cumprimentar um conhecido antigo, com certeza lá você vai encontrar.

Primos, parentes e amigos... não se encontraram ali, rapidamente não foram lá para comprar algo e saiu um riso, uma conversa, breve como uma conversa de watzap. 

O estabelecimento é uma esquina, um ponto de encontro.

Então, paramos lá com a mamãe para comprar algo, com o papai, e sempre aquela conversa boa, e por fim passava lá e apesar dos anos, a gente era reconhecido como o filho de Chico Raimundo. Como amava ser chamado. Hoje o tempo dissolveu as velhas memórias.

Me acho desconhecido em minha mesma cidade.

A parte isso!

Chagas foi um grande homem. Um homem muito inteligente, sábio, um excelente pai, um excelente marido que proveu a sua família na sua simplicidade. 

Quando penso em seu Chaga vem a mente um escorte, um chapéu de palha.

Dorme na eternidade! Dorme na eternidade.


Festa assustadora

 Indo deixar Sassá conversamos como será sua festa de aniversário.

Estava empolgado e disse que queria uma festa de Jurassic parque.

Depois viajou na imaginação. Disse que queria uma festa assustadora,

Sob a luz de velas. A scare fest.

Ri, tentando apimentar a história.

Falando que nesta festa só estariam eu, a mamãe e ele.

Ai, ele falou na minha festa quando for maior de seis anos.

Rimos.

Ele gosta de argumentar.

Ficamos certo.

Passagem

Velando um corpo,
Velas acesas exalam o cheiro da cera,
Velas acesas mostram a inconstância da chama.

A pira que dança,

Alumiando o que restou do ser,
Um nada.
O corpo que antes respirava,
Uma mente consciente e inconsciente existia.

Jaz natureza.

Aos amigos a despedida última,
Aos parentes a dor da separação.

O fim de uma relação existencial
E o início de uma relação essencial.

Apaga-se a vela,
Fecha-se a porta última.

A terra ou o túmulo encerrarão um corpo,
Mas não o ser, pois o ser é eterno.

E como coisas eternas,
Tem a intensidade de sua expressão.

A última pá de terra.

Sete dias depois o fincar da cruz.
Sete novenas, recomendações.

Assim eternizava-se um ser.

O ser não morre, se encanta.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Terra natal

Meu corpo carrega a minha terra natal.
Ali primeiro chorei,
Vi a luz,
Senti os cheiros,
Senti as temperaturas.

Ali, mamãe me amamentou.
Ali, fui querido e amado.

Na minha terra natal,
Aprendi as primeiras coisas.

Descobri a vida.
Descobri a morte.

Ali sorri com mamãe,
Ali chorei com mamãe.

Ali vi parti meus avós,
Ali me despedi de meus pais.

E o tempo se passou.

Descobri a eternidade do espaço.

Descobri a brevidade do tempo.

Como um círculo,

Que se inicia e se fecha em pontos,

Vejo os pontos a fechar

Meu ciclo do existir.

E valorizo cada ponto.

E ponho no centro,

A fé que mamãe e papai me ensinou

A amar.

Carrego a fé em Jesus Crito,
Na Virgem Maria e em São José.

E tantos mais.

Na minha terra natal


Inspiração

 A eternidade está em cada momento vivido intensamente.

Eternidade é a ausência de tempo.

Se pudesse esticar o tempo eu contrairia-o só para abraçar e beijar o meu pai e a minha mãe. Eternos São os dias de suas partidas... São uma parte dolorida de minha vida prevista e vivida...

Amigo

 Esta semana, duas situações ou lugares me fizeram lembrar do meu primo e amigo Mazildo.

Primeiro foi o lugar e o dia, estava no shopping mangabeira e era sexta-feira. Sempre neste lugar e neste dia enviava fotos do ambiente. Meu primo era tímido, tinha uma doença que nunca descobriu a causa. Meu primo vivia em casa. Quando pequenos a gente se divertia andando nos matos caçando,  mas nem matava nada a gente gostava de ver o mundo silvestre. A gente foi crescendo e suas limitações físicas praticamente o impediram de anda.  Seu deslocamento se limitava ao espaço interno da casa.  Meu amigo, saia de casa para cortar o cabelo ou votar. Sua vida era acordar, tomar o café, limpar as gaiolas e ouvir rádio e ver televisão e por último usar o celular. Estava engordando demais e se cansava dentro de casa mesmo. Nunca reclamava. No dia mesmo que faleceu nos trocamos mensagens.

A segunda vez foi no sábado, estava no parque Arruda Câmara, lá encontrei seu Eduardo que cuida dos animais no parque. Estavamos conversando e eu prestava atenção no som das jandaias foi quando ouvi o periquito da caatinga, grasnou umas três vezes, daí, o bicho veio e pousou ao nosso lado. Aí lembrei e comentei que meu primo tinha um periquito que ele cuidava tão bem. Acordava o loro a noite, tirava o bicho do guarda roupa e dava comida para o bichinho.

E hoje na praia vendo as Maracanã voarem me lembrei novamente.

Setembro

 As noites setembrinas são lindas

Céu limpo e estrelado.

Canta na madrugada o sanhaçu de coqueiro.

Canta a patativa e o siriri.

Dias claros e iluminados.

Voam a grasnar

A ararinha Jandaia e a Maracanã.

Conta canta sem parar as ondas do mar na praia.

Suave lembrança

 Quando estava acabando o almoço, coloquei o feijão no prato. Percebi que tudo mudara. Antes o feijão era comido primeiro. Algo me fez recordar meu pai, Chico. Porque sempre que acabava de comer preparava a comida do cachorro. Ele colocava feijão com farinha misturava e sempre provava, mesmo já saciado. Provava e gostava, parecia convencer a seu inconsciente aqui comemos a mesma coisa. E para tornar mais agradável colocava óleo. Papai era um Francisco de coração.

Então terminei de comer e pensei.

A gente é feliz se achar que valeria a pena viver tudo novamente. Tive a sensação de que papai viveria tudo isso e com amor.

A minha sensação foi de estado de graça e plenitude eterna.

Graças por ter dado o melhor de mim para ser um bom filho. Graças por tentar ser o melhor pai.

Obrigado.

Estímulos.

 Ontem, brincamos de carrinhos.

No chão da sala os carrinhos praticamente voam.

Aprendemos muito sobre acidentes e sua relação com a velocidade.

Sassá adora pisar fundo, mesmo reclamando para não ir com tanta velocidade.

Depois, do banho, fomos para a cama, mas Sassá pegou a bola e foi jogar.

Jogou bastante, e o melhor com direito a narração. 

Eu narrei e ele narrou melhor que eu.

Depois fomos brincar com os carrinhos em meio as montanhas ou cobertas.

Ai eu apaguei e a mamãe continuou.

Sim.

Ele veio me mostrar todo orgulhoso os lindos desenhos que fez de manhã.

Raia

 A primeira vez que vi uma pipa ainda era criança. Fiquei encantado. Aconteceu lá em Serrinha do Canto, lugar onde nasci. E não chamavam pip...

Gogh

Gogh