sábado, 6 de julho de 2013

Alcancei

Sob o eco das palavras em nossas mentes criamos.
Criamos os mitos, as histórias e construímos nós mesmos nossas próprias histórias.
Sobretudo, já faz tanto tem que vô José se foi que nem me lembro se nutria um carinho por ele, mas nutria fortemente o carinho e amor que mamãe tinha por ele. Na nossa infância, nutrimos sentimentos de verdade e paixão por tudo aquilo que nossos pais falam e sentem. Rimos quando eles riem e choramos quando eles choram. Mamãe às vezes é dura, mas é terma e amável conosco sempre. O fato é que mamãe amava seus pais, meus avós como ama seus filhos, nós. E sempre estava presente, pelo menos mais de três vezes no mês estávamos nós lá. Quem dera fosse hoje.
Mas me lembro que as histórias de vô José eram profundas e saudosas, sentia a proximidade da morte, a velhice o encarcerar em seu corpo, e o lugar onde se deslocava era do quarto para a cozinha e para o banheiro. É triste ser prisioneiro da idade. Com seus passos arrastados e seu corpo encurvado segurando uma bengala lá ia e vinha, e sentava na cadeira, e muitas vezes ria um riso sem dente, mas cheio de som de alegria. Rememorando, rememorando de quando em vez recebia uma visita e rememorava, os tempos, as histórias, as lutas, quase sempre as vitórias e remexia as vezes nos rancores. Sentava na calçada e olhava para o horizonte que terminava entre chapadas, a mata verde, o frio, o joazeiro, o canto das aves, o rincho do jumento. Aquela estrada de poeira e barro vermelho por onde passara subindo  descendo, cargas e mais cargas de capim, lenha, milho, feijão, tudo passara, tudo não reverberava mais... aos poucos acabara. Aquela estrada, a velha estrada de pedras farinhentas, de flores silvestres, dava nas cajazeiras e cajaranas, que em certo tempo podia sentir o cheiro ácido dos frutos podres, cheiro delicioso,  e o cheio das unhas de gato.
Vô José só podia contar as histórias. Muitas histórias só fazem sentido para aqueles que a presenciou, para mim, não fazia sentido, mas ficava ali, sentado ouvindo,  não me lembra de nenhuma sequer. Estas histórias foram encerradas na última roupa limpa vestida. Podem serem rememoradas.
Uma frase profunda é a que usava:  "Eu ainda alcancei o tempo de seca de 1915".
Hoje, restam os perfumes das flores e a casa, e a memória e a terra parece mais árida e o sol mais quente e mais nada.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Noite

A noite estrelas brilham no céu.
Hoje com o vento frio
parece o céu parece um espelho
de tão limpo.
Tanta coisa nos espera numa noite,
mas a cama é a predileta delas.
Com ou sem estrelas
a noite é refrigeradora.

O silêncio reflexivo

Que maravilhosa manhã de sexta-feira,
Que silêncio maravilhoso.
Parece a sala está surda.
Através da janela ouço o som intermitente das aves
maritacas, graúnas, joãos-de-barro,
doidela, canários, papa-cebos, bem-ti-vis,
o silêncio é tamanho que posso ouvir
a brisa chegando e acariciando
as folhas da sibipiruna, do coqueiro-de-vênus.
Não sinto cheiro algum,
só ouço. Às vezes é bom parar para ouvir o mundo.
Bem no fundo deve está soando o som do ir e vir dos carros
e da máquina de cortar grama.
Soa como uma manhã de paz.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Por do sol Brasiliense

E a noite cai calma.
As águas do lago estão agitadas,
o céu está encarnado feito brasa acesa.
Enquanto a noite se deita sobre a terra,
desponta no poente Vênus tão belo,
grande e amarelo.
E a luz se dissolve por completo
quando chego em casa já é noite.
Nas ondas do rádio, ouço
um piano ao cair da tarde.
Como é maravilhosa a voz da Lúcia,
diretamente do auditório
Mário Garófago.
As tardes em Brasília,
que se partem depois do lago
são tão belas quanto
as de Ribeirão,
Todavia tenho aqui o lago,
e a paz que Nix me traz.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Restaurar

A noite é silenciosa, escura e muitas vezes fria.
No seio da noite a natureza descansa.
No fundo da noite muitas plantas exalam um doce aroma,
que nos guia em direção a doçura e candidez das flores.

O solo esfria fica tão fresquinho.
A brisa sopra suave.

No céu escuro podemos ver as estrelas piscando
coloridas, vemos ainda os planetas.

Nesta hora as águas do lago estão tão plácidas.

A natureza respeita a noite e descansa.
E tudo despertará pela manhã com o primeiro crepúsculo,
doce aurora.

Vozes da manhã

É de manhã,
O sol brilha intenso lá fora,
O céu está tão azul,
A brisa sopra suave e fresca,
Ela toca aqui na janela que estala
Com paciência,
Ouço longe o som do martelo
No poção rachando e desfazendo
O cimento sólido.
Os galhos da sibipiruna
Agitam-se com a brisa
E balança pra lá e pra cá.
É manhã próxima de julho,
É uma linda manhã de junho,
Gente a trabalhar,
Sei lá onde,
E a manhã passa
Fagueira.


terça-feira, 2 de julho de 2013

A tarde florida

É fim de tarde,
e o sol não arde,
descamba ao poente,
e vai ficando ausente,
distante do nascente.
E agora sua luz se apaga,
a noite de leve nos afaga
as montanhas, os vales,
e solve toda luz,
impõe sua sombra.
No lado oposto da estrada
um ipê rir todo florido,
suas flores tão amarelas,
ah, como são belas.
Fez me lembrar,
das tardes de tempos atrás,
que sei que não volta mais,
E o ipê, e a tarde,
me preencheram de alegria,
me iluminaram essa poesia.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Aceitar

No mundo quem não reclama?
Nem tudo se aceita, mas também
como aceitar, ser humilhado e pisado,
ninguém é animal irracional,
tem que revidar?
Aceitar! como podemos aceitar,
guardar na alma tal humilhação!
É o mesmo que engolir um sapo,
mas se algo maior nos repreende,
paciência, só temos que aguardar,
a bondade e a maldade,
está em nosso coração,
a escolha muitas vezes 
está na razão.
Aceitar, muitas vezes 
é a melhor opção,
revela sua grande percepção
da ignorância humana,
Aceitar é ignorar
ser superior, superar com o menosprezo,
porque há gente que precisa
ser ignorado,
pois até o ódio é uma paixão,
ignorar é dizer não,
deletar tudo
e recomeçar.

domingo, 30 de junho de 2013

Dá-me calma

Existir,
sob o céu,
sobre a terra,
uma flor desabrocha
e fecunda gera um fruto.
Face da terra, de solo fecundo,
de amor profundo esteja transbordante o meu ser,
que eu aprenda em todas as situações a melhor viver.
Oh, brisa da manhã.
Oh, muito e tudo que pode me ensinar,
me ensina a viver com sabedoria,
acalenta meu coração
sempre que estiver sob pressão.
Que minha alma jubile
sempre que uma semente de fé
germinar em minha alma.
Dá-me calma em existir.

Motivo do existir

Vô José,  costumava repetir ao rememorar fatos que marcaram sua vida. Já idoso, cabelos brancos, sempre vestido casaco por causa do frio da serra. Lembro que falava, dos anos difíceis. Anos de seca. Vô José guardava essas coisas, sabe-lá por que. Contava que em 1915, morava nos Cajás, povoado de Barriguda, hoje Alexandria. Naquela época tinha apenas 13 anos de idade. Diversas vezes saia de lá para ir a Martins, lugar onde nunca faltava frutas, à cavalo para buscar frutas. Montava em sua casa e só se apeava em Martins. No dia seguinte com a carga de frutas montava nos burros e adormecia, acordava muitas vezes quando havia chegado em casa. Sei que naquela época ele já via o serrote da Veneza, os mufumbos e catingueiras do sertão, de certo via animais,
via gente que como ele dorme na eternidade. Sabe-se lá o que falava quem encontrava, o que comia. De certo os animais ficavam suados. Tantas coisas aconteciam nesta longa e monótona viagem. Sabe-se lá em que pensava tio José com uma carga de frutas que possivelmente só duraria uma semana, mas por ser de graça. Sabe-se lá se não tinha a boca com o mel seco da manga. Sem o mínimo de conforto, ele sofria, assim como sofriam os animais.
Meu avó faleceu já faz tanto tempo, os animais também, mas aquela paisagem continua viva, perdida em outros imaginários, com outros sentidos. Todas aquelas paisagens peculiares, sumiram como surgiram no dia em que vovô adormeceu para a eternidade. De certo vovô não se preocupava com o nome das plantas, dos bichos para ele o que importava era a barriga cheia,
o mel da manga e da jaca... Vovô não foi nenhum herói, nem lembrado por nenhuma façanha, mas não deixou de existir e foi por seu esforço que agora existo. Tá explicado a luta do nada.

Despedida infinito e eterno

 A casa A casa que morei Onde mais vivi, Papai quem a construiu, Alí uma flor mamãe plantou, Ali vivi os dias mais plenos de minha vida, Min...

Gogh

Gogh