Sob o eco das palavras em nossas mentes criamos.
Criamos os mitos, as histórias e construímos nós mesmos nossas próprias histórias.
Sobretudo, já faz tanto tem que vô José se foi que nem me lembro se nutria um carinho por ele, mas nutria fortemente o carinho e amor que mamãe tinha por ele. Na nossa infância, nutrimos sentimentos de verdade e paixão por tudo aquilo que nossos pais falam e sentem. Rimos quando eles riem e choramos quando eles choram. Mamãe às vezes é dura, mas é terma e amável conosco sempre. O fato é que mamãe amava seus pais, meus avós como ama seus filhos, nós. E sempre estava presente, pelo menos mais de três vezes no mês estávamos nós lá. Quem dera fosse hoje.
Mas me lembro que as histórias de vô José eram profundas e saudosas, sentia a proximidade da morte, a velhice o encarcerar em seu corpo, e o lugar onde se deslocava era do quarto para a cozinha e para o banheiro. É triste ser prisioneiro da idade. Com seus passos arrastados e seu corpo encurvado segurando uma bengala lá ia e vinha, e sentava na cadeira, e muitas vezes ria um riso sem dente, mas cheio de som de alegria. Rememorando, rememorando de quando em vez recebia uma visita e rememorava, os tempos, as histórias, as lutas, quase sempre as vitórias e remexia as vezes nos rancores. Sentava na calçada e olhava para o horizonte que terminava entre chapadas, a mata verde, o frio, o joazeiro, o canto das aves, o rincho do jumento. Aquela estrada de poeira e barro vermelho por onde passara subindo descendo, cargas e mais cargas de capim, lenha, milho, feijão, tudo passara, tudo não reverberava mais... aos poucos acabara. Aquela estrada, a velha estrada de pedras farinhentas, de flores silvestres, dava nas cajazeiras e cajaranas, que em certo tempo podia sentir o cheiro ácido dos frutos podres, cheiro delicioso, e o cheio das unhas de gato.
Vô José só podia contar as histórias. Muitas histórias só fazem sentido para aqueles que a presenciou, para mim, não fazia sentido, mas ficava ali, sentado ouvindo, não me lembra de nenhuma sequer. Estas histórias foram encerradas na última roupa limpa vestida. Podem serem rememoradas.
Uma frase profunda é a que usava: "Eu ainda alcancei o tempo de seca de 1915".
Hoje, restam os perfumes das flores e a casa, e a memória e a terra parece mais árida e o sol mais quente e mais nada.
Criamos os mitos, as histórias e construímos nós mesmos nossas próprias histórias.
Sobretudo, já faz tanto tem que vô José se foi que nem me lembro se nutria um carinho por ele, mas nutria fortemente o carinho e amor que mamãe tinha por ele. Na nossa infância, nutrimos sentimentos de verdade e paixão por tudo aquilo que nossos pais falam e sentem. Rimos quando eles riem e choramos quando eles choram. Mamãe às vezes é dura, mas é terma e amável conosco sempre. O fato é que mamãe amava seus pais, meus avós como ama seus filhos, nós. E sempre estava presente, pelo menos mais de três vezes no mês estávamos nós lá. Quem dera fosse hoje.
Mas me lembro que as histórias de vô José eram profundas e saudosas, sentia a proximidade da morte, a velhice o encarcerar em seu corpo, e o lugar onde se deslocava era do quarto para a cozinha e para o banheiro. É triste ser prisioneiro da idade. Com seus passos arrastados e seu corpo encurvado segurando uma bengala lá ia e vinha, e sentava na cadeira, e muitas vezes ria um riso sem dente, mas cheio de som de alegria. Rememorando, rememorando de quando em vez recebia uma visita e rememorava, os tempos, as histórias, as lutas, quase sempre as vitórias e remexia as vezes nos rancores. Sentava na calçada e olhava para o horizonte que terminava entre chapadas, a mata verde, o frio, o joazeiro, o canto das aves, o rincho do jumento. Aquela estrada de poeira e barro vermelho por onde passara subindo descendo, cargas e mais cargas de capim, lenha, milho, feijão, tudo passara, tudo não reverberava mais... aos poucos acabara. Aquela estrada, a velha estrada de pedras farinhentas, de flores silvestres, dava nas cajazeiras e cajaranas, que em certo tempo podia sentir o cheiro ácido dos frutos podres, cheiro delicioso, e o cheio das unhas de gato.
Vô José só podia contar as histórias. Muitas histórias só fazem sentido para aqueles que a presenciou, para mim, não fazia sentido, mas ficava ali, sentado ouvindo, não me lembra de nenhuma sequer. Estas histórias foram encerradas na última roupa limpa vestida. Podem serem rememoradas.
Uma frase profunda é a que usava: "Eu ainda alcancei o tempo de seca de 1915".
Hoje, restam os perfumes das flores e a casa, e a memória e a terra parece mais árida e o sol mais quente e mais nada.