quinta-feira, 19 de maio de 2011

Açucena

Certa tarde, no outono, quando caminhava, à toa, numa estrada vazia, tentando alongar as pernas e um pouco corpo. Fazia muito frio naquela tarde. Era de costume caminhar no fim do dia ali, conhecia tudo que tinha naquele lugar. Mas naquela tarde, em que o sol brilhava intenso, e era um brilho tão vermelho. Então quando subia uma pequena declinação com a vista voltada para o chão. Eis que vi no barranco algo parecido com uma flor desabrochando. Era muito branca, algo parecido com uma mão com dedos fechados que estava pra se abrir. Então, aproximei-me e vi bem de perto era um lindo botão de uma flor muito parecido com açucena. Aquilo era uma açucena. Então, ouvi suave um estalo e como uma espigas de milho sendo desfolhada, vi aquela flor desabrochar, lentamente. Ah, fiquei boquiaberto, e quando ela se abriu e começou a exalar um doce odor. Então a noite já tomava conta de todo o lugar. Todas as formas desapareciam, quando repentimanente ouvi um som forte e rápido, som de asas batendo e eram mesmo asas, pois vi chegar uma grande mariposa escura. A mariposa voava com muita destreza, chegou na flor, desenrolou a probócide e ficou ai tomando o meu. Tudo já estava escuro, mas continuei vendo a bela flor a mariposa. Em poucos instantes só podia sentir o cheiro da flor. Então fui pra casa com aquela imagem das belas e suaves pétalas, do doce cheiro, da grande mariposa. Cheguei em casa ébrio com o cheiro e as imagens daquela flor, do seu desabrochar. Era como se tivesse acordado de um sonho. Seria um sonho? Comecei a me questionar. Tomei um banho. Comi uma graviola doce e me sentei na cadeira de balanço. Aos poucos em frente a minha casa a lua começava a despontar, junto com ela uma brisa soprava. No céu estrelas piscavam numa festa, mas aos poucas a lua ia ofuscando o brilhos das estrelas. Eu via as coisas e nada percebia. Tudo que minha mente pensava era na açucena, no cheiro, na mariposa. 
Então comecei a me indagar, mas naquele barranco nunca vi nenhuma açucena, nunca ninguém plantou nada lá.
De onde veio aquela açucena?

Dia frio

Está tão frio hoje. É muito estranho esse frio aqui em Ribeirão, confesso que é a primeira vez que sinto frio aqui, mas não seria referência, se nem mesmo moro aqui. Venho as vezes, nos fins de semana. No quarto, minhas pernas nuas, sentem um frio. O chão está tão gelado, apesar do sol está brilhando. O céu hoje está cheio de carneirinhos. Nossa como adoro esses dias frios. 

Silêncio da manhã

O silêncio da manhã.

Ainda está escuro, a sombra da noite não partiu.
A lua prateada brilha serena no céu, mas o tempo
é chegado. As horas anunciam a chegada do dia.
Aurora começa a acender suas brasas e logo
chegará o sol.
Todavia neste momento vivo o silêncio.
O meu corpo como o dia desperta
de uma noite de sono, neste momento tudo
é silêncio.
Um silêncio escuro e frio.
Dentro de casa nada se mexe,
nada se ver.
Através da janela o frio atravessa
frouxo trazendo de fora
o silêncio frio.
E minha mente desperta.
e começa a funcionar,
e encontra no silêncio paz.
Vivo  um intenso silêncio.
Ouço o respirar das pessoas
em suas quentes camas.
Além disso tudo é silêncio.
Na cozinha as baratas se recatam
leves. Os ratos voltam para o escuro dos esgotos,
e os morcegos mordem suas
vítimas cautelosamente,
então no silêncio desperta o dia,
mais um dia, que pode ser o último
dia, o melhor dia,
mas o dia faz segredo
e em silêncio desperta a terra.
Gosto de sentir o silêncio da manhã,
de tocar no silêncio da manhã,
pois é frio,  é belo,
é fantástico.
Quando era criança
e nas noites de São João
tinha um ritual de acender a fogueira,
papai se encarregava
de tudo e eu apenas ajudava.
Aquilo era como o nascer do dia
silencioso, o fogo precisava de
atenção para pegar, para acender
então ficávamos calados
até o fogo pegar,
acho as vezes que o fogo também curte
o silêncio para despertar.
Então a noite  como o dia
começavam depois que se fazia
brasa, e chama,
e só através do silêncio despertava
a beleza da noite, do dia.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A casa de meus avós



Meus avós, pais de minha mãe, tinham duas casas uma na serra e outra no sertão. É da velha casinha do sertão que tenho as minhas primeiras lembranças deles, pois era nela que moravam até então. Aquela casa era pequena, velha, baixa e escura, com por ter poucas janelas. Era uma casa sem conforto, feita sem capricho; construída para abrigar trabalhadores durante o inverno, guardar a safra da chuva e do sol. Mamãe contou-me que meus avós foram morar lá depois que todos seus filhos deles se casaram.  Como meu avó já estava ficando cansado e não podia mais trabalhar tanto como fazia quando era jovem, resolveram que seria melhor morar naquele lugar que se chamava Vertente, pois tinha ali terras mais planas e mais próxima de casa para cultivar. Exigindo menor esforço no trabalho. Assim foram morar nas naquela propriedade, naquela casa.
Eles viviam do trabalho, criavam gado, porcos, galinhas e perus. Meu avó cuidava da lida da roça, cultivava feijão, arroz, milho e algodão. Enquanto minha avó cuidava dos afazeres caseiros. O passa tempo  naquele lugar era trabalhar. Ali, trabalhava-se de inverno a verão. No inverno cultivava-se feijão, arroz e milho, melancia e melão, e no verão se cultivava algodão e preparava as terras para plantar no inverno. Já o trato com o gado se estendia por todo o ano.
Naquele tempo as Vertentes era muito povoada. Até tinha uma escola funcionando. Tinham várias famílias que conviviam em paz.
Meu avó era uma pessoa muito, como diz lá no sertão, gaiata, brinachona, feliz. Gritava naquele sertão velho.
-Olha a erva rasteira.
E dava uma bela gaitada.
Já minha avó era séria e recatada. Não tenho muitas recordações de quando eles moravam lá.
Minha irmã do meio, mais velha que eu um ano, morava com eles. Meu avó a chamava carinhosamente de Lera.
Todavia o tempo foi passando e chegou o dia que meu avó não podia mais trabalhar. Então tomaram o caminho de volta para a serra, onde ficariam mais perto dos filhos, e da cidade no caso de doença.
Então, eles partiram de lá, na mesma época que as pessoas começavam a ir embora dali,  em busca de melhores condições de vida.
Aquela vida pacata já não bastava para as pessoas que ali viviam.
A velha casa do sertão logo foi ocupada por um tio que viveu nela por muito tempo, ele recebeu de herança aquela velha casa com uma pequena quadra de terra, mas ele trocou aquela propriedade pela propriedade de  meu irmão que fica na serra. Então mais uma vez a casa foi abandonada. Hoje a velha casa das Vertentes está abandonada.
Na última vez que fui a casa de meus pais resolvi ir visitar e rever a velha casa.
Fiquei muito triste de ver aquela casa que tanto pulsou, foi tão cheia de fartura, de gente e agora se encontra vazia com as portas fechadas e por vezes com algumas partes ruindo. Foi de cortar coração. Como deixar a velha casa desmoronar?
O que se pode fazer. Conservá-la de pé seria muito bom, mas falta capital. Então como corpo decadente a casa morre a cada dia. Chegará o dia que não mais existirá.
A casa também envelhecera e agora aos poucos como toda matéria desfaz-se as estruturas.
Minhas memórias daquela casa são muito vagas, eis que todos aqueles que tinham diversas memórias de lá, dormem eternamente.






Pessoas se encantam

As pessoas ficam velhas e se encantam.

Outro dia, quando visitava uma área de cultivo de plantas aromáticas no núcleo da Unicamp, durante a tarde, enquanto caminhava através das hortas. Chamou-me a atenção uma grande casa rosa com um grande pé de jatobá em sua frente. Então parei para observar, pois gosto de ver o estilo como eram construídas as casas antigas. Eis que vi ali, bem na frente da casa, sentado um senhor idoso. Quem seria? O que fazia? Não sei, mas aquela cena. Um senhor sentado com a cabeça baixa ou seria sinal de cansaço ou de pesar na alma. Nem imaginei sobre isso. Só imaginei quantos anos haveria de ter? Que teria feito durante a juventude? A tarde estava quente, mesmo assim estava sentado diante do sol. Eis que o seu tempo estava gasto. Só lhes restava descansar, seu corpo consumido pelo tempo, aguardava o descanso. Esperando se encantar

Oculto

A manhã vem vindo. O sol logo despontará no nascente, mas ainda está escuro. O que me aguarda este dia?
Nada me conta. A manhã chega silenciosa e fria. Estou preparado para viajar, mas o desenrolar do dia é quem vai dizer o que vai acontecer comigo. A cada instante que se desvenda o mistério da vida é algo totalmente desconhecido. Se tudo sair como penso vou viajar, ver o mundo claro, mas eis que a tudo e a todos é oculto o que vai acontecer.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Viva e deixe eu viver

"Viva e deixe eu viver" foi uma frase que sempre vi escrita na parede da casa de João de Licor, um vizinho nosso lá de serrinha. Essa era a frase emblemática daquele senhor. Sua mulher era evangélica e ele se dizia também ser evangélica, participava dos cultos que havia em sua casa. É realmente uma frase muito forte. Ele era uma pessoa muito prestativa. Só tinha um problema. Não tinha piedade de gatos, quantas vezes não matou gatinhos novos. Nesse ponto de vista cria como Descartes que os animais eram autômatos. Mas como assim, "Viva e deixe eu viver". Quanta demagogia, por acaso os gatos não mereciam viver? 

Aprender a conversar

Vivi toda minha infância numa casa simples no sítio, que ficava numa comunidade muito pequena, pertencente a uma cidade também pequena. Nos primeiros anos de minha vida, não tínhamos eletricidade em nossa comunidade. Então as noites eram escuras, clareadas por luz de lamparina, lâmpada a gás e pela lua quando estava cheia. Não tínhamos televisão, mas tínhamos um rádio alimentado por carregos, onde tínhamos notícias do mundo, das cidades vizinhas. Acho que ninguém ouvia o programa a voz do Brasil ali. Vivíamos quase em total isolamento. O fato é que para passar o tempo, tínhamos que fazer alguma coisa. Senão a vida ali não passaria. Então, saíamos para o mato pra caçar pássaros, maribundo e preá. Não tinha muita coisa pra fazer. Realmente era um tédio. Eu era um garoto tímido. Lá em casa, só podíamos ouvir a conversa, não tinha nada que se intrometer em conversa de gente grande. E eu cresci neste ritmo, só ouvindo as conversas. Sem nunca reportar uma conversa. Mamãe era assim, se chegasse com conversa das casas dos outros apanhava. Já imaginou, não poder reportar, conversar nada. Então cresci só ouvindo as pessoas conversar. Acho isso muito engraçado porque imagina quando vou para casa, eu converso bastante com meu pai, mas se tem alguém de fora, meu pai e eu, fico calado, não sei o que falar. Veja só que engraçado. O mesmo acontece comigo quando estou com meu irmão mais velho. Eu descobri que não aprendi a conversar, a expor o que penso e isso me fez uma pessoa calada. Quando fui para Natal não sabia conversar, mas não tinha ninguém pra conversar por mim, aprendi a falar o que viesse a mente. Que louco, eu aprendi a falar muita besteira, a não levar as coisas a sério. O que foi muito ruim para mim, pois com o tempo percebi minha dificuldade para me comunicar. Eu tive que me inventar, não foi fácil me relacionar com as pessoas. Só o tempo foi me ensinando. Bem uma vez um um vizinho e amigo nosso falou que quem fala menos erra menos, acho que ele tem razão, mas é tão difícil ficar calado quando se acha que tem algo para fazer, mas na verdade não se tem nada para falar. E foi como um cego que quer conhecer o mundo, que sai tateando, ouvindo e sentindo o mundo para conseguir  compreender o mundo. Assim estou fazendo com a linguagem. Primeiro já sei ouvir e agora estou aprendendo como conduzir uma conversa. Percebo que é preciso muita calma, paciência e reflexão para conduzir uma boa conversa.

Lua, luna, lune, moon, Mond...

Que generosa a lua em maio,
quanta beleza a cada noite.
Hoje, nasceu tão cheia,
estava tão prateada.
Fazia tanto frio,
mesmo assim a lua nasceu,
Nua.
Vinha na rua,
parei para ver ela, a lua,
parei para contempla-la.
É porque a lua. A lua meus queridos,
é uma chave inestimável.
E mais para mim que nasceu no campo.
É uma chave inestimável
que abre as portas de minha memória.
Sabe, não sei por que, mas quando era pequeno
eu acreditava que a lua nos seguia,
achava que ela era tão companheira como um cão,
pois para onde agente ia, ela nos seguia.
iluminando nossos passos do escuro da noite.
É lembro que a luz da lua brincávamos de cai no poço,
uma brincadeira de adolescente do interior, bem interiorano.
Brincadeira que permitia dar uma volta no terreiro e um beijo.
A lua era muito romântica e indiscreta, pois sempre vigiava para
ver se não fazíamos nada além de um beijo e uma volta.
Sob a luz da lua brincávamos de tantas coisas.
A cresci sempre junto da lua,
ela me é tão familiar quanto qualquer coisa.
Afinal é a lua plena.
Moon, luna, lua, lune, Mond...
Simplesmente lua maravilhosa, mãe, protetora da noite.

Riacho

A água do riacho corre para baixo
faz curvas, cai nos poços e segue
sempre em direção ao lugar mais baixo,
as vezes o riacho se cansa e as águas
nem chegam a chegar,
simplesmente evaporam,
mas a intenção é correr
sempre para baixo der
onde for dar, segue o riacho,
água abaixo.

Só a fé

 É certo que morreremos, mas quando vários conhecidos e queridos seus partem num curto tempo. A gente fica acabrunhado! A luta do corpo com ...

Gogh

Gogh