quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Ao meu pai

 Estava mexendo nos meus arquivos de fotografia e encontrei essas fotos. Maravilhosas porque mostra papai sentado em frente ao lugar que amava. Meu pai, meu amigo. Que saudades! Às vezes quando vou a nossa casa sinto tanto a sua falta. A gente se abraçava duas vezes na chegada e na saída. Chegava e o senhor nos esperava para o almoço e nos acompanhava com aquela conversa boa. Papai às vezes estou almoçando e lembro de ti. Todos os momentos que almoçávamos juntos. Seu cuidado com os bichos, com as plantas. Nossas árvores no sítio, nossos catolés, nossa matinha, nossa casinha. Sinto falta das vincas que aguava, de suas passadas arrastadas, ao amanhecer no terreiro, a varrer a aguar as plantas, alimentando as galinhas...

Meu eterno pai. Cuido de nossas palmas e catolés, de nossa casa. Farei enquanto puder. E estou ensinando o meu filho a amar o nosso lugar. Você iria amar ele.
Eternizei este momento, nesta foto. Nosso terreiro e nosso cachorro Negão e branquinha.
Como adoraria te abraçar de novo pela última vez. Mas um dia estaremos juntos... Na mesma essência. Te amo.

Amizade

 Esta semana, duas situações ou lugares me fizeram lembrar do meu primo e amigo Mazildo.

Primeiro foi o lugar e o dia, estava no shopping mangabeira e era sexta-feira. Sempre neste lugar e neste dia enviava fotos do ambiente. Meu primo era tímido, tinha uma doença que nunca descobriu a causa. Meu primo vivia em casa. Quando pequenos a gente se divertia andando nos matos caçando,  mas nem matava nada a gente gostava de ver o mundo silvestre. A gente foi crescendo e suas limitações físicas praticamente o impediram de anda.  Seu deslocamento se limitava ao espaço interno da casa.  Meu amigo, saia de casa para cortar o cabelo ou votar. Sua vida era acordar, tomar o café, limpar as gaiolas e ouvir rádio e ver televisão e por último usar o celular. Estava engordando demais e se cansava dentro de casa mesmo. Nunca reclamava. No dia mesmo que faleceu nos trocamos mensagens.

A segunda vez foi no sábado, estava no parque Arruda Câmara, lá encontrei seu Eduardo que cuida dos animais no parque. Estávamos conversando e eu prestava atenção no som das jandaias foi quando ouvi o periquito da caatinga, grasnou umas três vezes, daí, o bicho veio e pousou ao nosso lado. Aí lembrei e comentei que meu primo tinha um periquito que ele cuidava tão bem. Acordava o loro a noite, tirava o bicho do guarda roupa e dava comida para o bichinho.

E hoje na praia vendo as Maracanã voarem me lembrei novamente.

Sentimento

 Ontem, Sassá saiu da escola tudo bem, viemos para casa conversando normalmente. Chegamos em casa, aguamos nosso jardim. Quando terminamos, entramos no prédio. Ele se mostrou cansado. Geralmente quando entramos no prédio, competimos para saber quem ganha ao chegar primeiro em cima. Ontem, ele estava de espírito abatido, pensei é o cansaço. Subiu sem ânimo. Falou, hoje não tem brincadeira. Estou cansado. Quando abri a porta e ele viu a mamãe foi um choro. Foi explicar o que aconteceu na escola. Aos prantos explicou que a professora havia escolhido um giz de cera de cada um para derreter. E que a coleção agora estava incompleta. Não adiantava eu explicar que iria comprar uma nova para ele. Chorou. Depois parrou, jantou e fomos brincar.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Paud'arco

 O ipê na minha terra é paud'arco.

Aqui na cidade é ipê-roxo.

Na ciência é Handroanthus impetiginosus.


Para mim quando não existia ipê ou handroantus tudo era paudarco.

Naquele tempo, nem vinte anos tinha!

Independente do nome, suas flores sempre serão cor de rosa.

Quando funcionário da prefeitura de Serrinha dos Pintos, nas idas para o sítio vi uma coisa esplendorosa, um paud'arco rosa, na cinza caatinga. Hoje, revivi o momento ao voltar para casa e contemplar um ipê rosa em flor enfeitando o canteiro.


Pensei em escrever algo! aqui está.


No mormaço de setembro,

Treme a caatinga cinza,

Deitada na depressão plana está a caatinga

A vastidão da depressão se encerram em serrotes.


O canto quente da cigarra zunindo,

Estrada a cortar em banda a caatinga e a salpicar poeira no poeira no ar,

Arriba do chão a poeira e o vento leva para as margens 

pousando em intrincados galhos,


Cobrindo carcaça de gado,


Feito cheiro de diesel do caminhão.


Nesta linda vastidão,


Paud'arcos a encantar,

Num rosa tutifrute chiclete...

Florindo ao caldo do dia.


Roubando a atenção.


Provando que o belo é universal.

Até o mais insensível, descansaria a vista em tamanha beleza.


Parei e me pus a contemplar.


A beleza agrada a alma.

Aquece o coração

E faz valer a pena o momento,

Fez esquecer o calor,


E por um momento fui eterno.

Amor

 As relações se enovelam com os sentimentos, assim como nos enovelamos com aqueles que amamos. Mesmo espaço e tempo. Algo tão efêmero, mas eterno a intuição.

O amor

 De tudo que passou, nada restou.

O lugar com suas particularidades.

Altos e baixos,

Um riacho separa distinta fase.

A sensação de cada momento.

Mamãe, eu e o caminho. 

Dois pensamentos na mesma direção.

Deles um com razão,

 outro apenas imaginação.

O que restou?

O amor.

O amor.

O amor.

Tempo, memória e ser

 Sassá acordou, me procurou e me encontrou no banheiro.

Pedi a benção, o beijei e ele foi deitar no sofá.

Tossiu e ficou ali enquanto me arrumava.

Esperou que me preparasse e antes de sair recebeu um abraço, um beijo, um eu te amo.

Você é a coisa mais importante em minha vida.

Saio morrendo de saudades. Um cheiro de 15 segundos.

Tenho em minha alma.

A sua presença é sublime em mim.

Bate aquela saudade de papai.

Meio

 Escrever envolve relação entre o pensamento e o meio?

Ao ouvir Erick Satier, algo em mim ver beleza na música. E por vezes, sinto vontade de me expressar.

Todavia, a atividade do corpo pode levar a mente a viajar.

Patativa do Assaré, disse que muitas de suas composições se davam na roça.

Cuidando da lavora com a enxada, e matutando.

Limpar requer um ritmo, e tem o som do ferro trabalhando a terra.

Que coisa mais sublime ser.

A mente limpando espelhando o movimento do trabalho.

Sol, luz, calor e ação.

E a mente a pensar, um pensamento cadenciado, refrigerando o meio.

Telhas imbricadas no tempo

 Uma casinha foi desfeita.

Era pequena e caiada de branco.

Papai a usava para por palha de milho.

Mas ela chegou ao fim.

Em seu quintal havia pinheiras e cajueiros.


Hoje tudo foi comido por espinheiros.


No tronco do cajueiro papai colocou em círculos as telhas.

Foi a tanto tempo atrás.


Morreram os cajueiros.


Vieram as juremas...


E o circulo continua lá.


Sob o trabalho de meu pai.

Circulo franciscano,

De telhas feitas a mão.

Estilo que não volta mais.

Canto e cantar

 Como a ave canta sem pensar,

Como a ave canta por cantar.

Canta no seu tempo.


Assim quero cantar.

Assim quero cantar.

Assim quero cantar.


Mas assim como a ave que não sabe que canta belo ou ruim.

Assim quero cantar.


E o meu canto é um copo de palavras,

Para que possas beber com os olhos.


Que possa, para de pensar o corriqueiro,


E assim voltar ao seio materno.


E por um momento entender que a vida passa.


E no nosso inconsciente,

Pode encontrar mais que deseja.


E isso é tudo.

Raia

 A primeira vez que vi uma pipa ainda era criança. Fiquei encantado. Aconteceu lá em Serrinha do Canto, lugar onde nasci. E não chamavam pip...

Gogh

Gogh